1977: Arnaldo e a Patrulha do Espaço: O ESTRAGO JÁ FOI FEITO (Parte 2)

1977

 

MARÇO

O ESTRAGO JÁ FOI FEITO

 

Além da música, novos fatores e dificuldades foram adicionados ao repertório do músico, dificultando ainda mais sua trajetória artística e pessoal.

"Em março de 1977, nos encontramos novamente no dia de assinar o divórcio, ou melhor, o desquite. Vendo meu barrigão de grávida, o juiz ficou nervosinho: ‘Absolutamente não, vamos tratar aqui da reconciliação do casal e dessa inocente criança que vai nascer...’. Blá-blá-blá. Em um minuto, expliquei que o filho não era do meu ‘marido’ e que a nova ‘esposa’ dele também estava grávida. Ele assinou rapidinho a papelada e nos dispensou", relatou Rita Lee.

O desquite amigável entre Rita Lee e Arnaldo Baptista foi assinado. Talvez tenha sido nesse momento que se deflagrou a diretriz de se afastar de Rita Lee:

“Faz muito tempo que não vejo ou falo com a Rita. Ela me faz mal. Vibrações ruins, para baixo. Não permitem aproximação porque me faz mal.”

Essa restrição se estendeu por quatro anos.

— Não! Nunca o ouvi falando sobre a Rita. (Rolando Castello Júnior)

 

Ações impulsivas

“Eu mergulho assim nos negócios e me afundo muito. Eu não consigo administrar praticamente nada. Sou um bobo nesse sentido, perco dinheiro.” (Arnaldo Baptista)

 

Durante esse período de grande turbulência emocional e estresse, Arnaldo vendeu sua casa na Cantareira por Cr$ 850 mil, valor que, mais tarde, reconheceu estar abaixo do preço de mercado. A venda ocorreu devido à necessidade urgente de recursos financeiros para apoiar sua segunda esposa grávida. Ao entregar o dinheiro ao gestor dela, a quantia foi considerada insuficiente, e ele foi aconselhado a guardá-lo em uma poupança ou outro investimento.

O episódio gerou um desentendimento que culminou em um ato de agressão, levando Arnaldo a ser internado em uma instituição psiquiátrica no bairro do Jabaquara.

A respeito de sua internação, Arnaldo declarou à crítica Ana Maria Bahiana, em entrevista publicada pelo jornal O Globo em 28/04/1978:

“Aí me internaram, porque parece que fiquei uma pessoa violenta. E eu não quero ser uma pessoa violenta. Diziam que eu era, me internaram.”

Em cartas e conversas, Arnaldo utilizava o termo "hospício" em vez de "hospital" e mencionava ter sido transferido do Hospital do Jabaquara para o Hospital Eldorado. Não está claro se isso decorreu de confusão mental ou se as transições realmente ocorreram. Durante a internação, Arnaldo tornou-se pai. Em um jogo de futebol na instituição, foi agredido por outro paciente, sofrendo um corte no supercílio. Ainda se recuperando, recebeu uma visita que coincidiu com sua alta e com o pedido para assumir formalmente a paternidade do filho.

 

É importante destacar que o sistema de saúde mental no Brasil da década de 1970 enfrentava críticas severas, incluindo denúncias de práticas inadequadas e desumanas em alguns hospitais psiquiátricos. Esse contexto, aliado à confusão mental e à falta de clareza dos eventos ao seu redor, contribuiu para que Arnaldo fosse rotulado como "lóki" pela mídia e pelo público. Sua percepção dos fatos merece análise cuidadosa, pois pode refletir tanto uma interpretação emocional quanto traumas que afetam sua memória e cognição.

“Agora estou bem. Cortei as drogas. Tenho um psiquiatra. Tomo uns remédios. Estou bem. Logo que saí de ser internado, comecei a fazer esse grupo, a Space Patrol. Ia chamar assim, mas, por razões de... evolução... não... chama Patrulha do Espaço.”

(O Globo, Ana Maria Bahiana, 28/04/1978)

Sua declaração de que havia parado com as drogas e encontrado apoio psiquiátrico indica uma tentativa consciente de reconstrução pessoal.

Apesar das dificuldades, Arnaldo encontrou na música uma forma de superar as adversidades. Arnaldo e a Patrulha do Espaço consolidaram-se como uma das frentes criativas mais importantes de sua carreira, refletindo sua resiliência.

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Foto: Carlos Hyra

"Júnior, posso estar enganada, mas essa parceria começou quando o Kokinho e o Arnaldo estavam morando na minha casa, no Horto Florestal, enquanto eu fui para Buenos Aires?" (Sonia Padovitte)

“Eu estava tocando com o Aeroblus na Argentina e, antes do lançamento do disco da banda e com o guitarrista Pappo recém-casado, decidi retornar ao Brasil para dar um tempo. Nessa época, o Kokinho me convidou para a banda, e acabei ficando por aqui mesmo.” (Rolando Castello Júnior)

“A Space Patrol encerrou suas atividades em 1974, antes do lançamento do disco Lóki?. Em 1976, Arnaldo Baptista voltou da América trazendo uma bateria Ludwig com dois bumbos e me convidou para tocar com ele novamente. Naquele período, fazíamos algumas jams juntos, mas eu já havia fundado o Apokalypsis e conhecido Silvia Helena. Nosso amigo guitarrista John Flavin também participava dessas sessões.

(...) “Rolando Castello Júnior, meu amigo e vizinho desde 1973, foi indicado por mim para tocar bateria com Arnaldo. Curiosamente, segundo o próprio Júnior, ele conheceu Arnaldo na minha casa, ao ouvir de seu apartamento uma versão de ‘Blue Suede Shoes’  que estávamos tocando. Esse momento pode ser considerado o embrião de Arnaldo Baptista e a Patrulha do Espaço, já que Kokinho estava ensaiando comigo para o show de lançamento do disco Maytrea & Silvelena, o que acabou gerando uma interação entre os músicos que formariam essa banda.

(...) “Essa fase inicial é pouco conhecida, mas foi crucial para o surgimento dessa icônica banda do rock brasileiro”.

(Zé Brasil)

Nota: É possível que Zé Brasil tenha apresentado Júnior a Arnaldo em sua casa, mas isso aconteceu em anos anteriores.

Uma pena que, naqueles primeiros dias, eu não costumava datar os recortes. Foi em um deles que li, pela primeira vez, sobre o baterista Rolando Castello Jr., o que despertou minha curiosidade.

A polêmica levantada por esse recorte é a ainda não confirmada passagem de Alejandro Medina pelo Som Nosso de Cada Dia. O líder da banda, Pedro Baldanza, mais conhecido como Pedrão, também era contrabaixista. A curiosidade confusa reside na informação de que Alejandro Medina, igualmente contrabaixista, teria integrado o Som Nosso, uma banda reconhecida por ter sido liderada pelo seu único e inegável baixista, Pedrão, que lutou pela existência do grupo de 1972 a 2019.

 

Arnaldo reapropriou o nome Space Patrol para seu novo grupo, um nome que surgiu e evoluiu a partir de uma ideia de Raphael Vilardi, ex-guitarrista dos Wooden Faces e autor da música "Não vá se perder por aí" (dos Mutantes). Raphael sonhava em ser "cadete do espaço" na FAB, uma reminiscência do início dos anos 60, quando fazia parte de uma equipe de aeromodelismo chamada Equipe Vulcânia, que se reunia no Ibirapuera. Foi a partir dessa inspiração que Arnaldo criou a expressão "Patrulha do Espaço".

“Eu já conhecia o Arnaldo havia muito tempo, mas a ideia de tocarmos juntos surgiu através do Kokinho. Inicialmente, a formação incluía o Palhinha na guitarra e o Flávio Pimenta na bateria, mas a parceria não deu certo. Foi então que o Kokinho, determinado a montar a banda, me deu a sugestão: 'Que tal se juntar à tripulação da Patrulha?’ Claro, aceitei sem hesitar. Quando me juntei à Patrulha, o John Flavin já fazia parte, e ele, Kokinho e Arnaldo tinham todas as músicas prontas e ensaiadas. O nome da banda já estava definido, refletindo a fascinação de Arnaldo por temas como espaço, discos voadores e outros planetas. Aliás, ele já havia usado o nome Patrulha do Espaço antes, como subtítulo da música ‘Honky Tonky’, no LP Lóki?”. (Rolando Castello Júnior)

★ "A Patrulha do Espaço era um trabalho mais funk do que os Mutantes. Os Mutantes tinham uma sonoridade mais clássica, mais voltada para a música melodiosa, etc. Já a Patrulha do Espaço era mais voltada para o beat, mais rítmica, mais simples, com um som mais pesado, realmente mais heavy." (Arnaldo Baptista)

O marcante nessa declaração de fevereiro de 1981 é que Arnaldo separa os Mutantes de sua fase áurea, marcada pelo balanço, ritmo e bom humor. Sua fala reflete a rigidez daqueles dias, evidenciando que o que mais o atormentava era a fase progressista da banda, da qual ele queria se distanciar.  Foto: Grace Lagôa

“No meu tempo, não havia esse rótulo de hard ou heavy; existia apenas ‘lenha’, e a Patrulha era ‘lenha’. Nas apresentações, era preciso cantar em um tom tão alto que, após cada show, eu sempre ficava rouco. Nós, músicos, éramos muito bons para o tipo de som que queríamos fazer: blues, The Animals, Mountain, Deep Purple, essas coisas...”  (Arnaldo Baptista)

 Grace Lagôa registra a primeira sessão de fotos promocional da Patrulha do Espaço

Parque da Aclimação, Lagoa dos Gansos: o trio Arnaldo, Rolando e Kokinho observa à distância John Flavin. Uma cena que já parecia antecipar a separação iminente.
Fotos: Grace Lagôa.

 Fotos: Grace Lagôa

A história por trás da foto colorida não é das mais felizes. O arquivo que a guardava estava em um apartamento que foi inundado devido a um vazamento no estúdio de revelação, resultando na perda irreparável de todo o acervo de fotos coloridas. A imagem em questão, que retrata Arnaldo e a Patrulha do Espaço, foi tirada em frente a uma porta de madeira de uma caixa d’água localizada em uma praça, nas proximidades do Parque da Aclimação, em São Paulo, onde também foram feitas outras fotos do grupo.

 

Primeira sessão de fotos promocionais da banda, realizada em 1977 no Parque da Aclimação, em São Paulo. Na imagem, da esquerda para a direita: John Flavin, Kokinho, um senhor, outro senhor, Arnaldo e eu. Para ser sincero, não me lembro qual era o objetivo desta foto. O curioso é que nunca a utilizamos, e acredito que esta seja a primeira vez que está sendo publicada. (Rolando Castello Júnior)

 À esquerda, Júnior; à frente, Martha e Daniel; à direita, Kokinho. Ao fundo, Arnaldo com Mari Pereira Olinto logo atrás; ao lado dela, Ronaldo, o roadie; e, ao fundo, John Flavin.

A edição número 32 do Jornal de Música e Som, de julho de 1977, publicou a primeira matéria detalhada sobre a nova banda de Arnaldo, Arnaldo e a Patrulha do Espaço. A matéria destaca três principais mudanças: ele estava de volta aos teclados, seu verdadeiro amor, e o nome da banda foi traduzido com a inclusão de novos músicos.

 

Bem-vindo de volta, Arnaldo Mutante

Por Nico Pereira de Queiroz

Jornal das Coisas

Minha gente, uma boa notícia: Arnaldo voltou! Arnaldo Dias Baptista, em carne e osso. Tecladista, baterista, baixista, guitarrista, cantor, fundador e ex-integrante do melhor conjunto de rock que o Brasil já teve em tempos muito distantes: os Mutantes.

Arnaldo retorna à vida artística com músicos talentosos e ideias ainda melhores na cabeça. Depois de um longo período de hibernação, longe de tudo e de todos, mas muito próximo de sua mulher, Martha, e agora do filhinho Daniel, um anjo de três meses de idade, ele formou a banda Patrulha do Espaço e está com a corda toda para brilhar.

Na guitarra está John-John, um cara incrível que deixou o Humahuaca para tocar com Arnaldo. No baixo, Kokinho, um músico experiente que percorreu mais estradas do que palcos ao longo da vida. Na bateria, Júnior, que recentemente tocou no Made in Brazil. A banda é pesada e toca para valer!

1977

 

Os ensaios estão acontecendo na casa de Arnaldo, diariamente. A aparelhagem é rudimentar, quase primitiva, com pequenos amplificadores valvulados e caixas de som construídas pelo próprio Arnaldo. “Não quero mais cair no erro dos Mutantes em relação aos equipamentos”, explica ele. “Naquela época, nos preocupávamos mais em adquirir equipamentos novos e sofisticados do que com a própria música. Quando nos apresentarmos ao vivo, usaremos estes amplificadores que você está vendo aqui. Simplicidade, sem complicações. No melhor estilo do rock de garagem, algo muito próximo do punk rock que está acontecendo lá fora. Se o público pedir mais volume, a gente aumenta até o limite, e o som que sairá dessas caixas será maravilhoso: saturado e distorcido. Aquele som autêntico que costumávamos ouvir há alguns anos nos palcos de rock, direto dos amplificadores para o público, sem passar por aparelhos transistorizados que distorcem a essência do som original dos instrumentos.”

Arnaldo está confiante quanto ao futuro da banda: “Depois de apenas dois meses de ensaios, já temos um repertório de 18 músicas que, acredito, são muito boas. Tem de tudo: rock’n’roll, baladas, blues, um pouco de cada estilo. Não estamos preocupados em conseguir shows, gravações ou aparecer. A única coisa que importa é a música. O resto virá naturalmente.

Os músicos que estão comigo têm muita experiência; já tocaram muito por aí e não alimentam mais as ilusões ou sonhos de grandeza que destroem tantos grupos que surgem. Estamos com os pés firmes no chão. Nossos sonhos acontecem apenas no campo puramente musical. Chega de esquemas grandiosos ou aparelhagens complicadas e caras. O objetivo da Patrulha do Espaço é sobrevoar todos esses anos de música pop quase industrial, encontrar onde ficou a verdadeira essência do rock’n’roll e revivê-la. É tudo muito simples, e energia é o que não falta.”

 

 

— Como você descreveria a diferença entre a energia nos ensaios da Patrulha do Espaço e o resultado final que podemos ouvir no álbum ‘Elo Perdido’?

— Nos ensaios na Vila Mariana, em São Paulo, tudo era muito tranquilo: chegávamos, ensaiávamos e íamos embora. A banda soava excepcionalmente bem durante esses ensaios, e o que se ouve no álbum de estúdio Elo Perdido reflete isso. Na verdade, nos ensaios havia ainda mais energia, porque não estávamos gravando, apenas curtindo o som — algo espetacular e inesquecível. Curiosamente, tocávamos "Jesus, Come Back to Earth" nos ensaios. Apesar do título em inglês, era uma música incrível, realmente muito boa. (Rolando Castello Júnior)

 

Em agosto, a revista Pop estampava o título "Arnaldo volta aos bons tempos" em suas páginas, e, em outubro, outra manchete chamava atenção: "Arnaldo ataca de punk rock". No meio disso, setembro trouxe um verdadeiro banquete antropofágico, iniciado em São Paulo, como uma continuidade do movimento modernista de 1922. Era um fato que mostrava que o país ainda estava longe de chegar à sobremesa cultural, reafirmado pela primeira — e até agora única — feijoada musical com ingredientes roqueiros.

Deliciosa, picante e com temperos fervendo em uma grande panela de barro, o prato foi preparado pelos mestres-cucas elétricos do Joelho de Porco, que receberam os convidados em uma enorme mesa montada no jardim do Museu de Arte de São Paulo, na Avenida Paulista.

Entre os presentes, nomes de peso como Jards Macalé, Ney Matogrosso, Gerson Conrad, Sérgio Magrão, Antonio Bivar, As Frenéticas e John Flavin, guitarrista da Patrulha do Espaço. Arnaldo, ao lado de Martha e do filhinho Daniel Mellinger, também participou do evento. Os três posaram para fotos que marcaram a primeira aparição pública da família nas páginas da revista Pop, registrando um momento icônico da cena cultural brasileira.

“Uma honra ter participado desta távola..” (Martha Mellinger)

Feijoada realizada no vão livre do MASP, com a presença de Jards Macalé, Ney Matogrosso, Lidoka d'As Frenéticas, Joelho de Porco, Arnaldo Baptista, John Flavin e muitos outros.

 Fotos: Ary Brandi Ribeiro

Foto: Grace Lagôa


“Na imagem, da esquerda para a direita: Oswaldo Gennari (Kokinho), baixista e responsável pela minha entrada na banda; este que vos escreve; e o incrível John Flavin, que considero um dos melhores guitarristas deste país. Sentado, o genial mestre Arnaldo Baptista.” (Rolando Castello Júnior).

 

14

AGOSTO

Quarta-feira

Mixagem da Fita Que se Tornaria o LP Elo Perdido

“Lembro-me de Arnaldo comentar, durante uma jam, que estava fazendo um investimento musical. Alguns anos depois, ele ou Kokinho me ligaram para uma espécie de ‘audição’. Fui à noite, e achei engraçado encontrar Arnaldo de pijama. Ele me mostrou as músicas que queria trabalhar, e eu topei de imediato.” (John Flavin)

 

A Patrulha do Espaço foi criada para ser a banda de Arnaldo Baptista?

— "Não, uma banda com o Arnaldo."

"A primeira formação da Patrulha do Espaço foi idealizada como uma banda coletiva, composta por todos nós. Porém, com o tempo, surgiu uma pressão para que fosse Arnaldo e Nós. Foi então que decidimos criar duas entidades: Arnaldo e a Patrulha do Espaço. Com essa mudança, começou o afastamento de John." (Rolando Castello Júnior)

 

O John Flavin parece estar bem irritado nessa foto, talvez já demonstrando seu descontentamento? 

“Ahahahahah, não acho que ele esteja irritado, e sim concentrado, ouvindo sua magnífica guitarra e a banda.” (Rolando Castello Júnior)

"Estamos no Estúdio Vice-Versa, em São Paulo, no ano de 1977, ouvindo as gravações do que, anos depois, se tornaria o disco Elo Perdido. A Patrulha do Espaço, em sua formação original,vinha ensaiando havia meses e gravando havia dias. O álbum, que só seria lançado cerca de uma década depois, começava a tomar forma naquele momento." 

(Rolando Castello Júnior)

 

“No estúdio, tudo foi uma grande farra, uma experiência deliciosa, porque a banda era incrível. O Júnior era uma fera, e Arnaldo... bom, Arnaldo dispensa comentários. As pessoas ainda subestimam o seu talento como pianista; ele é algo de outro mundo! Um artista maior, sem dúvida. E, para completar, tinha o Kokinho (que Deus o tenha), dono de um coração do tamanho de um bonde.

(...) “Eu usava um Super Reverb Fender antigo, com um som maravilhoso, e minha Les Paul — só isso. A ideia era tocar rock and roll puro, sem playbacks, sem artifícios. Tudo direto, cru e verdadeiro.” (John Flavin)

(...) “Minha saída da banda aconteceu quando recebi uma proposta do Sérgio Sá para tocar no Beco com a banda que acompanharia Vanusa. Eu estava sem dinheiro e precisava pagar as contas. Foi triste partir, mas a vida é assim, do jeito que ela é!”

(John Flavin)

“Após um período de ensaios e gravações que resultaram no material do álbum Elo Perdido, contando com o talento do grande guitarrista John Flavin, tivemos uma mudança significativa na formação da banda. John decidiu se desligar do grupo, e, em seu lugar, convidamos o guitarrista Dudu Chermont para assumir a posição.

(...) “No que diz respeito à questão financeira, pelo que sei, o Arnaldo nunca precisou tirar nada do próprio bolso. Já eu, por outro lado, investi em cartazes e nos custos de frete para transportar os equipamentos da banda.

(...) “A Dona Clarisse Leite Dias, mãe dos irmãos Dias Baptista (Cláudio, Arnaldo e Sérgio), cruzou nosso caminho uma ou duas vezes. Em uma delas, ela sugeriu o nome Arnaldo e a Patrulha do Espaço para a banda. Em outra ocasião, nos acompanhou até a TV Bandeirantes para tentar falar com o dono da emissora e buscar apoio para o grupo.

 

(...) “Se eu fiquei bravo com a saída do Flavin? De jeito nenhum. Fiquei triste, claro, porque perdemos um baita guitarrista, um dos mais subestimados da história do nosso rock. Mas entendi perfeitamente sua decisão.


(...) “O Arnaldo queria ser patrão, mas não tinha cacife para isso. O John, por sua vez, foi cuidar da vida profissional e ganhar dinheiro, enquanto nós ficamos para segurar a barra da banda e ajudar o 'lóki'. Além disso, acabei investindo uma boa grana nessa empreitada. Sem contar os custos diários de ir aos ensaios e ainda bancar o Kokinho, que estava quebrado. Eu também coloquei grana para cartazes e fretes.
A bem da verdade, por mais genial que ele fosse, o Arnaldo foi um tremendo ingrato.”

(Rolando Castello Júnior)

 

Nas Guitarras: John Flavin ou Dudu Chermont? Quem Ganha São os Fãs!"

O desempenho de John Flavin na guitarra é marcado por sua habilidade em extrair o máximo de uma combinação clássica: uma Gibson Les Paul conectada a um Fender Super Reverb antigo. Seu som une o calor e o sustain dos humbuckers com a clareza e a dinâmica do amplificador valvulado, entregando graves encorpados, médios presentes e agudos brilhantes que formam uma paleta tonal perfeitamente equilibrada. 

Com seu toque, Flavin aproveita o overdrive natural e cremoso do Super Reverb, além do reverb profundo, criando uma sonoridade expressiva e envolvente. Seja no blues, no rock clássico, no jazz ou até no surf rock, John Flavin demonstra um domínio técnico e artístico que torna seu som atemporal. 

O trabalho de guitarra de John Flavin pode ser apreciado no LP Elo Perdido e na versão expandida do Elo Mais Que Perdido. No entanto, a qualidade do som nesses lançamentos compromete injustamente a verdadeira dimensão de sua performance e da banda, devido ao uso de fitas de origem inferior, em vez das gravações originais do estúdio.

 

Dudu Chermont é mais plástico e dinâmico

Sua presença foi marcante ao longo dos quatro primeiros LPs gravados com a Patrulha do Espaço, como integrante do power trio, além do registro ao vivo Faremos Uma Noitada Excelente... com Arnaldo e a Patrulha do Espaço. Seu trabalho pôde ser apreciado tanto nos palcos quanto em programas de TV. O especial da Bandeirantes, por exemplo, capturou os passos de um guitarrista ousado, de técnica direta e descomplicada, que demonstrava constante amadurecimento e adaptação às canções, especialmente em suas performances ao vivo. Sem exagero, Dudu Chermont exibia uma clara admiração por Jimmy Page, que transparecia em seu estilo e entrega musical.

“Não me surpreenderia se Dudu Chermont fosse fã de Johnny Winter, Hendrix, Pete Townshend, Ritchie Blackmore, Stevie Ray Vaughan e Jeff Beck... Todos eles são incríveis!” (Antônio Celso Barbieri)

 Duas guitarras de Dudu Chermont

Uma Les Paul Custom Gibson’ 72 (essa guitarra pertenceu ao guitarrista argentino Pappo) conectada a um Fender Twin Reverb oferece uma sonoridade rica e versátil, ideal para blues, jazz e rock clássico. O timbre da Les Paul, com graves encorpados e médios quentes, combina perfeitamente com o som limpo e cristalino do Twin Reverb, que destaca os agudos suaves e o sustain natural da guitarra. Essa configuração permite desde tons limpos brilhantes até distorções orgânicas ao usar pedais ou aumentar o volume. O reverb de mola e o tremolo do amplificador adicionam profundidade e movimento, criando paisagens sonoras envolventes. É uma combinação icônica, usada por artistas como Jimmy Page e Joe Perry, ou até Peter Frampton.

A Guitarra sacrificada

Arnaldo e a banda ensaiando em São Paulo, na Oca, na Rua Augusta. Kokinho, Dudu e Rolando estão na foto, e é possível ver melhor a Gibson SG, que já era uma guitarra vintage na época, equipada com a alavanca Gibsy, além da icônica bateria Ludwig

Foto: Christiana F. de Carvalho.

 

A Gibson SG '58 com a alavanca Vibrola Gibsy combina o timbre clássico e cortante da SG com a modulação do vibrato, criando uma sonoridade rica e expressiva. O som possui médios acentuados e agudos brilhantes, com sustain longo, perfeito para rock, blues e metal. A alavanca permite adicionar efeitos sutis de vibrato ou mergulhos dramáticos, ideal para passagens melódicas, solos ou riffs. Embora o uso da alavanca possa reduzir um pouco o sustain, a construção sólida da guitarra compensa essa perda. Essa configuração é excelente para estilos como rock clássico, blues psicodélico e hard rock, oferecendo mais expressividade e textura ao som. A manutenção e afinação exigem cuidados extras, especialmente com o uso intenso da alavanca.

SETEMBRO
17

Fotos registradas no camarim do Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, momentos antes do primeiro show de Arnaldo e a Patrulha do Espaço.

Na primeira imagem, a cozinha da banda está preparada, pronta para entrar em ação.

Fotos: Grace Lagôa

 

 

Na segunda imagem, destaca-se o perfil de Arnaldo.

 

Na terceira imagem, da esquerda para a direita, aparecem: Martha, esposa de Arnaldo; Rolando Castello Jr.; Kokinho; e Arnaldo Baptista, sentado em um canto, em um momento de concentração.

AO VIVO


17 

SETEMBRO

Arnaldo e a Patrulha do Espaço realizaram seu show de estreia no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

  

"Participei desse show, o Concerto Sul-Americano de Rock, com a nossa banda: Cesar Mariano, Natan Marques, Wilson Gomes, Dudu Portes e eu, na guitarra. Também estavam presentes o grande Nito Mestre, a banda Crucis, O Terço, entre outros. Os amplificadores Duovox ao fundo (na foto) são nossos. Foi um grande show, com 7.000 pessoas lotando o Ginásio do Ibirapuera."

(Carlos Crispin Del Cistia)

 

17 de setembro de 1977. Uma sexta-feira especial marcou a estreia de Arnaldo Baptista e a Patrulha do Espaço nos palcos, durante o I Concerto Latino-Americano de Rock, evento que reuniu importantes grupos argentinos e brasileiros. Foi uma noite de energia intensa, com música de excelente nível, apesar dos conhecidos problemas técnicos de som.

O empresário Mário Buonfiglio, após assistir a alguns shows de rock na Argentina, teve a brilhante ideia de trazer bandas como Crucis, Los Desconocidos de Siempre, além do cantor, violeiro e gaitista León Gieco. Para representar o Brasil, subiram ao palco Arnaldo e a Patrulha do Espaço, O Terço e César Camargo Mariano e Grupo.

O palco foi montado às pressas, apenas um dia antes do show, já que o Ginásio do Ibirapuera havia sediado o Mundial de Vôlei até a véspera. Contudo, as constantes panes na aparelhagem comprometeram o ritmo do festival, afetando o entusiasmo da plateia.

A abertura ficou a cargo de Arnaldo Baptista e a Patrulha do Espaço, que enfrentaram sérios problemas causados pela má regulagem da mesa de som, operada por um músico paulista inexperiente, que não dominava o equipamento e cometeu erros graves. Mesmo com a presença do técnico responsável, o perfeccionismo de Arnaldo acabou frustrando as maiores expectativas do público que aguardava ansioso sua performance.

Apesar dos contratempos, Arnaldo e sua banda foram muito aplaudidos, deixando claro o potencial de seu som único e a qualidade de suas composições. Como escreveu Nico Pereira de Queiroz:

"De qualquer maneira, Arnaldo foi muito aplaudido e deixou a certeza de possuir um som realmente bom e músicas de primeira qualidade."

 

 Da esquerda para a direita: Júnior, Pino Marrone, Gonzalo Farrugia e Aníbal Kerpel, integrantes do Crucis.

Zé Brasil, Crucis (Argentina), Patrulha do Espaço

Com o Crucis, foi em 1977, durante o Concerto Latino-Americano de Rock no Ginásio do Ibirapuera. Passamos ótimos momentos juntos, especialmente com o saudoso baterista Gonzalo Farrugia. Chegamos a tocar algumas músicas na minha casa, pois eles também curtiram o Apokalypsis. Foi também a estreia de Arnaldo e a Patrulha do Espaço, e eu tentei ser o "técnico de som" deles no evento, mas acabei pagando o maior mico, especialmente quando o P.A ficou mudo por causa de um curto na tomada das potências Giannini. Fui detonado até pelos meus amigos, como o Luiz Carlini e o meu parceiro Nico Pereira de Queiroz, que escreveu na revista Pop me criticando (com razão) e, por amizade, omitiu meu nome. Também havia uma banda com um nome que adorei: Los Desconocidos de Siempre. Que anos 70 incríveis!

Quanto à Patrulha, me redimi com eles quando fui "stage manager" na abertura do Van Halen, tempos depois, no mesmo local. Já sem o Arnaldo, e com Rolando Castello Júnior, Serginho Santana e Dudu Chermont tocando com os Univox e Duovox, na frente da cortina fechada dos americanos. Foi o "rock do cruzeiro contra o dólar", segundo Júnior. Um dos maiores arrependimentos da minha vida foi ter jogado fora a credencial "backstage" com a imagem de um leão que eu tinha desse show. Mas valeu, principalmente pelos elogios que os músicos do Van Halen fizeram a mim ao lado do palco enquanto assistiam à apresentação dos brasileiros.

Cosas de la vida, babe...

“O primeiro show ao vivo da nossa banda no Ginásio do Ibirapuera foi uma experiência bem desagradável. Estava lotado, com cerca de 12 mil pessoas, e fomos a última banda a fazer o som, já que seríamos a primeira a tocar. Durante a passagem de som, tudo estava perfeito, mas quando começou o show, o Zé Brasil, músico amigo do Arnaldo e da banda, pediu para operar a mesa de som. No entanto, acho que a grande falha não foi dele, mas sim do equipamento, porque, na época, o pessoal era muito despreparado. Não sei como, mas conectaram 30 potências a uma única tomada. No meio da apresentação, a tomada estourou e ficamos parados por uns 10 ou 15 minutos — a coisa mais frustrante que vivemos. Apesar disso, seguimos em frente e terminamos o show, mesmo com outros imprevistos surgindo durante o evento no Ginásio. Não foi uma estreia ideal, mas, de alguma forma, foi legal!

(...) “Entre a formação da banda e os primeiros shows, ficamos ensaiando por uns dois meses e meio. O John Flavin, sempre querendo ganhar dinheiro de qualquer maneira, como músico profissional acostumado a acompanhar grandes cantores, surgiu com uma oportunidade de fazer shows com a Vanusa. Como a grana era boa, ele queria ficar na Patrulha e tocar com ela. Nós dissemos: ‘Não, bicho, você tem que escolher, ou fica com a gente ou com ela.’ E ele optou por tocar com a Vanusa.

(...) “Os ensaios aconteciam em um clima muito bom, extremamente agradável. Ensaiávamos todos os dias na casa do Arnaldo, na Vila Mariana, em São Paulo. As músicas eram compostas pelo Arnaldo, e nós fazíamos os arranjos juntos. Ele não exigia nada de nós, porque confiava no nosso trabalho, e realmente éramos um conjunto — não havia essa de dar ordens. O clima era bem legal.

1977

(...) “Nosso esquema era muito profissional e funcionava bem. Tínhamos roadies, equipamento de som, e quando não usávamos o nosso próprio, alugávamos da Transasom, que na época tinha um ótimo equipamento. Queríamos uma boa produção, mas não uma superprodução, já que não era o que se fazia na época. Nossos primeiros shows foram no Ginásio do Ibirapuera, para 12 mil pessoas, depois em Belo Horizonte, Campinas e no Ginásio do Palmeiras. Os quatro primeiros shows contaram com uma excelente produção de Mário Buofiglio. Mas, na verdade, o Arnaldo era o que menos exigia em termos de produção. Para ele, tocaríamos em qualquer lugar, com qualquer equipamento — o que ele queria mesmo era tocar rock’n’roll. E, por incrível que pareça, éramos nós, a banda, que éramos mais exigentes do que ele.”

(Rolando Castello Júnior)

 

Pegadinhas?

Como parte de uma estratégia de marketing para impulsionar a agenda de shows, Rolando Castello Jr. trouxe o primeiro LP Made in Brazil, no qual gravou a bateria, e pediu a Arnaldo que pegasse alguns exemplares dos discos em que participou, como Lóki? ou algum dos Mutantes, para mostrar aos produtores que a banda tinha reconhecimento e experiência. Minutos depois, Arnaldo voltou segurando dois LP’s de Jethro Tull e Led Zeppelin. Arnaldo aparentemente havia entendido que Júnior queria apenas pegar os LP’s emprestados. Incrédulo, Júnior franziu a testa, pensando: "Isso só pode ser brincadeira."

“— Ahahahahahahah! Exatamente como eu falei! Sim, íamos para Santos tentar vender a banda, e conseguimos, mesmo com o Arnaldo fazendo e falando asneiras.“

(Rolando Castello Júnior)

OUTUBRO

Em outra ocasião, na mesma época, mas sem os integrantes da banda, Arnaldo, ao atender conhecidos na beira do portão, simulava ir buscar a chave dentro de casa, mas nunca retornava. Após esperar por um tempo, os visitantes acabavam desistindo e iam embora.


Curiosamente, conforme registrado no livro A Divina Comédia dos Mutantes, Sérgio Dias tentou sondar Arnaldo para um possível retorno aos Mutantes. Porém, encontrou o irmão mais deprimido e alucinado do que antes. Dessa vez, Arnaldo tinha uma justificativa para recusar: estava tocando com sua nova banda, Arnaldo e a Patrulha do Espaço, ao lado de Dudu Chermont (guitarra), Kokinho (contrabaixo) e Rolando Castello Jr. (bateria).

 

OUTUBRO
Ginásio do Palmeiras

Primeira apresentação no Ginásio do Palmeiras, sucedendo a estreia noConcerto Latino-Americano de Rock.

A recusa de Arnaldo em retornar aos Mutantes demonstra sua determinação em seguir um novo caminho com a Patrulha do Espaço, consolidando um período de autonomia criativa e independência emocional.

 

Foto: Grace Lagôa /
Antônio Celso Barbieri

 

26 

OUTUBRO

Quarta-feira

Arnaldo e a Patrulha do Espaço posaram em frente à casa de Arnaldo, localizada na Vila Mariana, um bairro tradicional e acolhedor de São Paulo. Era ali, na Rua Sena Madureira, que Arnaldo vivia com Martha e o filho Daniel, além de ser o local onde ocorriam os ensaios da banda, no coração da zona sul da cidade.

 

F

otos: Grace Lagôa


 

. 1977

“Nos quatro primeiros shows, assim como no do Festival Latino-Americano de Rock, o piano de parede esteve presente. Era um instrumento de Arnaldo. Mas um dia os roadies se revoltaram e se recusaram a baixar o piano do caminhão, porque o Arnaldo não o usava nos shows. E, para ser sincero, nem faria sentido usá-lo, pois, quando você transporta um piano, ele tende a desafinar, e seria necessário um afinador em cada local, mais um delírio. O empresário era o Mário Buonfiglio, um grande profissional no sentido de trabalhar duro e fazer muito pelos seus contratados. Mas, um dia, ele deu um basta na relação com o Arnaldo e com a banda.” (Rolando Castello Júnior)

 

Fim de ano. Na passagem, Arnaldo, vestindo um estiloso "executivo descontraído", e Martha decidem aproveitar a noite na Papagaio Disco Clube, a discoteca frequentada por boa parte da cena rockeira paulistana. Após algum tempo no salão, resolveram se retirar para tomar uma bebida, mas logo acabaram se agarrando para escapar dos flashes e da insistência dos amigos. Saíram mais cedo do que planejaram, em busca da tranquilidade do lar, refugiando-se daquela música barulhenta e exaustiva .

 

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