1975: A SAGA DE UM FÃ DE ROCK
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A SAGA DE UM FÃ DE ROCK
Rock alemão? Nunca ouvi falar. Você é a primeira pessoa que menciona isto. Peter Grant
A primeira canção em português que meus ouvidos decodificaram foi ‘Balada do Louco’, dos Mutantes, sem que eu imaginasse o quanto ela se tornaria significativa em minha vida. Em seguida, veio a febre entre os colegas do primário com ‘O Vira’, dos Secos & Molhados, e ‘Gita’, de Raul Seixas. No último vértice desse percurso inicial, ‘Meu Mundo e Nada Mais’, de Guilherme Arantes. Momentos interligados, cujas origens eu desconhecia.
A segunda metade da década de 70, de 1975 a 1980, foi um período doce e inocente, com o sabor do algodão-doce, quando sonhávamos em alcançar o estrelato como nossos ídolos. Eu, pessoalmente, tinha uma inclinação para a crítica musical e era um garoto apaixonado por Big Boy e Ezequiel Neves, minhas referências e preferências. Pouco depois, surgiria Tárik de Souza, da Veja. A leitura começou com gibis de super-heróis da Marvel e da DC, passou para a revista Pop, seguiu com Rock, A História e a Glória, e, no segundo grau, foi complementada pela Manchete e pela Veja, que já traziam uma visão do jet set internacional e um enfoque político. Rock o Grito e o Mito, de Roberto Muggiati, foi provavelmente o primeiro livro que li. Também devorei livrinhos de faroeste e espionagem, o que caía nas minhas mãos. Inglês, nem pensar, mas já guardava recortes da Time.
Na verdade, o parágrafo acima é uma versão estilizada da história. A leitura começou bem mais cedo, com a revista Recreio e gibis em preto e branco de Mandrake e Fantasma, além de muitos gibis resgatados dos anos 60, como Solar e os super-heróis da Marvel e da DC, que eram publicados pela Ebal. No entanto, foi em 1975 que esses gibis começaram a ser lançados coloridos e em formatinho pela editora Bloch, gerando uma nova febre entre os fãs.
Já tentei seguir esse esforço, mas sempre fico preso aqui, como naquela cena do Jimmy Page em ‘The Song Remains the Same’, em que ele retrocede de ancião para jovem e até para um bebê no útero. É como aquela sensação de cair do céu em um sonho. A lembrança mais distante que guardo é de Caetano Veloso, em preto e branco, na TV, cantando ‘Eleanor Rigby’. Naquele tempo, eu não compreendia a magnitude de Caetano na MPB, mas sua interpretação me tocou profundamente, em meio aos dias cinzentos da minha infância, aos 11 anos.
É claro que ‘Qualquer Coisa’ faz alusão à capa de ‘Let it Be’, mas ninguém se aprofundou no mistério por trás da arte. Mais um trabalho de Rogério Duarte, feito para não ser completamente compreendido. Entre as faixas, lá estavam ‘Lady Madonna’ e ‘Eleanor Rigby’. No outro LP lançado no mesmo ano, Caetano cantava ‘Help!’. ‘Qualquer Coisa’ é uma joia, e joia é ‘Qualquer Coisa’.
Outro fragmento que me vem à mente é de um domingo, quando assisti a um pedaço de ‘Yellow Submarine’ na televisão em preto e branco. A TV, naquela época, era dominada pelos adultos, e não podíamos escolher a programação ou mudar de canal — as opções eram limitadas. A visita chegava e, quase como um ritual, ligavam a televisão, sintonizando os antigos programas de auditório, que continuam a se arrastar até hoje, enquanto nós, crianças, ficávamos à margem, sem poder assistir algo como Os Três Patetas.
04, 05 e 06
JANEIRO
Sábado, domingo, segunda-feira
Festival de Águas Claras — em Iacanga
Arnaldo e Phoenix foram convidados para tocar no primeiro Festival de Iacanga, realizado em uma fazenda na cidade de Bauru, interior de São Paulo. No entanto, a apresentação foi adiada por três dias consecutivos e, na última hora, Arnaldo não teve coragem de subir ao palco, permanecendo empoleirado em uma árvore enquanto a banda era anunciada.
Phoenix, o trio formado por Arnaldo Baptista (teclados), Luiz Antônio Sampaio Chagas (guitarra) e um baterista também chamado Luiz, acabou não se apresentando no festival. Sobre o fim da banda, Arnaldo recorda: "Estávamos sem empresário."
★ Enquanto isso, outro ex-mutante, Liminha, assumiu a guitarra e juntou-se a Manito e à banda Som Nosso de Cada Dia, criando um dos momentos mais memoráveis da história do rock nacional.
É importante ressaltar que o Festival de Iacanga e o Festival de Águas Claras são, essencialmente, o mesmo evento. Ele ficou mais conhecido como Festival de Águas Claras devido ao nome da fazenda onde ocorreram as edições posteriores.
08
JANEIRO
Quarta-feira
Um dos maiores guitarristas vivos do rock, Eric Clapton, desembarcou no Rio de Janeiro em um dia ensolarado, acompanhado da deslumbrante Patti Boyd. Como outras celebridades que o precederam, como Mick Taylor, Chris Wood, Jim Capaldi e Cat Stevens, Clapton pediu e prometeu o de sempre: uma relativa tranquilidade, pouco assédio da imprensa e nenhum show previamente agendado.
★ Hollywood Rock — Rio de Janeiro: O primeiro grande concerto de rock brasileiro aconteceu, reunindo artistas como Celly Campello, Erasmo Carlos, Rita Lee & Tutti Frutti (sua nova banda), Raul Seixas, O Peso, Vímana e Os Mutantes. O evento, apesar de histórico, enfrentou diversos problemas, incluindo falhas na produção, segurança insuficiente, iluminação precária e, principalmente, a chuva, que comprometeu grande parte das apresentações.
"Quem Fez Rock no Brasil"
— Entrevista com Gabriel O'Meara
— Voltarei ao Brasil!
Interessado em resgatar faixas censuradas e remasterizar o único LP de seu grupo O Peso, o guitarrista americano Gabriel O'Meara, concede entrevistas a sites brasileiros e arruma as malas, seus sonhos são produzir artistas brasileiros com a sua atual bagagem musical.
— Seu LP, ‘Em Busca do Tempo Perdido’ com O Peso sempre foi muito disputado. Porque não é relançado em CD?
GABRIEL O'MERA — Gostaria que o disco do Peso fosse relançado. Talvez o Charles Gavin (dos Titãs) se interesse em remasterizar o disco em CD. Eu tenho o disco do Cassiano, Cuban Soul que o Charles remasterizou, uma verdadeira obra prima de post production. O LP do Peso foi um marco no rock Brasileiro. Eu até toparia voltar para o Brasil por conta própria para ajudar nesta produção.
— Há a faixa ‘Não fique triste’ compacto da extinta revista Pop e a participação de O Peso no LP ‘Hollywood Rock’, essas faixas eram ao vivo mesmo ou os aplausos de estúdio?
GABRIEL O'MERA —. Os aplausos foram colocados depois pelo Guti, nosso produtor. O efeito ficou muito bem gravado e valeu como recurso de estúdio.
— Existem outtakes de O Peso? Os ex-integrantes se reencontram?
GABRIEL O'MERA — Devem haver alguns outtakes. Umas duas ou três músicas foram censuradas e não saíram no disco. Também tinha uma menina que assistia todos os shows do Peso e do Flamboyant e gravava tudo. Enquanto a uma reunião do Peso, se o clima for favorável e se o resto do grupo quiser se reunir, eu topo.
— Hoje você abandonou o jornalismo ou produz discos?
GABRIEL O'MERA — Escrevo crônicas que penso publicar algum dia, estou procurando um editor ou uma revista popular que queira ver meus textos. As crônicas falam sobre a vida cotidiana e sobre minhas andanças musicais pelo Brasil. Enquanto a produção de discos faço alguma coisa no gênero Salsa e estou confeccionando um CD num estilo Tropical Dance/House. Sou fã do Chemical Brothers e The Crystal Method. Meu CD é puro dance com um tom tropical, imagina o Santana com Chemical Brothers e pinceladas de samba, Bahia music etc. O CD tem o título de Suite for Rhythm uso o codinome Tito (Buzz) Cugat em homenagem a Tito Puente e Xavier Cugat. Vou procurar uma gravadora para lançá-lo quando acabar a mixagem. Tive o cuidado de gravar várias faixas que são ‘Radio friendly’ (para tocar no rádio). Sou vidrado num som cubano e portorriquenho. Acabei de mixar e fazer backing vocals numas faixas da cantora Melina Almodóvar. Ela vai ser a próxima Gloria Estefan. Gostaria de produzir um cantor ou cantora Brasileira misturando samba, salsa e merengue. Um verdadeiro show de World Music. Gravaria em Miami e no Brasil. Acredito que venderia no mundo inteiro.
— Há uma grande valorização do som feito na década de 70. Procura-se informações sobre Pedro Lima, Lanny Gordin, Sérgio Bandeyra, Jorge Amiden e você mesmo. O que aconteceu com essas pessoas mágicas?
GABRIEL O'MERA — Eu soube que o Jorge Amiden mudou para Brasília. O Pedrinho Lima ainda mora e toca de vez em quando na zona sul do Rio, O Lanny ataca de vez em quando em São Paulo (recentemente, Lulu Santos presenteou-lhe com uma
guitarra novinha. Apesar da "cara dura" o Lulu é um bom menino). Não sei do Sérgio Bandeyra nem da Tropa Maldita, sumiram. Recentemente recebi um e-mail do guitarrista Barroco (Diana e Stu e outros grupos) está tocando em Estoril, Portugal. Eu estou morando em Memphis, Tennessee, no sul dos Estados Unidos há mais de dez anos. Vou ao clube do B.B. King na Beale Street e às vezes tenho a sorte de pegar o grande Steve Cropper tocando com os amigos. Sou diretor de uma empresa de traduções técnicas. Volto para o Brasil com frequência para passar as férias, beber chope e rever velhos amigos.
— Hoje O Terço com a formação de 1974, está gravando um disco, haveria espaço para O Peso?
GABRIEL O'MERA — Eu acho que haveria lugar para uma edição do Peso mais Funkizada. Gostaria de gravar um rock Tupiniquim mais apoiado no Rhythm and Blues com bastante ritmo, percussão e um naipe de metais a lá Tim Maia.
— Numa entrevista sua com o Nicky Hopkins, bastante informativa, o próprio entrevistado surpreendeu-se com a sua gama de informações. Os tempos mudaram e o approach das pessoas também ou a relação entre entrevistado e entrevistador não exclui o fã?
GABRIEL O'MERA — O bom repórter musical precisa ser fã do entrevistado. Nicky Hopkins, Mick Jagger, David Clayton Thomas, Joe Cocker, Wilson Pickett e outros que entrevistei eram verdadeiros ídolos meus. Além de conhecer suas histórias profundamente, eu tinha o mais alto respeito pela arte e música destes indivíduos. Não acho que eu seria um bom repórter policial por exemplo, pois a disposição e o enfoque seriam diferentes. Para mim se tornava fácil conversar num estilo chat com estes astros. Depois eu sintetizava nosso papo e publicava em forma de entrevista.
— Quais as suas entrevistas mais significativas e qual o segredo de conseguir um furo?
GABRIEL O'MERA — Minha entrevista com Mick Jagger foi a mais significativa. Eu bati na porta da mansão da Florinda Bolkan onde Mick hospedava-se, falei sobre a Nicarágua (sua esposa Bianca é Nicaraguense) e o cantor Jackie Wilson de quem Mick Jagger é o maior fã. Ganhei a confiança do Mick e até fiquei para o almoço! Eu acho que a credibilidade, a insistência e a sinceridade do approach (mais uma pitada de sorte) são necessários para ser um bom repórter. Na realidade os astros da música pop gostam de aparecer e falar, é só saber chegar e ganhar sua confiança.
— Nos anos 70 vocês enfrentaram alguma barra política pesada? A mídia de hoje não explora esse embate entre o rock e a ditadura, nem sabem que a maior banda de rock do mundo na época, Led Zeppelin, não pode se apresentar no Brasil devido à ditadura.
GABRIEL O'MERA — É... Tivemos problemas com músicas censuradas e shows que fazíamos na encolha sem o famoso alvará da censura. Fizemos um festival em Saquarema que estava cheio de agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Houve um incidente onde vários músicos cercaram um imbecil desses após ele ameaçar uma das meninas com cadeia, porrada etc. Foi na hora do rango, ao dar as costas todos nós jogamos coxas de frango, pepinos etc no cara. Jurou voltar e prender todo mundo, mas nada aconteceu. O festival tinha músicos como Ney Matogrosso, Roberto de Carvalho, Zé da Gaita, Ângela Ro Ro, Rita Lee, O Bicho da Seda, O grupo Flamboyant (que na realidade era uma outra formação do Peso), e muitos outros que subiam ao palco em grandes jams de improvisos. O Nelson Motta mostrou uma incrível capacidade profissional e equilíbrio mantendo os níveis de doidice num domínio administrável. No Rio de Janeiro, Janis Joplin foi alertada a não fazer nenhum tipo de
pronunciamento. O ator e líder da trupe do Teatro Vivo, ou Living Theater, Julian Beck, foi detido e escorraçado do país. Lembro-me que o Chico Buarque e Ruy Guerra tinham escrito, ensaiado e produzido a custas altíssimas uma peça de teatro chamada Calabar ou O Elogio da Traição. A censura esperou as roupas e a cenografia ficarem prontas e passou uma liminar proibindo a encenação da peça, fechando o teatro pouco antes da estreia. Armando Falcão e outros censores tentaram quebrar dessa forma o espírito e a conta bancária do Chico. Já nos anos 80, Joan Baez foi proibida de tocar num show no MAM. Uma vez organizei um show no Teatro João Caetano no Rio com uma banda Portuguesa chamada Heavy Band, uns agentes da DOPS me trancaram num escritório e fizeram umas perguntas. Ao saber que eu era veterano condecorado da guerra do Vietnã (Marines) ficaram perguntando se eu tinha lutado mano a mano contra os Vietcongs etc. Contei um monte de histórias de guerra e o show foi liberado na hora.
— O LSD esfacelou o cérebro de boa parte das promessas artísticas brasileiras?
GABRIEL O'MERA — Houve algumas vítimas do excesso. Infelizmente muitas pessoas quiseram adaptar um modelo Americano do "desbunde" que não era propício para o Brasil. Não existia uma meta concreta a ser alcançada. Havia muita loucura e pouca criação. Pessoas como Caetano, Paulo Coelho, O pessoal do Pasquim, Alfredo Sirkis e outros, se preocupavam mais em exercer seus verdadeiros dotes intelectuais do que se perder na vastidão da fantasia e o engano mental. São justamente essas pessoas (entre outros, é claro) que hoje traçam o caminho intelectual do Brasil. Além disso, tinha muita bronca com as autoridades e não existia um clima bom para a expansão dos sentidos. Era ruim "viajar" sabendo que haviam amigos como Angel Stuart, Tenório Jr. e Geraldo Vandré presos, torturados e sumidos. Além do mais, muita gente andou usando drogas sem qualquer tipo de controle. Em vez de controlar o consumo, o consumo passou a controlar o pessoal. Vítimas da angústia como Torquato Neto, Raul Seixas, Júlio Barroso, Elis Regina e Robson Jorge são perdas irreparáveis para a cultura e música brasileira. Voltarei ao Brasil. Eu pretendia visitar o meu grande amigo Sebastião Rodrigues Maia. Pensei que o cara ia viver para sempre. De qualquer forma...Valeu! (Gabriel O'Mera)
1975
25
JANEIRO
Sábado
Durante o Sunbury Festival, na Austrália, ocorreu uma briga inusitada entre as bandas AC/DC e Deep Purple. O festival, que estava em sua última edição devido a problemas financeiros, trouxe o Deep Purple como atração principal, mas a banda estava em meio a conflitos internos e o organizador temia que eles não se apresentassem. Para garantir que o evento continuasse, o AC/DC foi chamado como uma solução de emergência.
Quando o Deep Purple finalmente subiu ao palco, o AC/DC, já preparado para tocar, acabou envolvido em uma confusão. Um desentendimento com a equipe do Deep Purple evoluiu para uma briga generalizada, com roadies e membros das bandas lutando no palco. Angus Young, guitarrista do AC/DC, relembra o caos, com Bon Scott, vocalista do AC/DC, e outros envolvidos em lutas físicas.
Apesar da briga, o AC/DC não chegou a se apresentar. No dia seguinte, a história da briga entre as bandas foi amplamente comentada. David Coverdale, do Deep Purple, também relembrou o incidente de forma humorística, mencionando que o público do festival parecia estar em uma "convenção de camisinhas" devido às capas de chuva que usavam por causa da lama.
No fim, a confusão se tornou uma memória engraçada entre as bandas, que mais tarde riram do episódio em encontros futuros. O Sunbury Festival nunca mais ocorreu, e o Deep Purple chegou a abrir um fundo para ajudar os artistas que não foram pagos devido aos altos custos do evento.
Ainda em 1975, Tommy Bolin será chamado para substituir Ritchie Blackmore como guitarrista do Deep Purple. Seu trabalho com a banda renderá o álbum Come Taste the Band, no qual Bolin imprimiu sua identidade musical com solos inovadores e um estilo cativante, marcando uma nova fase para o grupo. No entanto, problemas com drogas e as exigências da vida em turnê afetaram seu desempenho e saúde.
★ A nova mesa de som dos Mutantes, projetada por CCDB, expeliu de uma de suas caixas-cornetas cinco pessoas que se acomodaram dentro dela.
★ Localizada na Rua Padre João Manuel, 446, além da residência da banda Apokalypsis, essa foi uma das bases do rock em São Paulo em 1975.
Os sabiás, bem-te-vis, pardais, gente, carros, buzinas... a cidade, enfim, eram a vista da minha janela (que já não existe mais) na Rua Padre João Manuel, travessa da Paulista, em 1975. — Zé Brasil
★ Começa assim a conexão de Ezequiel Neves com o Made In Brazil, marcando o fechamento de um ciclo. Cornelius, o cantor, sai para retornar 10 anos depois. O melhor show do ano na categoria de rock nacional, segundo a revista Veja.
17
FEVEREIRO (EUA)
Segunda-feira
O único single do álbum Rock’n’Roll de John Lennon, "Stand By Me" foi uma versão da clássica música de Ben E. King de 1961
★ Em entrevista, John Lennon descreveu sua relação com George Martin como "uma verdadeira parceria."
"Algumas pessoas dizem que George Martin fez tudo, outras dizem que os Beatles fizeram tudo. Não foi nenhuma das duas opções. Aprendemos muito juntos", afirmou.
Lennon Acomodado
De acordo com a revista russa New Times, publicada em inglês, o talento de John Lennon havia se deteriorado devido ao seu afastamento das atividades políticas, resultado das pressões das autoridades americanas. Desde 1972, Lennon teria entrado em um processo de decadência, com provas disso em seus dois últimos álbuns, Mind Games e Walls and Bridges, considerados "claramente inferiores a todo o seu trabalho anterior, carregado de consciência político-social." (Revista Pop, 1975)
★ Em breve, o ex-Beatle John Lennon deverá estar livre para viajar para fora dos Estados Unidos, de acordo com seu advogado, Leon Wildes. A batalha legal que Lennon vinha travando com as autoridades norte-americanas estaria prestes a chegar ao fim, o que beneficiaria o artista. Lennon, que enfrentava um processo por posse de entorpecentes (na Inglaterra), estava ameaçado de ser expulso dos Estados Unidos. (Revista Pop, 1975).
24
FEVEREIRO
Segunda-feira
O álbum Physical Graffiti da banda Led Zeppelin é lançado. Esse é o sexto álbum de estúdio da banda e é considerado um dos mais importantes de sua discografia.
"Quem Fez Rock no Brasil"
— Zé Brasil: A Trajetória do Baterista Cofundador da Space Patrol
Zé Brasil, cofundador da Space Patrol, é um músico e arquiteto formado desde 1972. Durante essa década, ele foi fundamental ao apresentar figuras importantes na vida de Arnaldo Baptista, como o baterista Rolando Castello Jr e Martha Mellinger. Zé Brasil conhecia Os Mutantes desde suas apresentações no programa Divino, Maravilhoso, em 1968, e, além disso, mantinha uma relação próxima com personalidades como Antonio Peticov, com quem conviveu nos tempos da boate Ponto de Encontro na Avenida São Luís, em São Paulo.
Ele recorda que a Cantareira era um lugar especial, onde Rita Lee & Tutti Frutti ensaiavam, enquanto a Space Patrol fazia seus ensaios na casa de Arnaldo. Jams com Serginho, Liminha, Lee Marcucci e Zé Brasil eram frequentes, e o músico conta que ele mesmo chegou a tocar viola caipira em algumas dessas sessões. A Space Patrol, que começou como uma banda experimental, teve seus arranjos criados por eles, incluindo a participação de Arnaldo Baptista, que tocava baixo nos pedais do Hammond. Zé Brasil lamenta ter deixado o grupo antes de gravarem a obra-prima Lóki?, de Arnaldo, mas destaca que eles ensaiaram intensamente para esse disco.
A Space Patrol era composta por Arnaldo, Zé Brasil e, mais tarde, pelo guitarrista Marcelo Aranha, que substituiu Alan Kraus, um alemão que havia trabalhado no som de Woodstock. Zé Brasil relembra uma tentativa de apresentação da banda que terminou em um acidente de carro nas curvas da Serra da Cantareira, enquanto iam para São Lourenço.
Ele também menciona um manuscrito que Arnaldo lhe deu nos anos 70 para musicar, que acabou resultando na composição de um "Rock da Cantareira". Para Zé Brasil, esse período foi repleto de criatividade e liberdade, algo que contrastava com o ambiente opressor da Ditadura Militar. Além dos ensaios, ele também lembra dos shows da Space Patrol no Parque do Ibirapuera, sendo o segundo deles o mais memorável. Apesar da anarquia no palco, especialmente com Arnaldo desregrando os ensaios, o público, composto por dealers e freaks, adorava as apresentações.
Zé Brasil também destaca o papel da arquitetura em sua vida, que o ajudou a transformar a edícula de sua casa em um estúdio, onde ele e sua companheira Silvia Helena viviam momentos intensos. Ele fala ainda de sua relação próxima com Rolando Castello Jr, baterista que ele recomendou a Arnaldo, e menciona Martha Mellinger, com quem Arnaldo vivia na época.
Além das performances e ensaios, Zé Brasil recorda da tentativa frustrada de um show em São Lourenço e das escapadas que marcaram suas viagens com a Space Patrol. O grupo, que quase conseguiu se apresentar ao lado de Mutantes e Rita Lee, foi uma das mais criativas colaborações da carreira de Zé Brasil.
Por fim, ao refletir sobre o álbum Lóki?, Zé Brasil menciona que os arranjos eram fiéis aos ensaios da Space Patrol, embora a influência de músicos como Liminha e Dinho tenha modificado alguns aspectos. Ele acredita que, se a Space Patrol tivesse gravado o disco, o resultado seria diferente, mas mantém orgulho por ter participado desse processo criativo ao lado de Arnaldo Baptista.
MARÇO
Arnaldo Baptista Lança o Emblemático LP Lóki?
O disco Lóki? evoca medo e inquietação; essa sensação é palpável desde a capa até os títulos das faixas. Ele poderia ser chamado de Disco Voador — um álbum repleto de lendas, cuja gravação teria sido feita em apenas um dia (o que é exaltado pela gravadora). É um disco feito para ser ouvido em alto volume, mas que pode provocar certo desconforto no ouvinte, com seus 16:50 minutos distribuídos entre os lados A e B. Lançado sem divulgação na quarta-feira de cinzas de 1975, Lóki? ainda assim ganhou um belo videoclipe da canção "Será que eu vou virar bolor?". Arnaldo Baptista reclamou que a gravadora não financiou o teatro para a temporada de lançamento do show. Ele teria condições de se apresentar ao vivo?
Quanto à questão da cisão, diz-se que Liminha queria que apagassem a fita por ela soar como Sérgio Mendes. O baixista se ressentiu da falta da guitarra ou do seu papel na música?
Sentimentalmente, o disco reflete uma visão do amor e a bad trip existencial de John sem Yoko. É um álbum de êxtases, que expressa linguisticamente um apetite sexual e lisérgico exacerbado, além de uma crise precoce de meia-idade e o fim das utopias. Algum dia será revelada a ordem de gravação das músicas? Haverá instruções anotadas na caixa da fita pelo artista?
Arnaldo foi considerado louco por ter incendiado o piano "desafinado" de sua mãe. No único espaço que encontrou na revista Amiga, pediu que esclarecessem essa intriga e reforçou que era um profissional!
Este é o disco que coloco para tocar quando estou irritado. É o álbum que, quando estou perdido e sozinho, aumento o volume para encobrir as minhas lágrimas. Como faz falta Arnaldo Baptista!
A vida de um artista em sua autobiografia
Para o lançamento do LPLóki?, uma nota "autobiográfica" acompanhava o disco. Nela, havia a frase: “Em criança, teve que consultar psicanalista para continuar os estudos do segundo ano primário.” Essa frase sugere que, na infância, Arnaldo Baptista enfrentou dificuldades psicológicas que comprometeram seus estudos, levando à necessidade de acompanhamento psicanalítico.
A nota autobiográfica que acompanhava o disco já dava indícios da luta interna enfrentada pelo músico desde a infância, algo raro de se revelar em um cenário musical da época, onde a vulnerabilidade não era um tema comum.
“Depois que os Mutantes acabaram, eu lancei um disco pelo selo Philips — um disco que, inclusive, hoje é vendido por 7 mil cruzeiros e virou item de colecionador. Ele teve uma tiragem muito pequena, mas tinha certa qualidade, e o público gostou bastante. O LP chamava-se Arnaldo Lóki? Baptista e tinha uma faixa que, na época, eu não gostei muito, chamada ‘Lóki?’. Hoje em dia, não vou mais com a cara dela, mas foi algo que fiz naquela época, e foi importante.”
Conforme relato de seu irmão Sérgio Dias à revista Bizz: “Arnaldo odiou o título”. Essa insatisfação pode ter contribuído para a rescisão de contrato com a Phonogram meses depois.
Seis anos após o lançamento de Lóki?, a insatisfação do artista com o nome do álbum ainda era evidente. Décadas depois, em 2008, Arnaldo teve que aceitar o título Lóki (sem interrogação) em um documentário sobre sua vida. A exclusão do símbolo no título confirmou a fragilidade emocional do artista.
Crueldade da mídia
Outro fator determinante foi a maneira como a mídia explorou a situação de Arnaldo Baptista. O crítico Ezequiel Neves, em um texto polêmico, escreveu: “É a primeira bad trip transformada em LP. Palmas para a Phonogram que teve a ousadia de lançar esse autêntico bootleg. Vai ver a gravadora pensou em fazer do fundador dos Mutantes o Syd Barrett dos trópicos.”
De forma incisiva, a crítica justificou a escolha do nome Lóki?, aludindo à fragilidade de Arnaldo naquele momento. A abordagem sensacionalista de parte da imprensa contribuiu para consolidar a imagem de Arnaldo como um artista "fora da curva".
Apesar disso, anos depois, Arnaldo, mesmo com o cérebro comprometido, defendeu-se com dignidade: “Syd Barrett? Não! Lóki? vai muito mais para o lado de Frank Zappa.”
ABRIL
Almôndegas: primeira formação: Quico Castro Neves, Kledir Ramil, Pery Souza, Kleiton Ramil e Gilnei Silveira.
Estava marcado para a primeira quinzena de abril o lançamento do primeiro LP do grupo gaúcho Almôndegas. Um grande esquema promocional da Rádio Continental levaria os cinco integrantes, incluindo os irmãos Kleiton e Kledir, até Salvador, passando por grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Antes disso, haveria um show especial com as presenças de Milton Nascimento e Gilberto Gil.
14
ABRIL
Segunda-feira
A entrada de Ron Wood no mundo de excessos do rock 'n' roll, com os Rolling Stones, foi anunciada por meio de um comunicado de imprensa. Mesmo após provar sua habilidade ao tocar no primeiro show da turnê mundial da banda, Wood ainda levaria um tempo até se tornar membro permanente.
18
ABRIL
Sexta-feira
Reconciliado com Yoko Ono, John Lennon se apresentou ao vivo pela última vez em um especial de televisão.
Entrevista com Freddie Mercury
Circus
Na entrevista com Scott Cohen, Freddie Mercury fala sobre sua infância em Zanzibar, onde nasceu, e sua mudança para a Inglaterra. Ele lembra das músicas que ouviu na infância, como Elvis Presley e Bill Haley, e descreve Zanzibar como um lugar tropical. Mercury menciona sua única visita a Nova York, onde se divertiu e ficou impressionado com a cidade.
Quando questionado sobre seu interesse em temas não musicais, ele diz que sua atenção estava voltada para a música devido ao trabalho em um filme e uma turnê. Mercury reflete sobre a idolatria em relação a rockstars, mostrando-se cético sobre a ideia de que isso é uma preocupação atual.
Ele também fala sobre sua apreciação por arte, mencionando Jimi Hendrix e Dalí, mas nega a ideia de que Dalí deveria criar seus trajes. Mercury expressa o desejo de ser o primeiro homem na capa da Vogue e comenta sobre sua paixão por roupas, revelando que já teve uma boutique. Ele dá dicas sobre onde comprar roupas de qualidade em Londres e menciona seu gosto por sapatos e a importância das roupas em sua carreira.
Freddie se descreve como uma pessoa vaidosa, que passa tempo na frente do espelho, mas não considera sua imagem refletida como algo que o afete profundamente. Ele finaliza afirmando sua originalidade e a conexão que as pessoas podem sentir com sua imagem.
“Durante esse show, Patrick Moraz fez uma participação especial no final da apresentação do Veludo. Essa história é detalhada em um documentário que também aborda os seguintes tópicos: a) O desabamento do palco no Hollywood Rock 75, que contou com a presença de Os Mutantes e Veludo.
b) Um vídeo da entrevista do grupo durante o Festival Banana Progressyva, realizado em São Paulo, em 1975.
c) A participação do tecladista do Yes, Patrick Moraz, no show no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro.
d) A influência do rock progressivo internacional e as críticas que ele recebeu.”
(Nelsinho Laranjeiras)
MAIO/JUNHO
Banana Progressyva
São Paulo, Auditório da Fundação Getúlio Vargas
MAIO
Captain Fantastic and The Brown Dirt Cowboy, de Elton John (RGE), foi o grande destaque do ano. Com 10 faixas, o inglês Reginald Kenneth Dwight, mais conhecido como Elton John, agradou a todos: vendeu mais de um milhão de cópias e impressionou a crítica com aquele que é considerado seu álbum mais substancial da era superstar.
O Incrível Capitão Fantástico: “Senhor do Delírio e da Piração”
Elton John realizou sua maior façanha como super-herói! Depois de uma série de shows arrasadores no estádio dos Dodgers em Los Angeles, o mistério dos superpoderes de Elton John finalmente foi revelado! Em meio a um solo de piano totalmente alucinante, Elton gritou seu próprio nome... Reginald Kenneth Dwight! A revelação pareceu ecoar até as estrelas, chamando o espírito do deus do rock, o “Senhor do Delírio e da Piração.”
Num piscar de olhos, Elton se transformou no lendário Capitão Fantástico, o super-herói do rock! Vestindo sua capa brilhante e óculos de sol reluzentes, ele começou a realizar façanhas musicais épicas, preenchendo o estádio com acordes poderosos e conquistando todos os corações com suas piruetas e a eletrizante energia do rock.
24
MAIO!
Sábado
In my life...
Foi no dia do meu aniversário de 11 anos, que minha jornada pelo mundo do rock começou.
Desse dia até 24 de maio de 2025, foram 18.263 dias de uma perspectiva misteriosa, temperados com doses de esperança, dedicação e aprofundamento. Técnicas de controle de vícios, um caso de abnegação e a escolha consciente na construção de um perfil não esotérico, mas excêntrico, na criação de um ‘mad’ estilo de vida. Assim descrevo a minha participação no universo do rock'n'roll, que começou quando comprei um compacto duplo da trilha sonora do filme A Hard Day's Night dos Beatles.
No meu aniversário de maio, ganhei um disco duplo dos Beatles, ‘A Hard Day's Night’. Foi um divisor de águas! Ao olhar fixamente as quatro fotos dos rostos deles, me apaixonei, e claro que todos notaram minha nova paixão. Terminei o ano com um LP de novela, ‘Escalada’, e 1975 foi mais um ano de rock'n'roll, como sempre, em meio a toda a branquidão daquela época.
O compacto duplo com as músicas ‘A Hard Day's Night’, ‘I Should Have Known Better’, ‘Can't Buy Me Love’ e ‘And I Love Her’ foi lançado exclusivamente no Brasil pela Odeon. Não houve lançamento oficial no mercado internacional, tornando-o um item raro e valioso para colecionadores. A Odeon, detentora dos direitos dos Beatles no Brasil, costumava lançar versões adaptadas para o público brasileiro, o que explica a exclusividade deste compacto no país, que tinha um grande público de fãs da banda na época.
O que eu não sabia era que ‘A Hard Day's Night’ foi o primeiro filme dos Beatles, indicado ao Oscar de melhor trilha sonora, mas sem ganhar. Com orçamento reduzido e filmado em preto e branco, o filme acabou adquirindo um toque artístico. Foi o primeiro álbum pop com músicas exclusivamente compostas por seus próprios autores, Lennon & McCartney. Nos EUA, a Capitol lançou apenas as músicas do filme e a trilha incidental, enquanto no Brasil, pela Odeon, o disco saiu com o título adaptado para Os ‘Reis do Iê-Iê-Iê’ e capa vermelha.
Meu segundo contato com os Beatles: O compacto duplo ‘Anna’ / ‘Chains’ / ‘Misery’ / ‘I Saw Her Standing There’, lançado exclusivamente no Brasil em 1967, é importante por ser uma edição bastante exclusiva e limitada. As quatro canções pertencem ao álbum de estreia dos Beatles, Please Please Me, lançado em março de 1963. Embora eu tenha ouvido esse disco após o compacto duplo de ‘A Hard Day’s Night, a energia e a febre da novidade estavam presentes, com as músicas vibrantes e quentes do início da carreira da banda.
Ainda em 1975, o ano revelou ‘Ovelha Negra, que se tornou um verdadeiro hino para aquela geração e as seguintes, representando o espírito de rebeldia e a busca por individualidade. Pouco tempo depois, outro ícone da contestação surgiu com ‘Filho Único’, de Erasmo Carlos, uma canção que abordava os desafios e os conflitos na luta por liberdade.
Meu batismo no rock veio pelas águas lamacentas de Elvis Presley, Bill Haley, talvez um pouco de Little Richard. Chuck Berry só entrou na minha vida quando me aprofundei nos Beatles. Na verdade, meu batismo aconteceu com a trilha sonora internacional da novela ‘Escalada’. Eu colocava o álbum ‘Elvis' 40 Greatest’, da Som Livre, na vitrola e mergulhava nos quadrinhos do Demolidor da Bloch. Ali, começava meu caminho como colecionador —
primeiro de revistas de super-heróis, e logo, de discos, embora estes fossem bem mais caros.
Com a coletânea ‘40 Greatest Hits’, foi a primeira vez que consegui pescar um significado em uma capa de disco. Depois de um tempo, percebi que havia um número 40 na parte interna da capa e comecei a estudá-las, sempre com a aprovação dos Beatles como minha maior referência.
Flashbacks
Eu Sou Billy Shears: Loucura & Dedicação Aos Beatles
No ano seguinte, a trilha sonora de ‘Estúpido Cupido’ tomou conta, comprávamos discos sugeridos pela TV Globo. Enquanto isso, meu vizinho Carlão já me levava em viagens sonoras com álbuns como ‘Excelsior — A Máquina do Som’ e os compactos duplos da série ‘4 Top Hits From England’ do selo Young. Do rock nacional, ainda sem muita noção, em casa íamos dos Pholhas cantando em inglês até o forró d'Os Incríveis!
Comecei minha coleção com 50 discos compactos da RCA Victor, todos organizados em um pino fixo em uma base de metal. Nunca fui às lojas do centro de São Paulo comprar as capinhas; na verdade, minha única visita a Discolivros, na Rua Antônio Agú, 987 — Osasco, foi quando comentei com meu pai que os discos estavam muito mais baratos lá. Na época, eu não conhecia a expressão ‘pau de sebo’ e mal sabia o que era um sebo; mas, já na Rua Parayba, os caras estavam formando suas pequenas equipes de som.
A vida é uma máquina incrível do tempo. Retorno aos dias em que ainda usava calças curtas de estudante. Sou um freak — em uma tradução mais amena, ‘extravagante’; em uma mais direta, ‘doido’. Era 1975, e eu ouvia os jogos do Paulistão no meu rádio valvulado, um presente do Natal do ano passado que ganhei, verde e perfeito paratorcidas. Os tempos de brinquedo tinham ficado para trás, e eu me via mergulhando nos gibis.
Em um quartinho da minha prima, vi um disquinho do Slade que ela me mostrou. Outra prima, da parte da minha mãe, me ensinou a trocar discos. Eu escutava tudo alucinado. O vizinho da esquina me chamava para organizar e limpar seus LP’s, e, nesse tempo, espelhinhos de bolso oval eram vendidos nas lojas. Comprei uma dezena às escondidas, só para quebrar os espelhos e tirar as fotos das modelos nuas que decoravam o fundo. A vendedora me olhava com um sorriso sarcástico; foi o primeiro sinal de desvio de conduta.
E então cheguei a Michael Jackson. Sua música ‘One Day in Your Life’, que ouvi no programa do Barros de Alencar, me fez refletir sobre como as tardes eram tristes e a vida poderia ser cinza. Essa canção, assim como tantas outras, assumiria significados novos ao longo da vida. O estado febril de descoberta retrocede aos dias em que percebi que poderia observar o mundo ao meu redor, e isso mudou tudo.
Blues da PQP
Outro dia fiquei com raiva: ‘Você caiu no rock com 11 anos?’ E eu respondi que ninguém vai contar a minha história como eu a vivi.
Cai no rock em 1975 com um compacto. Talvez essa queda tenha sido a responsável pela nossa mudança para Brasília. Lá em Osasco-SP as pessoas costumavam morrer jovens. Ainda naquele ano aconteceram coisas ótimas talvez a primeira punheta. Outra coisa boa, era a radiola Philips, que acoplávamos o gravador no auxiliar, esse som deu muito trabalho, travava o automático, e quando veio para Brasília queimou, pois era 110 volts. Se eu fosse mais esperto, ela estaria comigo.
27
MAIO
Terça-feira
Paul McCartney & Wings lançam o LP Venus and Mars.
★ Como relatou o New York Times, já se sabia da existência de um caderno de notas em que Bob Dylan havia anotado as letras de Blood on the Tracks, seu álbum lançado em 1975.
★ Um grupo de parentes de Brian Wilson, liderado por sua esposa, convoca o Dr. Eugene Landy para cuidar de Brian. O Dr. Landy era um típico personagem da cena californiana — um psicólogo pop, tão famoso quanto seus renomados pacientes, conhecido mais por suas técnicas excêntricas e estratégias promocionais do que por seu rigor científico.
★ Al Hendrix começa a receber royalties pela obra de seu filho, embora a quantia seja bem menor do que o esperado.
★ Os Rolling Stones lançam a coletânea Metamorphosis.
★ A banda Soft Machine, em sua 13ª formação, apresenta Bundles, mantendo sua essência sem um rosto definido.
★ Back Street Crawler traz The Band Plays on.
★ Keith Relf, que havia seguido uma breve carreira como produtor e se afastado da cena musical, retorna com um álbum homônimo de seu novo grupo, Armageddon, que também teve uma vida curta. O maior destaque deste LP, lançado no Brasil, é sua capacidade de redefinir a percepção musical de quem o escuta!
★ Ave Sangria chega ao fim. The Incredible String Band se dissolve. Ten Years After também se desintegra.
JUNHO
★ Superstars no Brasil
Peter Grant: O Poderoso Empresário Negocia Pessoalmente a Vinda do Led Zeppelin
Um bom mágico não explica o truque à plateia. O que posso adiantar é que serão sensacionais
Com quase dois metros de altura, ostentando grandes anéis e pulseiras azuis, jeans desbotados e botas marrons de cano longo, Peter Grant, simpático e bem-humorado, hospedou-se na suíte presidencial do Leme Palace Hotel, no Rio de Janeiro. "Se não houvesse interesse em trazer o grupo, eu não estaria no Brasil agora. Detesto viajar de avião e, com tantos compromissos nos Estados Unidos, não faria uma viagem tão longa à toa. Não permito apresentações do grupo em nenhum lugar onde eu mesmo não tenha estado antes. Só agora podemos realizar esse desejo antigo."
“A única coisa que me preocupa é a segurança da garotada. Soubemos que nas apresentações de Alice Cooper houve tumultos e gente ferida. Por isso, vim ao Brasil checar pessoalmente a capacidade dos estádios onde devemos nos apresentar. Não queremos superlotação e, consequentemente, tumultos. E isso tem que ser feito sem que sejam cobrados preços proibitivos. A gente quer que a garotada curta os nossos shows e, se for necessário, tocaremos até no Maracanã. Nos Estados Unidos, os melhores lugares custam cerca de 8 dólares, mas nas arquibancadas tem que ser mais barato.”
Arte-noveau
Sob o sol escaldante, o imenso Mr. Grant é o tipo de pessoa que poderia ser seu próprio guarda-costas. Ele entra no local, carregando dois imponentes vasos art-nouveau em forma de avestruz, que são quase do tamanho dele, tanto em altura quanto em circunferência. Mr. Grant se dedica com afinco ao seu segundo hobby: a coleção de peças art-nouveau.
Na sua suíte, ele arruma a mesa, retirando alguns objetos acrílicos de estilo colonial, e coloca os vasos em destaque. Ele observa as peças com a atenção de um verdadeiro especialista. "São peças austríacas do final do século 19", explica ele, alisando a cerâmica. "Excelente qualidade, peças únicas. Perceba como a cor desta é diferente daquela. A temperatura do forno na produção da porcelana influencia diretamente na cor. A esmaltação nunca fica igual." E quanto ao espelho? "Este é mais recente, do início do século, provavelmente", ele conclui, demonstrando seu conhecimento preciso de arte.
Led Zeppelin
"Conheço Jimmy Page desde os 16 anos. Eu era porteiro de uma boate muito devagar, onde ele dava canja ganhando 1 dólar por noite. Daí nasceu uma sólida amizade que nos une até hoje."
“Deixo que Jimmy Page (guitarra), John Bonham (bateria), Robert Plant (vocais) e John Paul Jones (contrabaixo e teclados) deem livre expansão à sua criatividade. Depois, nos sentamos e discutimos longamente com os técnicos de som as ideias que vão surgindo. Desde os efeitos especiais para o disco até a montagem do palco, pintam mil loucuras e os técnicos têm que quebrar a cabeça para pô-las em prática. Se quisermos um relâmpago durante o show, eles têm que se virar para encontrar a solução ideal.”
“Para que você tenha uma ideia, uma vez não aceitei um show nos Estados Unidos pelo qual o Led Zeppelin iria ganhar milhares de dólares, porque o irmão de John Bonham ia casar no outro dia e, claro, não daria tempo para a apresentação. E todos os integrantes do grupo ficaram coesos. É isso: para mim, a pessoa humana está à frente do superstar.”
Rock é Rock Mesmo
“Começamos a filmar em 1973 e já está quase pronto, mas não é simplesmente um documentário sobre os shows. Além da parte musical, mostraremos as características particulares de cada elemento do grupo — uma fantasia envolvente, humana, mostrando os momentos mágicos que pintam na vida de um superstar.”
Superstars
Há uma conexão errada com relação ao rock no mundo. A crise só existe para uma minoria mal assessorada, como é o caso de Joe Cocker, extraordinário cantor que escolheu como empresário um cara de terno e gravata interessado só em faturar rapidamente. É evidente que sobreveio o desgaste! Quem é Joe Cocker atualmente? E David Bowie?
(...) A grandiosidade e a pretensão dos trabalhos de Rick Wakeman não me agradam e cheiram a grossa picaretagem. Em compensação, Tommy, do The Who, é uma obra de arte. O fato de dois artistas fazerem esse tipo de trabalho não quer dizer que todos os outros grupos estejam seguindo a mesma trilha. O que posso dizer é que a música pop atualmente não é só barulho. A criatividade está sempre presente, principalmente no trabalho do Led Zeppelin.
1975
(...) — Quer saber de uma coisa? O Mick Jagger é um cara sensacional, é um excelente caráter. Nós éramos amigos antes dos Stones chegarem à posição em que estão.
Recentemente, pedi-lhe uma gravação especial para um programa de rádio que produzi na Holanda. Ele largou tudo o que tinha para fazer e me atendeu prontamente. Isso é bacana paca!
(...) No caso de Eric Clapton, o problema é de seu empresário, Robert Stigwood. Entendo a angústia de Clapton, que é um grande músico. Um bom empresário tem que ser, em princípio, um grande amigo de seus artistas. Eu não sei tocar nenhum instrumento, mas sinto a música com toda minha alma. E saco as várias facetas que compõem o universo de um superstar. A resultante de um trabalho sério, profissional — o que logicamente implica remuneração — está na razão diretamente do relacionamento com o empresário.”
07
JULHO
★ Keith Richards, do The Rolling Stones, é preso no Arkansas, Estados Unidos, por porte de arma e direção perigosa. Centenas de adolescentes cercaram a delegacia onde ele ficou detido por quase um dia, aguardando sua liberação.
Nesse dia de 1975, ele e Ron Wood foram detidos em Fordyce, Arkansas, dentro de um carro cujas portas estavam abarrotadas de drogas. Para qualquer policial do sul dos Estados Unidos, prender "a banda de rock mais perigosa do mundo" se tornou um ato de patriotismo. O episódio terminou com um juiz embriagado, uma multa de 165 dólares e um Chevrolet Impala amarelo abandonado, que ainda hoje faz Richards se perguntar se alguém continua dirigindo, sem saber que as portas estão cheias de drogas.
28
JULHO
Segunda-feira
★Black Sabbath lança o LP ‘Sabotage’
A produção do álbum Sabotage do Black Sabbath foi marcada por grandes dificuldades e tensão. Geezer Butler descreve o processo como o mais difícil e desolador da banda, devido às constantes interrupções legais e conflitos com seu empresário. A banda estava envolvida em processos judiciais, tanto movidos por eles quanto contra eles, e o empresário tentava impedi-los de gravar e congelar seu dinheiro. Essa situação os forçou a passar mais tempo lidando com questões legais do que focados na música, o que impactou o processo criativo e demorou dez meses para a conclusão do álbum.
Apesar disso, Sabotage é considerado por muitos fãs uma obra-prima, com alguns o considerando o melhor disco do Black Sabbath. No entanto, os membros da banda, incluindo Ozzy Osbourne, ainda consideram Sabbath Bloody Sabbath o seu auge criativo, e Ozzy chega a afirmar que Sabotage foi o último grande disco da banda. Tony Iommi comenta que as mudanças na banda foram impulsionadas pelo ambiente externo e pelos problemas legais, que os forçaram a deixar de ser músicos para se tornarem homens de negócios, algo que nunca haviam sido preparados para fazer. Essas dificuldades interferiram diretamente na música e nas dinâmicas da banda.
AGOSTO
Miles Davis lança Agharta
05
SETEMBRO
Sexta-feira
Lynette "Squeaky" Fromme se aproximou do presidente Gerald Ford em Sacramento, como se fosse cumprimentá-lo, junto com vários outros espectadores, enquanto ele caminhava para o Capitol Park. Ela apontou uma pistola de calibre .45 para o estômago dele e puxou o gatilho, mas a arma não estava carregada. Fromme afirma que não tinha intenção de matar Ford. No entanto, ela foi condenada a uma pena de prisão perpétua pelo juiz do Tribunal Distrital dos EUA, Thomas J. MacBride.
12
SETEMBRO
Sexta-feira
Pink Floyd apresenta Wish You Were Here.
19
SETEMBRO
Sexta-feira
Sérgio Pinheiro, recém-chegado a Brasília, foi ao Conjunto Nacional, na Feira do Disco, onde pegou o autógrafo da Rita Lee e de todos os membros do Tutti Frutti. Algum tempo depois, Sérgio dançaria no Fruto Proibido, com o disco autografado, mas o show ele não perdeu e ainda guarda a lembrança com carinho.
“O Tutti Frutti já estava autografando dentro da loja, quando desceu pela escada rolante uma ruiva sardenta e magrela, que eu logo reconheci como a minha musa do Rock Brasil.”. (Sérgio Pinheiro).
“Lembrei que tinha um autógrafo da Rita Lee numa seda de cigarro Continental, quando ela e a banda passaram pela Feira do Disco do Conjunto Nacional. Ela sorriu pra mim quando dei a seda pra autografar. Infelizmente, acabei extraviando aquele autógrafo.”. (Magu Cartabranca)
OUTUBRO
Letting Go
(Single dos Wings)
Como muitas das músicas de Paul McCartney desse período, o tema de "Letting Go" é sua esposa, Linda. O cantor se descreve em um relacionamento com uma mulher bonita, mas permanece preocupado com a relação. O biógrafo de McCartney, Peter Ames Carlin, afirma que a canção "traça a linha tênue entre amor e obsessão", com "paixão em toda a sua glória descontrolada e perigosa". A música reflete o reconhecimento de McCartney de que ele precisava dar mais espaço à esposa para que ela pudesse seguir seus próprios interesses, depois que Linda abandonou sua carreira como fotógrafa para se juntar à banda dele. O conteúdo das letras varia entre os versos e o refrão, com os versos descrevendo o assunto e o refrão reconhecendo a ideia de "deixar ir". A tonalidade é lá menor no início da canção, mas ela termina em dó menor.
Paul McCartney — vocal principal e de apoio, guitarra elétrica, baixo, piano elétrico. Denny Laine — vocal de apoio. Jimmy McCulloch — guitarra elétrica. Linda McCartney — vocal de apoio, órgão. Geoff Britton — bateria. E músicos adicionais de sopro.
18
OUTUBRO
Sábado
O grupo Som Nosso de Cada Dia, composto por Pedrinho, bateria e vocal; Pedrão, contrabaixo, violão e vocal; Egídio, guitarra e Tuca, sintetizador, mini-moog, órgão, piano e mellotron, iniciou sua turnê pelas principais capitais brasileiras. As apresentações ocorreram no Ginásio Marista, às 21 horas, em uma promoção da Publiarte. Os ingressos estavam disponíveis por Cr$ 30,00 e Cr$ 20,00 para estudantes.
Um fato curioso é que os padres maristas, ao ouvirem os nomes O Terço e Som Nosso de Cada Dia, acreditavam que se tratavam de bandas de música religiosa. Essa confusão foi crucial para que os grupos se apresentassem na L2 Sul durante a repressão militar, quando Golbery e seu grupo dominavam o país. Se não fosse o aval dos maristas — que só perceberam a verdadeira natureza do show no dia da apresentação — jamais teria havido um sinal da paranoia no Plano Piloto. Essa história foi compartilhada por Pedrão.
O som da apresentação foi fornecido pela própria banda, e apesar da resistência dos padres em cancelar o evento, a energia do público, composta em grande parte por filhos de militares e diplomatas, garantiu que o show prosseguisse. Essa conexão com famílias de alta patente funcionou como um salvo-conduto para o rock na capital federal.
Sérgio Pinheiro, relembrando uma entrevista com Pedrão em um hotel próximo ao Setor Comercial, menciona uma cena inusitada: Marcinha, a namorada de Pedrão, trocou de vestido na frente deles, um momento que Sérgio achou incrível.
Quanto a informações sobre o som do P.A., o público presente e registros fotográficos do show, ainda há uma lacuna a ser preenchida, especialmente sobre o cenário do rock nacional na época.
★ "Teve um show em Brasília em 1975 em um ginásio grandão, Colégio Marista e o Paulo Coelho foi junto. Nos intervalos o Paulo fazia uns discursos. Eu pensava: 'É hoje. Ninguém mais sai de Brasília. Vi a polícia nos cantos, mas não aconteceu nada de grave. Havia essa preocupação: ainda vou ser preso um dia com esse cara. Não é possível (ri). Eu admirava o Raul por esse lado."
— Gustavo Schroeder.
Eu sou Cristo, Nero, Calígula, Crowley
Após um show tumultuado em Brasília, Raul Seixas e Paulo Coelho enfrentam perseguições, batidas policiais e prisões que deixam marcas, tanto físicas quanto emocionais. Com hematomas como troféus de resistência, embarcam em um voo noturno da Varig, fugindo dos "homi", das surubas e da "AA". Ambos carregam na bagagem as ideias da Sociedade Alternativa e da Cidade das Estrelas, sonhos que ainda engatinham, mas prometem revolucionar. O destino? América, Nova York, Greenwich Village.
Não, isso não é um roteiro tupiniquim de Help! É a realidade em camadas surreais.
Cena 1
Raul e Paulo, acompanhados de um jornalista insuportável que busca obsessivamente por Yoko Ono, são expulsos por seguranças do apartamento de John Lennon.
Cena 2
Raul, mestre em improviso, consegue reverter a situação. Com uma explicação rápida e precisa, convence Lennon de quem ele realmente é. A tensão cede espaço à curiosidade.
Cena 3
John Lennon surge à moda única: óculos pequenos, cabelos presos para trás com brilhantina, um broche exibindo o rosto de Pat Boone e sapatos brancos impecáveis. Seu olhar, quase hipnótico como o de Mandrake, reflete inteligência e calma. Como um bom libriano, ouve mais do que fala, mas faz perguntas afiadas.
Raul, ansioso e tentando manter a compostura, mergulha no assunto que une os dois: as grandes figuras da humanidade. A conversa flui entre nomes como Jesus Cristo, Nero, Gandhi, Einstein, Calígula e Crowley, personalidades que moldaram o mundo de maneiras peculiares e contraditórias.
Cena 4
Lennon, intrigado, pergunta:
— E no Brasil? Quem tem?
Raul engasgou, tentando encontrar um nome à altura.
— Ca... Ca... Ca... Café Filho!
— Hein?! What?! Coffee what?!
— Nada! It’s all right… não tem ninguém não.
Com um sorriso, Lennon tranquiliza:
— Relax, man. Estamos em Nova York, não na terra da paranóia.
Com a tensão aliviada, o papo desvia para Elvis Presley. Paulo Coelho, sem entender quase nada de inglês, acompanha tudo com atenção reverente.
Cena 5
O debate se aprofunda na religião e na Sociedade Alternativa. Entre argumentos exaltados e risadas espontâneas, nasce ali uma conexão inesperada. Raul, inspirado pela troca de ideias, tem o embrião de algo maior: uma versão em inglês de Gita.
O encontro não foi apenas uma anedota excêntrica. Foi a colisão de universos, um momento onde ideias aparentemente díspares encontraram ressonância. Dois ícones de tempos
diferentes, conectados por sonhos de mudança.
OUTUBRO
Bill Haley Faz Sua Segunda Passagem Por Aqui
Quando falamos sobre sua visita anterior em 1958, Bill comenta que a juventude daquela época quebrou tudo e invadiu o hotel, foi um verdadeiro tumulto. Ele observa que todos eram mais selvagens e mais loucos do que agora. No entanto, ressalta que, à parte isso, nada mudou. “Fiquei contente ao ver gente muito nova, garotinhos mesmo, na plateia, em todos os shows desta temporada. Isso me estimula. E pode escrever: o velho rockeiro ainda vai voltar. E muitas vezes.”
Ao seu lado, Rudy Pompilli, o incrível saxofonista, único dos Cometas originais que ainda está com Bill Haley, estava completamente à vontade: “Para a gente, que não está mais constantemente na estrada, isso é incrível. É bem diferente dos Estados Unidos, por exemplo: lá a moçada está muito ligada no rock novo de caras como Alice Cooper e Emerson, Lake & Palmer, e praticamente já esqueceu que os velhos rockeiros, os pais do rock and roll, ainda estão em atividade. E com a gente é sempre isso: rock de verdade, pra todo mundo dançar.”
Beatles, I love You, Iê, Iê, Iê"
Newton Duarte ou Big Boy aborda a trajetória dos Beatles e o impacto da Apple Records, fundada em 1968, com o intuito de explorar comercialmente o nome do grupo. A Apple se expandiu rapidamente, incluindo várias subdivisões como Apple Films e Apple Music Publishing. No entanto, enquanto a Apple buscava capitalizar a fama dos Beatles, também gerava conflitos que levariam à dissolução do grupo.
Paul McCartney e John Lennon tentaram vender a Apple ao público americano em um evento transmitido pela TV, apresentando a missão de apoiar jovens criadores. Apesar do otimismo inicial, a Apple enfrentou problemas de gestão, e as divergências internas entre os membros começaram a se manifestar, refletindo em projetos e prioridades pessoais.
A Apple Boutique, um empreendimento de moda, fechou rapidamente após se tornar um fracasso. Enquanto isso, a gravadora teve sucessos iniciais com artistas como James Taylor e Mary Hopkin, mas o ambiente se tornava caótico, repleto de artistas frustrados e desorganização financeira. John Lennon e Yoko Ono também se tornaram figuras centrais de polêmicas, gerando tensões dentro do grupo.
A situação financeira da Apple tornou-se insustentável, levando Paul a procurar ajuda externa. Em 1969, Allen Klein foi contratado para administrar os negócios, mas a discordância entre os membros sobre a gestão continuou. O texto menciona eventos emblemáticos da época, como o casamento de Paul e o crescimento das carreiras solo dos integrantes, enfatizando que, apesar do gênio e da criatividade, os Beatles não conseguiram manter a estabilidade financeira da empresa. A narrativa termina destacando o elenco da Apple e os lançamentos realizados naquele ano.
NOVEMBRO
Duprat: um Craque no Banco de Reservas
O artigo de José Márcio Penido, publicado na revista Rock, A História e a Glória retrata o maestro Rogério Duprat, figura emblemática do tropicalismo. Com 43 anos e uma aparência que mistura a de um artista e um intelectual, Duprat reflete sobre o impacto do tempo na música e na cultura, destacando a nostalgia e a resistência à mudança que vêm com a idade.
No cenário musical de 1975, ele se encontra gravando jingles no Estúdio Vice-Versa, uma mudança significativa de sua época de glória como maestro que orquestrou obras de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Apesar de reconhecer a monotonia do mercado musical e a falta de inovação, Duprat expressa otimismo quanto ao futuro e à possibilidade de uma nova explosão criativa.
Ele critica a homogeneização da música na mídia, especialmente em relação ao rock, e lamenta a falta de jovens dispostos a se posicionar. Apesar de sua frustração com a indústria, Duprat mantém uma atitude aberta, valorizando a diversidade musical e a expressão artística genuína. O artigo conclui com uma imagem de Duprat como um observador crítico, ciente das limitações da música em um mundo em transformação, mas ainda esperançoso por um renascimento cultural.
★ Steve Jones, Paul Cook, Glen Matlock e John Lydon se unem e resolvem formar uma banda de rock. Surge, então, The Sex Pistols.
★ Entre 1975 e 1977, Dee Dee e Joey Ramone, dos Ramones, moram no loft de Arturo Vega.
DEZEMBRO
Rick Wakeman desembarca no Brasil…
★ 25 Minutos com Mick Jagger: Entrevista de Joaquim Ferreira
Joaquim Ferreira dos Santos se encontra com Mick Jagger, buscando ser amigável com uma citação famosa da música "Sympathy for the Devil". Contudo, Jagger parece indiferente, e Joaquim, sentindo-se um "Zé Ninguém", tenta manter a compostura, mesmo com seu inglês precário. Ele reflete sobre o encontro como uma experiência sem grande importância histórica, embora tenha sido documentada posteriormente por Nélio Rodrigues em seu livro sobre os Rolling Stones no Brasil.
Durante a conversa, Joaquim mistura lembranças de suas aulas e dicas de outros jornalistas, com um toque de humor e nostalgia. O encontro aconteceu em um jardim na casa da atriz Florinda Bolkan, onde Jagger estava passando férias com sua esposa Bianca e a filha Jade. Eles discutem diversos assuntos, incluindo bissexualidade e eventos da época, e Joaquim menciona a importância de suas perguntas, embora não se lembre das respostas. Ele se recorda de um gravador quebrado, que resultou na necessidade de Jagger buscar seu próprio equipamento, e o repórter acaba perdendo a gravação, o que o leva a refletir sobre o efêmero da memória e da fama.
Ao final, Joaquim sugere que, mesmo com o tempo passando e as memórias se esvaindo, a essência do encontro com o ícone do rock permanece como um episódio significativo, embora fugaz, em sua trajetória como jornalista.
Brasil, Mostra A Tua Produção
LITERATURA
★ Carlos Vergara faz parte do conselho editorial da revista Malasartes, uma publicação organizada por artistas e críticos de arte com o objetivo de fomentar debates e reflexões sobre o cenário artístico no Brasil.
★ Sob a direção do pintor Rubens Gerchman, é fundada a Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, onde começa a se formar a geração 80, que valoriza o prazer do ato de pintar.
★ É publicado o único número da revista Navilouca. Luciano Figueiredo, após sua marcante participação na histórica publicação, dedica-se a criar objetos tridimensionais a partir de colagens, malhas de arame e relevos monocromáticos.
★ O escritor paranaense Leminski, um dos poetas herdeiros do concretismo e conhecido por seus poemas sintéticos e bem-humorados, finalmente publica seu livro Catatau, escrito a partir de 1967. Essa obra reúne uma coleção de guardanapos e outras iguarias, resultando em uma pororoca iluminada a serviço de um mundo melhor.
★ O Estruturalismo dos Pobres e Outras Questões, de José Guilherme Merquior, é lançado como parte da Coleção Diagrama — 2, pelas Edições Tempo Brasileiro Ltda.
★ Chico Mendes, seringueiro desde a infância, torna-se um dos fundadores dos Sindicatos dos Trabalhadores de Brasiléia e Xapuri. Sua luta inicia-se com a criação de escolas de alfabetização para seringueiros, durante o governo Geisel.
MÚSICA
★ Serguei trabalha na Centaurus Production, uma empresa que o contrata para shows. Ele se torna o primeiro roqueiro brasileiro a cantar para adolescentes americanos, e recortes de jornais documentam suas apresentações em boates, onde canta Elvis Presley e Chuck Berry.
★ Lula Cortês se volta para novos projetos, como o excêntrico LP Paêbirú, lançado em parceria com o ainda desconhecido Zé Ramalho.
★ Jards Macalé lança o LP Aprendendo a Nadar.
★ O primeiro disco de Walter Smetak é lançado, com a participação de Caetano Veloso, produzido por Roberto Santana. Ezequiel Neves resenhou o álbum no jornal da revista Rock, mencionando: "Haja saco! Melhor passar correndo para outro disco."
★ Walter Smetak, colaborador assíduo do jornal alternativo Ordem do Universo, é o primeiro a juntar fragmentos entre a pós-guerrilha do Araguaia, o pós-LSD de Engenho de Dentro, e as experiências com comunas rurais (como Guariroba e Mozondó, as re-fazendas de Gilberto Gil em Brasília) e suas consequências.
★ Walter Franco lança Revolver pela Continental (em CD: 996609-2, © 1994 — Warner Music). Ele é pioneiro no uso de loops e processamento de sons na MPB. Sucessor do caótico Álbum da Mosca (Ou Não, 1973), esse segundo disco de Walter, com arranjos do baixista Rodolpho Grani Jr. e do baterista Diógenes Burani, e produção de Pena Schmidt, traz uma faceta zen e quase beatífica da poesia de Walter, conferindo-lhe um caráter mais intenso e enfático. Neste álbum, que tem uma veia francamente beatleniana, Walter apresenta um som mais agressivo e roqueiro, com uma pegada stoniana.
★ Walter Franco participa do Festival Abertura com a música "Muito Tudo", uma homenagem a João Gilberto e John Lennon, com arranjo de Júlio Medaglia. Mais uma vez, ele recebe vaias e reconhecimento da crítica e do júri, conquistando o terceiro lugar.
★Tom Zé lança o importante álbum Estudando o Samba.
★ Tim Maia lança o LP Racional, Volume 1.
★ A CID lança o LP The Beatles Were Born, que é semi-pirata ou algo do tipo... Avalizado e autografado por Big Boy, o lado A, Ao Vivo no Hollywood Bowl'64, começa com "Boys" e encerra o show com um medley de "Twist and Shout", que aparece em duas versões. No lado B, na juventude, acreditávamos que eram os Beatles acompanhados de Tony Sheridan em Hamburgo, mas nos questionávamos: como os Beatles já eram tão bons em Hamburgo? Na verdade, eram takes do especial Rock’n’Roll Circus dos Rolling Stones. Até hoje, ouvimos o disco com o volume baixo, com medo dos gritos. Grande parte do culto à Beatlemania deve-se à divulgação dos outtakes, conhecidos como "acetatos" — um codinome utilizado em vez de bootlegs, que são o termômetro da febre e um item indispensável para qualquer publicação relacionada aos Beatles.
★ Psicodelia Brasileira é uma exposição de cartazes que promoviam o rock nacional na década de 70. Fabrício Bizu é o responsável pelo resgate e impressão do cartaz do Banana Progressyva, um festival de rock realizado em São Paulo em 1975. Entre os grupos participantes, houve um surpresa: Biscoito Celeste, uma banda de Brasília que é considerada pioneira do rock feito aqui.
A Fender Telecaster de 1967 pertencente a Rick Ferreira
“Comprei essa guitarra em 1975 de Andy Mills, o engenheiro de som do Alice Cooper, quando eles se apresentaram no Canecão, no Rio de Janeiro. No case original, estavam os nomes Phlo e Eddie, os vocalistas do Mothers of Invention, a banda de Frank Zappa. Phlo e Eddie ganharam essa guitarra de presente do próprio Zappa. Entre as várias músicas do Raul que gravei com essa guitarra estão 'DDI', 'Paranoia II (Baby, Baby, Baby)' e 'Canceriano Sem Lar (Clínica Tobias Blues)'.” (Rick Ferreira)
★LP da Série Vanguarda: Som Imaginário, Equipe Mercado, Módulo 1.000 e Tribo
Neste disco, a Odeon apresenta uma coletânea que reúne gravações de rock brasileiro do início dos anos 70. Essa proposta é bastante pertinente, pois os sons de Equipe Mercado, Módulo 1.000, Tribo e Som Imaginário são notavelmente criativos e se aproximam mais do estilo "progressivo" do que o rock que se faz atualmente, em uma época em que a década já avança. As explorações musicais, harmônicas e rítmicas desses quatro grupos servem como uma valiosa lição para os novos rockeiros. Infelizmente, entre eles, apenas o Som Imaginário se manteve ativo e inovador ao longo dos anos, continuando a trilhar o caminho da vanguarda.
★ Candinho saí do Vimana
Mesmo enfrentando obras e sem um baterista fixo, o Vímana conquistou uma oportunidade valiosa: graças a Guto Graça Mello e Nelson Motta (que já havia introduzido o grupo no Hollywood Rock), a banda se tornou atração da peça A Feiticeira, protagonizada por Marília Pêra. Embora a peça tenha sido um total fracasso (você pode ler mais sobre isso no livro Noites Tropicais, de Nelson Motta), a parceria inicialmente foi benéfica para ambos os lados: Marília ganhou uma banda fixa e o grupo teve um espaço para ensaiar livremente.
No entanto, o problema com a falta de baterista persistia. O grupo chegou a fazer uma tentativa com Azael Rodrigues, que havia tocado no Scaladácida com Ritchie, mas a colaboração não deu certo. A seguir, outros bateristas foram testados até que, durante um ensaio, Lobão foi quase "enfiado" na banda por um amigo do colégio. Na época, o jovem baterista, que ainda não tinha 18 anos, estava mais interessado em tocar violão clássico e considerava o rock uma "coisa de colonizado". Ao subir no palco, meio desconfortável, tocou algo que Ritchie descreveu como "um samba no ritmo da Mangueira". A apresentação acabou agradando ao grupo e a Nelson, que não hesitou em assumir a responsabilidade pelo jovem Lobão para que a peça pudesse viajar.
FILMES
Câncer (Glauber Rocha) — cujo título original era Naquele Dia Deslumbrante, a Paisagem Era um Câncer Fascinante — estreou na TV italiana. Esse curioso e quase inédito filme contou com Rogério Duarte e Hélio Oiticica. Em uma cena de troca de papéis, Antônio Pitanga estrangula Hugo Carvana. Câncer é uma metáfora sobre a doença da burguesia que corrói a humanidade, que teme atravessar a ponte e perdeu o contato com a fonte original. Reflete sobre o abutre que destrói o fígado de um homem cego pela luz do fogo do vulcão.
★Claro (Glauber Rocha). Ficção, longa-metragem, colorido (Eastmancolor), 3.000 metros, 110 minutos. Roma, Itália.
O filme é um resumo dos principais eventos históricos que ocorreram durante as filmagens, incluindo o fim da Guerra do Vietnã, as reivindicações trabalhistas das classes operárias na Europa, a decadência do capitalismo nos países desenvolvidos e a incipiente expansão das ideias socialistas. Contudo, enfrentou problemas de produção.
"Já fazia anos que o Glauber não estava bem. Desde 1975, eu me preocupava com sua saúde, mencionando várias vezes a amigos como Cacá Diegues que ele poderia morrer. Ele não se alimentava adequadamente, não dormia, e passava as noites escrevendo, consumindo apenas um pouco de macarrão e pão. Havia uma falta de rotina em sua vida cotidiana. Quando atendia ao telefone, Glauber não dizia alô; ele imediatamente começava a falar sobre política ou qualquer assunto, sem sequer se apresentar. Ele passava noites escrevendo catálogos de telefone inteiros, acumulando milhares de textos inéditos. Começamos a temer por sua saúde. O mundo parecia pequeno demais ou muito complexo para ele; a partir dos anos 70, Glauber percebeu que não havia espaço para nossas utopias, e que seria impossível fazer um cinema verdadeiramente livre no contexto internacional." (Arnaldo Jabor).
Os filmes Câncer (1968-1972) e Claro (1975) possuem várias correlações que refletem o estilo único do cineasta brasileiro Glauber Rocha, sendo ambos importantes dentro do Cinema Novo e das experiências estéticas do diretor.
Contexto de Produção e Estilo Experimental
Ambos os filmes foram realizados em momentos de transição na carreira de Glauber Rocha e compartilham a característica de serem obras experimentais.
Câncer foi filmado em 1968, mas ficou inacabado por anos e só foi finalizado em 1972. Foi rodado de maneira improvisada, quase sem roteiro, com uma estética crua e direta, refletindo o caos político e social do Brasil pós-golpe militar de 1964.
Claro, por sua vez, foi produzido durante o exílio de Glauber na Itália, em 1975. É um filme também de natureza experimental, com uma narrativa fragmentada e influências do surrealismo e da estética de vanguarda europeia.
Temática Política e Social
Os dois filmes exploram questões políticas e sociais, embora de maneiras diferentes:
Em Câncer, a abordagem é mais visceral e direta, lidando com a violência urbana, o racismo e a opressão, temas que estavam em alta no Brasil da ditadura militar. O filme é praticamente uma sucessão de diálogos e confrontos que representam a luta de classes e as tensões raciais.
Claro, embora menos explicitamente político, ainda carrega uma crítica social, abordando a crise da civilização ocidental, a alienação e as transformações políticas da Europa, especialmente em relação ao colonialismo e às questões culturais que Glauber observava durante seu exílio.
Narrativa não convencional
Tanto Câncer quanto Claro rompem com a narrativa linear tradicional:
Câncer é marcado pela improvisação e pela ausência de um enredo tradicional, o que dá ao filme uma atmosfera caótica, reflexo da incerteza social e política.
Claro adota uma estrutura mais abstrata, fragmentada e simbólica, onde as imagens e as falas se justapõem de forma muitas vezes desconexa, explorando mais os sentimentos e sensações do que uma narrativa clara.
Uso de Planos Sequência e Improviso
Em ambos os filmes, Glauber Rocha utiliza longos planos-sequência e improvisações para criar um senso de realismo e urgência:
Câncer é praticamente uma sucessão de planos improvisados, com os atores reagindo ao que acontecia no momento da filmagem, algo que foi um marco no estilo do diretor.
Claro também faz uso de uma câmera inquieta, criando um diálogo visual constante entre o real e o simbólico, com uma liberdade formal que desconstrói as convenções do cinema clássico.
Crítica ao Imperialismo e à Cultura Ocidental
A crítica ao imperialismo e à decadência da cultura ocidental, que é central em Claro, também pode ser vista de maneira implícita em Câncer, onde o confronto entre personagens representa, em certa medida, uma metáfora para a opressão colonial e o controle das elites.
Em resumo, tanto Câncer quanto Claro exploram o desejo de Glauber Rocha de romper com as convenções cinematográficas tradicionais, utilizando uma estética experimental para tratar de temas políticos, sociais e culturais, e criando uma correlação entre a realidade brasileira e o contexto internacional.
★Hollywood rock — O filme Ritmo Alucinante, dirigido por Jom Tob Azulay, documenta esse evento histórico, considerado o primeiro grande festival de rock "patrocinado" por uma multinacional, reunindo apenas bandas brasileiras. O festival ocorreu em janeiro de 1975 no campo do Botafogo, no Rio de Janeiro. Entre os shows registrados no filme estão: Rita Lee & Tutti Frutti, Vímana, O Peso, Erasmo Carlos & Cia. Paulista de Rock, Tony & Cely Campello e Raul Seixas.
★ Orson Welles, Marcello Mastroianni e Peter O'Toole estão entre os 600 atores selecionados por Franco Zeffirelli para seu próximo filme, Jesus. A obra, uma coprodução ítalo-inglesa-americana, será exibida na televisão em seis episódios, cada um com duração de uma hora.
★Tubarão, Steven Spielberg. Este icônico thriller, baseado no romance de Peter Benchley, tornou-se um marco no cinema por sua narrativa cheia de suspense e uso inovador de efeitos especiais, especialmente com o tubarão mecânico apelidado de "Bruce". A direção de Spielberg ajudou Tubarão a se tornar um dos primeiros grandes “blockbusters” e consolidou sua carreira como um dos principais cineastas de Hollywood.
★Um Estranho no Ninho, do diretor Milos Forman.
LITERATURA
A revista francesa Entrettiens, dedica um número à Beat generation.
★Livros Sobre os Beatles
(1) The Man Who Gave the Beatles Away
Helter Skelter... Pelas ruas controladas por gangues de Liverpool, em shows tão violentos que a polícia nem aparecia. Nos clubes de striptease da cidade mais dura da Grã-Bretanha. Nos bordéis do distrito da luz vermelha de Hamburgo. Com uma dieta de flocos de milho, leite e cerveja, reforçada por pílulas, explodindo de talento... Os Beatles! Finalmente — a verdadeira história por trás da ascensão deles à fama, contada pelo único homem qualificado para isso: O Homem Que Entregou Os Beatles. “Inigualável!... Perspectivas que vêm tão intensamente depois de ler o livro quanto surgem ao saboreá-las pela primeira vez." — Record World Publicado por Ballantine Books, Nova York, 1975.
The man who gave the Beatles away
(Cláudia "Lennon"/Yellow Submarine — Tradução*)
Allan Williams (lembram dele? Foi o primeiro empresário dos Beatles em Liverpool) conta no livro The Man Who Gave the Beatles Away sobre os primeiros dias em que os Beatles estavam realmente entrando no mundo profissional. Suas histórias revelam um lado bem humano dos jovens que mais tarde seriam adorados mundialmente.
"No meu bar Jacaranda (conhecido como Jac, em Liverpool), o banheiro das mulheres ficava no primeiro andar, mas para os homens só havia o quintal, onde faziam suas necessidades ao ar livre. Um dia, a vigilância sanitária veio para uma inspeção. Curiosamente, eles não se importaram com a falta de instalações para os homens, mas criticaram o estado do banheiro feminino, que vivia coberto de grafites e desenhos — inclusive sobre os Beatles. As garotas eram bem francas em suas descrições e deixavam comentários ousados sobre seus namorados e amigos favoritos. Era comum ver escritos como: 'Joe Soap tem o maior p... de Liverpool' ou 'Jimmy tal e tal fica a noite toda'.
Cansado das queixas das autoridades, Allan decidiu reformar o banheiro e chamou os Beatles para fazer o trabalho. Quando ofereceu a eles algum dinheiro para o serviço, Paul brincou, 'Quem você quer que matemos, Allan?' Rindo, Allan explicou o trabalho: pintar e limpar o banheiro das senhoras. Em tempos difíceis, o dinheiro era bem-vindo, então os Beatles aceitaram.
Eles acabaram criando murais com cenas de rock'n'roll que viraram destaque no Jac, com os clientes sempre comentando as artes. Um dia, um professor de arte americano, que Allan acredita ser Norman Crisp, ficou impressionado e perguntou quem tinha feito as pinturas. Quando
Allan mencionou que eram de uma banda de rock chamada Beatles, o professor ficou intrigado e disse que o trabalho mostrava grande potencial.
Infelizmente, Crisp não encontrou os Beatles naquela noite, e Allan especula: "Quem sabe o que teria acontecido se o professor tivesse falado com eles? Talvez se interessassem mais pela arte do que pela música, e o mundo nunca teria conhecido a revolução dos Beatles."
Ao longo dos anos, o Jac foi redecorado e os murais dos Beatles acabaram sendo pintados por cima. Allan comenta que hoje essas pinturas valeriam muito, talvez até dignas de um museu dos Beatles.
Leilane emprestou o livro, possibilitando esta tradução de Cláudia “Lennon” do fã-clube Yellow Submarine.
(2) The Paul McCartney Story
Paul McCartney é conhecido em todo o mundo como um dos quatro gigantes do pop — Os Beatles. E, embora a banda tenha se separado, para muitas pessoas ele sempre será um Beatle. Mas, recentemente, Paul e sua esposa Linda têm trabalhado com seu próprio grupo, Wings, fazendo turnês pela maioria dos países da Europa, produzindo seus próprios especiais de TV e uma série de álbuns de sucesso, notadamente, Band on the Run e Red Rose Speedway. Esta é a história de como Paul se tornou um Beatle, de sua vida naquela época, como se casou, como sua carreira mudou e de sua vida hoje. É a história de Paul McCartney. Publicado por Futura Books, Grã-Bretanha, 1975.
(3) Beatles — The Fabulous Story of John, Paul, George and Ringo
Um livro lindo, repleto de muitas fotos coloridas com informações que documentam a história da banda, incluindo suas carreiras solo muito iniciais. Publicado por Octopus em associação com Phoebus, 1975.
OBITUÁRIOS
FEVEREIRO
Austin Wiggin, pai das The Shaggs morre do coração. No dia da sua partida, finalmente elas conseguiram tocar Philosofy of the world próximo à perfeição!
24
ABRIL
Sábado
Peter Ham, talentoso cantor, compositor e guitarrista galês, conhecido por seu trabalho na banda de rock Badfinger, falece tragicamente aos 27 anos. Como membro da primeira banda que a Apple Records, gravadora dos Beatles, assinou além de seus próprios artistas, Ham conquistou destaque como um dos compositores e intérpretes mais promissores de sua geração.
Apesar do sucesso e do talento reconhecido, Ham enfrentou desafios financeiros e pessoais significativos devido a problemas de gerenciamento e conflitos com o empresário da banda. Esses problemas levaram a graves dificuldades financeiras e pressionaram a banda de maneira devastadora. Profundamente afetado pela situação, Peter Ham tirou a própria vida apenas três dias antes de seu 28º aniversário.
28
MAIO
Sexta-feira
Com a morte de seu vocalista, Eric Emerson, os Magic Tramps não chegaram a gravar. A banda, uma verdadeira lenda do underground nova-iorquino, teve sua trajetória interrompida, cercada de mistério e dúvidas sobre as circunstâncias da morte de Emerson.
03
JUNHO
Quinta-feira
★ Ralph J. Gleason (1917-1975). Colunista do San Francisco Chronicle durante 25 anos, foi também vice-presidente da Fantasy Records e produtor e comentarista de televisão. Foi autor de diversos livros, inclusive The Jefferson Airplane and the San Francisco Sound e Celebrating the Duke.
“Odeio Ralph, mas o convido para minhas festas porque ele é um crítico importante” — Janis Joplin. “Gente como o Gleason, Gleason esteve com a gente enquanto a nossa fantasia coincidiu com a dele. Mas assim que fomos mais longe, ele não entendeu e por isso se voltou contra nós. Ele... não tinha fé. (...) Como Ralph Gleason com sua coluna no Chronicle e sua própria doutrina do que era ser hippie. Gleason era um desses. Kesey se lembra de todos eles, gente que achou que ele era genial até o ponto em que sua fantasia deixou de coincidir com a deles. Mas ele ia em frente, um pouco mais a toda hora, e eles ficavam ressentidos e confusos... (Tom Wolfe, O Teste do Ácido do Refresco Elétrico)
13
AGOSTO
Sexta-feira
Murilo Mendes, poeta, ensaísta e crítico de arte brasileiro, faleceu em Portugal em 1975, aos 73 anos, deixando um legado literário significativo e influente na poesia moderna e na crítica cultural. Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1901, Mendes formou-se em Direito, mas se dedicou integralmente à literatura e às artes. Sua obra abrange poesia, ensaios e críticas, abordando temas como identidade brasileira, modernidade e espiritualidade, com destaque para obras como Poesia de Murilo Mendes, Viva o Povo e A Poética do Crítico.
Mendes foi um dos fundadores do "Grupo dos Poetas de 45", que trouxe inovações à cena literária nacional ao romper com tradições acadêmicas. Sua poesia é reconhecida por sua musicalidade, força imagética e originalidade, rendendo-lhe prêmios como o Jabuti e o Machado de Assis. Como crítico de arte, defendeu as vanguardas e contribuiu para o diálogo entre literatura e artes visuais no Brasil.
O velório de Mendes ocorrerá em Portugal, com sepultamento em local a ser definido, permitindo que amigos e admiradores prestem homenagens a este mestre da poesia brasileira, cuja paixão pela arte e pela literatura continuará a inspirar futuras gerações.
02
NOVEMBRO
Terça-feira
Pasolini é assassinado, na localidade de Ostia, nos arredores de Roma.
08
DEZEMBRO
Segunda-feira
O mundo da música lamenta a perda de Gary Thain, renomado baixista que deixou uma marca indelével no rock dos anos 1970. Nascido em Christchurch, Nova Zelândia, Thain era um músico talentoso e autêntico, conhecido principalmente por seu trabalho com a lendária banda britânica Uriah Heep.
Gary Thain começou sua carreira na Nova Zelândia ainda adolescente, tocando em bandas locais antes de buscar oportunidades na Europa, onde integrou o grupo Keef Hartley Band. Sua trajetória ganhou novo rumo quando se juntou ao Uriah Heep em 1972, substituindo o baixista Mark Clarke. Com Thain, o Uriah Heep alcançou seu auge, consolidando uma sonoridade inconfundível em álbuns icônicos como Demons and Wizards, The Magician’s Birthday, e Sweet Freedom. O estilo inovador e o groove inconfundível de Thain ajudaram a definir o som pesado e místico da banda, que logo se destacou no cenário do rock progressivo e do hard rock mundial.
Em setembro de 1974, durante uma apresentação no Texas, Thain sofreu um choque elétrico que o deixou gravemente ferido e acelerou seu afastamento do Uriah Heep. O acidente agravou seus problemas de saúde e o afastou das turnês, dificultando sua recuperação.
No dia 8 de dezembro de 1975, Gary Thain foi encontrado sem vida em sua casa em Londres, aos 27 anos, em decorrência de uma overdose de heroína. Ele se juntou tragicamente ao clube dos músicos que faleceram precocemente aos 27 anos, deixando para trás um legado que continua a inspirar e emocionar gerações de fãs e músicos.
Perdido em São Caetano do Sul
A orientação era manter distância de mim na escola. A última vez que vi meu par de primos, eles me largaram num parque-bosque e deram no pinote, eu não queria ir embora com eles e fiquei a rodar, depois reencontrei a casa. O lance legal deste domingo foi que o tio deles, o Pedrinho Vieira, me deu o pôster do ‘Venus and Mars’.
★Na Pampulha (MG) saí para ver o visual depois de circular pelas margens da lagoa, me perdi, encontrei a subida da churrascaria e Fabiana, ela não sabia que eu tinha acabado de ter um flashback.
★Em Buenos Aires, circulamos de metrô e para não me perder jamais saía da longa avenida do hostel, mas andamos muito por muitas praças.
★Na boca da noite, no centro da capital de Montevidéu, fiquei sentado na mala sem direção...
Pisei na Areia da Praia
Do Distrito Federal, Tio Longuito e família vieram a São Paulo passar algum tempo antes do Natal. Meu maior desejo era conhecer o cinema. O filme apropriadamente escolhido foi ‘Pelé Eterno’, mas nós queríamos mesmo era ver ‘O Exorcista’, com a possessão demoníaca da Linda Blair. Na Variante azul dele, na rua Antônio Agú, o motorista bronqueou ‘Mário! Aqui é contramão!’. Difícil era explicar que tinha vindo poucas vezes ao Centro de carro e que desconhecia as placas de sinalização, se existia isso na época.
★Ainda neste mês, no litoral sul paulista, bebi e constatei que a água do mar é salgada, cobrindo conchas com areia branquinha e tão fininha quanto farinha, as ondas apagaram minhas pisadas numa das praias de Praia Grande. Prazer e delícia, vinte anos depois eu voltaria lá.
QNL QNQ
QNR QNC
CNB
Praça do DI
CTN
Luz
que brilha
no silêncio
das letras
Caminhos
que se cruzam
pelas praças
e cores
do cotidiano.