Show d'A Bolha ignorado pela própria banda chega às plataformas digitais (2018)

 Registro de show d'A Bolha ignorado pela própria banda chega às plataformas digitais

Gravação em fita cassete de apresentação no Festival de Verão de Guarapari foi obtida pelo produtor Marcelo Froes
Silvio Essinger/ O Globo

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A Bolha no Festival Internacional da Canção, em 1971 Foto: Antonio Nery / Agência O Globo
 
 09/12/2018 — RIO — Um festival que era para ter sido o WOODSTOCK brasileiro, mas que não chegou nem perto disso. Uma banda de rock com toda a sua juventude — e equipamento — para soar bem alto. Um país em plena vigência da repressão política e comportamental. E um bocado de drogas, que alteram os sentidos, libertam a criatividade e corroem memórias: os ingredientes que deram em A BOLHA AO VIVO (Discobertas), disco feito a partir de uma misteriosa gravação em fita cassete, obtida pelo produtor Marcelo Froes, do show que a banda A Bolha — sensação dos bailes nos clubes do Rio — fez em FEVEREIRO DE 1971, no primeiro e único Festival de Verão de Guarapari (ES).

— Naquela época, a Bolha estava no auge da criatividade e começou a fazer músicas em português. Nos bailes, junto com os covers que costumávamos tocar, fomos pondo as músicas que estávamos inventando, baseadas no som de hard rock daquele momento — conta o baixista Arnaldo Brandão, que, a convite de Froes, juntou-se ao baterista Gustavo Schroeter para falar com O GLOBO sobre a banda e sobre as gravações, de cuja existência sequer suspeitavam existir.

A BOLHA AO VIVO (que chegou esta semana às plataformas digitais, logo chega ao CD e, ano que vem, também ao vinil) começa com um locutor pedindo para que se autorize “a presença dos hippies” no local do show (já que a imprensa queria fotografá-los). O vocalista e guitarrista Renato Ladeira (1952-2015) avisa que a banda vai tocar sete temas, meio que se desculpando por serem canções de criação própria. Logo na primeira, “Rosas” (de Arnaldo), ocorre uma série de problemas técnicos. “Parece que não querem, mas a gente vai continuar”, avisa Renato.

E, com a urgência garageira de um Who, A Bolha segue o show com “Sem nada”, “Não sei”, “Irmãos Alfa”, “Cecília”, “Matermatéria” (na qual o vocalista se exalta e pede: “Todo mundo cantando... os caretas não vale!”) e “Sub entendido”, canção do baixista que o cantor Leno (par de Lilian na jovem guarda) havia gravado com a banda naquele ano no disco “Vida e obra de Johnny McCartney”, produzido por um Raul Seixas ainda antes da fama. Para driblar a Censura, o trecho da letra que dizia “tomei um Sunshine (referência a um tablete de LSD)” virou “tomei um Apolo”.

— Nossas letras daqueles tempos eram só sobre drogas — confirma Arnaldo, que nos anos seguintes acompanhou Caetano Veloso e fundou bandas como o Brylho e o Hanoi Hanoi.

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Arnaldo Brandão e Gustavo Schroeter, remanescentes d'A Bolha, no Estúdio Hanoi Foto: Ana Branco / Agência O Globo
 
Banda que começou em 1965, com os irmãos César e Renato Ladeira (filhos da atriz Renata Fronzi e do radialista César Ladeira) sob o nome The Bubbles, a Bolha fez seu cartaz tocando covers de rock nos bailes, até que em 1970 (já com Arnaldo Brandão, Gustavo Schroeter e Pedro Lima) foi chamada para acompanhar a Gal Costa tropicalista num show na boate Sucata, na Lagoa. Logo, os garotos começaram a vislumbrar um outro futuro.

— Eu comprava (os jornais musicais ingleses) “Melody Maker” e “New Musical Express” e sabia que ia rolar um festival na Ilha de Wight. A gente ganhava tanta grana com os bailes que, com 19 anos, pagou passagem de avião e foi. Só o Renato que a mãe não deixou ir — conta Arnaldo, que, com a banda, acabou participando de uma jam session acústica muito louca no festival inglês, ao lado de Gilberto Gil e outros brasileiros que estavam em Londres. — Acho que toquei um tambor.

Na volta ao Brasil, os meninos trouxeram amplificadores Marshall e alto-falantes Celestion para dar potência ao ao seu som e resolveram mudar o nome da banda para cantar em português.

— Ia botar Os Bolhas? Nada! A Bolha ficou um nome redondo, bonitão — defende Gustavo.

O convite para o Festival de Verão de Guarapari surgiu quando A Bolha ensaiava o seu repertório autoral num sítio em Jacarepaguá. A organização prometia Roberto Carlos, Mutantes, Elis Regina e Gal Costa, mas, como os patrocínios não se concretizaram, as atrações foram Milton Nascimento e o Som Imaginário, Novos Baianos, Luiz Gonzaga, Toni Tornado e os grupos Soma e A Bolha, que foram convidados a antecipar a ida a Guarapari para ensaiar com cantores locais.

— Levamos uma quantidade gigantesca de maconha e fomos de van com o nosso equipamento. Chegamos lá e sentimos a desorganização — conta Arnaldo, que tomou algumas duras da polícia de Guarapari e, assim como seus colegas da Bolha, jamais viu o dinheiro do cachê pelo show. — Para poder pagar a gasolina de volta, o Cocada, nosso motorista, se fingiu de policial e deu uma geral nos hippies.

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