Ainda ontem, vi o passado estampado no jornal de domingo. A vida é um susto. Fui às bancas de jornal, como costumava fazer, apenas para perceber que elas já não acompanham mais os horários das padarias. Ninguém sabe ao certo a que horas, aos domingos, essas bancas abrem. Tudo isso se passou enquanto eu absorvia a matéria "Conheça a nossa Geração Coca-Cola", assinada pelos jornalistas Letícia Mouhamad e Irlam Rocha Lima. Para mim, aquela reportagem reafirmava fatos e emoções: agora, aos 60 anos, olho para o que fiz no passado. Era franzino e fiz fanzines, ao invés de buscar o status de uma academia de letras.

A matéria foi ágil em sua chegada: às 5h50 da manhã, já estava disponível on-line, no mesmo horário em que os jornais impressos são deixados nas portarias dos condomínios. Uma das fotos que ilustrava a reportagem era minha, de 40 anos atrás, colorida pelo tempo e pela memória. O impacto foi imediato e gerou debates intensos. Ainda naquelas primeiras horas da manhã, os verdadeiros fãs da Legião Urbana já compartilhavam o texto em suas redes sociais. As discussões fervorosas começaram a surgir.

No WhatsApp, recebi uma mensagem inesperada: "Pazcheco nos primórdios...". Bebel me enviou uma foto direto da banca de revistas do Marron Glacê, onde aguardava a abertura junto com uma flor e um sorriso. Paulo Kauim também reagiu, e o fluxo de interações pareceu quase palpável. Até pessoas que eu sequer sabia que apoiavam o rock de Brasília estavam compartilhando a matéria. Tudo aconteceu de forma veloz, instantânea.

O que sinto é que a história permanece viva, sendo redescoberta e compartilhada. Essa repercussão traz uma sensação intensa de revisitar os dias promissores de nossas jornadas. É, ao mesmo tempo, um mea culpa e um balanço. E, se para muitos isso acontece uma vez na vida, para mim, é quase um exercício diário.