ground rock: a produção é introdução
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O Festival é underground e nada de propaganda para explodir. Os produtores de Woodstock estavam interessados era na grana (poderiam ter tido o maior prejuízo, choraram, mas o filme deu dinheiro e amortizou as dívidas) Para mim, O Festival é o Free Jazz do Underground.
Nos tornamos amigos da ronda da PM, e o jovem tenente vem à casa tomar café ou beber suco.
Da boca dele: – "Que horas começa o rock?"
Eu: – "Às 3!". Ele não acredita.
–"Emendo é rock familiar, traga as crianças".
Nunca ninguém entende ou dá uma palavra de apoio que tanto necessitamos. – "Tenho o direito de fazer às 3 da tarde?"
Com certeza, vai tocar quem tem alma e quem é profissional. A primeira coisa que eu penso é: tem que ter uma banda que o público feminino curta e é o que acontece – foi assim foi com as bandas Nmak e Astride.
Dois caras acompanham o desnível da loucura: Tiago e Thomé.
Saio colando cartazes e atirando frases e recados.
"A onda será como eu quero"
"Não é um ato ditatorial"
"Se for pra fazer merda, eu nem saio do banheiro."
Com esses desatinos, eu já arrumo meia dúzia de discordantes.
Eu não queria nenhuma menção aos 37 anos e não é de carteira assinada. Ninguém acredita que estou há 37 anos nessa e a carreira de quem me crítica nem chegou aos 12 anos, ainda não vale um uisque. Esse lance de rock na primeira oportunidade é assim: – "Dia 9? Não vai dar certo!" Aí, eu penso 'mando à merda?'. Então, eu concordo é, você está certo. É incrível como nunca ninguém em primeira, fala concorda: "Legal!"
No dia do rock, mando a sindicalista comparecer à reunião do condomínio, para eles não meterem o pau em nossas festas. Um dos percalços é o portão de acesso e ligar no síndico e pedir que fique aberto até às 22. Antes do Festival, pintam os maiores absurdos e propostas: fazer um festival de vídeo, fazer um festival de fraldas, rodar um clipe debaixo da chuva, cobrar ingresso para um pocket-show (e penso será que eles sabem que eu tenho um Festival pela frente?).
Tomo uma cerveja que me deixa com os olhos vermelhos, e que falta faz aquele menino que sozinho carregava as caixas.
Preciso arrumar um som decente, a voz do cara é de barítono.
Preciso me deitar e ver a novela das notícias, assistir a Walking Dead. Eu escondo O Festival de todos e jamais falo que vai rolar. – "Quem vai tocar?" É a melhor pergunta: – "O diabo!" Me afundo mais na angústia.
Antes da festa estou doido acabei de fumar uma ponta e quero montar o som – eu acho a maior merda fumar bagulho antes de montar o som, antes de tocar e antes de muitas coisas como fazer provas. O bagulho chama uma cerveja e eu fico down e doido e eles tiram retratos e eu fecho o olho, faço disfarces e vou empurrando o mundo do rock. Ainda não foi dessa vez que conseguimos tocar as canções de Arnaldo Baptista, ainda não foi dessa vez que o show começou com o "A E O Z" – chega mais pressão, – "Será que essas bandas virão mesmo, Mário?" – "Eu também tenho a mesma dúvida."
– "E o próximo?"
– "No próximo a gente vai arrebentar" – "Vou chamar o Atacama, chamar a Noite Voa, chamar O Dia D, trazer de volta Banda Ser e nesse dia em detrimento à música eletrônica, tocaremos bastante números acústicos de Raul Seixas!"
No domingo um dia depois, levanto cedo. São cinco sacos de lixo, 500 pontas de cigarros, garrafas mil, Faço a faxina e estou com sorte somos 4 e depois, eu vou subindo pela alameda limpa do condomínio e lá em cima na grama uma latinha de Devassa que alguém deixou ali como tributo ao Rock do Mário – "É quem bebe faz essas coisas, perde a noção", me esclareço com o vizinho que aceita as condolências.
Eu tenho grandes amigos, Lucky, O Gritador é um deles... Betto & Bel seguram a onda, eles gostam de ajudar – aí vem as meninas da minha geração, elas são bonitas no meio do bolo de gente, Jihan, Sueli, Gê, Sheila, Lígia, Linhares... Me sinto seguro os amigos remanescentes como o Zeca Ribeiro estão no barco, então, ele não vai afundar. Faltou o grande Magu!
O rock foi profissional, o grafiteiro e gerente de cultura do Guará, Julimar acende o bico da lata de spray e espalha as chamas do rock. O Jornal do Guará está na fita na presença de seu editor, Rafael. Fernanda e Lucas, do conselho de cultura aparecem. A Rádio online, ZoomMusic são um dos dispositivos dos aliados. Acho que vi Campanha de Ajuda, Ricardo Retz canta uma estrofe no microfone na mão do Menguele, vocalista da Corte Seco e um dos mentores do Festival de hoje!
De madrugada, uma gatinha passa uma mensagem: "Nada de fotos, Marinho."
Assim é o rock quando todo mundo se dá bem!