A volta da Política do Êxtase (2022)
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Marcelo Moreira, Hamilton Zen, Edson da Silva e Roberto Farias
"Depois de 30 anos, a banda Política do Êxtase se encontra novamente, mas hoje com essa pandemia, a ausência de moedas quase nos quebraram. Nos sentimos mais ilhados e carentes. Nos arriscamos para nos ver e fazer algo, tomar um café, uma cerveja ou conversar. É uma boa moeda de troca, ah sim, isso não tem preço pra a alma, o espírito e a mente." (Hamilton Zen, bateria)
“Já estamos acostumados, a estrada da música e particularmente do ROCK que no Brasil sempre é dura. Mas a paixão é maior.” (Marcelo Moreira, vocal)
Sunday fields forever: rock’n’roll, um assunto sagrado
Agora para começar a valer, vamos velar os mortos e acrescentar um lampejo de luz na longa noite dividida entre os sonhos e pesadelos. Entre nos dias em que o ponteiro não devolve, aliás o ponteiro da gasolina cai, cai como Alice no buraco...
Eram os papos astrais, muitas teias como naquela capa do Web of Sounds, dos The Seeds.
– Bons eram A Plasticland! Até o Ramones fizeram um disco psicodélico.
Dispersas berlotas me acompanhavam. O vapor do banheiro, o vapor do do bueiro formavam nuvens de cavalos marinhos. Ainda não havia o estresse de lidar com computador. Computador era a mente.
Meu vizinho da 32, tinha uma guitarra vermelha nipônica, dos anos 60 que não emitia som. A maioria dos instrumentos eram comprados em brechós pela Asa Norte.
– Como fazer som? – Como fazer o rock púbere rimar?
No bar além das moscas, nós de noites viradas e longos domingos frustrantes, sem uma rotina adequada de quem está desempregado.
Antes daquele cercado de prédios, as árvores reinavam, elas nos davam sombra e frutos. Por entre elas cruzávamos à pé ou em ‘camelos desengonçados’ o triângulo triunfo da 34, 19, 32, ainda não existia a 40.
Domingo na mão, sem prédios, sem feira, sem grana. Nada mudou.
Vamos curtir uma cassete. Nós bolamos, eles desenham um cartaz poucas horas antes do show.
Bandas de rock são formadas por irmãos e melhores amigos era assim naqueles idos sem troco, sem café. As bandas não se importavam em tocar o mesmo hino “Born to be Wild”. Em nossas cabeças, ouvíamos os sinos, o roncar da moto e a introdução do teclado. Tudo funcionava no poder da mente. A banda perdia a vergonhava e se tornava selvagem, o vinho não esquentava.
Bukowski que era lido naqueles dias, ficaria orgulhoso deles. Eles tinham roupas com franjas, calças bocas de sino e o pelo maior do que já tivemos. Era a hierarquia do cabelo grande, a Política do Êxtase comandava o baile. Com muita sorte faríamos uma festa na sexta-feira e eles tocariam no domingo.
Em pleno domingo a esmo cortando a tarde da 34 até a 36, na casa dos irmãos Marcelo e César. Numa garagem, a televisão em volume alto, passava o filme do Led Zeppelin, a cópia da cópia riscada (vídeo cassete era um evento).
– “Entra! Meu pai trouxe espigas de milho da chácara”.
Quem falava isso era o saudoso, Marcelo Alexandre de Oliveira. A espiga de milho rolava de mão em mão. Fim da sessão, saímos procurando um barzinho no ainda deserto Guará. Até a frota de carros de então, parecia tímida. Na segunda-feira, a depressão arrulhava em nossos ouvidos, logo cedo: estávamos desempregados e largados e sem instrução e sem dinheiro da cerveja e show de rock?
– Sempre aos domingos!