Uma Noite com Roberto Menescal: Magia e Maestria no Centro de Convenções (2024)

Stacey Kent & Danilo Caymmi cantam Tom Jobim (participação Roberto Menescal)

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Turnê: Um Tom sobre Jobim
29 de novembro de 2024

Brasília. Desde a reinauguração do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em 2005, eu nunca havia estado lá. Confesso que o espaço não me causou grande impacto, especialmente com as áreas laterais reservadas ao público que paga valores elevados, na faixa dos 600 reais. Esse público mais seleto, acomodado em mesas altas, desfruta de bebidas finas enquanto assiste ao show pelos telões, mantendo uma postura educada. Já nas cadeiras, o comportamento é outro: pessoas conversam, trazem suas próprias bebidas e, em alguns momentos, erguem os braços com celulares para filmar, até cansarem.

Eu já havia recusado outras duas oportunidades de visitar o local, pois os shows internacionais oferecidos não despertaram meu interesse. Sempre me perguntei se essa era realmente a "grande casa de shows" ou se alguma banda de rock relevante se apresentaria ali um dia. Contudo, essa vez foi diferente. Fui ao encontro de Roberto Menescal, um dos últimos gigantes da música brasileira, em um Brasil que ainda é lembrado por sua riqueza musical, mas que há tempos negligencia seu patrimônio literário.

A oportunidade surgiu de forma inesperada. O telefone preto da biblioteca tocou, e do outro lado da linha estava a produção de Menescal, informando que haviam conseguido um ingresso para mim por meio de uma das artistas que produzimos. Hoje, os ingressos chegam por via digital, mas a surpresa e a emoção permanecem as mesmas.

Cheguei ao local com mais simpatia pelo pessoal do estacionamento e pela equipe de limpeza do que pelos frequentadores que pareciam alheios ao espetáculo. O show, no entanto, foi diferente: um convite à apreciação genuína, reservado a quem entende e valoriza a música. Foi nesse contexto que descobri "Imagina" (Valsa Sentimental), uma joia de Tom Jobim com letra de Chico Buarque na reveladora voz de Stacey Kent.

Na manhã seguinte, Marizan me deu detalhes preciosos sobre essa canção, ampliando minha compreensão do que havia presenciado.

Stacey Kent, renomada cantora de jazz, apresentou-se ao lado de seu marido, o saxofonista Jim Tomlinson, que trouxe suavidade ao instrumento enquanto interpretavam canções de Tom Jobim. A performance contou ainda com a participação de dois flautistas, incluindo Andrea Ernest Dias, integrante da respeitada família de músicos Ernest Dias, de Brasília.

Durante o show, Stacey compartilhou que ela e Danilo Caymmi haviam sonhado com esse projeto no Brasil há dez anos, quando se encontraram em Nova York. Agora, finalmente, o sonho se tornava realidade. Danilo, por sua vez, não escondia a emoção e frequentemente declarava sua admiração pela cantora.

A apresentação foi um espetáculo de sofisticação, com quarteto de flautas, cordas graves e agudas, e vozes que misturavam sotaques baianos e norte-americanos. Danilo Caymmi, cuja presença tranquila me surpreendeu, trouxe um brilho especial. Mas o ponto alto, sem dúvida, foi a entrada de Roberto Menescal. Sua postura serena e domínio absoluto do palco nos conduziram por momentos de pura magia.

Menescal, um guitarrista que bebeu da fonte de Barney Kessel, exibiu sua maestria ao adaptar violões e guitarras às mudanças que a idade traz. Em um momento inesquecível, durante um solo, parecia que o instrumento não comportava mais as notas que ele buscava. Mas, com uma pausa calculada, ele encontrou a solução no final do braço do violão, criando um instante de beleza singular. Foi uma performance cativante, carregada de emoção e ternura, como se cada nota refletisse uma vida inteira de dedicação à música.

Saí dali com um desejo sincero: vida longa a Roberto Menescal, um mestre de perfil resolvido e alma generosa, celebrado por todos que têm a honra de testemunhar seu talento. (mário pazcheco)

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Uma Noite de Madrinhas e Mestres

Alguns momentos são verdadeiramente raros, e as boas ações acabam por me posicionar no tabuleiro da vida. Roberto Menescal, o grande produtor, guitarrista e apaixonado torcedor do Fluminense, é uma pessoa simples e cativante, que exala carinho, respeito e admiração por onde passa. Lembro-me de uma conversa em outro ano, quando ele me disse com franqueza: "Agora você não vai conseguir vender o disco". Foi no momento em que terminava seu autógrafo na capa do lendário LP Lóki?, de Arnaldo Baptista, que ele produziu há 50 anos.

Estar ali, naquela ocasião especial, foi possível graças às bênçãos das madrinhas-cantantes Marcia Tauil e Marizan Fontinele, que brincaram ao dizer que eu estava feliz como o pato da canção. E estavam certas. Que presente extraordinário! Encontro tão simbólico quanto conhecer Rogério Duprat ou George Martin, os "arquitetos sonoros" de universos musicais tão marcantes. Obrigado, Menescal, por mais um momento inesquecível.

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