1978: ARNALDO E A PATRULHA DO ESPAÇO: MEMÓRIA PERTURBADORA (PARTE 3)

Foto à direita: Sandra Adams

1978


1978

14 

JANEIRO
Sábado

Clube Ilha Porchat, São Vicente! Fotos: Gegé Godoy

“Até pouco tempo atrás, eu não sabia da existência desta foto, que foi tirada no dia 14 de janeiro de 1978, um sábado, no  Clube Ilha Porchat. A foto chegou até mim via correio, em um pacote com uma caixa cheia de fotos que minha amiga Grace Lagôa me enviou, incluindo fotos dela e da querida Gegé Godoy. Não sei qual das duas tirou essa foto, mas quando a vi, depois de tantas décadas, meu coração bateu mais forte.

(...) “Eu amava essa bateria, a comprei nos EUA e foi toda uma aventura trazê-la para o Brasil. Depois, ela foi para a Argentina, onde a usei pela primeira vez com o Aeroblus. Com ela, gravei os quatro primeiros discos da Patrulha do Espaço, foram centenas de ensaios e shows, milhares de quilômetros rodados, e com ela tive muitos prazeres e alegrias. Foi com ela que levei o feijão com arroz para casa.

(...) “Portanto, quando vi essa foto pela primeira vez, não vi apenas uma imagem, mas uma boa parte da minha vida passando diante dos meus olhos. O que me intrigava nessa foto eram duas coisas no chão, em frente aos bumbos. Demorei um tempo para perceber que eram as tampas de dois cases de toms. Entendi então, pela ausência de alguns pratos e pela proximidade das tampas com a bateria, que ela estava prestes a ser desmontada e guardada pelos roadies. Não sei por que uma das duas queridas amigas tirou essa foto, mas minha gratidão é eterna por terem registrado para a posteridade essa minha paixão, minha razão de viver.

(...) “Sempre vou te amar, minha querida bateria Ludwig.

(...) “Desfeito o mistério, clique de Gegé Godoy.” (Rolando Castello Júnior)

 


Memória Perturbadora

"Na noite anterior, fizemos um evento no salão do clube e, no dia seguinte, teríamos outro ao ar livre, na praia. Arnaldo passou a noite na areia, acompanhado por Lalo, guitarrista e futuro marido da cantora e musa Wanderléa. Após dormir na praia, ele apareceu no palco vestindo um casaco de pele. Eu havia conseguido emprestado um apartamento enorme, bem em frente à praia, mas a personalidade dele tinha que ser a do 'Lóki', né?" (Rolando Castello Júnior)

O Clube Ilha Porchat está situado na Praia de São Vicente, em São Vicente, no litoral de São Paulo, e oferece uma vista deslumbrante para a Baía de Santos. É um dos tradicionais pontos de lazer da região, mas não são as belezas naturais que vêm à mente do baterista Júnior quando lembra daquele lugar. Ele revive um episódio que, se não fosse trágico, poderia ser cômico (e esse clichê se encaixa perfeitamente aqui).

Arnaldo e a banda haviam combinado iniciar a apresentação em frente a um imenso público na praia com a enérgica "Sexy Sua". No entanto, como aconteceu em outras apresentações, Arnaldo apareceu de última hora, visivelmente desleixado. Porém, desta vez, ele ultrapassou os limites. Em vez de começar com a vigorosa música planejada, resolveu fazer uma interpretação pessoal da sonhadora "Fique Aqui Comigo".

Era impossível dissociar o artista de sua natureza sonhadora. A banda, no entanto, ficou indignada e, em um momento de frustração, silenciou os instrumentos, interrompendo os acordes de "Sexy Sua" para ouvir o pungente apelo de Arnaldo. Para os meninos da banda, isso era apenas mais uma das excentricidades do líder, que, embora não fosse supremo, dominava completamente o rumo dos acontecimentos.

Rolando Castello Jr., baterista com pulso firme, ainda era jovem, mas longe de ser sonhador. Vinha de uma experiência recente com a banda Made in Brazil, a qual não fora das mais honestas. Tinha tocado no México, conhecido Nova York e gravado na Argentina. Hoje, ele reconhece que teria sido mais rentável ter permanecido nessas localidades durante sua juventude.

Júnior foi contratado por uma empresa internacional, a RCA Victor, e se orgulhava de ter recebido holerites dessa multinacional. Na Argentina, ele recebia telex empolgados de Ezequiel Neves, pedindo seu retorno ao Made in Brazil. Júnior ainda guarda essa comunicação.

 

1978

Era natural que ele discordasse de certos rumos da banda, afinal, foi a interferência externa que levou John Flavin a abandonar a formação. Júnior possuía mais experiência profissional do que Kokinho e Dudu para analisar os caminhos das turnês e das situações que surgiam.

Quando Lalo Califórnia, um guitarrista chileno radicado em São Paulo, se aproximou repentinamente, não era preciso ser um gênio para perceber que ele tinha interesse na banda. Júnior não hesitou e manteve sua ideia de um único guitarrista na formação.

Pelas primeiras vezes, suas falas não censuradas oferecem uma visão privilegiada da banda, mostrando tanto os momentos de glória quanto os percalços. As declarações de Júnior não podem ser consideradas como “fogo amigo”, tampouco distorcidas — se o fossem, eu não as usaria. Sem censura, e sem trechos no vermelho, é isso que você lê aqui.

Nos anos seguintes, a situação da Patrulha do Espaço se tornaria tensa e "pesada". Economicamente, a situação familiar estava difícil, e as relações conjugais estavam em guerra. Com a banda na estrada por tantos anos, as "explosões" conjugais se tornaram comuns, o que fez com que o ambiente nem sempre fosse muito bom.

Assim, este é o relato que nos acompanha, revelando a forte personalidade de Júnior, que manteve a Patrulha do Espaço na estrada até os dias de hoje, 2024! 

 

A Atual Formação da Patrulha do Espaço

A trajetória de Arnaldo Baptista nesse período é marcada por perdas, transformações e momentos de resiliência. Seu legado, tanto no trabalho solo quanto com a Patrulha do Espaço, transcende as adversidades que enfrentou, revelando um artista complexo, vulnerável e, acima de tudo, humano.

Após várias formações instáveis, Arnaldo Baptista parece ter encontrado a tripulação ideal para a sua Patrulha do Espaço. A banda, um dos poucos conjuntos de rock pesado da época, é fruto de um trabalho desenvolvido ao longo de mais de três anos entre Arnaldo e o contrabaixista Oswaldo Kokinho, quando o grupo ainda se chamava Space Patrol.

No contrabaixo, Oswaldo “Kokinho”, que iniciou sua carreira em um supergrupo com Manito, Dinho e Prandini, fundou o Neblina e participou do Banho de Lua (de Lúcia Turnbull). O baterista Júnior, vindo do trio pesado Aço, traz consigo uma ampla experiência adquirida no México com o trio Tarântula. Ele também gravou o primeiro disco do Made in Brazil e outro na Argentina com o grupo Aeroblus, onde se apresentou com o lendário guitarrista Pappo. Dudu Chermont, por sua vez, teve passagens pelos grupos Santa Fé e Made in Brazil.

Arnaldo é o responsável por todas as músicas e letras da Patrulha. O grupo gravou uma fita com 13 músicas no Estúdio Vice-Versa, produzida por Rogério Duprat, uma das mais importantes produções dessa fase da banda (vale destacar a importância dessa gravação com as 13 músicas!).

Recentemente, a banda incluiu em seu repertório a música "O Meu Barato", de Guilherme Lamounier, imortalizada na voz de Cornelius & Santa Fé.

Ficção científica e punk são duas influências de Arnaldo. A primeira é antiga, exemplificada pela sua admiração pelo filme Star Wars e por uma nova música que será lançada em compacto, intitulada:

 

Nave que viaja ao centro das terras
Hinos para o Céu, portas abertas
O signo vê a verdade
Que em breves momentos
Estarei entre o Céu e a Terra.

 

 Foto: Grace Lagôa

Para Arnaldo, “tudo faz parte de uma espiral que começa com os Beatles, passa por Elton John e hoje está no punk. Ou seja, começou com a simplicidade dos amplificadores Vox, da bateria não amplificada, foi para o exagero acústico e visual de Elton e retorna ao despojamento do punk.”

A Patrulha do Espaço utiliza um equipamento compacto. Quando se apresentam, alugam o P.A. de Tadeu, do Sindicato, que costuma oferecer um preço especial para músicos. Também trabalha com a Arlen, que fornece alto-falantes e divisores de frequência. Os integrantes do grupo têm uma opinião formada sobre as empresas especializadas em aluguel de equipamentos: "Cobram muito caro, é um verdadeiro abuso o que eles fazem!"

Os instrumentos da Patrulha do Espaço são: Arnaldo — Hohner Clavinet e piano Schneider de armário, ambos plugados em um Palmer modificado e passando por um mixer Giannini. Para os shows, aluga um ElkaStrings. Oswaldo Kokinho — contrabaixo Fender Precision e um Thunder Sound. Dudu — guitarra Gibson SG, modelo ’58, e um amplificador True Reverber. Júnior — bateria Ludwig Octaplus, com seis pratos, oito tons e dois bumbos de 24 polegadas. As caixas de som são construídas pelo próprio grupo, com alto-falantes Arlen.

O modelo Gibson SG '58 é uma reedição da SG, fazendo referência às primeiras versões da guitarra lançadas pela Gibson, com características semelhantes aos modelos da década de 1950. Embora a Gibson SG tenha sido oficialmente lançada em 1961, a reedição do '58 visa capturar o estilo e a essência das guitarras dessa época. O modelo apresenta corpo em mogno, captadores PAF ou versões modernas com timbre clássico, acabamento "Cherry" ou "Heritage Cherry" e um braço fino e confortável, inspirado nos primeiros designs. Embora não seja uma réplica exata de 1958, a SG '58 oferece uma experiência próxima das primeiras guitarras Gibson.

Embora o grupo tenha feito poucos shows, alguns deles se destacam, como o Primeiro Concerto Latino-Americano de Rock, realizado em São Paulo, no Ibirapuera e no Ginásio do Palmeiras, além de apresentações em Belo Horizonte, Campinas, Itanhaém, Osasco, Clube Ilha Porchat em São Vicente-SP, e, em breve, em Santo André.  

Era como um sonho: em Osasco, Arnaldo e a Patrulha do Espaço subiram ao palco do antigo Teatro Expressão. Arnaldo teve a companhia especial de sua mãe, cuja presença tornava o momento ainda mais memorável.

O excêntrico e carismático Guilherme Araújo, renomado produtor cultural e empresário de diversos artistas, desempenhou um papel crucial na organização de shows, gravações e estratégias de carreira, sendo uma peça-chave na concepção e divulgação do Tropicalismo.

Naquela noite de expectativas, ele era o convidado especial, a figura central de um jantar planejado com a Patrulha do Espaço. Contudo, a tão aguardada reunião jamais aconteceu. Guilherme não telefonou, não apareceu e tampouco apresentou qualquer justificativa. O clima, que antes era de entusiasmo, rapidamente desmoronou. O astral ficou tão pesado que nem mesmo a sobremesa foi servida.

Apesar da decepção, a jornada continuaria reservando novos desafios e capítulos por vir.

 

Fotos: Grace Lagôa

 

 

 

1978

 

20

MARÇO

Segunda-feira

Filipeta de Arnaldo e a Patrulha do Espaço, março de 1978. Este foi o primeiro show que fizemos sem empresário ou produtor; nós mesmos produzimos tudo, na verdade, mais eu e o Kokinho. A arte dessa filipeta foi criada por um tal de Aurichio, e a impressão foi feita em papel jornal, o mais barato que havia na época.  (Rolando Castello Júnior)

 Patrulha do Espaço, backstage Teatro 13 de Maio, São Paulo.

0 live 78

Fotos: Grace Lagôa

1978

03 

ABRIL

1978
Segunda-feira

Teatro 13 de Maio, São Paulo  Foto: Grace Lagôa 

 

 

Fotos: Marcio Lambais

 

1978

13 

ABRIL

Quinta-feira

Teatro 13 de Maio, São Paulo 

 

Fotos: Marcio Lambais

 

 Fotos: Marcio Lambais

1978

28

ABRIL
Sexta-feira

 

Arnaldo Baptista

— Rock eu gosto porque é meu sangue. É minha vida desde que nasci.

 

Em uma entrevista histórica concedida à jornalista Ana Maria Bahiana e publicada no jornal O Globo, na sexta-feira dia 28/04/1978, Arnaldo fez grandes desabafos e relatos: 

Sobre Rita Lee: "Quando eu ouvia a Rita, gostava. Não ouço nem vejo a Rita há muito tempo. Me faz muito mal. Más vibrações. Para baixo. Martha não deixa porque me faz mal. Os Mutantes do Sérgio eu operei para eles, uma vez. O Sérgio vem tocar aqui com a gente no domingo, dar uma força."

Em um dos momentos mais lindos do texto, Ana Maria relata: "Subitamente pede licença, vai correndo ao palco cuidar, pessoalmente, das ligações elétricas de seu teclado Hohner. Se é possível ter certeza de algo, de coisa sei: ele não está brincando de pirado. Todo seu corpo, todo seu rosto está empenhado numa batalha surda e intensa, digna, que não tem nada a ver com as possíveis fantasias de sua ex ou atual plateia. Agachado atrás dos amplificadores, metodicamente checando fios e plugs, sobrancelhas cerradas, ele não parece um herói: está lutando por sua vida. Com todas as forças."

O cenário do Teatro Tereza Rachel, em abril de 1978, com Arnaldo Baptista e a Patrulha do Espaço, retrata bem os desafios da produção musical da época. O palco, iluminado por luzes simples, estava montado com as grandes caixas da aparelhagem lendária dos Mutantes, uma visão que prometia uma noite memorável. No entanto, a falta dos cabos e conexões essenciais para ligar o equipamento criou uma tensão no ar.

1978

Arnaldo, conhecido tanto por sua genialidade quanto por sua resiliência, trabalhou junto com a equipe técnica e os membros da banda para resolver o problema. O guitarrista Sérgio Dias, irmão de Arnaldo, também estava presente, pronto para contribuir com seu talento em um momento especial de reencontro musical.

A noite começou atrasada, mas, quando finalmente os cabos foram providenciados e tudo ficou pronto, a música ecoou pelo teatro como se nada tivesse acontecido. O público, que aguardava ansioso, foi recompensado com uma apresentação inesquecível, marcada pelas novas experimentações dessa formação ideal, que durou apenas uma noite.

O episódio, apesar de caótico, é um reflexo da paixão e improvisação que marcaram aquela era do rock brasileiro. A energia crua e o talento dos artistas superaram qualquer empecilho técnico, deixando na memória coletiva uma apresentação icônica.

“Foi no Rio de Janeiro, no Teatro Tereza Rachel. Não lembro exatamente o que tocamos com o Serginho, eram as músicas da banda, ele entrou e tocou junto, mas não me recordo quais foram. O que realmente lembro são várias histórias e aventuras dessas apresentações no Rio, cara, foram experiências máximas, pelo menos para mim.”
(Rolando Castello Júnior)

 

Memórias de Adalberto Barboza

 

Quando assisti ao show de Arnaldo Baptista e a Patrulha do Espaço em 1978, no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, Rio de Janeiro, houve um momento marcante no meio da apresentação. Arnaldo comentou que havia assistido a um show dos Rolling Stones em 1969 e que, no ano seguinte, em 1970, fez uma viagem de moto pelos Estados Unidos.

 

O Sérgio Dias deveria ter tocado durante toda a temporada, mas eu só fui no último dia — justamente quando ele subiu ao palco. Ele tocou com uma Fender amarela com alavanca e fez uma apresentação incrível.

 

Um amigo que me acompanhou registrou tudo em fotos, mas perdi contato com ele anos depois, quando se converteu e se desfez de tudo que tinha relação com o rock.

 

Havia cerca de 20 pessoas na plateia. No final do show, Sérgio Dias apareceu e tocou... de costas para o público.

 

 

CÂMERA DA ÉPOCA DA PATRULHA DO ESPAÇO

Arnaldo e a Patrulha, ensaiando em São Paulo, na Oca da Rua Augusta. Arnaldo de costas com seu *Clavinet Hohner, Kokinho (Precision) e Dudu nos vocais de apoio, sendo que Dudu segura a lendária Gibson SG, uma verdadeira 

obra-prima da guitarra, que ele acabou destruindo no show do Teatro Pixinguinha. 

“Lembro-me de ter ajudado a ajustar essa SG. Infelizmente, ele acabou quebrando a guitarra durante um show no Teatro Pixinguinha.” (Naná Fernandez)

 

Fotos: Christiana F. de Carvalho.

 

 

O Clavinet Hohner é um instrumento eletromecânico popular nos anos 1970, amplamente usado no funk, rock, soul e jazz. Ele produz som por cordas metálicas vibrantes captadas magneticamente, combinando características de teclado e guitarra elétrica.

Conhecido pelo som percussivo e funky, o modelo icônico Hohner Clavinet D6 foi usado por artistas como Stevie Wonder e Led Zeppelin. Apesar de sua popularidade ter diminuído, ainda é valorizado por seu som único, com réplicas digitais tentando recriar sua essência.

“Dudu destruiu a Gibson SG, mas é importante entender o contexto. Esse show foi um marco na história da Patrulha. Estávamos enfrentando grandes desafios na estrada, especialmente após a saída do Arnaldo. Naquela época, nosso único espaço era em teatros, geralmente às segundas-feiras, e conseguir uma data no Teatro Pixinguinha foi uma verdadeira batalha, já que lá só se tocava MPB. Conquistamos uma data difícil, uma segunda-feira, e convidamos a banda Lírio de Vidro para abrir o show. Dividimos o custo dos cartazes de rua, que foi uma fortuna para a época. A Patrulha estava apreensiva, pois o Teatro Pixinguinha tinha capacidade para quase 1000 pessoas, e a pressão era grande.”

(...) “Naquela ocasião, Walter Baillot, ex-guitarrista do Joelho de Porco, fazia parte da banda, e convidamos o Manito para uma participação especial no saxofone. Como de costume, alugamos o P.A. do Tadeu, da banda Sindicato, além de parte do equipamento do Made in Brazil. Para nossa sorte, o teatro estava lotado naquela segunda-feira, o que representou uma grande conquista para a Patrulha e para o rock pesado brasileiro. Foi a recompensa merecida, fruto de muito trabalho, dedicação e estrada em prol do rock nacional.

(...) “Mas o pior não foi o Dudu ter feito um Pete Townshend na guitarra, se emocionando demais com o som e a galera. O pior é que ele quebrou a guitarra, o braço se separou do corpo. E essa guitarra era solid body! Ele simplesmente a lançou para o público. Não deu para tentar consertá-la ou aproveitar de alguma forma. Ou seja, na terça-feira, a Patrulha do Espaço não tinha guitarra para tocar. Dudu passou um tempo tocando com a Les Paul do Celso Vecchione, até que conseguiu comprar uma Stratocaster na Leimar por um preço de ouro. Ah, aqueles eram os dias...” (Rolando Castello Júnior)

 

Teatro São Pedro, São Paulo, 1978.  Foto: Grace Lagôa

14 

MAIO

Domingo

“Ahahaha, outra foto de show que adoro, principalmente pelo clima que ela transmite. Nesta, também não apareço de frente — apenas de costas —, mas o ambiente no palco é incrível! O grande Arnaldo no piano, enquanto Kokinho e Dudu compartilham o microfone em uma cena que não poderia ser mais ‘Beatles’". 

Ahahaha 2

“E olha só, o Eduardo Depose também está presente nesta foto, de certa forma! A Les Paul no case, ali ao lado do piano, é dele, assim como o Twin Reverb que o Dudu está usando.”

(...) “Twin Reverb é um amplificador icônico da marca Fender. Ele é amplamente conhecido por seu som limpo e cristalino, sendo muito popular entre guitarristas de diversos estilos musicais.

(...) “Imagina! Eu nem lembrava disso! Acho que, naquela mesma noite, meu pai ficou doente, e tive que voltar para Buenos Aires. Por isso, acabei não gravando o disco do Made (Paulicéia Desvairada). Quem gravou, no final, foi o Nacho. Puta saudade, Júnior!”

(Eduardo Depose)

Arnaldo chegou atrasado ao show e fez sua entrada no palco dançando?

Nos dias 12, 13 e 14 de maio, Arnaldo e a Patrulha do Espaço realizaram suas melhores apresentações no extinto Teatro São Pedro, registrando os shows em fita.

Teatro São Pedro, ao vivo! Simplesmente! Júnior na bateria, no duelo de guitarras Dudu Chermont e John Flavin, com Kokinho no contrabaixo, em ‘Um Pouco Assustador...’

Fotos: Grace Lagôa

 

“As fitas do Faremos Uma Noitada Excelente... estão aqui ao meu lado neste exato momento. Um dia as ouviremos. Você tem um gravador de rolo? Elas estão guardadas ao meu lado, algumas dentro e outras em cima do armário, junto com outras fitas. Teria que procurar, mas, se você conseguir um Akai 4000 DS, podemos ouvir juntos um dia.

Nessas fitas, você vai escutar o Arnaldo soltando várias pérolas, inclusive coisas absolutamente inéditas. Tem momentos ótimos! Mas nada de estúdio, porque sempre há o risco de alguém copiar. Isso precisa ser algo reservado, feito de forma discreta, só entre amigos — só a diretoria. Afinal, as besteiras ditas ali não são para qualquer ouvido.
O que temos aqui é um registro cru, um grito visceral do mais puro rock’n’roll. Essa cambada de ignorantes não faz ideia do que é rock de verdade. Então, arrume um gravador de rolo e marcamos uma audição. Vai ser divertido, mas só para nós, é claro.
Se estivéssemos em um país decente, essas fitas valeriam uma fortuna. Aqui, não valem nada. Nem os cupins se interessam.” (Rolando Castello Júnior)


“Este cartaz da rifa, do Arnaldo e a Patrulha do Espaço, parte do primeiro prêmio da mesma, tem uma história própria, e pelo seu tempo de existência, já são 45 anos de sua fabricação e uso. Como ele foi preservado por tanto tempo é uma ótima pergunta! Encontrei-o recentemente ao mexer nos guardados antigos da Patrulha. Ignorava que ainda o tinha, porque, pela importância da data, teria o emoldurado no lugar daquele que emoldurei há duas décadas, e que agora publico aqui.

(...) “A história desse cartaz da rifa é a seguinte: ele foi feito para ser colado nas ruas. Nós mesmos, da Patrulha, colávamos nas madrugadas paulistanas. Fazíamos a cola e lá íamos nós, para o centro, zonas sul, leste, oeste, norte e ABC. Era um trabalho desgastante e o pior é que, se na noite anterior colávamos uns 200 cartazes, no dia seguinte, nos tapumes, havia ficado menos da metade, porque os coladores profissionais colavam em cima dos nossos sem piedade.

(...) “O grande lance desses cartazes é que foram feitos no silk screen. Não me recordo do nome do artista, mas era uma tela imensa, e como o fotolito naquela época era caríssimo, o cara fazia o desenho no filme com um estilete. Era um baita trampo, e o cara era um artista e tanto.

1978

(...) “Depois, tínhamos que comprar o papel, a tinta e imprimir os cartazes. Precisávamos de um lugar grande, porque a tinta precisava secar e não dava para colocar um cartaz em cima do outro. Como o artista era universitário, fazíamos isso numa república, que ficava num casarão próximo ao Bixiga. No quintal, estendíamos cordas para pendurar os cartazes para secarem. Era um trampo do caramba! Nós, os roadies e a galera da faculdade fazíamos a função que levava a noite inteira.

(...) “Pensando nisso hoje em dia, jamais faria isso de novo. Era uma insanidade, dignificante, mas estúpida, pelo fato de que os coladores profissionais colavam em cima dos nossos. A realidade é que foi assim que se construiu o rock por aqui naquela época, sem gravadoras, rádios, TV e o tal do jabá, dos quais as bandas do BRock desfrutaram depois de nós.”.(Rolando Castello Júnior)

 

21 

MAIO

Domingo

Talvez o último espetáculo.


 

Em uma conversa com Rolando Castello Jr., perguntei sobre a saída de Arnaldo da banda.

Júnior, com seu estilo característico, contou que, em um dia sem aviso prévio, Arnaldo apareceu no ensaio, visivelmente paranoico, e declarou: " Eu estou fora! Vocês fumam demais!".

"Havia uma diferença entre tocar ao vivo e em estúdio. No começo, com John Flavin, os ensaios eram ótimos e a banda soava muito bem. A gravação foi feita ao vivo no estúdio, sem playback, e o que se ouve é uma mixagem simples, um rough mix. Até aí, tudo estava indo bem, mas quando o Dudu entrou, as coisas começaram a se complicar. Não foi culpa dele, mas surgiram outras questões. O John trazia equilíbrio para o Arnaldo, mas nossas diferenças de estilo e ritmo começaram a afetar a dinâmica. O Arnaldo, na época casado e preocupado com questões pessoais, era difícil de lidar. No início estava tudo bem, mas depois o ego e outras questões começaram a afetar o grupo. A pressão da família dele, especialmente da mãe, querendo uma hierarquia na banda, também pesou. O objetivo era ser Patrulha do Espaço, e não Arnaldo e a Patrulha, como acabou sendo. Quando ele saiu, a separação foi amigável. Ficamos um período sem nos falar, mas, com o passar dos anos, as coisas mudaram, e hoje somos grandes amigos.

(...) “Havia shows agendados para poucos dias após a saída do Arnaldo, no Ginásio de Esportes de Sorocaba e no Clube Ituano, em Itu. Ensaiamos intensamente e realizamos esses shows com a participação de Percy Weiss nos vocais.

(...) “A situação do Arnaldo foi marcada por desinformação. A família dele nunca falou sobre seus problemas de saúde mental, e nós, jovens músicos envolvidos com a vida de estrada, não sabíamos disso. No início, estávamos todos comprometidos e profissionais, com empresário e ensaiando todos os dias na casa dele. Porém, depois de tocar conosco, o Arnaldo não se cercou de bons músicos, ao contrário, passou a se associar a pessoas que não eram qualificadas, algo que um músico profissional nunca faria.

(...) “Em relação a outros músicos e situações, não há comparação com a Patrulha do Espaço. O que alguns tentam apresentar como parte da história dele é, na verdade, uma grande idiotice. Martha quem? Ignorar essas pessoas é o melhor que se pode fazer por Arnaldo."(Rolando Castello Júnior, baterista e produtor).

Arnaldo compartilhou sua visão sobre o momento em que se encontrava: "Vocês me pegaram numa época de transição, um período em que estou repensando tudo. Comecei a frequentar o curso de música da FAAP e, embora o tempo tenha sido curto, já deu para perceber algo muito importante. Existem várias formas de trabalhar a música, e a academia coloca tudo no mesmo nível. Não adianta eu ter gravado sete discos e ignorar isso. Estou estudando lá e aprendendo coisas novas." Ele também lamentava a pobreza do rock nacional, destacando a falta de estrutura em todos os níveis — técnico, empresarial, financeiro, entre outros. "Faltam recursos", diz ele.

Vindo de uma experiência pouco comercial com a Patrulha do Espaço, Arnaldo contou: "Durante um ano, preguei cartazes nas cidades onde íamos tocar, dirigi nossa kombi, trabalhando de forma autossuficiente, caindo no underground, sem qualquer divulgação maior ou apoio da indústria fonográfica. Segurei essa barra acreditando na missão de preservar certos valores do rock, mas meu relacionamento com o grupo estava cada vez mais se tornando uma espécie de briga musical. Nada disso me agradava." No palco, o show tinha duas partes distintas: como se fosse o show de Arnaldo e o show da Patrulha do Espaço.

As apresentações de Arnaldo e a Patrulha do Espaço foram muito concorridas e chegaram a registrar fitas de estúdio e ao vivo, que tinham tudo para ser lançadas, mas acabaram sendo distribuídas em poucas cópias de fita cassete, nas mãos de alguns privilegiados que conseguiram obtê-las através de programas de rádio (como o Kaleidoscópio, de Jacques na Rádio América) e das apresentações ao vivo. Arnaldo afirmou que procurava fazer um rock o mais distante possível do jazz. O trabalho da Patrulha foi realmente diferente, voltado para uma "elite", como ele mesmo disse: "porque eu queria fazer um trabalho realmente underground". Ele pretendia gerar no Brasil "uma preocupação" por parte das gravadoras com o que estava sendo feito nas margens, pois acreditava que esse era o único meio de criar um mercado para o verdadeiro rock nacional.

Foto: Marcio Lambais

 

1978

31

MAIO
Quarta-feira

Mutantes e Arnaldo Baptista: O Revival

— Olha o que o Arnaldo fazia nos shows dos Mutantes! (Sérgio Dias)

No Ibirapuera, em plena era das calças boca de sino e camisetas hang-ten, os Mutantes resgatavam o repertório de sua fase inicial, com Arnaldo Baptista de volta, criando apresentações quase mágicas. Este CDr captura uma rara performance ao vivo de Arnaldo ao piano acústico. Além de interpretar faixas do lendário álbum Lóki?, Arnaldo, Sérgio Dias e Betina recriam de forma sublime a emblemática "Balada do Louco".

Esse show seria o bônus ideal para uma reedição especial de Lóki?. Que esse desejo se torne realidade...

Durante a apresentação no Palácio do Anhembi, uma agressão verbal isolada se aproxima da demência, e outro espectador responde: "— Cala a boca". 

Em CDr traz uma raríssima gravação ao vivo de Arnaldo Baptista ao piano acústico, onde ele brilha com sua luz própria. A luta secular do artista e do público, a superação. Seus temas elétricos agora reinterpretados de forma acústica. Além da execução das peças do clássico Lóki?,

Em seguida, os suaves acordes de "Balada do Louco" ecoam, com Sérgio Dias solando na craviola. Betina e Arnaldo, em um dueto que mistura tons caipiras com uma leveza jazzística, transformam o instrumental em algo próximo da improvisação, elevando o momento a um novo patamar. Bem que essa apresentação poderia vir como um CD bônus no relançamento do Lóki?. Que o sonho se realize...

Foi uma resistência oportuna à moda disco e ao punk, mas, infelizmente, os Mutantes não conseguiram levar adiante, pelo menos em discos, a ideia de unir seu virtuosismo aos acordes conhecidos da música brasileira. Em estágios posteriores, os roqueiros seguiram o caminho das estrelas da MPB.

Arnaldo anunciou sua volta aos Mutantes, com shows pelo interior e a gravação de um novo LP: "Gosto muito de tocar com o Sérgio. Ele é um virtuoso, eu sou um romântico. Ele toca em pé, eu sentado. A gente se complementa." No entanto, Sérgio, consultado pela revista Pop, desmentiu a volta de Arnaldo aos Mutantes e começou a gravar um LP solo pela CBS, que seria lançado, marcando o fim definitivo dos Mutantes em 1979. Paralelamente, Sérgio trabalharia como músico de estúdio, sendo requisitado por diversos artistas, como Chico Batera, Tavito, Oswaldo Montenegro e Guilherme Arantes.

 

Arnaldo e seu Konjunto

Após o encerramento do grupo Arnaldo e a Patrulha do Espaço e sua breve, mas marcante, participação no revival ao vivo dos Mutantes, Arnaldo Baptista decidiu focar em sua carreira solo. Ele assumiu os teclados no projeto Arnaldo e seu Konjunto, de vida efêmera, mais uma experiência musical que contava com a esposa, nos vocais, e Cláudio Pierre Deleu na guitarra. O conceito do projeto girava em torno de criar "um som universal".

Cláudio Pierre Deleu é um guitarrista incrível, simplesmente fenomenal. Tive a oportunidade de tocar muito com ele. Para ser honesto, acho que o Claudinho foi o último músico realmente decente com quem o Arnaldo trabalhou, e acredito que isso não tenha durado muito. Conheço bem o Claudinho, e ele provavelmente não suportou por muito tempo a confusão toda.

(...) “Toquei inúmeras vezes com o Claudinho, só eu e ele. Ele já era um prodígio na guitarra. Tenho até uma fita dessas sessões. Mais tarde, ele tocou comigo em uma banda sem nome, que deve ter sido por volta de 1973, talvez. Já nos anos 1990, o contratei para uma turnê de workshops por 10 cidades junto com o Kokinho. Além disso, o levei para tocar durante uma semana na Expo Music, no estande da Fender, Zildjian, Remo, entre outros. Não consigo precisar o ano exato, mas foi uma experiência memorável.” (Rolando Castello Júnior.)

 

Live Days Baptista 

Primeiro foi o guitarrista John Flavin que deixou a banda. Em seguida, o empresário Mario Buonfiglio cortou relações com o grupo. Agora, o líder e mentor Arnaldo Baptista se lançava à solidão — ou talvez à liberdade.

Essas mudanças significativas marcaram o início de uma trajetória que se estenderia por quase cinco décadas da existência da Patrulha do Espaço. A partir daquele momento, o foco parecia mudar: não era mais sobre quem estava no palco, mas sobre quem carregaria o legado da "nave". A banda, que antes era "Arnaldo e a Patrulha do Espaço", passaria a ser conhecida simplesmente como "Patrulha do Espaço", consolidando uma nova identidade em sua jornada.

Após nove meses de apresentações ao vivo, Júnior descreve essa fase como uma gestação ou, talvez, um aborto? A dúvida paira sobre a história da música. Durante a abertura de sua participação no show dos Mutantes, antes da primeira música, Arnaldo Baptista anunciou, de forma breve e direta, que estava deixando a Patrulha do Espaço. Esse comunicado oficial marcou o fim de sua colaboração, e não haveria novas participações no futuro.

Arnaldo continuava rompido com seu irmão mais velho, Cláudio César Dias Baptista. Naquele momento, parecia ter-se encerrado o embate entre defensores dos amplificadores valvulados e transistorizados. Ainda assim, o tão aguardado álbum dos Mutantes com Arnaldo de volta aos estúdios da Som Livre nunca se concretizou. Da mesma forma, a especulada reintrodução de Arnaldo como produtor, citada em uma coluna de Nelson Motta no jornal O Globo, não se realizou.

 

Rock-Blues foi o título do delicioso som que o incrível Arnaldo Dias Baptista nos apresentou no Teatro Igreja, em São Paulo. Durante duas horas, Arnaldo fez a gente viajar no tempo, tocando Beatles, Bob Dylan, Elton John, misturados com várias de suas próprias canções, como "Um... Dois... Três... Oh! Trem", "Sunshine", "Emergindo da Ciência", "Sanguinho Novo" e até mesmo músicas da época dos Mutantes.

“Gostaria de saber se existe algum registro fotográfico de um show simples realizado em 1978 no Teatro Igreja, um espaço que, curiosamente, havia sido uma igreja de verdade, localizado no Bixiga. Na época, um grande cartaz foi colado pelas ruas, ladeiras e até nos pilares do Minhocão, em São Paulo, anunciando algo como: O Retorno de Arnaldo Baptista. No mesmo cartaz, aparecia também o nome da minha banda, Satanic Ópera-Rock, que fez a abertura do evento. Nosso show era uma encenação teatral com inspiração no universo dos vampiros, contando ainda com a participação especial de convidados que se juntaram à banda.” (Jasper Sol)

1978

25

NOVEMBRO

Sábado

Sob o título "Arnaldo e Grupo", foi formada uma banda que explorava sonoridades variadas, com Arnaldo Baptista nos teclados, violão e vocal; Martha Mellinger na flauta, percussão e vocal; Zeca Lennert na bateria e percussão; Leandro no contrabaixo e violoncelo; e Carlinhos Vieira na guitarra e vocal. Em novembro de 1978, Arnaldo e Grupo estreiam suas novas músicas em apresentações ao vivo, ao mesmo tempo que a Patrulha do Espaço, agora com Percy Weiss no vocal, também iniciou sua nova fase, apresentando composições próprias e uma presença de palco mais forte.

 

Sino de Ouro em Pescoço de Jumentos: A Inusitada Aparição de Arnaldo Dias Baptista em Araras (SP)!  

 

Wenílton Luís Daltro

 

Na distante data de 25 de novembro de 1978, o célebre e polêmico cantor Arnaldo Dias Baptista – o "Loki" – ex-integrante da lendária banda Os Mutantes, ineditamente, iria se apresentar em Araras, isto, num novo show montado após deixar a banda Patrulha do Espaço. Os responsáveis por sua inusitada aparição na então cidade de Araras eram os organizadores da faculdade Uniararas – na época, conhecida como FRESA (Fundação Regional de Ensino Superior), que estava prestes a inaugurar suas novas instalações.

 

Acontece que os infelizes alunos da faculdade fizeram uma divulgação pífia do show: imprimiram um folderzinho vagabundo em mimeógrafo e colocaram alguns em pontos ou outros da cidade. E, para piorar a falta de respeito para com o grande astro, marcaram seu show no mesmo dia em que a Associação Atlética Ararense faria um concurso de danças discoteca – a "onda disco" estava no auge.

 

Resultado: por pouco não houve mais pessoas no palco do que fãs na plateia, com cerca de 20 privilegiadas pessoas no raro show, enquanto que na A. A. A. a noite bombou. Eu era adolescente na época e me recordo que colocamos 20 cadeiras em forma de meia-lua em frente ao palco, e ali nos desbundamos com um belo e especialíssimo show a cargo do Loki, acompanhado de uma grande banda e com um repertório incrível!

 

O Arnaldo fez o show sem ressentimentos, mas disseram, depois, que ele havia chorado nos bastidores, de tristeza e frustração. Mas a culpa não era dele, mas sim dos alunos da faculdade e deste povo alienado e ingrato da cidade, bem como da então odiada onda disco, execrada com ódio mortal pelos roqueiros de todo o país na época.

 

Como eu – mesmo jovem e não tão culto – estava ciente do "momento histórico" deste especialíssimo show em terras canavieiras, tive o cuidado de guardar para o meu precioso baú um exemplar deste raríssimo folder, que documenta esse malfadado dia em que Araras cometeu esta heresia contra um dos grandes astros do rock brasileiro!

 

É por isso que eu sempre digo, quando me recordo desse inesquecível dia: a aparição do Loki em Araras foi – para usar uma expressão minha – um sino de ouro no pescoço de jumentos (com todo o respeito aos autênticos jumentos).

 

Mas os jumentos, obviamente, não foram os 20 privilegiados que curtiram o grande show, mas sim os maria-vai-com-as-outras que foram se embriagar no embalo de sábado à noite na pista da A. A. A.

 

O Vocalista Percy Weiss. Ao Se Juntar À Patrulha Do Espaço

"Cheguei com minhas caixas 4560, meu power, e meu Shure 565... e minha imensa vontade de cantar... " (Percy Weiss)

A Patrulha seguiu em turnê pelo interior paulista e chegou a Curitiba (PR) e Florianópolis (SC), consolidando essa nova fase com energia renovada. Enquanto isso, Arnaldo trabalhou em um repertório de 16 faixas para o espetáculo Em Concerto, que trouxe composições novas e revisitou músicas clássicas de seu álbum Lóki?, além de incluir canções da Patrulha do Espaço.

Quase 38% do show foi dedicado ao repertório da Patrulha do Espaço. Um momento marcante foi sua performance solo com violão em “É Fácil”. No entanto, essa fase emblemática acabou sem registros conhecidos, com baixa adesão do público e arrecadação insuficiente, agravando o endividamento de Arnaldo. A falta de empresário, pouca divulgação e a ausência de discos no mercado contribuíram para o desgaste.

Essa decepção parece ter sido o ponto de partida para uma nova fase em sua carreira, levando Arnaldo a subir a Serra das Araras em sua Kombi, rumo ao Rio de Janeiro, em busca de um novo recomeço musical.

 

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