OS GRUPOS BRASILIENSES SURGIDOS NA ÉPOCA DA JOVEM GUARDA
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CONHEÇA A HISTÓRIA DE GRUPOS BRASILIENSES SURGIDOS NA ÉPOCA DA JOVEM GUARDA
Não havia disputa entre aqueles conjuntos. Os Infernais, por exemplo, costumavam dividir fraternalmente o palco da TV Brasília e da TV Nacional com Os Primitivos
por: Irlam Rocha Lima / https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/especiais/jovem-guarda/2013/11/27/interna-perfil-social-publieditorial
Arquivo Pessoal
Os Infernais: o conjunto gravou um compacto simples e um duplo
Os primeiros grupos a serem formados no fim da década de 1960, influenciados pelos Beatles e por Roberto Carlos e companhia, foram Os Reges e o Os Infernais. Logo em seguida, vieram Os Geniais e Os Primitivos — o mais popular entre os quatro. Todos, porém, marcaram presença na cena de forma destacada e transformaram-se em pioneiros do rock na capital.
As iniciais de Reinaldo (baixo), Edson (guitarra base), Gualberto (guitarra solo), Edson Vitorino (bateria) e Segóvia (crooner) foram usadas para dar nome ao Reges, conjunto que era atração maior de programa comandado pelo radialista Galeb Baufaker, na TV Brasília. Um ano depois, Edson foi substituído por Passani.
E é ele quem relembra a trajetória do conjunto. “Por conta do programa da televisão, Os Reges tornaram-se bastante conhecidos. Éramos convidados para show em clubes e casas noturnas de Brasília e de cidades-satélites. No repertório dos nossos shows não faltavam versões de músicas do Beatles, feitas pela Beth, que era namorada do Gualberto; e, claro, as canções da Jovem Guarda.”
Não havia disputa entre aqueles conjuntos. Os Infernais, por exemplo, costumavam dividir fraternalmente o palco da TV Brasília e da TV Nacional com Os Primitivos. “Éramos todos amigos e compartilhávamos do mesmo gosto musical”, lembra Eduardo Sampaio, baixista de Os Infernais, que tinha como companheiros Lincoln (guitarra solo), João Lataro (guitarra base), Edson (bateria) e Glay Lataro (vocal). “Aos domingos, participávamos dos programas Rapsódia, da TV Nacional, às 13h; e do Passarela do Sucesso, às 16h, na TV Nacional, e gravamos um compacto simples e um compacto duplo”, acrescenta.
Arquivo Pessoal
Os Geniais: o grupo abriu, em 1966, show de Roberto, Erasmo e Wandereléa
Beatles no repertório
Mas, historicamente, o primeiro disco gravado em Brasília foi o do Os Primitivos, grupo que tinha em sua formação Carlos Alberto (vocal), George (guitarra solo), Luizinho (guitarra solo), Edson (guitarra base), Armandinho (baixo) e Everardo (bateria). “Músicas dos Beatles eram maioria em nosso repertório de show, mas no disco gravamos clássicos da música nordestina, entre os quais Mulher rendeira, Peguei um Ita no Norte e Esta noite serenou, em ritmo de iê-iê-iê, além de uma composição do Carlos Alberto e do Edson, intitulada O gato”, recorda-se Everardo. “Os Primitivos se apresentaram em vários programas de tevê no Rio de Janeiro, como o do Chacrinha (TV Tupi), e Festa do Bolinha, de Jair de Taumaturgo, na (TV Rio)”, complementa.
BRASÍLIA ENTROU NA ONDA DO IÊ-IÊ-IÊ E VIU JUVENTUDE ADERIR À MODA DO ROCK
Os LPs dos cantores e grupos - a expressão banda ainda não era utilizada - do movimento disputavam com os dos Beatles espaço nobre nas prateleiras da Discoteca Paulistinha
por: Irlam Rocha Lima
Os Primitivos: um dos grupos mais populares da época chegou a se apresentar nos programas de tevê de Chacrinha e Jair de Taumaturgo
Em 1965, o país vivia sob a ditadura militar e tinha como presidente o general Humberto de Alencar Castelo Branco. Brasília, ainda em construção, era uma cidade pacata e incipiente artística e culturalmente, com raríssimas opções nas áreas do lazer e do entretenimento — principalmente as voltadas para os jovens.
Quando, em agosto daquele ano, a TV Alvorada (Canal 8) passou a transmitir o programa Jovem Guarda, apresentado na TV Record, em São Paulo, a nova capital parava. Todos os domingos, a partir das 19h, a cidade ia para a frente dos antigos aparelhos de tevê em preto e branco assistir a Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.
Mas não era só isso. Os LPs dos cantores e grupos — a expressão banda ainda não era utilizada — do movimento disputavam com os dos Beatles espaço nobre nas prateleiras da Discoteca Paulistinha, na 507 Sul, em plena W3. À época, a movimentada avenida era centro comercial da capital.
Ao lado da Paulistinha, o magazine Bi-Ba-Bô exibia em suas vitrines vistosos blusões, calças boca de sino inspiradas nas usadas por Roberto e Erasmo; e as minissaias com as quais Wanderléa atraía olhares cobiçosos dos fãs. Quem tinha poder aquisitivo menor ia em busca dos genéricos de produtos similares na FoFi (105 Sul).
Em festinhas concorridíssimas, nos apartamentos do Plano Piloto e nas casas das chamadas cidades-satélites, principalmente Taguatinga, sucessos da Jovem Guarda, como "Parei na contramão", "Splish splash", "Gatinha manhosa", "Menina linda" e "Ternura", embalavam as improvisadas pistas de dança. Marcaram época, por exemplo, as festas na casa de Fernando e Carlinhos Bahout na QSA 23, em Taguatinga.
Arquivo Pessoal
Os Reges: grupo era principal atração de programa do radialista Galeb Baufaker (de preto)
No mesmo período, começaram a surgir grupos formados por músicos brasilienses que, embora fãs dos Beatles, Rolling Stones e The Byrds, tinham, também, como referência, a turma da Jovem Guarda. Destacavam-se Os Reges, Os Primitivos, Os Infernais e Os Geniais, que participavam de programas ao vivo na TV Brasília e TV Nacional e tocavam no circuito de clubes sociais, como Iate, Congresso, Jockey, Motonáutica, Bacrévea e Unidade de Vizinhança, e, também, em boates, como a Tendinha do Hotel Nacional.
Os Quadradões
Foto: Getúlio Romão Campos
Banda Apache: Lin, bateria; Cássio Tavares, guitarra; Marcos A. Castro, vocais (que depois foi para Os Quadradões e a Placa Luminosa); e Hélio, contrabaixo.
Os Primitivos
por Júnior Marra /
É difícil precisar qual foi, de fato, a primeira banda brasiliense. Entretanto, como Os Primitivos foram a primeira a gravar um LP (1967) e a única a se projetar, ainda que timidamente, no eixo RIO-SP, podemos considerar seu primeiro ensaio como o marco zero do rock de Brasília.
Ensaios improvisados em apartamentos e ginásios das escolas (o do Colégio Marista era um dos preferidos) deram início à formação da primeira geração de bandas de Brasília. Na foto abaixo, Os Primitivos ensaiam em um barracão de madeira de um clube improvisado à beira do Lago Paranoá.
Os Primitivos, Os Reges e Os Infernais formaram a primeira tríade do Rock Brasília. (digo primeira, porque é um fato recorrente na história musical de Brasília) e o grande espaço do rock'n'roll era o Salão de Festas do Clube do Congresso, onde aconteciam concorridos bailes.
Comentários
"Quando os sebos de discos começaram a pintar em Brasília nos idos de 1984/1985 - um dos discos mais estranhos que conhecemos foi o único LP dos Primitivos (Primitivos!? Será que eles são tipo The Troggs!?) e nesse disco há a canção popular 'Peguei um Ita no Norte' que tocávamos. Por décadas fiquem a fim de saber o que é o termo 'Ita'!", o mais triste é que hoje esse disco é muito caro." (Mário Pazcheco)
"Primeiramente é preciso esclarecer que 'ita' significa 'pedra' nas línguas pertencentes ao tronco tupi-guarani. Mas, apesar de ter existido uma empresa de ônibus com este nome (ou ainda existe em algum buraco dos brasis rodoviários) o ITA ao qual se refere a antiga canção é um navio que fazia a rota de Belém ao Rio de Janeiro, numa dolorosa, nostálgica e longa viagem de navegação de cabotagem digna de versos de Camões. Até então, somente pelo mar os mais pobres podiam sair da região amazônica e chegar à civilização, posto que a outra alternativa era apenas para quem dispunha de muita grana pra viajar de avião. Depois da inauguração da rodovia Belém-Brasilia, o Sul e o Norte deram-se as mãos no Brasil de JK." (Roberto Gicello Bastos)
Sua formação: Carlos Alberto no vocal, Edson na guitarra base, Luizinho na guitarra base, Armandinho no contrabaixo, George na guitarra solo e Everardo na bateria.
Ponto dos Músicos, resgatando e preservando a memória musical e artística de Brasília.
Em breve novidades no pontodosmusicos
Elson 7
por Senhor F
Com o nome de Elson 7, o ex-Good Boys e Elson & Seus Good Boys, apresentou-se em Brasília durante o ano de 1968. Integravam o Elson 7, o próprio Elson (saxofone), Mozart (guitarra solo), José Carlos (cantor), Luiz (bateria), Eurípedes (acordeon), Wilson (marimba) e Taqui (também cantor).
Nessa época, o grupo acompanha e participa de shows na cidade com músicos como Eliana Pitman, Elis Regina, Roberto Carlos, Wilson Simonal e divide um espetáculo com Sérgio Mendes, no Hotel Nacional. Em 1969, o grupo divide-se em dois, um parte continuando como Elson 7 e outra formando Os Mugs.
Com o novo Elson 7 permaneceram Elson (saxofone), Mozart (guitarra solo), Luiz (bateria), Eurípedes (acordeon), Wilson (marimba), Taqui (vocal) e mais os músicos Dimas (também vocal) e Fred (contra-baixo). Com essa formação, gravaram em 1972 um LP, o terceiro feito por grupos da cidade, depois dos Primitivos (1967) e dos Quadradões (1969).
Com a morte de Elson em 1974, e a troca de vários integrantes, o grupo passou a chamar-se Squema 6, transformando-se em um dos mais famosos e atuantes conjuntos de baile da capital federal, em atividade até hoje.
Com o novo Elson 7 permaneceram Elson (saxofone), Mozart (guitarra solo), Luiz (bateria), Eurípedes (acordeon), Wilson (marimba), Taqui (vocal) e mais os músicos Dimas (também vocal) e Fred (contra-baixo). Com essa formação, gravaram em 1972 um LP, o terceiro feito por grupos da cidade, depois dos Primitivos (1967) e dos Quadradões (1969).
Com a morte de Elson em 1974, e a troca de vários integrantes, o grupo passou a chamar-se Squema 6, transformando-se em um dos mais famosos e atuantes conjuntos de baile da capital federal, em atividade até hoje.
Foto: Heide Rezende
Este aí não era o Raulino e seus Big-Boys?
Foto: blog do contrabaixista, Nilo Medeiros
CRÔNICA: SEBASTIÃO RODRIGUES, O TIÃOZINHO, COMANDOU GRUPO DE BAILE POPULAR NO DF
Os convidados já estavam instalados nas várias mesas da sala, mas não se ouvia nada, além das conversas animadas
publicado em Divirta-se/Correio Braziliense
15 mai. / 2015 - A festa prometia. Cervejas geladas, garrafas de bons uísques, petiscos árabes para abrir o apetite, mesa farta para o jantar e a promessa de boa música. Os convidados já estavam instalados nas várias mesas da sala, mas não se ouvia nada, além das conversas animadas; os músicos mandaram o Lima, deram o cano.
O anfitrião fez ligações e ouviu desculpas esfarrapadas. Desolado e atarantado — e sem desconfiar que os convidados estavam muito bem sem os caloteiros —, andava de um lado a outro. No íntimo, baixinho, cantava o bolero que pede ao relógio para não marcar as horas.
Não adiantou muito; os segundos seguiram em frente, provocando um barulho ensurdecedor na cabeça dele. Procurava o que fazer; não sabia se trazia no peito ciúme, despeito, amizade ou horror. Mas não pensava em vingança porque é um bom sujeito.
A providência não falha. De repente, Sebastião Rodrigues entra na casa. Não sei se o leitor sabe, mas estávamos diante do responsável por incontáveis romances. Tem gente que põe a culpa no Roriz, mas Brasília seria bem menos populosa se não fosse Tiãozinho. Não me entendam mal: ele comandou o grupo de baile mais popular de toda a região. Ou seja: fez a cama de muita gente. Literalmente.
Filho de ferroviário, Tiãozinho nasceu onde o trem faz a curva, pouco antes de chegar a Silvânia. Quando Goiás ficou pequeno, veio para Brasília como um dos Big Boys de Raulino, conjunto — era assim que os grupos musicais eram chamados — que tocava em todas as festas bacanas; estreou no Palácio do Planalto. Fundou o Squema Seis, tocou em todo o Brasil; carreira de sucesso, encerrada há alguns anos.
Teve a vida estudada em universidade, quando virou tese de mestrado, e é admirado pelos colegas — coisa rara em se tratando de um músico de baile, que normalmente é vítima de preconceito. Tiãozinho, ao contrário, é reverenciado, mas agora só toca entre amigos.
Nos últimos meses, ele vem sentindo uma coceirinha. Não quer fazer mais bailes, mas voltou a estudar música todo dia; combinou sessões com amigos e tem se encontrado com guitarristas bem mais novos para fazer umas coisinhas diferentes.
Para mostrar que a coisa é séria, pediu ao Haroldinho Mattos para dar uma guaribada na guitarra Gibson 335 modelo 1967 (que, ele descobriu, hoje, vale uma grana nos leilões da internet). No que vai dar toda a movimentação ainda não há como saber.
Voltemos à festa. Tiãozinho chegou na rodinha e foi inteirado sobre a angústia do anfitrião. Prevenido, contou duas ou três histórias rápidas para mostrar que nunca foi pego no contrapé e anunciou: – Vou ali no carro. Voltou com um violão de cordas de naylon, abriu uma roda e, sem necessidade de amplificação, comandou o sarau.
A noite foi pequena. A cantoria entrou pela madrugada e sobrou comida. Mas tem gente achando que o anfitrião deu o golpe. Más línguas dizem que depois de confirmar a presença do Tiãozinho, ele teria dispensado os outros músicos. Estava certo: só iam atrapalhar.
Matuskela
Legendas: Ao vivo no Clube dos Previdenciários / No Guará I-DF em 1974
Foto: Matuskela no Motonáutica / Fonte: Grupo Brasília 72 a 79
"Minha primeira vez numa bateria foi em 1985, na casa do Didi Moreno e do Anapolino... No instante da postagem, aqui em casa rolava o LP do Matuskela...Não existe acaso!" (Tiago Rabelo, baterista)