A BOMBA PARA O TEMPO

  

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A BOMBA PARA O TEMPO

texto de mário pazcheco com

revisão de roberto gicello

A Bomba, a maior fã de bandas paulistas como a Made in Brazil, e a Patrulha do Espaço e em reverência ao rock delas, surgiram tocando versos e versões próprias – o repertório da Bomba se resume praticamente a são seis canções autorais e duas versões para “Uma Banda Made In Brasil” e “Jeito Agressivo”.

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Os botões na máquina do tempo são acionados e voltamos ao tempo que não existia metrô e o ônibus era o meio de deslocamento. Reuníamo-nos nos arcos acidentais das arcadas do Conic. Nas sextas-feiras tínhamos a ideia do que aconteceria no dia seguinte. Os carinhas e as minas se reuniam para trocar informações e impressões sobre as novas bandas do Entorno e aumentar suas coleções de demotapes – Rumble Fish, Capim Seco, Rumores de Garagem etc. Gostava-se – e consumia-se – muito de Guns N’ Roses , Ratos de Porão, Ramones...

Aos sábados, as reuniões no Conic tinham continuidade nas duas lojas de rock: a Head Collection, do Fellipe CDC, e a Subway, onde eram exibidos vídeos com a galera sendo entrevistada num programa transmitido para todo o DF pelo Canal 2. Os shows de hardcore, punk rock, pós-punk e trash eram realizados, na maioria das vezes, no Conic, o Galpãozinho do Gama, na área da Funarte, Zoonna Z e Gran Circo Lar. Os meninos acorriam a todos os festivais que faziam parte da cena local. O MAP – Movimento Anarco Punk – era composto basicamente por sectários do punk e súditos do gótico. Foi importante. Eles começavam a compreender problemas sociais. As músicas daquela época fazem parte da vida deles até hoje. Nasceram longas amizades, que permanecem e contam histórias...

A rapaziada desce para o Grand Circo Lar para mais um sábado de som com produção do Ronan.

O show nesse sábado será do Sarcófago.

Lembro que rolou uma briga de ringue cabulosa numa gig no Gran Circo Lar. Que show foi esse? Quem estava envolvido? Fora os hematomas, o que restou daquele dia?

Primeiramente (respondendo em parte ao parágrafo anterior), quero deixar registrado neste fanzine que devo a minha vida ao Julião. Foi ele quem me tirou, ainda a tempo, do quebra-pau. Na época, eu era punk e fomos inventar de ir a um show de metal, da Sarcófago, produzido pelo Ronan. Aí os seguranças, que eram da Gemini, (empresa de triste memória) começaram a bater em todo mundo, sem dó nem piedade. Resultado, fiquei em coma por dois dias. Os headbanguers levaram muita porrada, os punks levaram bicudos, e ninguém fez nada. Foi aí que eu me toquei de que movimento que corre de segurança de shows juvenis não tem estrutura para enfrentar uma revolução armada. (Gargalhadas, sem samplers!) Há que se dizer que isso foi naquela época: recentemente os punks do MAP enfrentaram, com denodo e honradez, a polícia do Estado defronte o Congresso Nacional.

O Eduardo, da Subway, afirma que eu mudei depois de tomar as pancadas na cabeça.
(Frango resolveu poupar alguns nomes envolvidos na confusão do Gran Circo Lar).

Outro empresário-produtor que se destaca nesta generosa safra da contracultura candanga é Marcão Adrenalina, com a banda Sem Destino, assinando com o selo do Vitor – a Berlin Discos havia lançado o CD do Oz, com dispendiosíssima produção.

Na Subway, eram rodados e editados clipes das novas bandas – projeto Terapia, Imagens e Distorções (as já citadas exibições na TV aos sábados).

Houve ata laudatória pioneira dos rockeiros da ACBRock (Associação Cultural Brasiliense do Rock) – documento oficial para registrar o admirável mundo contracartorial.

Death Slam e seus zines de papel, os zines góticos do Entorno a cena do Guará no Miquere Rock.

Os shows das novas bandas punks nas Terças Garagem.

1996 é o ano trágico da morte do maior poeta da geração-mimeografo, de Brasília, e da geração Coca-Cola do Brasil às portas do Terceiro Milênio: Renato Russo. Enquanto sucede a ascensão e a queda dos Raimundos na montanha russa do sucesso zaz-traz. Enquanto Renato Rocha volta a Brasília, se apresentando com a Vernon Walters. Enquanto ainda há festivais: no Garagem, com o pessoal do X-tudo (caderno cultural do Correio Braziliense). Imperdível eram os acústicos do programa radiofônico Cult 22 na Rádio Cultura e a putaria convicta do fanzine do Tubá.

A BOMBA!

Um nome explosivo como esse só poderia ser coisa de maluco (os malucos se alimentam do óbvio e ninguém percebe). Foi quando me disseram ser uma banda de rock blues, “você vai gostar!”. E eu segui o pavio até a explosão.

Apresentou-se no Mississipi Club, com a Alto QI, no Clube do Blues. Eu estava alto como uma pipa, com mais de quatro tonéis na cabeça.

Tempos depois, fomos para o estúdio tentar gravar o som. Mas a banda era verde para estúdio. Sobrou uma cassete. O Valdeci. Joubert Melo, Vladimir Soares e Fábio Caldas (na bateria) estavam no estúdio quando da tentativa de gravação com pavio molhado.

Alcebíades, o conhecido vocalista da cena metal dos 80s, agora canta hard rock em português. Caldas, o baterista, tocava o mesmo estilo com outros conhecidos; Valdeci, o contrabaixista era o mais expansivo e agitado fã da Patrulha do Espaço. Acho que a banda fora sonho dele. Nas guitarras gêmeas estavam Vladimir e Joubert. Geograficamente, eles eram os mais próximos de nós e por isso acompanhávamos seu desenvolvimento, através de amigos e discos comuns da cena heavy na Brasília dos 80s. At last but not least, outro menino do Guará – Tiago Rabelo – tocava bateria com eles.

A Bomba gravou a demotape e, pela primeira vez (o trocadilho é inevitável), explodiram! Enquanto isso, o vocalista Alcebíades muda-se para Belo Horizonte. Cláudio, então, é convocado para novo vocalista e filmam um vídeo em formato VHS, encarecendo a divulgação.

A onda de loucura maior foi com Alcebíades nos shows no Garagem e no Buraco do Tatu – o auge da segunda onda do rock Brasília, abreviada com a morte do poeta. A Bomba ainda tentou sobreviver com novas sessões em estúdio (mais o clipe), mas o momento desoxigenou detonações maiores. Ainda assim, a banda representou um dos capítulos cruciais do rock Brasília nos anos 1990, anos de intensa efervescência cultural.

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A BOMBA, NUM ÁTIMO, RETORNA MAIS RÁPIDA E LOGICAMENTE MAIS PESADA

2...0...1...7...

Rock'n'roll é muito louco e ilusório. É quase impossível imaginar que seria possível recuperar a chama de 20 anos atrás, uma chama clara de álcool e futum.

Claro que eles ainda não têm o entrosamento de 20 anos atrás, conquanto a fagulha original do texto ainda arda. No estúdio, a vibe dos oldies rock’n’roll reverbera das paredes direto no coração. Os solos, com mais notas, são mais rápidos, mas mais pesados. Falta tempo, sobra paixão. Alcebíades mais uma vez mergulha de ponta-cabeça no rock’n’roll. Estamos felizes por quase toda a tripulação ter sobrevivido e, reunida, evoca aqueles dias inflamáveis, ainda atrás de cerveja e adrenalina a conta gota.

 

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A Bomba um dos capítulos cruciais do rock Brasília no ano de 1996, ano de muita eferverscência - volta mais rápida e logicamente mais pesada em 2017

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