BRASÍLIA: APOTEÓTICO SHOW DOS MUTANTES NO AÇOUGUE CULTURAL T-BONE (2018)
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22 nov. / 2018 - O show da noite de quinta-feira foi carregado de impressões e surpresas. Para o fã atento que acompanha as apresentações da atual formação dos Mutantes, Sérgio Dias (guitarra e voz), Esméria Bulgari (vocais), Henrique Peters (vocais e teclados), Vinícius Junqueira (baixo) e Cláudio Tchernev (bateria), ele sabe que 50 anos depois de 1968, essa é a alquimia e a essência atual dos Mutantes.
"A ideia era para mudar um pouco essa caricatura do açougueiro. As pessoas têm a impressão que o açougueiro é aquele que mata, que sangra. Ele tem uma figura meio grotesca. E também pra dar o aspecto da cultura para a massa, porque ainda é uma coisa do consumo da elite, infelizmente. Quando eu trabalhava de açougueiro mesmo, eu frequentava cinema, teatro, no balé, há pessoas que me conheciam há 10 anos, me viam arrumadinho ali nos eventos, e me falavam: eu te conheço não sei de onde?! Essas pessoas não associavam que um trabalhador braçal também quer arte. Essa inciativa deu certo, eu estou muito feliz." (LUIZ AMORIM)
OS MUTANTES NO AÇOUGUE CULTURAL T-BONE
por Mário Pazcheco
De saída uma constatação, Os Mutantes 2018, estão entrosados e no maior pique e com certeza darão trabalho a qualquer banda que divida a noite com eles!
“Mutantes abriu as portas para muita gente, para muitas coisas difíceis de acontecer, como uma banda cantando em português nos EUA, isso é muito louco”, diz Sérgio.
Esméria Bulgari abre os braços e exibe as mangas hippies do vestido, a cantora desfila pelo palco e distribui carinho entre os membros da banda. Esméria Bulgari é carismática e ganha a atenção dos fãs que os veem pela primeira vez. Ela tira os óculos.
Não vejo nada...
No fundo do palco, acompanho o show pelo telão, quando Sérgio Dias levantava-se do banquinho, eu consigo vê-lo de frente. Nas primeiras músicas, o devaneio progressista começa com "Tecnicolor": "Please don't you ever ask me things I wouldn't like to talk about / It's time to get in touch with things we always used to dream about /I'll take a train in technicolor". Segue com duas letras em inglês, "Fool metal jack" e "Time and space". Duas surpresas "Virgínia" e a inclusão de "Cidadão da Terra" que provoca o comentário de Révero Frank: "Sérgio Dias sempre teve um pé no prog".
Catarse
A lua em Brasília está linda. Moradores e habitantes da capital federal estão festejando. Uma rajada de luzes e o brilho da guitarra de Sérgio Dias banha a multidão. Os Mutantes comandam a coreografia e o coro, a galera canta "Cantor de mambo", "El Justiciero", "Top, top", "A minha menina" e "Batmacuma". Dançam como se fossem uma pessoa só!
Na cabeça uma das sensações é a catarse: uma junção de limpeza e realização pessoal. Sentimento dosado de nostalgia, purificação, libertação psíquica que o ser humano experimenta quando consegue substituir traumas como medo, opressão ou outra perturbação psíquica pela alegria contagiante.
O público é antológico, veio todo mundo, que tinha que vir e até Iuri, o fã ausente dos Mutantes é lembrado! Encontrei Azenha, Junky, Teka, Dean, Bomba, Dudu, Ez, os escritores do Conic, os músicos undergrounds e lógico, as meninas dançando! A poesia dos livros e da canção rock'n'roll mutante em simbiose: o asfalto ferveu!
Tocaram os clássicos dos clássicos! Sérgio mexe no tone guitarra. Fica de pé, é o momento da jam da banda, o contrabaixo livre de Vinicius Junqueira escorrega em uníssono com a guitarra, a bateria sem excesso de Cláudio Tchernev e os teclados de Henrique Peters. Devo utilizar o termo econômico? O som é econômico, sem execesso, sem firula ou parafernália e isto ajuda na fluição do tempo, os arranjos e acordes renascem. Fiquei de olho o tempo todo na guitarra, ele não toca como outros guitarristas, cada apresentação é um novo caso de amor. Não tenho palavras para descrever, ele acaricia a guitarra como se pinta uma tela. Muito cuidadoso, não fere os dedos nem as cordas, ele as roça e tira do potente som ao acalanto. Assisto o desenvolvimento do campo harmônico, suas passagens, as pestanas com dedo mínimo apertando quatro casas. Não é fácil, me pergunto como eles tão jovens comporam aquelas passagens.
Ainda viajando no som, o supershow dos Mutantes é encerrado com apoteóticas versões de "Jardim elétrico", "Balada do Louco", "Ando meio desligado", Cabeludo Patriota" e uma desbuundante "Panis Et Circenses". Entramos em extase e satisfeitos, a noite valeu a pena.
Bastidores numa noite quente que eu não esperava encontrar Sérgio Dias
Sérgio Dias recebeu os poucos fãs com muita atenção, a produção do T-Bone foi bastante acolhedora.
No pequeno camarim dentro do próprio açougue, uma equipe de vídeo documentava o desenlance.
A camiseta da turnê dos Mutantes de 2006 que o fotógrafo Sandro Alves usava, despertou a atenção de Sérgio! - Olha a camiseta dele!
Tivemos sorte nossas fotos foram feitas feitas por Sandro Alves:
Os jovens foram os responsáveis por permitir o meu acesso. No centro, Sérgio, o cara da guitarra de ouro mandava um "salamaleico", palavara árabe que significa a paz esteja convosco. A seu lado, Chiquinho um dos livreiros mais considerado de Brasília.
Dias & Dias
O lance capital da foto: foi quando o atencioso Sérgio Dias pediu a Sandro Alves que fizesse mais uma foto, pois ele, o mutante não havia me visto na foto. Depois do click mágico nos cumprimentamos e soltamos o grito: Ave Gengis Khan! Sai rápido, para que outros poucos fãs privilegiados tivessem seus momentos. Rock é isso, rock é coisa de fã! Foi a quarta oportunidade de ver dos Mutantes, todas no Centro-Oeste!