TÁ RUSSO
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Tá russo
27.out.2020 às 18h55
Um fã da banda Legião Urbana que administrava a página do Facebook "Arquivo Legião" por meio de um perfil falso tentou negociar um material inédito do vocalista da banda, Renato Russo, se passando por um jornalista da agência internacional de notícias Thomson Reuters.
A Legião Urbana voltou aos noticiários na segunda-feira (26) após uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro apreender material supostamente inédito na casa do produtor musical Marcelo Froes. O pivô da operação, no entanto, seria Josivaldo Bezerra da Cruz Junior, que administrava a fanpage no Facebook e teria tido conversas com Froes.
Em janeiro de 2016, Junior, que se apresentava nas redes sociais como Ana Paula Ulrich, entrou em contato com o filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, afirmando ter gravações inéditas do vocalista com o músico André Pretorius, também falecido.
O fã tentou oferecer a Giuliano o material sob a condição de que a agência em que supostamente trabalhava tivesse direitos sobre o arquivo para a produção de conteúdos.
Giuliano já tinha acesso ao mesmo material por meio do jornalista Carlos Marcelo Carvalho, e a tentativa de negociação levantou suspeita de que pudesse estar em andamento um crime de receptação dos arquivos do pai. A partir disso, foi aberta uma investigação.
O produtor Marcelo Froes, que teve apreendidos HDs, computador e celular na Operação "Será" na segunda (26), diz que apenas trocou mensagens com o fã e nega participar de qualquer iniciativa criminosa.
Inéditos Renato Russo caso de polícia
Polícia apreendeu supostas canções inéditas de Renato Russo, nesta segunda-feira (26), em estúdio usado pelo artista no Rio de Janeiro (RJ) - Reprodução
Antes da operação, a defesa de Manfredini havia pedido, neste ano, que Froes fosse chamado para as oitivas do caso, a fim de colaborar com as investigações e explicar sua relação com o perfil de Ana Paula Ulrich, e não que houvesse busca e apreensão em sua casa.
Nesta terça (27), o produtor musical Carlos Trilha lamentou que a morte de Renato Russo tenha conduzido sua obra a "pessoas de critério artístico duvidoso que nunca estiveram próximas à ele" e afirmou que Froes nunca trabalhou com o líder da Legião Urbana. "Renato Russo só teve um produtor musical e ele se chama Carlos Trilha", escreveu nas redes sociais.
A publicação de Trilha desmente versões segundo as quais o estúdio de Marcelo Froes teria sido usado pelo artista em seus últimos anos de vida.
UMA LETRA DAS GRAVAÇÕES INÉDITAS DO PACOTE
Leme/Leblon (para Eduardo e Felipe)
Renato Manfredini Jr.
Se um dia você encontrar
O Ícaro do século XX que viveu a estória da folha seguinte, diga a ele que eu o matei por inveja: eu sempre quis voar
I
Pelas vielas que só são vielas por causa do cheiro ocre
/ óleo de soja dos pastéis que animais devoram em troca de menos uma verde do bolso.
Ele descia
Ilhado e flutuante metal cromado, lona e fuga nos ombros
O peso da asa triângulo grego
O peso das escadas sujeira zona sul
O peso da água em pouca quantidade
Fria num dia de verão do chuveiro de azulejos cinzas
O peso dos livros
E da consciência paterna
E o zelo materno
O pesadelo vocal na hora do almoço (filet burguês com arroz mineiro) Todo dia todo dia todo dia todo dia todo dia todo
Rio de Janeiro
Uma pensão um quarto uma cama um armário
Discos livros coisas
Sempre drogado assistindo os pontos que passam à velocidade
De quem sabe quantos anos luz
Na televisão sem a imagem falsa das quatro horas da manhã
Só a luz boa dos pontos que voam em preto e branco
E o livro de Química no colo
E o livro de Hesse na mente
E a morte (talvez) no coração.
II
Distante muito da cidade suja
Subida dura mas o leve peso
Os pés doendo com as marcas simples
Do tênis velho na ladeira clara
E então as curvas que nunca terminam
Sol sem futuro alto da Tijuca
Antigamente era Boa Vista
E o peso aumenta e a subida chega
Onde a clareira escura o espera
E enquanto isso lá no labirinto
Mendigos, ternos, lojas e edifícios
Escolas, táxis, doces e meninas
Dinheiro, dores, praia e esquinas
Saudade, amor perdido e inocência
Crianças feias, torres de concreto
Sempre sempre sempre sempre.
III
Em Belo Horizonte era diferente
Em Belo Horizonte não era assim
Em Belo Horizonte quinze ou quatorze
Rio de Janeiro então dezesseis
Rio de Janeiro de sete às três
Rio de Janeiro amigos não
Rio de Janeiro sujeira e sol
Em Belo Horizonte não era assim.
IV
Quanto tempo perdido entre livros inúteis e a vida
Passando lá fora
E sempre a lembrança esquisita de que ele já tinha feito
E aquilo que já tinha sido e as coisas do vento e do sal
Do mar
No rosto
O vento.
Já na segunda vez com pés velozes e seguros
E exatos como o pulo
E a dança
E o grito
Inocente
Animal
Selvagem até
Ele voou
Só a asa delta estúpida atrapalhava
E então ela some
E o tecido é rasgado que antes fizera
E o cheiro intrigante do doce de leite que a mãe
Fazia tão bem
E a moto esquecida de dia queimava o asfalto vazio
E ele cedia
E meninas cercavam seus olhos
E ele cedia ao perfume barato ou Chanel que se importa
Quando se tem alguém para abraçar se esquece
(mais ou menos)
Da prova do dia seguinte.
V
O verde e a madeira
A essência do azul
No alto a corrida
O peso incômodo das asas no começo
A primeira tentativa cortada pela força do vento
Que o jogou de volta
Ao verde do capim ou da grama (rapaz urbano ele nunca sabia)
O laranja e o azul e o branco
Firmes com o cromado metal
Os fios e as cordas suporte
A força do vento e do sal
Do mar
No rosto dos ritos
De calça jeans made in Brazil
Numa ação desconexa
Num ballet infantil
Em pleno ar
Uma dança cômica e triste
O grito crescente
A descoberta do que era ser livre
Livre? Palavra ruim – mais um grito
Não existem palavras
Não existem palavras
Não existem palavras
– Sou um anjo! Gritou.
E o azul do mar o cegou
No ar
Caiu um dia em qualquer lugar
Entre o Leme e o Leblon.
E o baque com a água fez com que explodisse no
Dia seguinte em todos os Última Hora da vida: "Estudante de Direito morre ao se jogar da Pedra da Gávea".
Erraram o lugar
Erraram o seu nome
E um pedaço do pano azul e laranja e branco solto