1974: ORIGENS: BATISMO NO ROCK E A AMIZADE QUE CRIOU UM BEATLEMANÍACO
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1974
ORIGENS: BATISMO NO ROCK E A AMIZADE QUE CRIOU UM BEATLEMANÍACO
Nunca imaginei que passaria as próximas cinco décadas mergulhado no universo do rock. Hoje, com uma consciência mais clara, sinto alegria em valorizar bandas como Mutantes, Humble Pie e Uriah Heep.
Seria essa a razão pela qual o Uriah Heep se apresentou no Ferrock de 2014?
Este zine, Os Anos Iniciais de um Fã de Rock: 1974-1980, é um tributo à amizade e às memórias que revivem a esperança por tempos mais férteis em arte, cultura e lutas. Vivemos em 2025, um tempo em que as estrelas do rock nacional brasileiro ainda buscam reconhecimento. Enquanto ainda vivo com minhas memórias intactas, decidi escrever este texto por diversão
Nossa busca inicial era explorar discografias, conhecer integrantes e mergulhar nas trajetórias dessas bandas. Essas informações se tornaram parte do nosso vocabulário, fortalecendo amizades que resistem ao tempo.
Meio século depois
1974. É o ano da Copa da Alemanha. Para mim, era difícil tomar a iniciativa de pedir para o meu pai comprar um gibi. Além disso, o ano escolar ficava ameaçado pelas revistinhas — líamos tudo que caia nas mãos e na rua trocávamos gibis e livrinhos de ficção, de espionagem e de faroeste.
Nos altos do Morumbi, fomos visitar a Alzira. As paredes ovais da mansão eram brancas e nelas havia pôsteres de John & Yoko. Eu jamais tinha visto uma guitarra e um piano bar! Na mais pura experiência genuína fiquei maravilhado com a porcelana italiana da cozinha e os lustres de cristal dos banheiros, esses acessórios para mim eram 'o ouro de tolo'. Cheguei em casa e ganhei um esporro: 'seu tio faz necessidade lá no mato e não se deslumbrou, já você, francamente...’. Essas histórias me f*** a infância e para não falar que são mentiras, o engenheiro, Adão Rosa era o primo do meu pai. Eu não sabia de disputas de família de migrantes da Bahia onde o tom era 'já passou fome e agora ostenta' quer ser feliz fique longe da família e respeite o código de silêncio. Já disse que iria escrever a verdadeira história do clã e fui ameaçado: 'te processo de novo'. No Facebook, a cada parágrafo deixado mais um capítulo para gostar, agora você decide o que vale ou o que é fusão. Penduro quadros nas paredes e me sinto bem-sucedido como a tia do Morumbi.
Tempo dos Caubóis
Nas rádios a canção era ‘Roy Rogers’, com Elton John. Por serem mais velhos, os caras do fim da rua em frente ao rio Tietê só gostavam de histórias de faroeste e livros de bolso congêneres. Era a febre do início dos anos 70 e que já começara a subir no termômetro das obsessões infanto-juvenis na década anterior. Faltava-me alguns números básicos, mas nem sonhava em novamente resguardar revistas e lembranças: (A)Dolfo era o cara que tinha as revistas na Rua Paraíba — 1974, ano de mistério e balas e sequestros típicos das manchetes de jornais como Última Hora.
Aos dez anos, minha mãe, sabiamente, deu fim na minha primeira coleção para que eu não perdesse o ano. Aqueles gibis do Solar, o Homem do Átomo, Zero, Brotoeja, Riquinho, Mortadelo & Salaminho; edições da Mônica e a sua Turma de 1973; os Superman Bi de 1971,
as revistinhas de Mandrake, Fantasma, Tarzan, Flash Gordon; os de heróis da Marvel, da Ebal se foram, ainda que tenham deixado herdeiros. Recordo-me deles voando sobre o muro para a casa da Silvana, vizinha dos fundos. Ainda procuro números da revista de arquitetura Módulo, dos anos 70. No entanto, não pense que gasto o suado dinheiro com papel (impresso).
Outro choque: encontraram dentro da fronha no travesseiro minhas revistas masculinas suecas usadas.
Jardim Rochdale
Bilico, um baixinho atarracado, ganhava a vida 15 dias fora dos muros da cidade, outros 15 dentro. Fazia fretes em carretas para o Paraná e até para o Paraguai — lugares exóticos dos quais trazia coisas que enchiam os meus olhos de assombro e fascinação. Mas a curiosidade mata o macaco: Bilico nunca me deu nada, nem uma bolinha de gude. Sua concessão máxima era permitir, por raros minutos, que eu subisse na boleia da carreta, destas de muitas rodas, que dominavam a paisagem em frente à casa dos meus pais. No toca fitas da boleia ele sempre ouvia ‘A Casa do Sol Nascente’ à exaustão e carregava uma Bíblia. Num desses finais de semana prolongados, Bilicoconseguiu viajar para assistir ao seu grande ídolo numa boate carioca na orla de Copacabana. Bilico voltou triste e desapontado com seu divo, indignado porque sofreu uma ‘cantada’. Não entendeu muito bem. Ele jamais tocou ‘A Casa do Sol Nascente’ de novo.
Depósito Regional de Bebidas
Senhor Haigo era branco, baixinho e atarracado, calvo de olhos claros e camisa social. Ele sabia que a meninada do cortiço e os filhos dos vizinhos eram loucos por uma moeda.
Próximo do meio-dia, ele atirava moedas aos céus. Havia duas maneiras de sair com uma moeda no bolso. Disputá-la no ar e ser empurrado e derrubado ou esperar a moeda cair e no meio do bolo ferir os joelhos e sair rastejando com a moeda. Zé Carlos, o menino do cortiço deu mole e sofreu a travessura do bate-pavão, ficou chorando.
Quando eu estiver mais normal, longe do trifuê das artes escreverei, como é tomar Tatuzinho ouvindo no ‘Rio de Piracicaba’ com Sérgio Reis e sua camisa florida e trabalhando em cima de um velho caminhão entregando garrafas. E a pinga Coquinho com seu líquido acomodado misturado a suco.
Depois das Chuvas
Nossa professora, Dona Lília, nos ensinava a cantar ‘O Vira’, dos Secos & Molhados. Era o único momento leve durante suas aulas no Grupo Escolar. No Grupo Escolar Júlia Lopes de Almeida, na Rua Cruzeiro do Sul, em Osasco, começamos o ano letivo cantando o grande sucesso ‘O Vira’. Achei inovadora a atitude de Dona Lilia. Ela era rígida, mas surpreendeu ao nos ensinar a canção. No entanto, minha mãe me contou que, quando fui matriculado na turma, a professora lhe disse que, se estivesse grávida, teria perdido o bebê.
O suspiro da fossa vaza a parede do portão e o líquido esverdeado flui, escorre numa calha de cimento (guias) descendo da primeira casa até a última, até encontrar uma galeria que o despejava no Tietê. O mato no Tietê entre Rochdale e o Piratininga se entrelaçou de tal forma que as pessoas atravessam o emaranhado sobre o rio como numa rede vegetal. Os pés das pessoas saem pretos como se tivessem cruzado um campo alagado de petróleo.
A diversão era catar tampas plásticas de garrafas e simular uma corrida de barquinhos na vala. Para libertar as rolhas e tampas usávamos varas. Outra diversão era como bravios animaizinhos urbanos revirar o lixo que jogavam nos terrenos baldios. Não havia água encanada. Frente à casa, havia um cortiço com melhor estrutura; na casa colada à minha, meus melhores amigos: Geraldo e Marcos, e meu xará, Mário, apanhavam mais do que eu. Costumava pular o muro da divisa para jogar futebol de meia com eles. Vi escola punir muito menino. O pai deles era violento. Colada na casa deles havia o segundo cortiço, onde o pai de um outro amigo, Harry, que recolhia lixo, trouxe uma bola de látex e de casca e essa foi a melhor bola que tivemos durante um tempo. Era azedo conseguir sair de casa autorizado para jogar uma pelada nas margens do Tietêe a orientação era: ‘Cuidado com o rio jamais entre e cuide do seu c*!’ Hoje naquelas margens estão tomadas por favelas.
Naquele fim de mundo, naquela rua suja, passar frente à casa da menina mais bonita me causava embaraço pelo cabelo grande e a roupa, digamos, sem impacto algum. Mas Carlinhos fechava o cerco e me convidava a entrar. Ele e suas irmãs. A caçula da mesma idade que a minha e estudamos o primário juntos. Eu fracassei nos esportes como no atletismo e na natação e agora, contrariado (ou quando via ficção na TV), subia a rua para frequentar as aulas de karatê. Odiava os sábados. A técnica para despistar o ódio era me afastar de casa o maior tempo possível. A irmã de Carlos, a cada dia, florescia e mostrava-se mais radiante. Carlinhos tinha dezessete anos, ele era o adolescente que eu viria a ser — com acne e boca desproporcional, esses detalhes. Nos meus dez pobres anos. Estilista era o Carlinhos. Talento nato para criar cabelos e desenhar roupas para mulheres — propaganda antecipada de xampu e esmalte de unhas. Ele mostrou isso em seus cadernos. Na casa deles, moderna, ouviam Beatles, Stones e Mutantes. Era um tempo ruim para meninos aventureiros, pois seus pais eram homens frios e duros como diamante e exerciam brutalmente sua autoridade. Nossos pais trabalhavam na mesma fábrica. Então Carlinhos fugiu de casa pela primeira vez e foi parar na ilha de Arembepe. Sua dieta macrobiótica era à base do coco verde. Lá, ele foi obrigado pelos hippies a vender maconha. Um dia, ele avistou um barco e fugiu pelo São Francisco. Magro, voltou para casa com diarreia e a heustória correu. Tempos depois, ele fugiu para o Rio de Janeiro... dessa vez não fiquei sabendo da volta. Para minha tristeza, a família da Adriana vendeu a casa — 1974 foi um ano triste.
Entretanto, uma nova e grande família voltou a ocupar a casa. Os irmãos Daniel ‘Cabeça’ e ‘Girafa’ rapidamente se tornaram meus amigos. Na casa mágica deles, suas irmãs mais velhas usavam bermudas apertadas, o que me deixava tão intrigado que o namorado delas ria de mim. O ano começou bem, e a vivência deles ecoou minha rebeldia solitária — mas, dessa vez, fui eu que me mudei para o Centro-Oeste, a terra que conheço desde os nove anos. Voltei para o lugar onde eu realmente deveria ter nascido.
Os dois irmãos trouxeram alegria à minha vida: ‘Cabeça’, de olhos verdes e cabelo curto claro, e ‘Girafa’, o irmão mais alto e doce. Havia um fato que me deixava constrangido: sempre que via as irmãs deles de bermudas, sentia uma ereção. Tinham discos de rock em casa, e suas irmãs eram as mais bonitas do planeta, namoravam caras que, acredito, apreciavam rock pesado.
Nas casas das minhas primas, Alvenita e Vilma, eu frequentava os quartinhos onde estavam os discos. Era uma coisa de fã-clube mesmo. Um dos primeiros discos que ouvi foi o do Slade, com aquela histeria: o clipe deles vinha do Top of the Pops. Slade tocou até no Barros de Alencar. Esse disco pirou muita gente!
É claro que o Slade foi visto como os 'novos Beatles' da sua época, algo que eu só fui descobrir mais tarde, quando soube que foram rejeitados pela Apple Records. A Slademania me conquistou muito antes da Kissmania. Para meu espanto, meio século depois, continuo acompanhando com entusiasmo os novos lançamentos e livros sobre o Slade, ainda mantendo viva a chama daquelas memórias.
Obrigado pelo eterno presente, Renato Aguiar.
Comecei minha jornada ainda menino, comprando um compacto dos Beatles. Essas são algumas histórias reinventadas que vivi em 1975: passeei pelos barracos de fundo nas ruas de barro do Jardim Rochdale, em Osasco, na Rua Parayba, onde fiz amizades.
O Brás, morador de um quarto em um cortiço na Rua Parayba, tinha um compacto arrasador dos Beatles: ‘I Wanna Hold Your Hand’. Com certeza, ele passava dos dezoito anos. Para sobreviver, vendia fitas de cabeça e bandeiras do São Paulo (eu sabia que ele era são-paulino) e tinha um amigo, o Milton, que era palmeirense e me prometeu uma camisa do São Paulo. Toda vez que via o cara do portão, eu gritava por ela! Nessa época, fui ao Pacaembu e assisti ao empate entre Santos e Corinthians. Em campo, Pelé estava de barba! O jogo terminou em um magro 1 a 1. Dentro do estádio, nas arquibancadas, um vendedor de moedas de chocolate, que usava um tubinho dentro de uma caixa de isopor, atirou sua mercadoria e não voltou para pegar o dinheiro. Eu pensei que o tubinho (cheio) era só para mim, mas acabei tendo que dividir. Esse foi o primeiro choque que tive, e depois vieram outros. Meu pai me levou, junto com alguns vizinhos que trabalhavam em um depósito de bebidas. No cortiço, o Brás ouvia um som em sua vitrolinha. Pedi que ele anotasse o nome do disco que eu segurava, hipnotizado pela capa, sem entender nada, mas gostando muito. Brás me tratou como um moleque inconveniente e, com má vontade, escreveu as músicas daquele selo azul. Brás dançou...
A partir dali, passei a acompanhar o Geraldinho, que trabalhava como caixa no Bradesco e era fã de krautrock. Na Rua Parayba, no Jardim Rochedale, em Osasco-SP, ele tinha uma impressionante coleção de discos, maior ainda no fim da rua, na esquina de frente para o rio Tietê. Lembro vividamente do selo Purple Records, do selo Vertigo com as duas naves colidindo, da capa de ‘Sabbath Bloody Sabbath’ e do som de um esmeril em uma gravação de krautrock. Embora limpasse e manuseasse esses discos, não cheguei a ouvi-los de verdade — pareciam distantes da minha realidade. Aos sábados, eu o ajudava a limpá-los, e foi na casa dele que tive meu primeiro contato com os LP’s de krautrock.
Lembro de Sérgio Brito, da 5ª série. Ele era o terror da escola. Nós morávamos às margens do rio Tietê, e Sérgio vivia com seus irmãos mais velhos, Carlão e a Tereza, que era encrenqueira e bastante atraente. Sérgio, conhecido como ‘Cabrito’, passava as tardes escravizado em tarefas domésticas; após a aula, tudo o que ele fazia era arrumar a casa. Não me lembro se eram órfãos ou não — para mim, era um choque. ‘Cabrito’ era um cara sensível, diferente daquele ‘pau que nasce torto’. Certa vez, seu irmão pediu que ele rabiscasse na parte de fora de sua bolsa o título Excelsior, A Máquina do Som. Então, Carlão, mais velho, gritou com ele: ‘Ei, tá faltando uma vírgula!’ Na mesma Rua Parayba, Carlão, o irmão mais velho do Sérgio Brito, também colecionava discos.
O Partido dos Panteras Negras enfrentou um intenso conflito interno. Quando Huey Newton optou pelo autoexílio em Cuba, evitando um julgamento pelo assassinato de uma jovem prostituta (do qual mais tarde seria absolvido), boa parte da liderança original já havia se afastado. David Hilliard foi expulso do Partido enquanto ainda estava preso, e Bobby Seale também foi expulso. Durante o período de exílio de Newton, que durou três anos, Elaine Brown assumiu a administração do Partido, mantendo a organização ativa nesse período de transição.
★ Abbie Hoffman cai na clandestinidade. Faz cirurgia plástica para escapar a uma condenação por posse de cocaína e assume o nome de Barry Freed. Torna-se líder comunitário e militante ecológico.
★ Timothy Leary está de novo atrás das grades por posse de drogas, três anos depois de escapar de uma prisão da Califórnia.
JANEIRO
Um Rolling Stone no Brasil
Mick Taylor, guitarrista dos Rolling Stones, passou uma temporada no Brasil buscando fugir dos excessos da vida em Londres. Primeiro hospedou-se com o amigo baixista Arnaldo Brandão, que o descreveu como alguém em busca de paz. Depois, ficou com o cineasta Neville d’Almeida e sua esposa Liége Monteiro no Rio, onde, discreto, evitava chamar atenção. Taylor também teve uma experiência marcante na Amazônia, explorando o Rio Negro e ouvindo a sinfonia selvagem da floresta.
No final daquele ano, ele deixou os Rolling Stones, se tornando o lendário guitarrista que abandonou a maior banda de rock do mundo.
Caçando Jacarés com Mick Taylor
Mick Taylor preferiu curtir suas férias na casa do cineasta Neville D'Almeida e só saiu de lá para passar uma semana no Amazonas, onde caçou jacarés durante a noite em águas do Rio Negro.
Mick Taylor e Neville D'Almeida permaneceram, durante mais de 5 horas, numa canoa, no mais completo silêncio, na atmosfera atordoante e mágica do Rio Negro. Foi quando ouviram o som mais gigantesco de suas vidas. Na escuridão, a selva inteira gerava uma fantástica sinfonia selvagem. Nenhum músico do mundo seria capaz de criar algo igual. Foi uma experiência extraordinária para ambos.
★ O grupo The Band acompanhou Dylan na turnê de 1974.
25
JANEIRO
Sexta-feira
O show de aniversário no Parque do Ibirapuera reuniu Arnaldo Baptista e a Space Patrol, os Mutantes e outros grandes conjuntos da época em São Paulo. Segundo a imprensa, o evento atraiu mais de 25 mil pessoas, que vibraram intensamente, causando congestionamento no entorno do parque, especialmente na área ao redor do icônico Monumento às Bandeiras.
★ Magnólio, ainda sem a tenda, organiza o segundo show no Parque do Ibirapuera, com mais de 17 horas de duração.
19
FEVEREIRO
Terça-feira
NÃO. Rita Lee tem passado muito tempo com seu ex-marido Arnaldo, mas apenas em projetos musicais. Ambos estão separados e bem resolvidos com isso. Por hoje, chega de "não", ok?
(Ronaldo Bôscoli, Amiga’)
★ John Lennon não consegue visto para viver nos EUA.
★ David Bowie anuncia sua decisão de abandonar a música para se dedicar ao cinema e à fotografia.
08
MARÇO
Sexta-feira
Na Inglaterra, Badfinger lançou o LP Ass.
★ Ten Years After embarca em novas turnês juntos, apesar dos muitos rumores sobre a possível dissolução do grupo. Essa dissolução só será oficializada em 1975. A banda se apresenta pela última vez ao vivo no Rainbow Theatre, em Londres.
★ Incredible String Band se dissolve.
★Free Story. É uma coletânea de grandes sucessos da banda britânica Free. O álbum apresenta uma seleção de suas músicas mais conhecidas, incluindo hits como "All Right Now" e "Wishing Well". Free, formada em 1968, é lembrada por seu rock influenciado pelo blues e pela voz poderosa de Paul Rodgers, além do virtuosismo do guitarrista Paul Kossoff.
★ Big Boy foi responsável pela seleção e exibição dos clip-films (filmes promocionais criados por artistas internacionais para divulgar novos lançamentos) nos programas de TV Fantástico e Sábado Som. Inicialmente, Sábado Som era apresentado por Nelson Motta, que foi logo substituído pelo famoso disc jockey Big Boy (nome artístico do radialista Newton Alvarenga Duarte). Segundo relatos, a banda Veludo foi a única nacional a aparecer no programa.
09
MARÇO
Sábado
Sábado Som
Programa quinzenal aos sábados
Apresentado por Nelson Motta, Sábado Som fornecia dados sobre os intérpretes — informações sobre suas carreiras e discos lançados no Brasil — e exibiu gravações de concertos de rock comprados pela Rede Globo no exterior.
Período de exibição: 09/03/1974 — 22/02/1975 | Periodicidade: sábados | Horário: 15h.
11
MARÇO
Abaixo a mistificação
Glauber Rocha, em seu texto “Abaixo a mistificação”, comenta suas visões sobre a política e a arte no Brasil entre 1964 e 1974. Ele expressa a esperança de que o governo de Ernesto Geisel fortaleça e liberte o país, e vê os militares como legítimos representantes do povo. Glauber critica figuras da economia, como Delfim Netto e Roberto Campos, enquanto elogia o general Golbery e Celso Furtado. Em relação à cultura, posiciona-se contra o revisionismo elitista, defendendo o Cinema Novo e rejeitando o tropicalismo. Ele encerra com um apelo à autenticidade na arte e ao fortalecimento da Embrafilme.
FINAL DE MARÇO
Alice Cooper, com status de superestrela do rock, chega ao Brasil para apresentações no Rio e em São Paulo que marcaram época.
Quem abriu os shows foi o Som Nosso de Cada Dia. Andy Mills produziu o Fruto Proibido. As empresárias de Rita Lee compraram a iluminação do espetáculo. E inspirou o verso: “Não gosto do Alice Cooper, onde é que está meu rock'n'roll?”
★ Marcos Gabriel Lopes Esteves fundou o único fã-clube dos Beatles na América Latina, com sede no Rio de Janeiro.
ABRIL
Tom Jones chega ao Brasil para uma série de shows no Palácio das Convenções, no Anhembi. A temporada é um fracasso para os promotores.
11
ABRIL
Quinta-feira
O empresário de Janis Joplin, Albert Grossman, finalmente conseguiu receber o pagamento do seguro de vida da artista, após a empresa de seguros ter alegado que a morte de Janis foi um suicídio, e não um acidente.
25
ABRIL
Quinta-feira
Portugal e a Revolução dos Cravos
Após a morte do ditador Salazar, em 1970, Portugal passou por um processo de reabertura política que se intensificou com a Revolução dos Cravos, que ocorreu em 25 de abril de 1974.
★As Armas e o Povo
Este documentário, com duração de 86 minutos, é o resultado de uma direção coletiva de 28 cineastas portugueses que, inspirados pela Revolução dos Cravos e pelas comemorações do Dia do Trabalhador em 1º de maio de 1974, capturaram a empolgação de mais de 500 mil pessoas que tomaram as ruas de Lisboa. Glauber Rocha, um dos diretores do filme, também atua como entrevistador, trazendo elementos de seu trabalho posterior no programa Abertura da TV Tupi.
MAIO
Ave Sangria, voa rumo ao Rio de Janeiro para gravar o primeiro e último disco da carreira da banda.
★ Viagem ao Centro da Terra, gravado por Rick Wakeman com a Orquestra Sinfônica de Londres, chega às lojas.
23
MAIO
Quinta-feira
Confirmadíssimo: neste sábado, no ginásio do Tijuca, no Rio de Janeiro, às dez da noite, acontecerá o aguardado show milionário de Os Mutantes e Rita Lee. O evento foi anunciado como histórico, trazendo um equipamento de som de última geração, descrito como algo nunca antes visto (ou ouvido) no Brasil. Dois palcos serão montados para destacar as diferentes propostas musicais: de um lado, Rita & Tutti Frutti; do outro, Os Mutantes, representando vertentes distintas do rock da época.
O grande atrativo da noite será a prometida apresentação conjunta de Rita Lee e Os Mutantes, algo inédito desde a separação, que, embora amigável, marcou o fim de uma era. O reencontro está sendo promovido como um momento exclusivo e irrepetível.
No entanto, cinco décadas depois, nenhuma comunidade de fãs, fã-clube ou espaço de discussão — incluindo os primórdios das redes sociais, como o Orkut — conseguiu confirmar se tal apresentação realmente aconteceu.
Terá sido apenas uma estratégia de marketing ousada para atrair o público? O mistério permanece, deixando essa suposta reunião marcada por dúvidas e suposições.
JUNHO
Os Mutantes e o Novo LP a Caminho
Reclusos em um sítio tranquilo no Rio de Janeiro, os Mutantes estão em plena criação de seu novo disco para a gravadora Som Livre. Após concluírem o trabalho, Serginho, Túlio, Liminha e Rui planejam sair em turnê pelo Brasil, compartilhando com o público jovem uma experiência única: a possibilidade de explorar países imaginários, perdidos entre estrelas e galáxias. Tudo isso por meio dos arranjos siderais e da boa vibração sonora que só os Mutantes conseguem transmitir.
★
Vanguarda, Neovanguarda, Antivanguarda
(José Guilherme Merquior)
Neste texto, José Guilherme Merquior explora a natureza da arte não acadêmica das últimas três a quatro décadas, questionando se ela é um prolongamento das vanguardas artísticas do início do século XX ou se representa uma nova era cultural distinta. A discussão é importante, pois as categorizações como "modernismo tardio" ou "neomodernismo" têm implicações significativas na compreensão da mentalidade contemporânea.
Merquior introduz o conceito de "neovanguarda", que abrange movimentos
artísticos como a música concreta, a pintura pop, e o cinema pós-neo-realista, entre outros. Ele destaca que as neovanguardas se diferenciam das vanguardas históricas em vários aspectos: a diminuição dos impulsos românticos, a rápida obsolescência dos estilos, a substituição de movimentos fluidos por grupos organizados, e a adoção de um experimentalismo científico.
O texto menciona influentes pensadores como Edoardo Sanguineti e Theodor Adorno, que oferecem visões críticas sobre a neovanguarda. Sanguineti, e Theodor Adorno, que oferecem visões críticas sobre a neovanguarda. Sanguineti, embora critique a conformidade da neovanguarda com a sociedade de consumo, vê isso como uma atualização potencial da vanguarda antiga. Adorno, por sua vez, alerta sobre a ambiguidade das vanguardas e a tensão entre a crítica cultural e a cumplicidade com a desumanização da sociedade.
Merquior argumenta que a arte contemporânea está ameaçada por um "extermínio" cultural, numa crítica à sociedade de massa que, segundo Adorno, pode levar à negação do humano. No entanto, Sanguineti sugere que o pessimismo cultural não deve levar à rejeição de propostas da neovanguarda, destacando que a crítica da arte pode se adaptar a novas tendências, como o hiper-realismo.
Em suma, o texto de Merquior é um convite à reflexão sobre a evolução da arte e suas implicações socioculturais, enfatizando a necessidade de um debate contínuo sobre a sua natureza e significado na sociedade moderna.
JUNHO
Suzy Quatro, baixista e cantora nascida em Detroit, é a nova sensação do rock inglês aos 23 anos. Após uma grande turnê nos EUA, ela voltou a Londres, onde está fazendo sucesso. Seu primeiro LP está sendo lançado no Brasil pela Odeon. (Pop).
★ Rita Lee lança o disco Atrás do Porto Tem uma Cidade, considerado um dos piores álbuns do ano pela crítica da época.
JULHO
Feitas as pazes, Rita Lee participou do LP Lóki?
★ Enquanto é aguardado o lançamento do novo disco do Secos & Molhados, espalham-se rumores sobre a separação do grupo.
AGOSTO
700 mil cruzeiros são gastos com o novo álbum dos Secos & Molhados, e o grupo se dissolve.
★ A Folha de S. Paulo começa a dedicar um espaço diário para o Rock, além da página semanal.
09
AGOSTO
Sexta-feira
Nixon renunciou
Richard Nixon renunciou à presidência dos Estados Unidos em meio ao escândalo de Watergate.
★ Steppenwolf volta... O álbum Steppenwolf 7, lançado em agosto de 1974, foi o sétimo de estúdio da banda e marcou seu retorno após um hiato e mudanças na formação. Embora não tenha sido um grande sucesso comercial, o álbum é significativo para os fãs, sendo o último com a formação original e refletindo o som de uma época de rápida evolução no rock.
★ Os últimos registros de Syd gravados em estúdio, segundo a narrativa oficial, não foram preservados. Ele chegou ao estúdio sem cordas em sua guitarra e não conseguiu finalizar as gravações. Syd anunciou posteriormente que estava planejando um terceiro álbum que consistiria em "doze ótimos singles", mas, infelizmente, nenhum deles se concretizou. Embora seus álbuns solos só tenham sido lançados nos Estados Unidos em 1974, um jornalista da Rolling Stone que encontrou Barrett em Cambridge descreveu-o como "com as maçãs do rosto cavadas e pálido, seus olhos refletindo um estado permanente de choque". Ele possui uma beleza fantasmagórica que normalmente associamos a poetas do passado." Assim como suas próprias músicas, Syd parecia alternar entre momentos de lucidez e confusão. Ele disse que se sentia "cheio de poeira e guitarras" e, aos vinte e cinco anos, tinha medo de envelhecer. "Acho que os jovens deveriam se divertir, mas eu nunca me divirto." No entanto, ele afirmava estar "totalmente equilibrado", acrescentando: "Eu não sou nada do que você pensa que sou."
★ Após inúmeras viagens em busca de uma conexão mais profunda com Deus, Lanny Gordin se perde na vastidão da fantasia e sofre uma overdose de LSD. Ele queima as mãos com brasa de cigarro e na boca do fogão; mesmo com as mãos cobertas de bolhas, pega a guitarra e começa a solar. Essa é a história que lhe contaram. Lanny esqueceu-se de todos e não reconhecia mais ninguém. Ele desapareceu por um longo tempo.
Desenho de disco voador avistado por Lennon é leiloado
Um desenho de John Lennon, feito para o álbum Walls and Bridges, foi vendido em 2014 em um leilão em Londres por R$ 38 mil.
Na obra, o ex-Beatle, em sua fase solo, retratou um encontro que afirmou ter tido em 1974 com um disco voador no céu de Manhattan, Nova York.
“No dia 23 de agosto de 1974, às 9h, eu vi um disco voador”, escreveu Lennon no desenho, que foi leiloado pela Cooper Owen Auctions.
Em uma entrevista para uma rádio americana na década de 1970, Lennon descreveu a experiência: “Aquela coisa estava flutuando a cerca de 30 metros de distância. Eu a vi muito perto. Eu poderia atingi-la se estivesse com uma pedra.”
★ Damião Experiença lança o LP Planeta Lamma.
★ Sidney Miller lança Línguas de Fogo.
★ Perfume Azul do Sol — LP Nascimento.
★ Outros LP’s de destaque dessa safra de realizadores são Flaviola e o Bando do Sol (1974) e Marconi Notaro — No Sub Reino Dos Metazoários.
★ Rogério Duprat lança Brasil com S, um disco que poderia ser intitulado Porque Me Ufano de Meu País. Entre as faixas estão "Canta Brasil", "Tudo é Brasil", "Brasil Usina do Mundo" e "Aquarela do Brasil". É possível imaginar os arranjos elaborados que o maestro criou para essas canções patrióticas; ouvir é ainda mais revelador.
★ Lula Côrtes com Zé Ramalho, finaliza o álbum duplo Paêbirú — O Caminho da Montanha do Sol, mas a gravadora pernambucana, atingida por uma grande enchente, só conseguiu salvar poucas cópias, que se tornaram raridades.
★ Jorge Mautner lança Mil e Uma Noites de Bagdá.
★ Terço era muito novo e intenso, exigindo minha total atenção. (...). Eu precisava sair da banda para me reconstruir como compositor. A nova situação moldava meus textos e minha sensibilidade. A realidade trazia novos aspectos, e eu precisava experimentar a solidão. No entanto, reservei o melhor que produzi para a banda."
(Cezar de Mercês).
★ O Terreno Baldio é formado, e com a saída do baixista João Ascenção (ex-Trio Fush), Rodolfo Braga ingressa na banda, permanecendo até o final de 1978, quando ele e Mozart (que integrou uma formação do Joelho entre 1978 e 1979) deixam o grupo.
★ O Vímana surge da fusão de duas bandas setentistas: Veludo Elétrico (de onde vieram Lulu Santos e Fernando Gama) e Módulo 1.000 (com Luiz Paulo Simas e Candinho). O nome da banda foi inspirado na obra de Carl Jung, e, segundo relatos, começou com um som mais hard antes de se aventurar pelo rock progressivo. Informações do site Lulu Santos indicam que o grupo enfrentava dificuldades em alinhar seu som sofisticado, para a época, com os equipamentos precários de palco disponíveis. Luiz Paulo, por exemplo, possuía um dos mais inovadores sintetizadores do Brasil em 1974.
★ Após um show em Brasília, Raul Seixas e seu parceiro Paulo Coelho enfrentam perseguições, batidas policiais, prisões e hematomas. No aeroporto, eles embarcam em um voo noturno da Varig, fugindo das autoridades e das confusões da vida. Ambos se veem obrigados a levar as ideias das incipientes Sociedade Alternativa e Cidade das Estrelas para a América, destino Nova York, Greenwich Village. Não se trata de um roteiro tupiniquim de Help!
★ Roberto e Erasmo Carlos tem duas músicas censuradas: "Vida Blue", que narra a história de um nordestino assassinado pelo Esquadrão da Morte, que permanece inédita. Já "Patu" teve seu título alterado para "Baby" e acabou sendo liberada, lançando-se em um compacto de Erasmo.
★ Walter Franco inaugurou um novo procedimento que se tornaria marca de seu trabalho. Em seu show A Sagrada Desordem do Espírito, ele se apresenta sozinho no palco, na posição da Flor de Lótus, tocando violão. Peninha Schmidt comanda a mesa de mixagem, utilizada como um instrumento musical a serviço da espacialidade do som, com ecos, som quadrifônico e reverberações explorando "a distância que existe do sussurro ao grito".
★ "Minha história no punk rock começa a tomar forma em 1974, quando garotos da periferia de São Paulo descobriram que havia algo além da música pop e do rock´n`roll comercial. Garotos entre 12 e 16 anos que, cansados de escutar esse tipo de música, resolvem buscar novas formas de expressão musical. Classifico como primeiras influências nessa fase maldita e radical, bandas como Alice Cooper, Stooges, MC5, Dust, Pink Fairies, New York Dolls, Blue Cheer, Slade, Blue Öyster Cult, Foghat etc." (Ariel).
SETEMBRO
A icônica banda brasileira Secos & Molhados, formada em 1971, anunciou oficialmente seu fim. Conhecida por sua fusão de rock, MPB, teatro e poesia, e por suas letras poéticas e apresentações excêntricas, a banda se destacou na cena musical da época. A formação original incluía Ney Matogrosso (vocal), João Ricardo (guitarra e vocais) e Gérson Conrad (baixo e composição). Seu álbum de estreia, Secos & Molhados (1973), tornou-se um clássico da música brasileira.
★ Debaixo de chuva, Magnólio realiza o festival da Geodésica no Parque do Ibirapuera, com O Terço, Apokalypsis, Jazzco e outros.
★ Humahuaca, nome de uma cidade na fronteira entre Argentina e Peru, também é o título de uma banda paulistano-argentina em ascensão. Formada após a dissolução dos Secos e Molhados, a banda combina Folk, Blues e Jazz Rock, e seus membros acompanhavam João Ricardo nesse período.
A formação original incluía os vocais de Billy Bond e Américo Iça até 1976, além de Daniel Mencini, que foi substituído por John Flavin. Os músicos que completavam o grupo eram Emílio Carrera (teclados), Willie Verdaguer (contrabaixo), Dudu Portes (bateria) e Márcio Werneck (flauta, saxofone e percussão). O Humahuaca trouxe uma sonoridade inovadora que refletia a rica mistura cultural entre Brasil e Argentina.
★ Spirit: Randy California voltou do Havaí e retomou contato com Cassidy. Juntamente com Mark Andes, que havia deixado o Jo Jo Gunne, eles começaram a fazer shows. John Locke também se apresentou com eles por um tempo, mas nem ele nem Andes permaneceram na banda de forma permanente. Em vez disso, California e Cassidy contrataram outro baixista, Barry Keene, e continuaram.
★ A Odeon anuncia no Brasil o lançamento do novo disco de John Lennon, Walls and Bridges, que já é um sucesso nos Estados Unidos e na Europa. O LP traz colaborações de grandes nomes, como Elton John, Nilsson, Nicky Hopkins e Klaus Voormann.
★ O álbum Tommy com a London Symphony Orchestra recebe o Grammy de 1974 de melhor embalagem.
★ O quarteto Cheap Trick é formado em Chicago.
★ Gong lança You.
★ Jackson Browne lançou o álbum Late for the Sky. É o terceiro álbum de estúdio do cantor e compositor, e é amplamente considerado um de seus melhores trabalhos. O álbum mistura rock, folk e letras introspectivas, com faixas como "Fountain of Sorrow" e a faixa-título "Late for the Sky", que são algumas das mais aclamadas por sua profundidade emocional.
OUTUBRO
O Terço realiza o melhor show do ano no MASP, o que lhe vale o Troféu Lady Jane 1974.
John Lennon — Walls and Bridges (Apple)
Avaliação: duas orelhas
John Lennon tem um senso de humor bastante peculiar, em uma música transformando "Scared" (assustado) em "scarred" (marcado), citando a si mesmo ("You do it so well, well, well!") e mencionando títulos de músicas de Dylan ("Like a Rolling Stone"), Sly ("Dance to the Music") e The Who ("Heaven & Hell"). Para complicar ainda mais, em "#9 Dream", ele faz uma homenagem a George Harrison que é clássica, e em “Steel and Glass” critica verbalmente Allen Klein. Se John Lennon não tem uma autoconsciência afiada, então não sei o que o mantém em movimento.
Mas Lennon é um músico talentoso e sabe o que faz uma música funcionar. Ele pega o que é basicamente uma música fraca e a revigora com arranjos de bom gosto... e ele ainda ama seu rock’n’roll, como prova “Whatever Gets You Through the Night”. Contudo, este álbum não representa muito um avanço musical para Lennon, exceto em direção a composições semi-desconectadas e multifacetadas. A única coisa que mantém as músicas coesas é a habilidade de Lennon no estúdio e sua capacidade de dar sentido musical a pedaços e fragmentos. Gosto do álbum, sim, mas gostaria que Lennon pudesse “explodir” esses bloqueios e criar um álbum com músicas coesas que não precisem de retoques; afinal, Plastic Ono Band foi um álbum extremamente simples (falando estritamente da orquestração) e é provavelmente o seu melhor. (Tradução).
A revista americana Creem usava "Orelhas" para recomendar discos altamente. Conhecida pelo estilo irreverente, foi uma das principais publicações de crítica musical nos anos 1970, com foco em rock e cultura pop.
31
OUTUBRO
Quinta-feira
Os Mutantes estreiam suas novas músicas e formação para o público carioca no projeto Abertura da Temporada de Verão, realizado no Teatro João Caetano, ao lado das bandas Terço e Veludo.
É lançado, pela Som Livre, o álbum Tudo Foi Feito Pelo Sol, que apresenta melodias suaves e brincadeiras, evidenciadas nas faixas "Pitágoras" e "Desanuviar". Embora o som do disco seja considerado inferior ao de A e o Z, ele revela os Mutantes navegando nas águas da autoindulgência, conseguindo, no entanto, bons níveis de vendas.
Russos vão curtir o Quo
O rock-pauleira vai atravessar a cortina de Ferro. A proeza é do grupo inglês Status Quo que foi convidado pelo empresário russo Vladimir Rishkov para tocar em Leningrado no fim do ano. O Quo foi o conjunto escolhido porque seu compacto Pile Driver já conseguiu vender, só em Leningrado, mais de 30.000 cópias. O empresário Rishkov diz que os shows do grupo terão "caráter cultural". (Revista Pop).
★ A banda Kraftwerk, de Düsseldorf, vende 450.000 cópias de seu álbum Autobahn nos Estados Unidos, além de 500.000 cópias do compacto homônimo. Na mesma época, o grupo Nektar ocupa o segundo lugar, com cerca de 300.000 álbuns vendidos, seguido pelo Triumvirat, que vendeu 160.000 discos na América.
Mick Ronson se junta ao Mott the Hoople
A tensão nos bastidores quase levou ao fim do Mott the Hoople durante a turnê europeia que começou em outubro. A crise culminou na expulsão do guitarrista Ariel Bender, que, segundo o líder Ian Hunter e o empresário Bob Hirschman, "nunca foi um verdadeiro Mott". Em busca de um substituto à altura, a banda logo convidou Mick Ronson, ex-guitarrista de David Bowie, para ocupar a vaga. Ronson, atento aos desdobramentos, aceitou prontamente e já está em ação com o Mott, agitando uma animada turnê pela Inglaterra.
04
NOVEMBRO
Segunda-feira
É lançado o primeiro número da revista quinzenal Rock: A História e a Glória.
05
NOVEMBRO
Terça-feira
A polícia invadiu a Tenda do Calvário um dia antes da sua abertura para a imprensa. Incrivelmente, na tarde do dia 5 de novembro, quando cerca de 20 agentes à paisana invadiram o teatro, Magnólio não foi preso. Na verdade, ele acabou sendo testemunha do ocorrido.
★ Nos Estados Unidos, o Badfinger lança o LPWish You Were Here, produzido por Chris Thomas, e a sua empresa passa a se chamar Badfinger Enterprises Inc.
LSD
Pode-se dizer que o uso do LSD para o um grupo funcionava como um catalisador para a troca de experiências e ideias. Aldous Huxley, em seu livro As Portas da Percepção, explica que o ácido lisérgico pode desmanchar certas barreiras imaginárias. Ele também possui outros efeitos, legais ou não, mas isso não vem ao caso agora. Huxley argumenta que o cérebro humano é dotado de filtros que impedem a passagem de todas as impressões sensoriais. Com o uso de psicotrópicos, como a mescalina, é possível abrir as portas para outras percepções. Na época, o LSD, somado ao clima de mudanças, realmente ampliava a mente para visões de um mundo melhor. Ou pelo menos, mais colorido.
1974
ACIDEZ
Sob o efeito da sopa de cebola
Mara Manzan, a Amara da novela Duas Caras da Rede Globo, sempre foi conhecida por sua irreverência e pelas histórias inusitadas de sua vida. Entre elas, destacou-se a época em que morou na Serra da Cantareira, em São Paulo, dividindo o espaço com músicos icônicos e vivendo situações fora do comum.
Na década de 1970, Mara teve um relacionamento com o músico Ruffino Lomba Neto, contrabaixista da banda Tutti Frutti, grupo que acompanhava Rita Lee. Durante a gravidez de sua filha, em 1974, os dois se mudaram para uma casa onde também viviam integrantes de diferentes bandas. Segundo Mara, o local tinha uma dinâmica peculiar: “Havia uma piscina vazia no meio da sala que servia de cama, e todo mundo dormia junto lá. Eles passavam o dia inteiro tocando e fumando baseado. A gente era tão duro que, às vezes, só tinha cebola em casa. Tomávamos sopa de cebola o dia inteiro.”
A referência à "piscina no meio da sala" gerou controvérsias e equívocos. Em depoimento, Cláudio César Dias Baptista, mais conhecido como CCDB, esclareceu a possível origem da confusão: “Na casa que aluguei na Serra da Cantareira, havia um salão rústico que era o único aposento, além da cozinha e banheiro. Nesse salão, havia uma espécie de caixão de concreto encostado a uma das paredes, onde eu e minha ex-esposa dormíamos. Talvez isso tenha sido confundido com uma piscina, ou assim chamado de forma jocosa.”.
Sobre o consumo de substâncias psicodélicas, Mara relatou suas experiências com LSD, um marco cultural da época: “No Teatro Oficina, o grande barato era o ácido. Era ácido de manhã, de tarde e de noite. Mas eu sempre fui medrosa. Enquanto todo mundo tomava um inteiro, eu tomava ¼ para ver qual era. Tinha medo de sair do meu ‘normal’, que já não era tão normal assim.”
A vivência na Serra da Cantareira ecoa histórias que, como muitas daquela década, misturam realidade, exagero e memória, refletindo um período de efervescência artística e cultural.
06, 07, 08, 09-10
NOVEMBRO
Quarta-feira, quinta, sexta, sábado e domingo
Magnólio, uma figura marcante na cena cultural de São Paulo, conhecido por organizar diversos festivais ao ar livre e por ter ajudado a fundar a icônica Tenda do Calvário — considerado o primeiro teatro dedicado exclusivamente ao rock no Brasil —, conseguiu reservar as datas de quarta a domingo de novembro para apresentações de Arnaldo Baptista e Phoenix no projeto Rock Bandido — Jam Sessions. Essas foram as únicas apresentações públicas conhecidas da banda.
Arnaldo vestia um colant preto de peça única.
"Por enquanto só posso dizer que a Tenda foi um dos lugares mais loucos que eu já toquei. Adrenalina paranoica pura," relembra Zé Brasil.
Sérgio Dias foi ao orelhão e conseguiu escapar da prisão
Antônio Celso Barbieri
Sérgio Dias perguntou se alguém sabia onde havia um telefone público, e prontamente, me ofereci para ajudá-lo.
Juntos, atravessamos a Praça Benedito Calixto, em frente à igreja, em direção a um bar que eu sabia possuir um telefone público. Curiosamente, esse bar ficava quase ao lado de um lugar que eu conheceria intimamente no futuro, mais de dez anos depois: o Teatro Lira Paulistana.
No caminho, emocionado e tentando conter minha admiração pela banda, tentei puxar conversa com Sérgio. Se minha memória não falha, ele mencionou que havia vendido uma casa e gastado todo o dinheiro comprando guitarras.
Sérgio comentou que tinha um compromisso marcado e pediu que eu avisasse à banda que logo estaria de volta. Nos despedimos ali, no bar, e eu retornei ao teatro. Lá, comecei a ajudar o responsável pela iluminação do show. Se não me engano, a empresa de luz se chamava "Umas e Outras". O técnico, posicionado no topo de uma escada, recebia de mim os holofotes, que ele fixava na barra de luz.
"Quando chegamos, o teatro era um entulho só. Eles tinham transformado aquilo em um grande depósito das construções em volta. Tínhamos, acho, uns seis ou sete caminhões de areia, madeira e o resto de porcaria", diz Pedro Baldanza, o Pedrão, baixista e vocalista do Som Nosso de Cada Dia. Em 1974, a banda — formada por Pedrão, Pedrinho (batera) e Manito (multi-instrumentista reconhecido por comandar o sax na banda Os Incríveis, uma das mais virtuosas da Jovem Guarda) — era uma das grandes promessas do rock progressivo nacional. Com o lançamento do álbum Snegs, o grupo começava a dar seus passos para a profissionalização. Em abril e maio, eles abriram as cinco apresentações de Alice Cooper no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os shows são os primeiros mega concertos de rock no país, reunindo até 100 mil pessoas por noite. Mesmo com a grande repercussão do show que Alice Cooper fez no Brasil naquele mesmo ano, o rock não tinha seu espaço próprio na música nacional. Tirando os inferninhos e buracos que tocavam de tudo, como a boate Cave, na Avenida Consolação, os grupos procuravam os teatros para algo melhor. "A gente ia criando certos espaços, como o Teatro Bandeirantes. Eles trabalhavam de terça a domingo, então os shows eram feitos na folga da segunda. A gente alugava o equipamento, botava tudo lá dentro e tocava. Os caras de teatro davam essa força, e era assim que a gente conseguia uma data", conta Pedrão. "O que a gente envernizou de cadeiras não tem tamanho", explica. Na época, shows em espaços fechados eram feitos só com plateia sentada. A decoração do espaço, coordenada por Márcia Nunes, mulher de Pedrão na época, o veludo rasgado da cortina ganhou um pavão de mais de três metros, tudo feito com pedaços de tecido e muito brilho. "Eu tinha um vestido antigo de casamento que eu costurei lantejoulas por lantejoulas e virou o corpo do pavão. Aí a gente começou a fazer as penas com os retalhos e brilhos, e quem levasse essas coisas a gente fazia um cadastro. Cada vez que tinha algum evento, a gente chamava esse pessoal pelo Correio", conta Marcinha. "Depois a gente decidiu fazer uns desenhos especiais nas luminárias e chamamos diversos artistas para pintar tudo aquilo. A tenda era um quadro vivo e todo dia tinha gente trabalhando lá. Aquele lugar era lindo demais".
Surgiu o boato de um carregamento, os caras tinham falado que iam chegar com 500 ampolas de cocaína, mas ninguém consumia isso. No máximo um baseado ou uma mescalinazinha. E quando Magnólio estava chegando da padaria, ele vê Raul Careca, o delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), se aproximando para fazer
uma blitz no teatro. Raul Careca pergunta a Magnólio seu nome e profissão. Magnólio, sem pensar, responde: “Paulo Roberto, sou advogado.”
“Você não quer ser testemunha do flagrante?” — perguntou o delegado. Magnólio aceitou. Entraram no teatro e, em poucos minutos, a polícia prendeu todo mundo! Enquanto os investigadores falavam: “Doutor, esse aí é o Magnólio, chefe da gangue!”, já era tarde. Magnólio estava como testemunha.
Careca, apelido de Raul Nogueira de Lima, agia a mando do secretário de Segurança do estado, o Coronel Antônio Erasmo Dias, e do governador Laudo Natel. Conhecido por sua linha dura, Careca ganhou notoriedade ainda jovem, quando estudava Direito no Mackenzie e integrou o Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Ele se destacou como um dos principais combatentes durante a Batalha da Maria Antônia, em outubro de 1968, enfrentando os estudantes da Faculdade de Filosofia da USP e da universidade presbiteriana.
Nessa ocasião, o contrabaixista Kokinho foi pego. Ele carregava seis pontos de ácido e, ao ver a polícia dando voz de prisão, ele rapidamente engoliu os LSDs, escondendo o flagrante. Careca, que estava bastante irritado, gritava: “Se você toma metade de um microponto desse, você fica louco pelo resto da vida!” Kokinho respondeu: “Isso é para vocês que são baixo-astral. Pra mim, eu fico numa boa.” Irritado, Careca deu um soco no peito dele! Foi aí que começaram a tirar o pessoal do teatro e colocá-los no ônibus e nos carros estacionados na Rua Lisboa. Os mais 'importantes' foram separados e não ficaram presos. O Kokinho foi preso, mas não passou por nenhum interrogatório. Certa vez, ele confidenciou que foi ele quem, na Tenda do Calvário, foi pego com LSD. É meio conflituoso, porque havia um outro cara que estava sendo tratado especialmente, acusado de ter o LSD. O Barbieri viu o Kokinho enfrentando um policial que o acusava de estar drogado, apontando para os olhos dele, dizendo que estavam vermelhos. Kokinho, muito irritado, gritava que não estava drogado! Mas ele estava gritando contra um policial armado com uma metralhadora! Portanto, é possível que ele realmente estava drogado!
“Infelizmente, meu irmão de estrada, o Kokinho faleceu no Brasil durante as férias de 2009. Lembro bem da manchete do jornal. Por tocar com o Kokinho, sei de toda a história. Quem sabe um dia eu conte, mas foi um desses que dançou e dedurou o pico. Bom, águas passadas não movem moinhos, mas refrescam a memória. Tempos horrorosos, anos de chumbo que a galerinha de hoje desconhece por sorte. E pensar que existem uns zé ruela que querem os milicos e a ditadura de volta, realmente tem que ser um baita de um mané, ora vai se danar.” (Rolando Castello Júnior)
Para os paulistanos que acordaram na quinta-feira, dia 7 de novembro de 1974, e compraram a edição matutina do Diário da Noite, a primeira página estava recheada de notícias sobre drogas. Em uma delas, o jornal Diários Associados estampava um bando de 18 cabeludos, quase todos evitando mostrar o rosto, seguido pela manchete: “58 presos no salão de festas da igreja: LSD.”
Mais mentirosa, a matéria do O Diário da Noite dizia que a vizinhança já não aguentava mais o cheiro de fumo que saia do teatro e que um policial tirou a sua aliança e infiltrou-se naquele antro promíscuo onde até as crianças dos hippies estavam envolvidas. Um lugar onde ninguém tomava banho, etc, etc.
Na primeira página, numa foto central bem grande, aparecia um monte de cabeludos sentados no chão. A manchete: “Ontem foi um dia de muita atividade na Delegacia de Entorpecentes. 58 hippies transformaram o salão de festas de uma igreja num QG de LSD e maconha.”
Na última página, a reportagem contava que hippies sujos esperavam um carregamento com mais de cinco mil comprimidos de LSD para uma grande festa da Igreja do Calvário, em frente à Praça Benedito Calixto, em Pinheiros. A polícia militar foi chamada por uma denúncia anônima, e 58 pessoas, entre maiores e menores, foram detidas.
O que o aparato de repressão da Ditadura acabara de desmanchar ali eram os últimos preparativos para a inauguração da primeira casa de rock de São Paulo, a Tenda do Calvário. Os ácidos não eram milhares. E os hippies, nem tão sujos ou vagabundos assim. Mas sujou!
Como não havia mais flagrante ou alguma acusação clara, o grupo foi liberado na manhã seguinte. Mas, ao longo da noite, os jornais apareceram. Além do Diário da Noite, com sua reportagem chocando os bons costumes da família paulistana, o Jornal da Tarde, do Estado de S. Paulo, também contou o caso, mas de uma forma menos escandalosa.
O texto do Diário da Noite também relata que dois agentes, Nelson e Mineiro, vestiram-se "à moda", ou seja, com calças desbotadas, camisas floridas e justas, infiltrando-se como informantes. Magnólio afirma que houve caguetagens de Chiquinho e Paulinho, o que sugere que os dois já estavam infiltrados há algum tempo.
Mesmo com toda a pressão, a Tenda do Calvário abriu.
De quarta-feira a sexta-feira rolavam jams, com a participação de músicos de diversos grupos de rock. Aos sábados, havia shows com bandas, sempre com a casa cheia. Mas o medo de novas prisões e de espionagem persistiu.
“O padre falou para eu devolver o teatro logo após aquela confusão toda. Daí eu falei: ‘Eu tô com muito prejuízo, padre. Deixa eu fazer pelo menos uns 10 dias de show para eu recuperar minha grana e eu te dou uma grana também.’”
Foram pelo menos três fins de semana de casa aberta até o dia 11 de dezembro, quando oficialmente as portas foram fechadas e as chaves entregues.
"Foi aí que eu mandei todo mundo à merda e fechei a porra toda", diz Magnólio.
“Li o artigo sobre a Tenda do Calvário no Do Próprio Bol$o. Muito legal e cheio de detalhes. A banda acabou sendo liberada na delegacia após sermos fichados, e não chegamos a passar tanto sufoco, nem a noite lá. Acho que foi o Samuel Wainer, pai do Samuca, que era nosso empresário, quem intercedeu por nós. Mas, mesmo assim, foi uma situação bem difícil. Um abraço.”
(Antônio Pedro Fortuna, contrabaixista dos Mutantes)
Arnaldo Baptista: O Cowboy dos Mutantes
Uma das personas de Arnaldo era a de cowboy. Ele incorporava o estilo country, com calças e botas de couro e um casaco icônico que definia seu visual. Recém-chegado da Europa — após passar pela Itália, Áustria e Reino Unido. —, Arnaldo trouxe consigo a peça mais marcante de seu guarda-roupa: um casaco vermelho inglês adquirido em Portobello Road, em Londres. Esse casaco, inspirado no "Battle-Dress" — um uniforme militar padronizado utilizado amplamente no século XX pelas forças armadas britânicas e da Commonwealth, especialmente na Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra —, ganhou um novo significado em suas mãos. Arnaldo o imortalizou ao usá-lo no clipe de “Será que vou virar bolor”, mesclando história militar com o espírito rebelde do rock.
Toda a melancolia que Arnaldo transmitiu durante o show dos Mutantes no Teatro Bandeirantes
★ Quem não se lembra dos grandiosos shows dos Mutantes com Serginho no Teatro Bandeirantes, em São Paulo? Era a era do rock progressivo correndo solto, e os fãs formavam filas que se estendiam por várias quadras da Avenida Brigadeiro Luís Antônio.
E quem também não se lembra de um sujeito peculiar que, vez ou outra, fazia participações especiais? Ele surgia vestido de cowboy, sentava ao piano e soltava canções com letras tão excêntricas quanto sua aparência. Metade do público o vaiava, mas, mesmo assim, ele seguia. Esse cowboy era ninguém menos que Arnaldo Baptista, jogando algumas de suas pérolas musicais aos porcos, em uma entrega tão ousada quanto genial.
09
NOVEMBRO
Sábado
"Whatever Gets You Thru the Night", de John Lennon, ocupa a segunda posição no hit parade americano nesta semana, enquanto o novo single de Paul McCartney, intitulado "Junior's Farm", não fica atrás — apenas dois dias após seu lançamento, já está na 66ª posição, provando que, mesmo em carreira solo, os Beatles continuam a tocar os corações ao redor do mundo" (Big Boy, O Globo).
24
NOVEMBRO
Domingo
Ouvia rádio valvulado. O primeiro contato com o rock'n'roll não aconteceu naqueles dias radiofônicos porque a sintonia só pegava AM e, então, só rolava o programa do Barros de Alencar. No ar, remexendo no botão, o zumbido de sintonia zzzzzzzzzzz para ouvir o campeonato paulista de futebol na Rádio América (Pedro Rocha, Riva, Ademir da Guia e Pelé foi para os Estados Unidos). E as vibrantes locuções, comentários e chavões de Walter Abrãao Filho, Geraldo Bretas, Eli Coimbra na TV Tupi e os de Alexandre Santos no programa Gol: O Grande Momento do Futebol na TV Bandeirantes.
Domingo triste quando a perna de Mirandinha quebrou feio, como um graveto e nunca mais foi o mesmo.
Eram dias carregados de Pholhas, Slade e German rock e, claro! ‘48 Crash’.
NOVEMBRO
Brian May, do Queen, vence a doença
Mal o guitarrista do Queen, Brian May, se recuperou de uma hepatite e de uma úlcera, que interromperam suas apresentações, e já estava pronto para falar à imprensa britânica sobre suas impressões do terceiro álbum da banda, Sheer Heart Attack. Embora exausto pelo ritmo de gravações dia e noite, May sentiu que o período de repouso obrigatório lhe deu uma perspectiva nova e objetiva sobre o estilo criativamente agressivo do rock do Queen. "Quando voltei, consegui olhar para o Queen como se eu fosse um estranho," explicou Brian a um jornalista inglês. "Nunca tinha percebido como o som era e o quanto eles tinham a oferecer."
Grande parte de Sheer Heart Attack foi gravada pela banda enquanto Brian lutava bravamente para recuperar a saúde. "Eles conseguiram fazer muito sem mim — foram realmente ótimos com isso," contou May. "Só precisei entrar e acrescentar minhas partes. Tem mais guitarra neste álbum, e a única coisa que realmente foi afetada pela minha doença é que eu tenho apenas cerca de três músicas e meia neste disco."
Mesmo assim, "Este é o primeiro álbum em que soamos como uma banda, em vez de quatro indivíduos. Acho que a experiência das turnês começou a aparecer no nosso trabalho em estúdio." Certamente, a doença extenuante que interrompeu a turnê americana do Queen com o Mott the Hoople ajudou Brian a ganhar um novo entendimento de si mesmo como músico. "Acho que estou mais comprometido com a música do que nunca," afirmou May. "Antes, eu frequentemente pensava em voltar para a escola algum dia."
FINS DE NOVEMBRO
Início das gravações de Head First, o terceiro álbum do Badfinger para a Warner, lançado 25 anos depois...
As gravações do terceiro álbum do Badfinger com a Warner começaram no final de novembro de 1974. Apesar do cansaço após a turnê, das dificuldades financeiras e da saída temporária de Molland, a banda estava determinada a superar a crise. Para a recente turnê britânica, recrutaram Bob Jackson (teclados) devido à ausência de Pete Ham, e a banda seguiu com cinco integrantes. Ao final dessa turnê, Molland deixou definitivamente o grupo.
A composição de novas músicas foi difícil para Pete Ham neste momento, pois ele estava perdendo a confiança no projeto, mas trabalhou arduamente para criar material de qualidade. Ele contribuiu com faixas como "Lay Me Down", um rock vibrante e cativante, e "Keep Believing", uma balada emocional típica de Ham. Tom Evans também foi um dos principais compositores, criando músicas que criticavam a indústria musical, como "Mr. Manager".
Bob Jackson mostrou seu talento vocal em "Turn Around", enquanto Mike compôs "Back Again", uma faixa que remete ao estilo de "My Heart Goes Out". O álbum é considerado um dos mais sólidos da carreira do Badfinger, com todos os membros mostrando grande inspiração.
A Forbidden Records planejou inicialmente lançar o álbum em abril de 1999, mas houve complicações. As fitas mestres originais foram redescobertas, o que pode levar a um futuro relançamento do álbum. Até lá, uma versão remasterizada foi disponibilizada pela Snapper, a partir da cópia de Bob Jackson.
As faixas bônus, embora com qualidade de som variada, incluem novas canções de Pete Ham, que poderiam ter se tornado grandes sucessos do Badfinger. Os destaques incluem "Lay Me Down", "Mr. Manager", "Keep Believing", "Moonshine" e "Back Again".
16
DEZEMBRO
Lady Jane anuncia o Rock Concertezan. 1, marcando a primeira Semana Nacional de Rock’n’Roll, com a entrega do Troféu Rock 74.
“Nossos primeiros shows em São Paulo aconteceram pelas mãos de Carlinhos Gouveia. Abrimos e fechamos essa semana do rock (no cartaz, destaque em vermelho: Burmah). No meio da semana, grandes grupos brasileiros de rock, pop e progressivo se apresentaram. Também participei de uma jam com Arnaldo Baptista (que foi quem me convidou para participar) no baixo, Dinho Leme na bateria e Tony Osanah na flauta. Foi incrível!”.
(Edu Depose, guitarrista do Burmah)
18
DEZEMBRO
Quarta-feira
O Som Nosso de Cada Dia se apresenta no Teatro 13 de Maio em São Paulo. Algumas fotos dessa performance, tiradas por Grace Lagôa, foram utilizadas no relançamento do álbum Snegs em CD.
★ Aqui estão os grandes nomes do rock em 1974! O supergrupo Yes dominou a pesquisa anual do jornal britânico Melody Maker, conquistando a maioria dos prêmios. Veja só: melhor grupo inglês e mundial; melhor dupla de compositores (Jon Anderson/Steve Howe), melhor baixista (Chris Squire), melhores teclados (Rick Wakeman, por seu trabalho com o Yes), terceiro lugar de melhor vocalista (Jon Anderson), quinto lugar de melhor show ao vivo, segundo lugar de guitarrista (Steve Howe), quinto lugar de baterista (Alan White) e terceiro lugar de LP (Tales from Topographic Oceans). Mesmo com o sucesso do Yes, outros talentos se destacaram: David Bowie foi eleito melhor cantor internacional, enquanto Paul Rodgers, do Bad Company, foi escolhido como melhor cantor inglês. Entre as mulheres, Joni Mitchell levou o prêmio de melhor cantora mundial, e Maggie Bell foi a melhor da Inglaterra. Tubular Bells, de Mike Oldfield, foi eleito o melhor LP inglês e mundial, com Oldfield também ganhando como melhor músico em instrumentos diversos. Eric Clapton foi escolhido como melhor guitarrista, e Carl Palmer foi o grande vencedor na categoria de bateristas. Para shows ao vivo, os destaques foram Genesis (melhor grupo inglês) e Emerson, Lake & Palmer (internacional).
LITERATURA
É lançado A Província Deserta de H. Dobal:
Os cavalos da noite
(H. Dobal)
Os cavalos da noite galopando
de crinas soltas contra a luz da lua
eram fantasmas breves dominando
os sonhos de um menino solitário.
Um menino sem forças contra a noite
sonhava os seus cavalos assustados
e se inventava cavaleiro andante
dono dos seus caminhos pela vida.
Campeava as distâncias descuidado
e armado pelo sono ia amansando
no coração da treva os seus temores.
E revivia a noite no mistério
dos árdegos cavalos renovando
o seu campo de sonho solitário.
(A província deserta / 1974)
15
OUTUBRO
Terça-feira
O juiz Benedito Motta Mello, da Vara do 2° Tribunal do Júri, declarou a escritora Maura Lopes Cançado penalmente irresponsável, descrevendo sua situação como "ridícula e triste". Maura foi absolvida, sendo considerada incapaz de compreender o caráter criminoso de seu ato. No entanto, o juiz impôs uma medida de segurança que determinava sua internação em um manicômio judiciário por um período mínimo de seis anos. O problema é que o manicômio judiciário não aceita mulheres, o que tornava impossível para Maura viver em liberdade. Ela temia tanto a possibilidade de matar alguém quanto a de tirar a própria vida, dando início a um verdadeiro pesadelo.
★ Rock Brasileiro (1974/1976) — Ronaldo Rodrigues. Esta é a terceira e última parte deste trabalho de pesquisa fascinante, resultado de uma investigação séria e informativa. Descubra a rica e interessante história do rock brasileiro dos anos 70!
FILMES
Despertar da Besta (José Mojica Marins).
"Recebi uma ameaça: se porventura eu tentasse novamente liberar o filme, o negativo seria queimado: além de tudo, a obra agora era considerada subversiva!". — José Mojica Marins.
★ (The) Grateful Dead Movie. (1977) — Documentário — Colorido — 131 minutos. Direção: Jerry Garcia. Mais uma reunião da tribo que um filme-concerto, esse documentário captura o Dead em cinco noites em San Francisco, em 1974. Um longo e deslumbrante desenho animado, realizado por Gary Gutierrez, abre o filme.
★ Andy Warhol's Dracula/Blood for Dracula, 1974 (producer).
OBITUÁRIOS
22
JUNHO
Sábado
Darius Milhaud (1892-1974). Foi um compositor e músico francês, conhecido por sua contribuição significativa à música do século XX. Ele nasceu em Aix-en-Provence e estudou no Conservatório de Paris. Milhaud era um dos compositores associados ao movimento do "Grupo dos Seis", um coletivo de jovens compositores que buscavam criar uma música nova e inovadora, distinta do romantismo que predominava na época.
29
JULHO
Segunda-feira
Morre Cass Elliot, também conhecida como Mama Cass. A causa de sua morte foi uma combinação de problemas de saúde relacionados à obesidade e à ingestão de medicamentos. Ela foi encontrada em seu apartamento em Londres, e a autópsia revelou que a morte foi devido a uma "parada cardíaca" associada a "narcotizantes". A morte de Elliot foi um choque para seus fãs e para a comunidade musical, dado seu papel proeminente como membro do grupo The Mamas and the Papas.