Senhores do ócio: Pazcheco ao lado dos inseparáveis óculos escuros do porta poesia cantada Magu Cartabranca

OS COLUNÁVEIS

Para início do texto, a figura trovadoresca de Magu Cartabranca  pode ser comparada a de Mick Jagger. Educadamente, ele contesta, me identifico com o príncipe das trevas, Ozzy Osbourne.

Poderíamos definir Magu Cartabranca como um old school, ainda fascinado pelos decibéis do Black Sabbath que inspirou uma das primeiras bandas heavies, do Brasil. Falamos do Sepultura, sem especificar que foi na Brasília de 1977, ou acrescentar o prefixo Original. 

AS PRIMEIRAS BALAS 

Estávamos naquela de ouvir o LP IN ROCK. Anos depois, descobrimos as pioneiras forças do rock pesado nacional. Contemporânea do rock pesado das bandas Bizarro e da Rock da Mortalha, uma destas foi a Sepultura (nascida em Brasília). Garotos tão garotos como nós e fãs do Black Sabbath. Só que aquele tormento era real, era vivo, era mágico. Foi pesado, visceral, foi antes da nova onda do metal, foi antes do ressurgimento do punk. Naquela época, ninguem fez rock pesado como eles. Eram crus e diferentes, pois, o mundo depois copiou o AC/DC. 

Magu Cartabranca é um veterano infiltrado como uma mosca na parede, atraída por aventuras musicais e sociais na Brasília, tocada pelos poderosos, pelos porta vozes e claro a atuante classe artística que vê nele, um ícone de alta popularidade.

UM SÉQUITO DE ESPECIALISTAS EM FILMAGENS APROPRIARAM-SE DE NOSSAS ALMAS

A nossa gratificante aliança,  começou ainda no final da década dos anos 70. O pacto é arrebatar a alegria das pessoas. Essa formidável criatura de essência comunicativa fez o nosso divertimento vesperal, nesta quarta-feira das artes. Magu Cartabranca apareceu em nosso espaço e nos introduziu no seu documentário puramente artístico para o segundo episódio do CULTURA IN MOVIMENTO.

Hablamos o portunhol. Câmeras fixas nos ofuscaram. Porém, o foco foi dirigido ao grafieiro e gerente de cultura do Guará, Julimar Dos Santos. A tarde se resumiu em closers and loungers, e a dinâmica de cabos, microfones, locações. Em exaustivo passeio pelos trabalhos pictóricos envolvendo murais e telas e a clara expressão verbal de Julimar a respeito da arte como força criativa e seu espectro social transformador.

Foto de Beth Caomon
Julimar, o atual Gerente de Cultura do Guará: a experiência inovadora no trato da cultura popular

Pelo telefone de Magu, pipocavam as falas da poetisa do cerrado, Cida Carvalho  e do guitarrista Rogério Águas, ávidos para nos presenter com alguma apresentação poético-musical. Ao lado de Magu, rolou aquela alegria esmagadora dos dias em que rastejavamos entre o Guará 1 e o piso do Radio Center. Dias de sobrevivência em que sonhávamos em ser popstars mesmo que por um minuto. Em meio a várias sessões fotográficas que estão agora pelo hiperespaço. O vocalista Magu Cartabranca sacou de um pendrive e avassalou os nossos ouvidos com 9 novas músicas de sete vidas.

1 - Brasília 69 / 2 - Rumo ao Horizonte / 3 - Festa do Além / 4 - Inimigo Invisível / 5 - O Mundo dos Vivos
6 - Vale do Amor / 7 - Criatura Morta / 8 - Pare / 9 - Badalar dos Sinos

As músicas próprias narram a experiência de acompanhar os fatos históricos da capital. A poética é visceral, brutal e bombástica, afinal falam de uma Brasília ameaçada, amordaçada e sitiada. Em postura interrogativa e contemplativa, as faixas arrepiam. Rock potente,  da porra. Uma guitarra flamejante faz a melodia da letra. Pela primeira vez em sua longa carreira Magu Cartabranca concluiu um grande disco de rock'n'roll. A Guitarra de Diógenes Dias, solta as faíscas do pesado ao progressivo. Os arranjos permitiram que a voz de Magu Cartabranca viajasse com total liberdade, para escorraçar os demônios da humanidade, da infância, da vida. Um trabalho vigoroso e leal, digno daqueles dias em que sonhávamos em ser os senhores do dial.