MORRE RENATO RUSSO, "HOJE A NOSSA TRISTEZA É TÃO EXATA..." (1996)
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11 DE OUTUBRO
MORRE RENATO RUSSO, "HOJE A NOSSA TRISTEZA É TÃO EXATA..."
Renato Russo ✬1960/✟1996
por Mário Pazcheco e Roberto Gicello, de Brasília, do Conic
Após vários dias de recolhimento, durante os quais não se alimentou, manifestando sinais de depressão profunda, morreu na madrugada de 11 de outubro, no Rio de Janeiro, o cantor e compositor Renato Russo, da banda Legião Urbana. Segundo o atestado de óbito, a morte foi causada por septicemia, broncopneumonia e infecção urinária. Ele tinha Aids havia seis anos. Russo que morreu aos 36 anos, deixa um filho de 7, Giuliano. Daniela Mercury, sua admiradora, lembrou de uma de suas composições: "Hoje a nossa tristeza é tão exata..."
O compositor quebrou silêncio em julho, numa entrevista publicada no caderno Zap! Do “Estadão”, por conta do lançamento do mais recente disco da Legião Urbana, A Tempestade ou O Livro dos Dias. “Gravamos 25 canções, mas daí nos tocamos da inviabilidade de, num último disco de um contrato, lançar um álbum duplo. A gente pretende voltar a tocar, em palcos altos e lugares grandes, assim que passar todos esses meus problemas”.
Quais problemas? Renato não quis revelar, mas deixou uma pista: “Estou me tratando com meus remédios e fazendo análise.”
Renato era um poço de arcanos monossilábicos, esfíngicos, ocultos por uma inexpugnável mesmice blasé. Para completar, uma tosse insistentemente entrecortava suas derradeiras entrevistas e os repórteres esperavam pacientemente a crise convulsa dar uma trégua para continuar o trabalho. Aliás, não tem notícia de uma pessoa sequer que o tenha encontrado nos últimos tempos que não o visse doente, gripado, gripado, soluçante ou combalido pela depressão. Isso intensificou a onda de boatos a respeito da morbidez de seu estado de saúde.
• Sua sensibilidade – extrapolava a lama. Era um nervo exposto da juventude e pulsando rock.
• Hebert Vianna – descreve sua personalidade multifacetada: sombrio e solar, dócil e turbulento.
19 DE OUTUBRO
LEGIÃO URBANA CHEGA AO FIM DEPOIS DE 12 ANOS
Líder do grupo pensava em regravar trabalhos de Beto Guedes e Lô Borges
RUSSO ESTÁ NA GALERIA DE POETAS ATEMPORAIS
Renato Russo marcou a geração dos 1980; a terra que chamou de país do futuro engoliu mais um profeta da miragem. Em Brasília, berço da Legião Urbana, ficou a pergunta: “O que será do rock da cidade depois da morte do cantor e compositor? Cantor virou o signo de promissão pelo avesso num punhado de canções indignadas. Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone promoveu a lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, em que Renato Russo ocupa o 25 lugar.
SOLIDÃO E TRISTEZA ERAM COMPANHEIRAS DO CANTOR
Ele não curtia de badalação ou assédio e quatro meses antes do desfecho de sua luta contra a doença, cantava sozinho e bebia muito no bar Paz e Amor que frequentava.
ADEUS RENATO RUSSO
As cinzas de Renato Russo foram espalhadas por seus pais no Jardim do sítio do paisagista Burle Marx, no Rio de Janeiro. Entretanto, ele ficou sem seu último desejo: suas cinzas foram depositadas onde ele desejara, mas sem as flores que fazia gosto por delas cercar-se.
CONFISSÕES DE UM JANOTA
Eles da minha idade eram punks cabeludos que curtiam Stranglers e Ramones. Eles usavam coletes rasgados e gravatas. No Jornal de Música vinham as últimas do Melody Maker. Eu carregava uma caderneta. A onda do barato era cola e benzina. A banda deles, que era inspiração para nós, lançou seu disco. “Temos que melhorar. Ensaiar mais. No disco deles é tudo bem tocado, eles aprenderam”. Foi o comentário do mestre da guitarra. Envelheci aos 21 anos, vivia a letra de "Ainda é Cedo" e larguei tudo. Era muita responsabilidade. Durante a vida em Teresina ou em Buenos Aires, quando eles tocavam na rádio, meu coração apertava e eu só pensava em voltar para casa. Uma banda que é odiada assim só pode ser boa.
Um dia, sonhei que Renato Russo cantava no disco tributo do Arnaldo Baptista! A canção “Singin' Alone“ – e como era bonito, intenso e solitário –, era uma música que só Renato Russo poderia ter cantado!
Ainda criança, Renato escreveu uma redação para a escola, intitulada Casa Velha em Ruínas. As tragédias pessoais de cada um às vezes são anunciadas despercebida e antecipadamente em pequenos cacos de arte espalhados pela estrada: A certa altura da redação, Renato escreve: “A escuridão nos impedia de continuar. Tivemos de quebrar as telhas que ainda estavam penduradas no alto, para que fosse possível a entrada da luz do sol que não brilharia por mais tempo”.