2013: ARNALDO E A PATRULHA DO ESPAÇO: EP ELO MAIS QUE PERDIDO (PARTE 14)
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O Elo Completo
Por Antônio Celso Barbieri
Na primeira metade dos anos 80, eu frequentava as Grandes Galerias (atualmente conhecida como Galeria do Rock) quase todos os dias. Conhecia todas as lojas. No primeiro andar, havia uma loja chamada Grilo Falante. O dono, um sujeito um tanto ausente, raramente dava muita atenção aos clientes. Muitas vezes, entrei no estabelecimento, um pequeno cubículo, sem ser notado. Com o tempo, uma nova figura começou a frequentar a loja. Era um japonês que ficava sentado em uma cadeira, dedilhando seu baixo com uma expressão de "olha como sei tocar" estampada no rosto.
Certo dia, ele me perguntou se eu possuía um gravador de rolo. Confirmei que tinha um Akai 4000DS. O japonês, então, explicou que estava trabalhando em um estúdio de gravação e que havia retirado secretamente de lá uma fita com gravações de Arnaldo Baptista. Ele queria fazer uma cópia. Convidei-o para minha casa, onde fizemos duas cópias — uma para ele e outra para mim. Pelo número de músicas, ficou claro que deveria existir uma outra fita.
Mais de 20 anos se passaram, e, já em Londres, recebi a visita de Kokinho, hoje falecido, que foi o baixista nas gravações em questão. Para surpreendê-lo, toquei a fita. A reação de Kokinho foi de puro espanto, pois ele possuía a cópia da primeira fita, e eu tinha a cópia da segunda, que ele sequer havia ouvido.
Algum tempo depois, soube que, finalmente, o álbum Elo Perdido havia sido lançado. Fiquei chocado ao descobrir que ele continha apenas as gravações da primeira fita. E eu, durante todo esse tempo, tinha a segunda fita. No álbum Elo Perdido, a única música que não consta em nenhuma das fitas — nem na de Kokinho, nem na minha — é "Fique aqui comigo".
★ — Quanto às fitas do Estúdio Vice-Versa, elas não desapareceram. O problema foi má administração e falta de interesse no material. Ninguém deu a devida importância ao trabalho na época, e assim acabou caindo no esquecimento. (Rolando Castello Júnior)
2013
Arnaldo Baptista — Box Set (5 CD’s)
EP Elo Mais Que Perdido
Músicas
1. Singin' Again
2. The Cowboy
3. Sanguinho Novo
4. Imagino
5. Sr. Empresário
No meio da década de 70, após a rescisão contratual entre Arnaldo Baptista e a Phonogram, a discografia dos Mutantes se transformou em um verdadeiro Eldorado para aventureiros. Suas fitas, como as dos álbuns A e o Z e Tecnicolor, que estavam nas mãos de colecionadores, tiveram suas matrizes recuperadas de depósitos. As versões em fita cassete desses álbuns circularam de fã para fã, ganhando o mundo.
Foi assim que descobri o trabalho surpreendente que, finalmente, foi lançado em 2013: Elo Mais do que Perdido. Investigar as origens dessas fitas de estúdio e ao vivo não é tarefa fácil, pois há muitas controvérsias envolvendo suas origens, incluindo até as últimas gravações de Arnaldo para o álbum Singin’ Alone.
A partir de uma fita de Arnaldo com músicas inéditas que viriam a compor o álbum Elo Mais do que Perdido, e também do show Shining Alone, foram extraídas faixas para o CD-tributo Onde É Que Está o Meu Rock’n’Roll?. O que é intrigante em Elo Mais do que Perdido é que as músicas mais alegres foram divididas em uma primeira fita para gravadoras, com 8 faixas, enquanto as mais introspectivas e sensacionais foram colocadas em uma segunda fita, com qualidade catastrófica. Esta segunda fita contém guitarras que beiram o sobrenatural e fusões interrompidas ao fim dos takes, como é o caso de “Sanguinho Novo”. O material experimental foi deixado de lado.
2013
Um paralelo discográfico em ordem cronológica de acontecimentos, não por datas de lançamentos
Um paralelo entre os álbuns Elo Perdido, Elo Mais Que Perdido, o ao vivo Faremos Uma Noitada Excelente... e o individual Singin' Alone evidencia a evolução criativa de Arnaldo Baptista e a versatilidade de sua abordagem musical. Vamos analisar cada obra em sua essência e estabelecer as simetrias e contrastes:
1. Elo Perdido
Representa um marco na discografia de Arnaldo e a Patrulha do Espaço, consolidando a formação clássica da banda. É um álbum de estúdio que equilibra lirismo, humor e inovação musical, explorando o hard rock, blues e baladas.
Explora a solidão, o escapismo e o humor sarcástico, além de trazer reflexões sobre o cotidiano e a poesia beat.
Mistura baladas melódicas, como "Sunshine", com faixas energéticas como "Sexy Sua". O disco mantém uma abordagem experimental, mas acessível, sem perder a essência do rock nacional.
Legado: É um registro que busca capturar o espírito do rock brasileiro em uma época de desafios e transformações culturais.
2. Elo Mais Que Perdido
Uma continuação lógica e uma espécie de arqueologia musical. Lançado posteriormente, este álbum complementa Elo Perdido com material inédito ou alternativo, revelando mais nuances do processo criativo da banda.
Amplia os temas abordados no álbum anterior, com faixas que dialogam com o experimentalismo, mas com um tom mais cru e menos polido, reforçando a autenticidade do som da banda.
Legado: Funciona como uma expansão e um resgate histórico, revelando camadas adicionais do talento de Arnaldo e da Patrulha.
3. Faremos Uma Noitada Excelente... (ao vivo)
Um registro visceral e espontâneo, capturando a energia da banda em performances ao vivo. Este álbum celebra a interação com o público e a força das apresentações de Arnaldo e a Patrulha do Espaço.
A força das músicas é amplificada pelo ambiente ao vivo, com interpretações mais intensas e improvisadas, ressaltando o virtuosismo dos músicos e a conexão emocional com o público.
Legado: Um testemunho da relevância da banda no palco, consolidando sua posição como ícone do rock brasileiro.
4. Singin' Alone
Um trabalho completamente diferente, intimista e introspectivo, marcando a carreira solo de Arnaldo. Este álbum é um mergulho profundo na psique do artista, sem o suporte de uma banda.
Explora questões existenciais, memórias e emoções de maneira direta e pessoal, refletindo um momento de reclusão e autodescoberta.
Predominantemente acústico e minimalista, contrastando com a energia coletiva da Patrulha do Espaço. É um álbum que revela a vulnerabilidade e o gênio criativo de Arnaldo.
Legado: Um marco na carreira solo de Arnaldo, destacando sua capacidade de se reinventar e explorar novos territórios musicais.