Dias de rock: – Você não tem dinheiro, como vai entrar? (2021)
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A primeira vez que eu vi o cara, era mais menino do que hoje. Ruiz Muniz, também. Outrora conhecido como Fofão, foi o melhor amigo durante um dos melhores tempos de todos os tempos. Quando conhecemos tudo que não prestava e que gerava prazer e incerteza. No serviço público, na Olivetti azul elétrica, Muniz datilografou a pré-histórica filipeta, OLDIES BUT GOLDIES – Beatles - Led Zeppelin – Kiss – Stones.
Fomos ao Cineclube da Cultura Inglesa, no térreo, só havia um banheiro only for ladies. A rapaziada fumaconhava lá dentro. Com a mão estiquei os papeizinho cuidadosamente divididos na guilhotina. A sua fala foi – Destas bandas, só presta uma! Manfredini Júnior era dado a respostas enigmáticas. Fiquei pensando um bom tempo se ele era da entourage de fãs do Led Zeppelin que reinava na cidade, todos orfãos de John Henry Bonham. Hoje, 40 anos depois, penso que ele se referia aos Beatles, eles sim a melhor banda daquele minipanfleto. No cineclube, rolou HELP! em cópia pré-histórica totalmente riscada e depois rolou MAGICAL MYSTERY TOUR em cópia argentina! Este fime, era um lance só de fãs-clubes e estaria ali na capital, daqui a uma semana – foi uma semana longa. Fomos ao cinema, eu com o amigo, Zenas de Oliveira e ninguém entendeu por que eu deixara de seguir os rastros dos antigos amigos e agora estava num lance artístico de viver o rock'n'roll. Os amigos seguiram em frente e nós fomos viver essa fantasia absurda do rock'n'roll. Da bicicleta, Zenas evoluiu para uma kombi bebedora de gasolina. Sempre andávamos com um galão vazio dentro da kombi que chacoalha de parede a parede. E, tínhamos que ir ao posto e empurrar. Este foi o nosso primeiro veículo, onde fizemos a turnê do Cruzeiro, com o Sepultura que nos varreu do palco. Eu voltei decidido a tocar pesado e escrever as próprias canções. Eu não tinha talento, mas os incentivei a escreverem canções como “Muros De Sal” / “Formiguinha” etc. Nesta noite de sábado, depois do cinema rolou a ROCKONHA, é claro que nós, dois garotos do subúrbio em calças de tergal e sapatos mais conforme com o visual dos filmes dos Beatles nunca chegaríamos à Sobradinho City (terra de Normando Parente). Ficávamos sabendo das coisas, lendo o Correio Braziliense e o Jornal De Brasília que começava uma notável página de cultura apoiando os artistas locais. Depois de ler a profusão de erros nos jornais, pensei, erro menos do que eles. Foi o início meio e fim da minha carreira de foca. Ia no Da Mata (Zé da Mata) e ele falava quais seriam os próximos? Ele, – O documentário de Janis, depois o MONTEREY POP e por fim um de Hendrix! Os caras da projeção e da mesa de som davam mais ideias do que os artistas. Já provocávamos um frissom – quem eram aqueles carinhas que estavam em todas? Nós como proletariados conhecíamos os seguranças e eram assim que tínhamos acesso às rodas. – Você não tem dinheiro, como vai entrar? Foi o que eu mais ouvi na vida.