FLASHBACK SOCIAL: GRANA, FAMA E VOCÊ
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FLASHBACK SOCIAL: GRANA, FAMA E VOCÊ
Em 1986, a barra era heavy-total
por: Mário Pazcheco – Ponto de Cultura, coluna no Jornal do Guará
O corte de cabelo em voga naquele distante verão de 1986 era curto-cortininha na frente e comprido-cascata atrás – estilo Menudos, banda que Renato Russo era admirador exaltado e confesso.
Um fenômeno: os vizinhos e os irmãos caçulas desfilavam pra cima e para baixo com instrumentos. Os ensaios rolavam depois das aulas e os meninos jamais nos deixavam assisti-los. Eles eram ex-fãs de Rita Lee e agora fanáticos da Egotrip e d’O Espírito da Coisa.
Nossos conjuntos residenciais lembravam o urbanismo operário do pós-guerra de Liverpool – a vermelhidão deles estava nos tijolos, a nossa, nos terrenos baldios.
As roupas eram pretas; gravatas, meias, cintos e calçados desciam para os tons escuros. Taxaram seus antecessores de obsoletos e os castigaram com o banimento do palco. Era o modo new wave de administrar as coisas da vida e de impor o som que deveria reverberar a toda gente. A nova geração inaugurava um inédito templo de prazeres: a danceteria.
"Há algumas décadas, eram comuns eventos nas Praças da Cidade. Vários Festivais de Praça e Ruas de Lazer eram organizados por voluntários e a comunidade comparecia. Desde exposição de quadros, peças teatrais, jogos, troca de gibis, capoeira, apresentações musicais e muita alegria. As Praças lotavam e as pessoas iam se conhecendo." (Joel Alves, um dos organizadores)
No Guará, alguns dos rolés mais expressivos aconteceram nas praças das QEs 7, 17, 32, 34 e no Ginásio do CAVE.
27 de abril de 1986 – Os punks da Stuhlzapfchen Von "N" (Supositório Nuclear) se apresentaram na Praça da QE 32, no II Festival Cultural de Praça. Tempos em que o som do palco era sem monitor para os músicos e com alto-falantes no centro da praça... tempos em que exibir sua música exigia um tipo de heroísmo bravateiro, que só se encontra nos artistas, nos estóicos e nas crianças. Próximo ao palco, não se conseguia ouvir muito bem, apenas os instrumentos (principalmente a guitarra). Nos falantes da praça era tudo muito claro:
Instrumento de tortura medieval /
é usado na polícia tradicional /
é usado por homens de farda azul /
não importam com nada fazem chacina.
Do outro lado da praça, na transversal (apesar de toda torcida pelo desfecho sem constrangimentos e zoeiras em nome da lei) a 'zebra' era certa... Mal Gilmar desceu do palco, a dupla de policiais Cosme e Damião, formais e rápidos, quis averiguar seus documentos do vocalista. Cheguei de mansinho e tasquei
– Dando autógrafos?
Ríamos pra caramba dessas situações.
Manto: instrumental forte
Foto: Manto Oficial
A Banda Manto, atuou na QE 7, sobre o caminhão e no Ginásio. Na Manto os compositores da música "Estrela cadente": Paulo Maciel e Edibert Torre, mais o vocalista Muka e o baixista, o baterista, o tecladista e o guitarrista, músicos de instrumental forte. Muka fez sucesso local com a música "Vampiro Doidão".
Frutos do Meio, Qualquer Coisa e Mel da Terra também tocaram no Guará.
Em 25 outubro de 1986, em frente ao Centrão, ocorreu a maior aglomeração no II Concerto da Primavera de Brasília
O inesquecível, II Festival Cultural de Praça – QE34
O contrabaixo é a consciência grave
Nosso saudoso amigo-contrabaixista Cláudio Nando, também conhecido como Charuto (irmão do Ismael Rogério), moradores do Conj. C da QE 34. Ele insistiu com a mãe, dona Sebastiana (in memoriam) para comprar seu contrabaixo num brechó, na Asa Norte – era árduo conseguir instrumentos de cordas elétricas naqueles idos.
Negro, esguio e portentoso como um atleta de salto em distância, sua imagem jovial, vibrante suinga no palco, acompanhada pelo sorriso dos não menos jovens Jean Carlos (na guitarra) e Aderbal (do cabelão) nos vocais da Lácrima – sorrisos de satisfação e plenitude. Nas quatro cordas, Nando se inspirava em Artur Maia.
Outras bandas do Guará que surfavam nos festivais eram a Tropa de Choque, a Mahatma e Os Nefelibatas, Durangos da América e os Magrello's!