BIOGRAFIA DESFAZ MITOS SOBRE NÉLSON GONÇALVES (2022)
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BIOGRAFIA DESFAZ MITOS SOBRE NÉLSON GONÇALVES
Desconsolado pelo acúmulo de problemas pessoais, o professor carioca Marco Aurélio Barroso, fã ardoroso de biografias, distraía-se folheando os livros e revistas da Biblioteca Nacional, no Rio De Janeiro. Um dia, uma notícia publicada na Revista Do Rádio chamou sua atenção: a cantora americana Betty White ateara fogo às vestes e se suicidara por causa do amor não correspondido do cantor Nélson Gonçalves (21 DE JUNHO DE 1919 / 18 DE ABRIL DE 1998). Chocado com o fato, Barroso intensificou sua pesquisa até se decidir por escrever um livro sobre a fascinante vida do artista. Em 2001, quatro anos depois, ele concluiu o trabalho, que recebeu o título A REVOLTA DO BOÊMIO — A VIDA DE NÉLSON GONÇALVES, em que mais retifica que ratifica as informações que circularam a respeito do cantor até sua morte, em 1998, aos 78 anos.
"Criou-se um mito em torno do Nélson", conta o escritor. "O problema é que ele mais ajudou a alimentar que destruir as falsas histórias, por ser uma pessoa muito insegura". Assim, a leitura permite derrubar uma série de lendas, como a de que ele teria feito mais de 2 mil gravações, o que lhe garantiu viajar até Nova York, onde teria sido cumprimentado por Frank Sinatra. Ou de que teria se trancado em uma casa durante vários dias, na DÉCADA DE 60, para se livrar do vício da cocaína, sendo alimentado com comida passada por debaixo da porta. "Ele gravou muito, mas não chegou nem a mil músicas (foram 869), e o processo para se livrar da droga foi o tradicional, em que as doses vão diminuindo com o tempo".
À medida que progredia na pesquisa (leu toda as publicações arquivadas na Biblioteca Nacional, fez mais de 500 entrevistas com amigos e familiares do cantor que hoje moram não apenas no Rio, mas também em Taubaté, São José dos Campos e no bairro do Brás, onde Nélson também residiu), Barroso percebia que o trabalho aumentava, pois, a quantidade de inverdades não diminuía. "São tantos fatos desconexos que a própria família não impediu a publicação de nenhuma história, pois eles mesmos não tinham certeza sobre alguns deles", explica.
Gaúcho, Nélson Gonçalves foi criado em São Paulo e tinha o nome de batismo de Antônio Gonçalves. Sua primeira gravação ocorreu em 1941, quando cantou um samba de Ataulfo Alves e, durante toda aquela década, suas apresentações buscavam imitar o timbre de Orlando Silva. "Foi em 1952, quando começou a gravar as músicas de Adelino Moreira, que Nélson se firmou como o maior cantor do Brasil, fama intocável até 57, quando começou a utilizar drogas".
A consagração tornou-o um homem instável, colecionando mulheres e filhos que eram simplesmente abandonados. "A família de Nélson em uma década não é a mesma nos dez anos seguintes", conta Barroso, que relata a violência com que tratava suas mulheres e a desatenção com os filhos, para os quais não pagava pensão. "Ele não fazia isso por maldade, mas por completo desconhecimento em como enfrentar a vida em família".
HISTÓRIAS SABOROSAS, PORÉM, NÃO FALTAM — viciado em cavalos, Nélson manteve oito animais no Jóquei Clube carioca que, entre 1959 e 1964, disputaram 138 provas. E só venceram seis. Adorava também jogo de dados viciados, que eram levados por ele. Foi preso em 1966 por portar cocaína, vício que foi maldosamente explorado pelo jornalista David Nasser, da revista O Cruzeiro. Mas a eternidade está garantida em interpretações como 'A Volta do Boêmio', 'Doidivana' e 'Meu Vício É Você'.
Com o trabalho, Marco Aurélio Barroso foi premiado pela Biblioteca Nacional, que reconheceu sua persistência: como não encontrou editor, ele mesmo bancou a publicação. Em tempo: a cantora Betty White realmente não se suicidou por amor a Nélson, mas morreu em um acidente doméstico com álcool.
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