Camilla Haddad: Luz e Música em Tempos flamejantes (2024)
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Sexta-feira, 20 de setembro de 2024
Posso escrever que a nossa sexta-feira foi como um clipe de jornal estampando eventos cotidianos e manchetes impactantes — colapsos ambientais, tumultos universitários, interdições de pistas — até uma reflexão introspectiva sobre a rotina.
Foto de Marizan Fontinele
Estampados os motivos, seguimos para o show de lançamento do primeiro single de Camilla Haddad, "Música do Bem". Anteriormente, ela já havia se destacado cantando e tocando violão de forma brilhante em canções dos Beatles. A composição, escrita por Márcia Tauil, me lembrou "Anna Júlia". Sabe aquele toque beatle, com a energia característica das primeiras canções da banda? Acho que o termo certo é 'punch' (algo que tem força ou impacto emocional, persuasivo ou comovente). Mas, se você não é fã dos Beatles, pode achar essa comparação entre "Música do Bem" e "Anna Júlia" exagerada, já que são diametralmente opostas em muitos aspectos. Aqui, a verdadeira marca é a inspiração beatle!
Em "Música do Bem", há um verso que diz: "A ouvir essa canção tão clichê, tão pra você." Eu achei essa uma das maiores sacadas, por ser simples e capturar todo o humor do grupo. É como um "te prometo, mas não sei se vou conseguir"; essa esperança e mítica presente em "Música do Bem" me instigaram e atraíram para o show de Camilla Haddad.
O show da cantora contralto e violonista Camilla Haddad jamais poderia ser intitulado "The Long and Winding Road of...", pois ela só tem 29 anos. A apresentação começa com a alegre "All My Loving" e logo passa para "Something". A voz contralto, frequentemente associada a cantoras negras, é marcada por um timbre profundo e potente, evocando nomes como Ella Fitzgerald e Cássia Eller. No entanto, sem comparações, a alma do show de hoje é de Camilla Haddad, que brilha intensamente como a lua. É emocionante redescobrir a alegria de sorrir novamente, e suas interpretações, além de pessoais, revitalizam os sentimentos, trazendo de volta o prazer de ouvir aquelas canções que estão marcadas a ferro e fogo em sua alma e na dela, com a mesma intensidade.
Camilla Haddad apresentou uma tríade com "Across the Universe", "The Long and Winding Road" e "Let It Be". Isso nos faz recordar o pioneirismo de Lizzie Bravo e o êxtase técnico de Elis Regina. Fiquei curioso: em que situação ela escolheu essas canções?
"Here, There and Everywhere" (que ela adora), "Yesterday" e "Imagine" foram apresentados em uma única sequência, reunindo três grandes clássicos da banda e de seus integrantes. O destaque desse momento foi a interpretação de "Imagine", que, em uma das últimas apresentações ao vivo de John Lennon, refletiu seu desconforto ao abordar a necessidade de um mundo mais íntegro, em um tempo em que a sociedade parecia satisfeita com seu consumo. Naquela sala, "Imagine" soou mais sutil do que qualquer discurso atual na ONU.
Existem várias formas de interpretar os Beatles, e, novamente em tríade com "My Sweet Lord," "While My Guitar Gently Weeps" e "Here Comes the Sun," Camilla Haddad renova o significado desse songbook, estabelecendo um ciclo de sentimentos de salvação. Isso reflete sua alma torturada por experiências intensas, mesmo com apenas 29 anos, que ela consegue transmitir de forma impactante. As canções de George Harrison assumem um contexto terapêutico, tanto para ela quanto para o público presente.
Chegamos ao começo do fim, ao momento especial da noite da família Haddad, em que foi apresentado o single "Música do Bem". É um instante que transcende palavras. Mas percebi que Camilla Haddad ainda estaria na Caverna (The Cavern Club) se não fosse pela sua produtora e fada madrinha, Márcia Tauil, que a tirou das sombras para aquele espaço iluminado com luzes multicoloridas. Ali, ela pôde brilhar, suar e receber a melhor das atenções: a valorização do que faz, retribuindo com amor. Camilla Haddad é amor, um amor compartilhado com Márcia Tauil, que além de ser uma parceira produtora, é uma verdadeira mãe, compreendendo as diversas idades e necessidades.
Na parte final do show, as cantoras Natália Botelho e Cris Castro, que já haviam participado de "Minha Vida (In My Life)" em um claro tributo a Rita Lee, retornam ao palco junto com Camilla Haddad para homenagear Marisa Monte, interpretando músicas da carreira da artista e de seus trabalhos. A satisfação é palpável: "Conseguimos!" Camilla Haddad não esconde seu desejo de se destacar cada vez mais, até mesmo na televisão, como seus ídolos. E com certeza ela conseguirá!
O véu que se levanta é a percepção individual de cada um; o show foi dedicado à promoção do single "Música do Bem", cujo título é emblemático. O evento me fez levantar esse véu e acenar para Zizi Possi, Verônica Sabino e outras grandes cantoras que trouxeram brilho às canções dos Beatles. Mas isso é apenas um capítulo gigantesco. O que se viu aqui foi um rito de passagem, uma introdução necessária às grandes cantoras, repletas de talento e esperança. Somos gratos por esse acontecimento ter ocorrido na flor da pele dos 29 anos de Camilla Haddad.
Foto de Marizan Fontinele
Falo por mim
O espaço musical no Park Way é intimista, onde vários nomes iniciantes e promissores da capital federal despontam em saraus que se estendem a poucos minutos antes do nascer da aurora. Assistimos a performances de Vânia Bastos com Ronaldo Rayol e, mais recentemente, Fátima Guedes. Poxa! O local é de classe. A produtora Flávia Beleza, ao notar minha camiseta do AC/DC, exclamou: "Meu filho toca na banda tributo AB/CD." Eu respondi: "Seu filho é o guitarrista Carlos Beleza?" Assim, nos aproximamos. Após o show de Camilla Haddad, estavam em trio Gilberto no vocal, Flávia Beleza também no vocal, e Carlos Beleza no vocal e violão. Eles capturaram a essência do show anterior, trazendo a acústica de "Blackbird" e, para a alegria desse resenhador, "2001", um clássico caipira dos Mutantes escrito por Tomzé.