O SOM BEAT DOS BEAT BOYS!
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Beat Boys!
(Mário Pazcheco)
Tony Osanah, guitarra e vocal; Cacho Valdez (depois, Daniel) guitarra; Toyo, órgão; Willie Verdaguer, contrabaixo e Marcelo Frias, bateria. LP Beat Boys (RCA Victor, 1968). Fonte: ABZ Rock Brasileiro - Marcelo Dolabela.
No palco da TV Record, São Paulo. Outubro 1967, os Beat Boys fazem um barulho acima do permitido pela boa música popular brasileira, Caetano Veloso sorri e pergunta, cantando: "Por que não? Por que não?".
"Meu amigo Toyo, teve sua auto-harpa eletrificada por mim". (Cláudio César Dias Baptista - CCDB).
III Festival Internacional da Canção (FIC). Gilberto Gil teve "Questão de ordem" (onde tocava calota acompanhado pelos Beat Boys), desclassificada pelo júri. Caetano revidou intercalando o discurso onde denunciava a índole reacionária da platéia e a estrutura autoritária do festival. Os baianos comunicaram à direção do festival: "Os Mutantes irão em nosso lugar" e a direção concordou pois eles davam "aquele colorido diferente" que faria bem ao festival.
Caetano Veloso ficou sem banda de acompanhamento pois o conjunto argentino The Beat Boys, que acompanhara "Alegria, alegria", acabara por se revoltar contra as condições impostas por Guilherme Araújo e decidira voltar para o iê-iê-iê, para o trabalho independente.
Willy Verdaguer - Todo dia é dia de rock
Em 1969, eu morava em uma pensão em São Paulo com meus queridos amigos Marcelo Frias (baterista), Cacho Valdez (guitarrista) e Tony Osanah (uma das melhores vozes do blues e do rock), todos nós integrantes do Beat Boys.
Depois do glamour dos festivais e de morar numa mansão no Tremembé, fomos parar temporariamente nessa pensão no centro de SP. Era divertidíssimo! Tocávamos o dia inteiro. O quê? Cream!
Uauuu, não tinha prá ninguém. Éramos discípulos dessa banda, ninguém tocava como nós naquela época, entendíamos como poucos a importância de Eric Clapton, Ginger Baker e ele, Jack Bruce. Já tinha tido mestres como Paul McCartney, John Paul Jones e outros, mas Bruce me ensinou a voar no contrabaixo, tanto na rapidez como na concepção musical. Tínhamos um disco deles, gravado ao vivo ("Wheels of Fire"), que tinha Spoonful, Politician e Crossroads, que eram verdadeiras hecatombes sonoras. Levamos esse som a todos os cantos e recantos de São Paulo. Ficamos com um grande prestigio no meio por tocar esse som poderoso e sem fazer versões, ou seja, assimilamos a forma de pensar totalmente livre deles e a jogamos para fora, também totalmente livre, da nossa maneira. Gostaria de salientar a vocês, que estão estudando um instrumento: aprendam com eles (quem quer que seja), mas façam um som próprio.
Nesta edição, mostro uma passagem de Bruce que me marcou muito. A música é "Crossroads" e quando meu brother Tony Osanah aparece aqui no Brasil – ele mora na Alemanha há alguns anos e quando vem para cá fazer shows, sempre me convida para tocar) - nunca deixamos de apresentá-la. Esse clássico do r&b que o Cream transformou em obra de arte do rock n’ roll se caracteriza, principalmente, por uma levada de bateria que parece atravessada - a caixa toca nos quatro tempos do compasso -, o que requer muita atenção para ouvir e executar. A armadura de clave tem três # (sustenidos), mas repare que, durante toda a música, as notas Dó e Sol são quase sempre bequadros. O sol é bequadro porque o tom é A7, claro. O Dó, que deveria ser # (terça maior), é bequadro porque anuncia a sétima do próximo acorde (D7), a chamada blue note. O baixo de Bruce faz uma levada marcante. Note que quase sempre que retorna à tônica, ele antecipa a cabeça de compasso uma colcheia antes, junto com a bateria. O resto da música apresenta variantes dessa mesma levada. Aproveite!
Nota: Willie inseriu o contrabaixo no Raíces da América e faz a direção musical. Se apresentam com sucesso país afora. Outro dia apareceram na TV Gazeta e parte do Humahuaca sobrevive no repertório do Raíces da América.
Humauhaca: Willie Verdaguer, Emílio Carrera, Márcio Werneck, Chico de Medorin e John-John: última formação?
Tony Osanah - "O ex-Beat Boys não desiste nem insite. Apenas toca rock-portenho com muita competência. Sua voz é ótima e sua guitarra idem. Tony precisa fixar ou achar uma banda pra desenvolver melhor sua proposta de blues e rock. Mas dá pra fazer a cabeça." (Banana Progressiva - Ezequiel Neve, Rock, a história e a glória, 13)
Parceiro de Ronnie Von com música gravada pelo rei Roberto Carlos, disco gravado com Made in Brazil, escudeiro de Raul Seixas e sucesso nacional com Rosa Passos em California Dreamin'. Sonha e sopra e canta seus blues agora na Alemanha.