1978: GLAUBER ROCHA EM ESTADO POÉTICO: "IDADE DA TERRA É MEU ÚLTIMO GRITO"

1978

09

JANEIRO
Segunda-feira

 

GLAUBER ROCHA EM ESTADO POÉTICO: "IDADE DA TERRA É MEU ÚLTIMO GRITO" 

 

Psicologicamente estimulado, Glauber Rocha volta aos círculos da Capital do Brasil onde há misticismo, mitos, deuses e diabos. Além de capital-cenário, Brasília é um elemento vivo e transfigurado na epopeia glaubíca.

Perambula/gargalha pela redação do Correio Braziliense, fala/pensa filosofia/poesia, política/economia, usa o pátio do jornal como cenário, roda cenas de grande plasticidade de A Idade da Terra. Glauber, também visita o Vale do Amanhecer e vai à Casa de Tia Neiva em companhia de Paula Gaetan e Quim Andrade, no cômodo onde estão, Glauber ouve um galope e comenta com Tia Neiva: “o próximo presidente virá montado a cavalo”... No terreiro do Raul de Xangô, no Núcleo Bandeirante, ele também filma. O cineasta investe tempo e dinheiro nesse projeto, que corresponde a uma coisa bíblica e religiosa. A iluminação só pintou mesmo em Brasília. Na sua segunda passagem por Brasília, Glauber filma A Idade da Terra.

Roberto Farias custa muito, a liberar o dinheiro que Glauber Rocha precisa, o cineasta passa catorze meses esperando que a Embrafilme lhe repasse as verbas. 

É necessária uma conspiração que envolve os ex-ministros, João Paulo dos Reis Velloso e Petrônio Portella; os jornalistas, Oliveira Bastos e Fernando Lemos; os políticos, Roberto Campos, José Sarney, Golbery e Humberto Barreto que empurram o filme goela abaixo da cúpula da Embrafilme, que comanda a política cinematográfica e não reconhece muito Glauber Rocha apesar dele ser superconhecido no exterior, e solicitado para vários festivais, ao lado de Nelson Pereira dos Santos que também é muito reconhecido.

A Embrafilme repassa a Glauber Rocha 10% do que ele pediu para fazer o filme. O cineasta já contratou a equipe, e não pode parar, o jeito é arrancar sequências inteiras do roteiro pela falta do dinheiro e A Idade da Terra vira quase uma sinopse de um épico. Na versão montada por Glauber Rocha o filme tem quatro horas e meia de projeção. A Embrafilme assisti, e pede que baixe para três horas e meia. Glauber muito contra a vontade corta o filme, uma hora, mostra novamente à Embrafilme que só distribuirá o filme se cortar mais uma hora, com 160 minutos. Então ele volta para moviola e mutila a sua obra porque um bando de burocratas acha o filme longo.

Ao desmontar sequencialmente A Idade da Terra, Glauber cria uma nova expressão cinematográfica; o filme passa a poder ser visto de qualquer pedaço que se quiser. 

 

Para lançar o filme depois dos cortes, outra guerra. Golbery de novo em ação. A Embrafilme não quer gastar um tostão com A Idade da Terra

— Não vamos dar nada para esse louco.

A Embrafilme inverte os papéis e deixa de perceber que A Idade da Terra, é contraditório e que não se vincula a qualquer receituário-ideário oficial...

Glauber Rocha, que na semana passada jantou com Isabel e o ministro Reis Velloso começa hoje aqui as filmagens com as cenas de Brasília para o seu filme.

Tarcísio Meira está em Brasília filmando com Glauber Rocha sua última produção, cujas primeiras cenas estão sendo tomadas no Brasília Palace Hotel, Palácio da Alvorada etc.

Glauber aponta a câmera para os atores, pede que comecem a gravar a cena e em seguida ordena: "Parem, parem!". "As nuvens estão cobrindo o sol." E novamente interrompe as filmagens para falar do assunto.

Tarcísio Meira volta ao Rio de Janeiro, pois as chuvas adiaram as filmagens. Retornou no final de semana para prosseguir nas cenas tiradas em Brasília. 

Danuza Leão vai passar uns dias em Brasília filmando cenas do filme.

Para as filmagens de A Idade da Terra, Glauber e sua equipe hospedam-se no Brasília Palace Hotel, o melhor hotel da capital, localizado à beira do Lago Paranoá, exemplo da arquitetura moderna e que foi destruído por um incêndio em 4 de agosto.

MÚSICA

JANEIRO

Série de shows dos Sex Pistols nos Estados Unidos.

Joãozinho Podre não aguenta mais. Nenhum teatro quer se arriscar a ser totalmente destruído e está sem gravadora. Com apenas um elepê editado oficialmente (já que os bootlegs proliferam), Never Mind the Bollocks, separa-se dos Sex Pistols. Ele não aguentava mais a palhaçada e o monte de mentiras pré-fabricadas que Malcolm McLaren, manipulador da imagem dos Pistols, propunha a fazer como forma de trabalho.

14

JANEIRO
Sábado

Última apresentação dos quatro Pistols juntos.

 

Sex Pistols no Brasil: Despedida com Calote, Confusão e Liminha no Ringue

Hippie veterano versus moleques punks: confusão na despedida dos britânicos. Liminha: Que história é essa de os punks quererem dar calote logo em um produtor brasileiro? Sex Pistols: uma briga feia por causa de dinheiro. Paul Cook e Steve Jones, os dois integrantes dos Sex Pistols que vieram ao Brasil, não poderiam deixar o país sem protagonizar uma última cena punk. Dois dias antes de partirem, os garotos causaram uma grande confusão com o produtor Liminha, num episódio que, segundo relatos, envolveu momentos dignos de Muhammad Ali e James Bond. Testemunhas dizem que a briga começou quando Cook e Jones ameaçaram não pagar pelo aluguel dos instrumentos que usaram. A resposta de Liminha foi rápida: no dia da partida, ele apareceu bem cedo para resolver as contas, acordando os dois punks às sete da manhã.

19

JANEIRO
Quinta-feira

Eryk Aruak Rocha, filho de Glauber, com Paula Gaétan, nasceu em Brasília, em plena filmagem. Glauber só verá o filho no dia seguinte, trabalhando até de madrugada.

O trajeto das locações das filmagens é decidido pela manhã no Palace Hotel, mas Glauber nunca segue o roteiro das cenas, é o rei do improviso, simplesmente sai de carro e decide na hora, junto aos gritos descontrolados e com toda a impaciência que lhe cabe no peito.

Um dia às 7 da manhã, Glauber está no Teatro Nacional em obras com os operários dando acabamentos e montando os arabescos, ele liga para Fernando Lemos. 

— “Vem pra cá.” 

“Entre aí.” Diz Glauber a Fernando Lemos que já entrou em cena, gravando o roteiro, que Glauber criou na hora. Depois, Fernando Lemos, Maurício do Valle e Antônio Pitanga saem de carro, Glauber no outro carro, filma. O Teatro Nacional é a pirâmide, túmulo dos sonhos do Brasil.

Nos arredores da Torre de TV, onde uma das cenas está sendo filmada, Ary Pára-raios surpreende-se com a equipe montada para a filmagem e com a ordem de Glauber: “Entre aí e comece a falar.” O ator/jornalista retruca: "Falar o que?", "Fale o que quiser." Dispara o diretor. Pressionado, Para-raios recita os Lusíadas, de Camões, e, em seguida, frases em Latim. 

E Glauber Rocha grita: "Vai andando, que a câmera vai atrás..."

O método de improvisação de Glauber é levado ao Extremo, por ele mesmo, sem concessões, o tempo todo a voz da direção é ouvida, o som definitivo é o som-guia, é o delírio total de uma grande aventura poética coletiva onde muitos sabiam que haviam embarcado.

Noutra manhã os atores João Antônio, Dimer Monteiro e Gloria La Boca, (“Glauber, apaixonou-se pela sua atuação”) banham-se na piscina, Glauber Rocha pede uma garrafa de água. Espera 10 minutos. Ela não vem. Ele despede, acompanhado de uma fileira extensa de palavrões, a pessoa responsável por matar sua sede. Na manhã seguinte, ela é recontratada. As filmagens atrasam por um dia quase inteiro por causa do incidente.

Os motoristas de entidades do governo que emprestaram seus carros à produção são proibidos por Glauber de sentarem para comer na mesma mesa da equipe. Eles seriam, como tantos intelectuais espancados por Glauber, agentes da CIA.

Ninguém foi despedido. Mas xinga o primeiro que lhe cruze o caminho. No Teatro Galpãozinho, os atores brasilienses durante dois dias sentiram o ônus de trabalhar com um famoso cineasta em crise e presenciaram atos e discussões sem sacralidade alguma. Um espetáculo com diálogos deprimentes: 

"Você é uma jumenta, uma prostituta, uma incompetente." Glauber grita com Tizuka Yamasaki, diretora de produção e responsável pela privacidade do cineasta. Tizuka Yamasaki, não responde, ela olha e alega em voz baixa que aguenta tudo porque, afinal de contas, está aprendendo muito com ele.

Apesar de querido pela equipe que dirige, Glauber Rocha joga duro quando falhas acontecem. Numa cena gravada na Esplanada dos Ministérios, um técnico quebra lente caríssima. O cineasta enlouquece. Obriga a equipe a voltar ao Brasília Palace e de meio-dia às seis da tarde têm de ouvir um sermão glauberiano. Glauber estoura orçamentos, briga com os amigos, enlouquece a equipe de filmagem, os produtores, e deixa técnicos à beira do colapso e atores como Antônio Pitanga, que faz o Deus negro, e Jece Valadão, o Cristo índio, desorientados com suas ideias. Tarcísio Meira, exige os diálogos por escrito. Muitos atores também tiram Glauber do sério.

Glauber — Prefiro não antecipar a história, para não perder a graça. Aliás, nunca esteve em meus hábitos filmar a partir de um roteiro preestabelecido. Tenho certas anotações que só se definem cinematograficamente.

A forma livre, íntima, inventiva, inspirada e surpreendente de Glauber trabalhar no set suscita um polemismo maravilhoso.

“Foi uma de minhas experiências mais gratificantes e construtivas. O Glauber era carinhoso, instigante, inteligente e polêmico. Os atores eram um instrumento do trabalho dele, que era um diretor-autor, mas nunca um ditador. Lamento não ter estado com ele mais vezes.” — Tarcísio Meira

 

“Ator que não sabia improvisar não podia trabalhar com Glauber.” Norma Benguell

 

Na sua segunda passagem por Brasília em janeiro de 1978, Glauber filma A Idade da Terra. De outubro de 1978 a fevereiro do ano seguinte, Glauber não gasta e ainda ganha dinheiro, por meio de permuta mora na suíte presidencial do Hotel Eron, onde têm as mulheres que quer nas camas que escolhe e as melhores amizades.

"O protestantismo anglo-saxão provocou a revolução capitalista norte-americana. O catolicismo ibérico miserabilizou sul-américa. O conceito moderno de Civilização Ocidental foi criado pelo Pentágono. Golbery possui um conceito filosófico correto de Civilização Ocidental Cristã, mas discordo de seu conceito político. Uma má tática política prejudica uma grande estratégia filosófica. Sendo o Brasil a síntese do Terceiro Mundo não tem sentido o cristianismo romano e sim o Cristo Zoroastrista. Porque Zoroastro foi o Mestre de Cristo e Buda. O cristianismo continua a maior força ocidental e o Enviado aparece encoberto por várias personagens. No Brasil é Sebastião, o louco. O Segundo Sebastião é o êxtase da lucidez." — Glauber Rocha

 

FEVEREIRO

Em Brasília, é (a)fundado o delirante e anárquico Pacotão, também conhecido como Sociedade Armorial Patafísica e Rusticana, o maior bloco carnavalesco da capital. Em 1978, o bloco realizou seu primeiro desfile, dando início à festa-evento-cultural mais importante da cidade. Desde então, o Pacotão desfila aos domingos e terças-feiras de Carnaval, trazendo irreverência e crítica política às ruas da capital dessa República — mais ré do que pública.

Raul Seixas lança Mata Virgem.

26

MARÇO
Domingo

Plateia drogada destrói cinema ao rock do Led Zeppelin

 

Um festival de maconha em pleno Kárim Márcia

O filme em cartaz era Rock é Rock Mesmo, com o conjunto Led Zeppelin. Na plateia, cerca de 800 jovens vibravam desde os primeiros minutos com o som muito incrementado, muitos deles fumando maconha. Nesse clima, aos poucos o ambiente foi ficando conturbado e, no meio da sessão, a turma já estava dançando em cima das cadeiras ou no palco. O cinema virou um verdadeiro festival pop, e ameaçava “explodir”.

Diante do que estava acontecendo, os funcionários do Karim Márcia resolveram suspender a projeção. Revoltados, os jovens partiram para a destruição: retiraram os extintores de incêndio das paredes e iniciaram uma batalha de espuma. No mesmo embalo, cerca de 30 rapazes rasgaram as cortinas, ampliando a bagunça. Quando a destruição já estava avançada, alguém sugeriu que se completasse logo o serviço.

Minutos depois, mais de 200 poltronas estavam em pedaços. Não satisfeitos, os vândalos retiraram as mangueiras contra incêndio e passaram a molhar tudo. Dez minutos depois o cinema estava completamente inundado. A esta altura dos acontecimentos, a polícia já se aproximava e estava na hora de fugir. Em pânico, os jovens drogados quebram mais poltronas ainda, tentando escapar de uma prisão em flagrante.

Quando os policiais chegaram, só encontraram o caos. Atemorizados, os empregados do cinema contaram tudo o que aconteceu, procurando oferecer pistas aos agentes para a identificação dos principais culpados. Já ontem a polícia tinha esperanças de localizar alguns dos rapazes, enquanto crescia a surpresa geral pelo fato de tudo isso ocorrer numa Sexta-feira Santa.

O delegado Norberto Neto, da Segunda Delegacia de Polícia da Asa Norte, disse que aguarda representação do proprietário do cinema para que seja instaurado inquérito policial por danos. Informou ainda que já conseguiu levantar a identificação dos principais autores, inclusive, já apurou onde eles moram e quem são seus respectivos pais. Todos serão indiciados como manda a lei.

Depois que a vizinhança leu o jornal, não restou lugar para esconder a cara.

 

ABRIL

"Bob Marley, rei absoluto do reggae e um dos músicos mais influentes do pop atual, acaba de voltar às paradas com seu novo LP Kaya. Nesse disco, Marley aprofunda o trabalho iniciado em Exodus, seu álbum anterior. Ao lado de canções políticas, há faixas românticas — em seu estilo sensual e naturalista — e louvações rastafarianas a Jah, a entidade suprema dos rastas, seguidores da principal religião jamaicana. Enquanto Kaya sobe nas paradas, a nova banda de Marley se prepara para assolar a Europa. E por falar em rastas, outras maravilhas jamaicanas estão ganhando destaque: nos EUA, acabam de ser lançados os novos LP’s dos grupos Third World (96 in the Shade) e Burning Spear (Dry & Heavy), duas bandas lendárias que, infelizmente, ainda não mereceram a atenção das gravadoras brasileiras."

— Julio Barroso, coluna Mundo Black — Revista POP / Jornal das Coisas, abril de 1978.

 

FINAL DE ABRIL

No Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro, os cariocas tiveram a chance de assistir à Patrulha do Espaço. Em uma apresentação memorável, a banda contou com um convidado superespecial: Sérgio Dias, dos Mutantes, tocando guitarra. A formação dos sonhos durou apenas uma noite, mas deixou uma marca profunda no público presente.

Arnaldo Baptista

— Rock eu gosto porque é meu sangue. É minha vida desde que nasci.


 
 

 

 

MAIO

Rolling Stones lançam o LP ‘Some Girls’

 

Sem dúvida, os cinco ingleses não são apenas a maior banda de rock do mundo — são a única (principalmente agora que o Who, único grupo a fazer-lhe alguma sombra, sofre um violento golpe, com a morte do imortal baterista Keith Moon). O carisma dos Rolling Stones vive.

O tempo não espera por ninguém, e andou fazendo alguns estragos na imaginação dos Stones, que adquiriram o pernicioso hábito de repetir alguns clichês roqueiros em praticamente todos seus álbuns. Tanto que assim que, vez por outra, chegam à praça discos nitidamente aquém das reais possibilidades criativas do quinteto, como fora o anterior, o conturbado Black and Blue disco de estúdio da estreia de Ron Wood. Não sendo o caso, no entanto, do novo LP, Some Girls (Rolling Stones Records/EMI-Odeon). 

Como de hábito, o rock e o rhythm and blues constituem o alicerce de praticamente os quarenta minutos do disco: é muita pauleira e muito feeling. Porém, a grande vantagem de Some Girls sobre a maioria dos últimos produtos dos Rolling Stones é o fato da banda ter captado uma garra e uma fonte de música que nos fazem relembrar o início de carreira do conjunto.

Em certas ocasiões completamente arrasadores (“Respectable”, “When The Whip Comes Down” e “Lies”), em outras balançantes como os bons grupos soul (“I Miss You” e na canção de Norman Whitfield, “Just My Imagination”, gravada em meados dos anos 60 pelos Temptations) os Stones ainda encontram energia para curtirem estranhas e deprimentes baladas à la Lou Reed (“Some Girls”, “Beast of Burden”) e aventuras como sempre bem-sucedidas pelo território da country music (“Faraway Eyes”). E, invariavelmente temperando estes ritmos com letras profundamente sarcásticas e amorais que não respeitam esteio algum da sociedade ocidental (pela primeira vez num disco do grupo as letras estão integralmente reproduzidas num encarte, o que facilita bastante a tarefa daqueles não muito afeitos ao inglês nada limpo de Mick Jagger).

Some Girls é magistralmente produzido. Não bastasse isso, uma vez mais o trabalho aponta para um detalhe não muito focalizado da música do grupo: a evolução do desempenho dos instrumentistas. Pois, se Mick Jagger é hoje o cantor mais destacado da cena rock, deve isto tanto a seu próprio talento quanto à competência e segurança de Keith Richards, Bill Wyman, Charlie Watts (um mágico) e de três anos para cá, Ron Wood.

 

12-13-14

MAIO
Cacho Valdez: É O Rock Com Alma Latina

19

MAIO

O Dire Straits lançou seu primeiro single por uma grande gravadora, "Sultans Of Swing", gravado com um orçamento de £120. A música foi inicialmente gravada como uma demo no Pathway Studios, no norte de Londres, em julho de 1977, e rapidamente conquistou uma base de fãs após ser colocada em rotação na Radio London.

27

MAIO
Turnê do Black Sabbath do álbum Never Say Die! no Lewisham Odeon, Londres

31

MAIO

 

Quarta-feira

 Mutantes e Arnaldo Baptista: O Revival

No Ibirapuera, em plena era das calças boca de sino e camisetas hang-ten, os Mutantes resgataram o repertório de sua fase inicial, com Arnaldo Baptista de volta, criando apresentações quase mágicas. Este CDr captura uma rara performance ao vivo de Arnaldo ao piano acústico. Além de interpretar faixas do lendário álbum Lóki?, Arnaldo, Sérgio Dias e Betina recriam de forma sublime a emblemática "Balada do Louco".

Esse show seria o bônus ideal para uma reedição especial de Lóki?. Que esse desejo se torne realidade...

Durante a apresentação no Palácio do Anhembi, uma agressão verbal isolada se aproxima da demência, e outro espectador responde: "— Cala a boca". Em seguida, os suaves acordes de "Balada do Louco" ecoam, com Sérgio Dias solando na craviola. Betina e Arnaldo, em um dueto que mistura tons caipiras com uma leveza jazzística, transformam o instrumental em algo próximo da improvisação, elevando o momento a um novo patamar.

 

Na Copa de 78, o ‘conselho’ do ditador Geisel ao artilheiro Reinaldo 

 

06 

JUNHO
Terça-feira

Os Mutantes realizam 3 concertos em clima de despedida.

 

Brasil: Rock dos anos 70, ao vivo!

Disco autêntico? Só os bootlegs

 

Grupos:

Som de Cada Dia — Bem no fim (Ao Vivo)

Casa das Máquinas — Ao Vivo. Santos 1978

Mutantes/Arnaldo Baptista — CDr

 

Antecedentes: A invenção do disco pirata

 

A criação do disco pirata foi equivalente à invenção da pólvora: um impacto imediato no sistema. Logo muitos perceberam o alcance dessa inovação e exclamaram: "Pronto, furaram o sistema." Está tudo na Rolling Stone. Larry Gutenplan, o inventor, foi preso no Village enquanto vendia cópias de The Best of 67, um bootleg com sucessos dos Beatles, Stones, The Doors e até os Monkees com "I'm a Believer". O disquinho custava apenas 1 dólar e 79.

Surgiram os primeiros bootlegs em CD de bandas nacionais dos anos 70, sob a chancela “An Alternative God Production”. Será que até Deus virou pirateiro? E mais: estavam sendo vendidos em lojas. Aqui, pesa o valor histórico e a devoção do fã ao adquirir esse tipo de material, pois há um forte apelo em preencher lacunas da história do rock brasileiro.

 

O que fez a indústria fonográfica do Primeiro Mundo?

 

Os Beatles correram atrás de faixas inéditas encontradas em bootlegs para incluir em seus lançamentos oficiais, como o disco ao vivo da BBC e o projeto Anthology. Jimi Hendrix, The Doors, King Crimson e The Who também legalizaram alguns de seus bootlegs. Em outubro de 2000, o Pearl Jam foi além e lançou 25 bootlegs duplos de uma só vez, nocauteando os piratas. Para os artistas brasileiros, o desafio é seguir esse exemplo e preservar ao menos um pouco de recurso para nossos desgastados roqueiros.

 

 Som Nosso: Uma lenda do rock brasileiro

De acordo com o artigo “Som Nosso, uma história digna do rock brasileiro” da revista Pop, a origem da banda Som Nosso de Cada Dia começou em 1973. Manito, ex-Clevers, ex-Incríveis e ex-Mutantes, tentou algo diferente ao fundar uma banda com 12 músicos, chamada Bloco Cabala, voltada para tocar em bailes. O grupo reunia músicos de diversas partes de São Paulo, mas o projeto não avançou e a formação foi reduzida para um quinteto, que acabou sendo chamado de Zapata. Dessa tentativa nasceu o quarteto Som Nosso de Cada Dia (com Pedrinho na bateria, Manito nos teclados, Pedrão no contrabaixo e Liminha na guitarra).

A formação presente no bootleg Bem no Fim — 1976 inclui Pedrão, Pedrinho, Dino Vicente nos teclados e Egídio Conde na guitarra. Esse disco recupera a faixa "Rajada Runaway", com letra do poeta Paulinho Machado, o Capitão Foguete. Essa música deveria ter sido incluída no segundo álbum de estúdio da banda, que nunca foi lançado. O bootleg revela um Som Nosso menos urbano, equilibrado por timbres que remetem à música brasileira, antecipando o caminho que outras bandas progressivas brasileiras adotariam.

 

A Casa Cai

Santos, 1978. A Casa das Máquinas subia ao palco com Simbas nos vocais, Pisca na guitarra, Netinho na bateria, Marinho nos teclados e João Alberto no contrabaixo. O show foi um marco  — e também um prenúncio do fim. Entre acusações de irresponsabilidade, arruaça e delinquência, a banda enfrentava tensões por todos os lados. Mas nada disso os impediu de embarcar para um supershow no icônico Luna Park, em Buenos Aires, diante de 10 mil pessoas. Dividiram o palco com Charly García (Serú Girán), León Gieco, Nito Mestre e outros. Era para ser um momento de glória. Seria o último grande show da banda. Sete meses depois, um episódio trágico selaria seu destino.

Netinho (Casa das Máquinas) relembra:

"Fomos pra Buenos Aires com Billy Bond e ficamos um mês num hotel. Um dia, vimos o anúncio: Casa das Máquinas no Luna Park! O negócio tava grande, cartaz espalhado por Buenos Aires inteira! Avisa o pessoal do caminhão que vai tudo por terra, equipamento, equipe… tudo certo. Até que, no dia anterior ao show, toca o telefone:

 — O caminhão tá preso em Uruguaiana!

— Como assim?!

— Falta documentação, uma autorização do Rio… tá tudo parado.

 Pânico. Um dia antes do show, sem equipamento. Corremos atrás do que dava. No desespero, conseguimos um som improvisado e montamos no Luna Park.

Duas da tarde, do nada, encosta um caminhão de transportadora na porta do estádio. Era nossa equipe! Tinham desmontado tudo do caminhão original e dado um jeito de atravessar a fronteira com outro transporte. A montagem começou ali, na correria.

À noite, Luna Park lotado. Começamos com um instrumental pesado, dez minutos de som absurdo. Pisca arrebentando na guitarra, Minimoog rasgando, baixo, duas baterias… o público embarcando na viagem. As bandas todas assistindo.

E então… entra Simbas. Só de tanguinha, óleo no corpo, batom preto, botas até o joelho. No meio da ditadura argentina, numa cidade cinza, aquilo foi um choque. Começou a chover moedas no palco!

Tocamos duas músicas. E acabou. O Casa terminou ali."

 

 Ecos de Santos

Em Santos, Simbas ainda ecoava seu grito: "Vamos agitar, bando de bundas-moles! Isso é um show de rock!" O registro revela a crueza da banda, acompanhada pela energia cortante da guitarra de Pisca. Fala-se de outra gravação, de qualidade superior, que pode estar perdida em algum lugar, esperando ser descoberta.

Mas a queda já estava em curso. Em 1977, uma briga na porta da TV Record envolvendo Simbas resultou na morte de um funcionário da emissora. Um golpe irreversível para a Casa das Máquinas.

 Live Days Baptista 

Ainda em 1978, no Teatro Igreja em São Paulo, Arnaldo apresentou um show solo  Rock-Blues, incluindo material próprio e versões de Bob Dylan, Elton John e Beatles. 

Sérgio Dias & Arnaldo BaptistaFotos: Márcio Lambais

 

11

JUNHO
Domingo

Na Inglaterra, o jornal News of the World publicou a primeira parte de sua série exclusiva dividida em duas partes, escrita pela primeira esposa de John, Cynthia. Principalmente, a série se baseava em escritos dela intitulados A Twist of Lennon, que incluíam uma série de acusações, como "John tentou me introduzir no mundo das drogas contra a minha vontade" e "Yoko me roubou o John". Durante esse período, Cynthia (que, após John, casou-se com Yoko Ono e relacionou-se com May Pang) também fez algumas aparições promocionais na TV, incluindo um almoço na BBC1 no programa Pebble Mill at One.

17

JUNHO
Sábado

Na Alemanha, uma noite depois de 12 mil fãs destruírem a aparelhagem de som do Jefferson Starship (avaliada em 200 mil dólares), Grace Slick, vestida com um uniforme nazista, apresentou-se ao vivo pela última vez.

Grace Slick abandona o Jefferson Starship em meio a insultos mútuos com o guitarrista Paul Kantner, seu ex-marido.

Marty Balin também abandona o Jefferson Starshp para perseguir uma carreira solo.

 

04

AGOSTO
Sexta-feira

Brasília Palace Hotel, o melhor hotel da capital, localizado à beira do Lago Paranoá, exemplo da arquitetura moderna, foi destruído por um incêndio.

22

AGOSTO
Terça-feira

Sid Vicious, do Sex Pistols, fez sua última aparição ao vivo no palco, quando se apresentou com Rat Scabies, do The Damned, o ex-Sex Pistols Glen Matlock e Nancy Spungen no Electric Ballroom de Londres. Na plateia: Elvis Costello, Blondie, Joan Jett, The Slits e Captain Sensible.

Sid e Nancy resolvem morar por um tempo em Nova York.

 

SETEMBRO

"Depois de bastante tempo dentro das gavetas, rotulado de anticomercial, o cantor e compositor jamaicano Bob Marley atinge posição de destaque nas paradas de execução das rádios FM, com a canção Is this Love?." 

Julio Barroso — revista POP/Jornal das coisas 

Zappa na banca

Na banca do Stanley, na QE 34, ele vendia jornais e revistas (hoje ele trabalha em hospital). Ali na banca ocorreu um fato que jamais esqueço: esqueci lá, o Disco do Sofá do Frank Zappa e desde então, passados quase quatro décadas, jamais reencontrei esse disco. Nessa quadra do Guará tudo aconteceu. Onde conheci os amigos mais nobres e próximos. Obalanço é altamente favorável QE 34 balança o meu coração. 

 

Twenty Golden Oldies

‘Angie’ era a música que se ouvia dos Rolling Stones. Os compactos fazem a moda. Eu tenho alguns de vários gêneros e cantores (e é coisa pra caramba). De uma série raríssima dos Rolling Stones veio a expressão Twenty golden oldies, havia incutido com o nome. 

Além dos compactos de uma série nacional, a Som Livre soltou dois LP’s em um único envelope (foi a primeira vez que vimos uma edição assim), e cedemos ao apelo, pois era mais barato. No entretempo, rolavam vídeos de arquivo na propaganda de lançamento que enlouqueciam os fãs. O povo de casa ficou de orelha em pé, sai o sinfônico dos Beatles e entraram aqueles sons rudes e exuberantes de suas Majestades Satânicas. Foi com esse disco que começamos a aprender as músicas dedilhadas dos Rolling Stones. Adorávamos ‘Dandelion’, ‘Child of the Moon’, esse ‘Greatest Hits’ nos fez correr atrás das traduções das letras. Era o maior barato, em plena repressão no Guará, sair à noite e ouvir o Zé Marcos tocando no violão, ‘Jumpin' Jack Flash’ — milhares de anos depois, descobri que o disco era outra armação americana do Allen Klein. 

Adquirir dezenas de outras coletâneas dos quatro cantos do mundo tornou-se o vício de um stone alone.

 

A Herança de Jimi Hendrix

Rafael Varela Jr., publicado na revista Música 

 

Faz uma reflexão sobre a morte de Jimi Hendrix e o legado deixado por ele, tanto musical quanto financeiro. Hendrix faleceu em 18 de setembro de 1970, por intoxicação causada por barbitúricos, e há especulações sobre sua morte, inclusive a possibilidade de suicídio, que nunca foi confirmada oficialmente.

Oito anos após sua morte, o legado de Hendrix inclui documentários, livros, discos, memorabilia e inúmeros processos judiciais disputando os direitos de sua obra e herança. A gestão de seus bens e direitos foi marcada por fraudes, como no caso da tentativa fracassada de criar a Fundação Memorial Jimi Hendrix, cujo dinheiro arrecadado foi roubado. Seu pai, Al Hendrix, recebeu muito pouco da herança, mas mais tarde conseguiu tomar controle do Electric Lady Studios, construído por Jimi em Nova York.

Diversas figuras estão envolvidas na administração do legado de Hendrix, como Jack Hammer, Alan Douglas, e Ed Chalpin, que lucraram com suas gravações e lançamentos, muitas vezes sem autorização adequada. As ações de Chalpin, que controlou direitos de discos de Hendrix, são particularmente polêmicas, envolvendo contratos que eximiam o guitarrista de futuros processos. A Yameta Trust Co., uma empresa supostamente criada para gerenciar os direitos de Hendrix, nunca pagou royalties, e há especulações sobre possíveis conexões com atividades ilícitas.

O texto termina refletindo que, apesar das disputas e vultos sombrios que cercam sua herança, a música de Jimi Hendrix ainda é considerada inovadora e aponta para o futuro, mesmo em meio ao caos deixado após sua morte.

 

 AI-5: O Terror Que Virou Lei

No próximo dia 13 de dezembro, faz dez anos que o Ato Institucional n.º 5 — o AI-5 —, foi baixado durante o governo do marechal Costa e Silva, para servir de suporte legal à repressão desenfreada e ao terror contra todo tipo de oposição ao regime militar. De imediato, a medida implicou no fechamento do Congresso Militar, em cassações, inúmeras prisões, aposentadorias compulsórias e outras violências e arbitrariedades. Ao longo desta década, o AI-5 foi usado permanentemente contra os movimentos populares, dando aos generais-presidentes poderes ditatoriais para garantir a ordem de exploração e da opressão. Como a esquerda brasileira enfrentou o AI-5? Ela previa a hipótese do golpe dentro do golpe em 1968? Que tipo de influência teve o AI-5 sobre a atuação de várias organizações de esquerda? Depoimentos de Jacob Gorender, Florestan Fernandes e José Genoíno Neto. 

"Por volta de 1978, a ditadura militar, que silenciava a inteligência brasileira, começava a mostrar sinais de exaustão. Mesmo assim, não dava a menor trégua ao dramaturgo Plínio Marcos, o autor mais censurado entre os contemporâneos brasileiros. Curiosamente, Plínio nunca havia militado em nenhuma organização de esquerda. Seu partido era (e continua sendo) o dos deserdados, desvalidos, ‘merdunchos, como diria João Antônio. Sua temática abordava a violência que oprime os indefesos”. (Cineas Santos

 O Local Hídrico Mais Louco do Guará 2

Era na descida para o Carrefour

Desde 1977, aos sábados, o Guará me recebia, quando eu poderia estar em Taguatinga jogando bola ou ouvindo um disco, tinha que tomar conta da Vidraçaria e enfrentar os meninos mais velhos. Eu odiava os sábados e só fui me livrar desse sentimento velho demais. Um dia no segundo semestre de 1978, nos mudamos para o Guará.

 Uma piscina-represa construída em mutirão ainda nos anos 70 parece-me queela não existe mais uma vez que caminhões retiraram entulho da sua nascente. A piscina se localizava dentro do Parque do Guará abaixo da casa-sede do Parque Ecológico 

Ezechias Heringer — a água cristalina fluía e suas bordas eram de pedras. Cenário de cinema. Frequentamos lá até 1985, depois não retornamos mais...

Onde fica o Kartódramo do Guará. Atrás dos bares do Cave, existiu um lago com duas ilhotas. Nossa praia. 

 Bosteiro

Quando o vento soprava para a Candangolândia ou Bandeirante, o cheiro podre do excremento era terrível também.

 Cloaca é a palavra usada por paulistas ou cariocas para sistema de esgoto. No Guará 2, as pessoas esbanjavam simpatia ao se referirem como Bosteiro, o governo as chamava, com eufemismo científico, de Lagoas de Oxidação. No Guará 2, existiram dois Bosteiros: um na QE 36 e outro na QE 38 — o povo da 36 sentia nos poros o odor, e o povo da 34 sentia as picadas do mosquito. De dia era um lugar belo e tranquilo — as lagoas gêmeas eram separadas por uma extensa faixa de terra dos tanques gigantes abertos ali desde o início dos anos 70. Jamais se descobriu sua profundidade. Eu costumava zanzar por ali de bicicleta, à procura de revistas para colher recortes para álbuns de rock — meu novo vício. Definitivamente, não era recomendado andar só. Na aventura, havia campos de futebol, despachos, entulho e estradas desertas, algumas seguiam até a Metropolitana. No Bosteiro, a vida vegetal e animal pulsavam, com o mato vicejante e o voo cinematográfico das garças — aquela paz. Um dia, o Bosteiro foi parar nas manchetes criminais dos jornais: menores roubaram o conjunto de cálices dourados da liturgia da Paróquia da QE 32! A polícia não perdoou! Como terminou? Um policial que frequentava o bar nos contou que a dupla de menores mergulhou no Bosteiro para retirar os objetos sagrados atirados lá.

 

Retardados 

 

‘Discosom ao lado da lotérica Zebrinha, e ao lado da Técnica Alemã; ao centro, o cinema. Bons tempos’
Antônio Gonçalves

 Na discoteca do Guará 1, na QE 7, comprei um LP de rock por 80 cruzeiros. A lembrança do preço ficou marcada por um adesivo com o número 80. Na época, meu foco era o Beatles e o Kiss — até o Arnaldo Baptista, o lendário ex-Mutantes, era fã do Kiss. Nunca tinha ouvido Whole Lotta Love antes, mas durante os verões, esse disco ecoava nas nossas ruas. Muniz Jr. colocava a caixinha de som na janela, balançava as mãos da cabeça à cintura e gritava para quem passasse: Venham conhecer a loucura do rock.

A única coisa boa aos 14/15 anos eram os irmãos Muniz. Líamos a revista Mad e ouvíamos incessantemente o LP ‘Superstars do Rock’, principalmente a faixa Whole Lotta Love’. Nossas vozes ecoavam na rua chamando as pessoas: ‘Venham conhecer a nossa loucura do rock!’ Era nossa própria loucura. E o que começou como uma brincadeira, logo atraiu gente de todos os lados. Até aquele momento, eu nunca tinha usado maconha, mas, segundo a visão da sociedade, sempre parecia estar muito doido quando subia no palco.

Como os Três Patetas, éramos um trio: eu, meu melhor amigo e o irmão mais velho dele. Líamos as revistas Mad, Pancada e Porrada, que influenciavam diretamente nossa vida. Na escola, me chamavam de Mad, e eu achava isso legal. Fazíamos travessuras como levar meias fedidas ao nariz ou queimar formigas com cigarros — essas eram nossas coisas leves. Usávamos o termo ‘Retardado para nos referir aos outros: ‘Fulano é retardado!’ Naquele momento, os discos de rock de Led Zeppelin, Pink Floyd e Queen foram sendo deixados de lado, enquanto a discoteca tomava conta — os tempos estavam mudando. Não pegamos o punk, mas sim a new wave.

 

Da Turma da UVA aos Shows do Mel da Terra e do Sepultura de Brasília

Um perímetro batizado Guará, onde transitam os adeptos de Bob Marley, os companheiros de Lennon, o pessoal do sambão, a garotada do punk em coquetel de receita muito específica, arco-íris, muito adjetivo, intransferível, pessoal. Os filhos, osfilhotes e netos de Lennon fazem parte dessa coisa toda que é o voador circo de uma guitarra, balão iluminado e amplificado.

‘Darling Be Home Soon’ — eu não posso esquecer essa canção, pois foi a primeira que me fez aproximar de uma mulher nos tempos da UVA.

No Guará dos nobres, num quartinho, Joel costurava bolsas, mocassins e aqueles puffs. E no meio do meio daqueles couros tinha uma revista do Hendrix que ele me deu. A outra revista comprei na Banca do Stanley, quando voltava da escola, lá pelo meio-dia. Eu picotava as revistas. Desde então, tenho algumas páginas e, dias desses, novamente as comprei: o pessoal do serviço de olho nas revistas, disse: ‘Foi depois de lê-las que você ficou assim?’ ‘Pô, eles têm razão’. Depois de lê-las é que abracei esse estilo literário, o que está aí nos zines, nos livros, no site. Li os três volumes da Rock Espetacular, — presente de aniversário da minha mãe.

 

Fama?

A UVA experimentava uma certa fama, porque aparecera por volta de 1973! Essa associação aglutinava estudantes das Asas Sul e Norte que viajavam pelos eixos. Definitivamente eram conhecidos.

Chaguinhas tinha feito um Super 8. Mancha imprimiu a primeira camiseta com estampa que eu vi, tinha estampa de Led Zeppelin e Jesus Cristo. Pedro Veras tinha um traço próprio e Joel era artesão, Gaspar era professor de matemática.

O rock guaraense surgiu em 1974, quando o grupo Matuskela morou no Guará I.

Três anos depois, surgiu o Marciano Sodomita, que ensaiava na sala de estar de um apartamento na QE 7. Do Guará 1, Extremo do Guará 2, outras bandas foram Rocha do Planalto, e Psicose Crônica. E, daí em diante, surgiram Clones de Ludwig, Os Nefelibatas, Alto QI, Tropa de Choque, Os Cabelo Duro, Makacongs. Agora? Existem dezenas e o Guará tem bares e estúdios ligados no rock. 

Acompanhávamos as andanças musicais da UVA, um grupo ligado à contracultura, da QE 34. Nos caminhos da UVA tudo: bicicletas, Super-8, skate, acampamentos, motos, rock, girls, noites, pôsteres, camisetas, mocassins, macacões jeans, guitarras, bandas de rock e viagens ao Nordeste... Com eles, comecei a conhecer o Plano Piloto e ir aos festivais. 

A loucura de verdade começou no Guará 2, quando conheci Alberto e Mecenas (†) logo percebi que os músicos eram meio desajustados. Apesar do Rocha do Planalto tocar porcamente ‘Lucy in the Sky’ e ‘Penny Lane’. Para mim, era um grupo de roqueiros da pesada em todos os sentidos que me mostravam a capa dupla do ‘Medlle’ e apontavam para os braços do Roger Walters e diziam: ‘Ele se pica’. Cresci com medo da capa do disco.

A grande chance do Rocha do Planalto ocorreu quando tocaram na Aruc! E o resultado não foi muito legal... Voltamos pra casa meio abatidos... Descobriram que estavam fazendo tudo errado. O grande destaque foi a apresentação da banda brasiliense Sepultura. Também eram boas bandas a Mel da Terra e Pôr do Sol. O grande grupo, meio Terço/14 Bis, era o Tellah, com um trabalho instrumental de grande repercussão e respeito. Demorou dois anos para surgir a trinca de ouro do rock hard heavy de Brasília que eram o Fusão, o Extremo e o Nirvana e nós, enfim, podemos voltar ao templo da Aruc para dignamente representar o rock made in Guará.

Sem talento musical. Tinha uma discografia e informações. Acumulei fracassos como filho e na escola. É uma saga longa.

Desde cedo, me aproximei e prestei mais atenção no som que saía ao lado da minha casa. Nunca tive banda, fui enxotado por duas e o engraçado é que dezenas de anos depois me convidaram... Ficaram malucos? Conheci Waltinho (†), William Visual; Rikk, e Cécé e Manon (ambos de saudosa memória) e, por que não? Flávio, Marciano Sodomita, Renato Matos, Rogério Duarte, também já desencarnado. Da pesada mesmo, outro finado: Marco Antônio Araújo, sem deixar de lembrar de Arnaldo Baptista. Com Rolando Castello Jr., a pegada profissionalizou-se. Dou valor a muitos artistas independentes e não passo uma semana sem conhecer um novo talento-batalhador. 

Logo de cara, conheci os agora saudosos Arnaldo Neguinho e Paulão, o técnico e também massagista do 32 Esporte Clube. Paulão, metia o par de óculos escuros, e marcava o contrabaixo invisível nas músicas de Evaldo Braga, encostado no balcão do Bar do Luisinho, mandando ver na cuba-libre. Debaixo da trave agarrava o seu Duzinho, covardemente assassinado a tiros pelo enteado, no Conj. G da QE 32. E porque encontraram pólvora nos dedos seus dedos — ele tentara segurar a arma — inventaram uma mentira deslavada para criar uma cena de suicídio — e fazer a verdade vir à tona em plena ditadura era para os bravos. 

Minha mãe observava, de soslaio. A coisa degringola: no portão surgem Mecenas, Sérgio Zulu e Valdir — que apareceu de bermuda com as 4 letras de Kiss garrafalmente pintadas à caneta. Indignada, ela perguntou: ‘O que é aquilo?’. Indignada, ela também ficou quando uma moicana usou o banheiro da Vidraçaria. Vários loucos passaram pela casa da minha mãe. Hoje, eu a entendo e por isso digo: não existe nada mais pesado do que ‘Whole Lotta Love’, compreendo essa coisa de afrescalhar e gostar de outras porcarias é pop.

 

02

SETEMBRO

Sábado

George Harrison casa-se com Olivia Arias, após o nascimento do filho do casal, Dahny. Funda a produtora de filmes Hand Made, que realiza o filme A História de Brian.

 SETEMBRO 

Golbery, Poder e Silêncio

Para os inimigos do governo Geisel, ele é o "Satânico Dr. Go", o "Tenebroso", o "Gênio do Mal". Para Ernesto Geisel ele é o primeiro conselheiro, a palavra indispensável em qualquer decisão. E para a sua numerosa corte de admiradores, ele é o "Maestro Da Distensão", o "General do Diálogo", o "Gênio da Raça". Quem é, afinal, o todo-poderoso Golbery?

 

OUTUBRO

 

O rock and roll de alta voltagem está de volta, no ritmo explosivo do Van Halen. Ezequiel Neves avisa: "Prepare-se para sair da frente, porque o terremoto do Van Halen é devastador". Formada por Michael Anthony no baixo, Dave Lee Roth nos vocais, e os irmãos Van Halen — Alex na bateria e Edward na guitarra — a banda tem uma receita intensa: viva tudo ao máximo, aproveite a festa, o mundo está ao alcance das mãos. Talvez por isso o primeiro álbum, Van Halen, lançado aqui pela WEA, tenha chegado com tanta força. É um som potente, direto, que vai à cabeça e, segundo Roth, "quem nos viu ao vivo não ficará desapontado — o som é exatamente o nosso".

Os irmãos Van Halen, nascidos na Holanda, começaram estudando piano clássico, mas em 1974, ao encontrarem Michael Anthony e Dave Lee Roth, embarcaram definitivamente no rock. Um caminho que, segundo a crítica, é tão impactante quanto uma explosão de napalm.

★ Liminha deixou o contrabaixo de lado e se dedicou à produção. No momento, está focado em selecionar as músicas para o próximo LP das Frenéticas, uma tarefa nada fácil. Uma das faixas já foi escolhida: "Desacato à autoridade", de Ângela Ro Ro, reconhecida como uma das melhores cantoras e compositoras. Vale a pena ficar de olho.

Jornal das Coisas: Com o encarte da revista Pop em mãos, finalmente é publicada uma foto da Patrulha do Espaço.

★ De outubro a fevereiro do ano seguinte, Glauber Rocha não gasta e ainda ganha dinheiro, por meio de permuta mora na suíte presidencial do Hotel Eron, onde tem as mulheres que quer nas camas que escolhe e as melhores amizades. 

★ "Aí por volta de 1978, a ditadura militar que amordaçava a inteligência brasileira já demonstrava alguns sinais de cansaço. A despeito disso, não dava a menor trégua ao dramaturgo Plínio Marcos, o mais censurado de todos os autores brasileiros contemporâneos. Curiosamente, Plínio nunca militara em nenhuma organização de esquerda. O seu partido era (continua sendo) o dos deserdados, desvalidos, “merdunchos”, como diria o João 

Antônio. Sua temática a violência que esmaga os sem-defesa.

Inicialmente, censuravam-lhe apenas a obra, o que lhe já causava terríveis transtornos. Com o recrudescimento da repressão, passaram a censurar-lhe a própria pessoa. Objetivo: bani-lo do cenário cultural do país. Mais que 'maldito', o autor de 'Barrela' passou a ser tratado como um proscrito. Fecharam-lhe todas as portas. Não tivesse fôlego de sete gatos, o velho “Frajola” teria descido pelo ralo. (...)

"Em outubro de 1978, se não me falha a memória, peguei o telefone e liguei para o Plínio. Convidei-o a vir a Teresina participar de um encontro cultural, que contaria com a participação de outro peso-pesado: Henfil. Ele próprio atendeu ao telefone e, sem saber quem eu era nem se podia pagar-lhe um cachê decente, foi direto: “Me mande as passagens e irei agora mesmo”. Uma semana depois, no velho Theatro 4 de Setembro, superlotado, Plínio magnetizava uma platéia constituída, em sua maioria, de estudantes secundaristas. Foram quase três horas de pau puro. Falou de teatro, censura, política, música, índio, futebol e o escambau. De quebra, bateu uma bolinha na coroa do Parnaíba e, em seguida, zarpou para São Paulo. (...)

"Dois dias depois, fui procurado pelos 'homens'. Queriam saber onde o “indesejado”: estava hospedado, o que viera fazer em Teresina e quem estava bancando a sua estada aqui. Um pouco por ingenuidade e um bocado por burrice, tentei fazer uma gracinha: 'O Plínio veio financiado pela Ordem dos Templários para um encontro lítero-religioso com D. Avelar, ficou hospedado no Memorae e, se bem se andou, já deve estar em São Paulo, torcendo pelo Jabaquara'. Por pouco, não me encalacrei. É que um dos agentes tinha sido meu aluno e sabia perfeitamente que eu não representava (nem represento) qualquer ameaça a regime algum, nem mesmo alimentar, já que como muito pouco". (Cineas Santos).

 

DISCOS

LP Tim Maia’ 1978 (repertório em inglês).

0 in Brazil

★ Made in Brazil lança Paulicéia Desvairada, o maior sucesso da carreira. Desta vez, sem Celso Vecchione, afastado por motivos de saúde. O disco, que faz uma homenagem ao poeta Mário de Andrade, teve, entre os principais sucessos, "Gasolina", "Uma Banda Made In Brazil" e a faixa-título "Pauliceia Desvairada". 

 

★ Sérgio Murillo morando uns tempos no Peru, grava para o mercado latino-americano uma versão em ritmo de discoteca de "Eu sou a mosca que pousou na sua sopa" ("Una mosca en la sopa"), composição de Raul Seixas.

★ Grateful Dead lança Shakedown Street, faixa do disco homônimo.

It’s Alive — Ramones (duplo ao vivo, Sire)

Maxi-single americano demonstrativo que é transparente trazendo “Sie Liebt Dich" a versão em alemão de "She Loves You".

 


NOVEMBRO

Babylon by Bus é o segundo álbum ao vivo de Bob Marley & The Wailers.Dich, a versão em alemão de "She Loves You".

 

Os Poetas do Ceub em algum dia de 1978!

O texto Renato Russo Revolucionário, publicado em 1992 por Byron de Quevedo, explora a importância de Renato Russo como um dos maiores letristas do rock nacional e um revolucionário cultural. Surgido entre os "Poetas do CEUB" no final dos anos 70, Renato destacou-se pela crítica ao regime militar e pela luta pela liberdade de expressão. Sua rebeldia ficou evidente já nos primeiros dias de faculdade, quando confrontava professores e o status quo. Renato transformou suas frustrações em belas canções e poesias,  conquistando reconhecimento nacional e internacional. O autor enfatiza a contribuição de Renato para a música e a cultura, destacando sua genialidade e influência duradoura.

 

MÚSICA

Aborto Elétrico, o pioneiro grupo punk de Brasília é formado por Renato Russo, pelo guitarrista André Pretorius e por pelos irmãos Fê (bateria) e Flávio (baixo) Lemos. Os ensaios só começaram no ano seguinte, quando Fê descolou uma bateria.

★ Walter Smetak quase veio habitar o Planalto Central graças ao sincero empenho do embaixador Murtinho, então Secretário de Educação e Cultura. Próximo a Concha Acústica quase fechou com o GDF a construção de uma colossal escultura vibrátil e sonora de sua autoria de nome O Ovo. Um imenso instrumento-laboratório, com entranhas sonoras e de autofagia vivencial de 22ms., de altura. Uma universidade de som, onde físicos e músicos trabalhariam juntos. 

★ Ainda, ao final dos anos 70, o Dead magnetiza multidões. Em Nova Jérsei, um concerto ao ar livre reúne 130 mil fãs do grupo. Nessa época, embora uma empresa com gravadora, departamento de divulgação, etc., os integrantes ainda acreditavam no rock como veículo de consciência. O pessoal do Starship estava milionário e com a própria gravadora, a Grunt Record (Country Joe estava de agendas tomadas cantando protest-songs e Carlos Santana, colocado no Olimpo da guitarra, assegurava o passaporte visado para a história do rock). 

O Jefferson Starship, tem que suspender as excursões por absoluta impossibilidade dos caras trabalharem (eles preferiam ficar em suas mansões se chapando). O vocalista Marty Balin, confessa raivoso: “Detesto ver Grace Slick bancando a sexy no palco. Isso me faz ficar triste. Ela me lembra minha mãe, que não tinha nada de sexy”. 

É lançado An American Prayer, as poesias de Jim Morrison musicadas pelos Doors. 

 

25
NOVEMBRO
Sábado

Após o encerramento do grupo Arnaldo e a Patrulha do Espaço e sua breve, mas marcante, participação no revival ao vivo dos Mutantes, Arnaldo Baptista decidiu focar em sua carreira solo. Ele assumiu os teclados no projeto Arnaldo e seu Konjunto, uma nova experiência musical que contava com sua esposa, Martha Mellinger, nos vocais, e Cláudio Pierre Deleu na guitarra. O conceito do projeto girava em torno de criar "um som universal".  Embora o nome original fosse Arnaldo e seu Konjunto, a estreia ocorreu sob o título de Arnaldo e Grupo, apresentando uma formação mais ampla: Arnaldo nos teclados, violão e vocal; Martha Mellinger na flauta, percussão e vocal; Zeca Lennert na bateria e percussão; Leandro no contrabaixo e violoncelo; e Carlinhos Vieira na guitarra e vocal. A proposta explorava sonoridades diversificadas, unindo diferentes instrumentos e texturas para criar algo inovador.

Em novembro de 1978, tanto o Arnaldo e Grupo quanto a Patrulha do Espaço estreiam suas novas formações em apresentações ao vivo. A Patrulha, que anteriormente era um trio com Rolando Castello Jr. na bateria, Kokinho no contrabaixo e Dudu Chermont na guitarra, ganhou um reforço de peso: o experiente vocalista Percy Weiss. Com essa nova formação, a banda apresentava um repertório de composições próprias e uma presença de palco mais marcante.

Após a estreia, a Patrulha embarcou em uma intensa turnê pelo interior paulista, levando seu som posteriormente a Curitiba (PR) e Florianópolis (SC), consolidando essa nova fase com energia renovada e um propósito artístico mais sólido.

 

Enquanto isso, Arnaldo Baptista construía um repertório ambicioso de 16 faixas para o espetáculo Em Concerto, que demonstrava seu esforço criativo e visão artística:

1 — Honky Tonky I

2 — Honky Tonky II

3 — Sentado no Canto (sobra de estúdio da fase com a Patrulha do Espaço)

4 — Um Dia Eu Pensei (possivelmente uma variação de "Imagino")

5 — Não Estou Nem Aí (Lóki?)

6 — Desculpe (Lóki?)

7 — Cowboy (apresentada apenas ao vivo com a Patrulha)

8 — Corta Jaca (inédita em estúdio da fase com a Patrulha)

Após um intervalo de 10 minutos, o show retomava com:

9 — Navegar de Novo (Lóki?)

10 — É Fácil (Lóki?)

11 — Lhams (inédita do Lóki?)

12 — Emergindo da Ciência (fase Patrulha)

13 — Te Amo Podes Crer (Lóki?)

14 — Trem (fase Patrulha)

15 — Vou Me Afundar na Lingerie (Lóki?)

16 — Honky Tonky II (bis).

O repertório evidenciava um Arnaldo Baptista em plena reconstrução artística, revisitando as faixas clássicas de seu aclamado álbum Lóki?, resgatando material inédito e trazendo à tona composições da fase com a Patrulha do Espaço. Um momento especial foi sua aparição com violão em É Fácil, na segunda parte do show.

Infelizmente, essa fase emblemática terminou sem registros conhecidos, marcando o fim de seu ciclo paulista. Segundo o produtor, a baixa adesão do público foi desanimadora, agravando o endividamento de Arnaldo, já que os shows não arrecadavam o suficiente. A falta de um empresário, a divulgação limitada e a indisponibilidade de discos no mercado contribuíram para o desgaste. Essa decepção parece ter sido o impulso para uma nova mutação em sua carreira. Determinado a recomeçar, Arnaldo Baptista subiu a Serra das Araras rumo ao Rio de Janeiro em sua Kombi, disposto a iniciar um novo capítulo em sua trajetória musical.

 

LITERATURA

Ravi Shankar lança My life, my music.

★ "Quando lancei Aparelhos, muita gente me aconselhou a não o fazer. Na época, lançar um livro com as obras ou uma análise de carreira era como se o artista fosse enterrado, havia todo um peso da publicação. Hoje, até pela evolução dos processos de publicação, isso mudou completamente. A feitura dos livros traz uma série de questões e até estimula a produção artística." (Waltércio Caldas)

★ O interessantíssimo Jack’s Book, de Barry Gifford e Lawrence Lee, um livro-colagem de depoimentos a respeito de Jack Kerouac. 

★ H. Dobal lança Os Signos e as Siglas (1978).  

 

A Volta Dos Beatles Segundo Mark Shipper

Yellow Submarine

Trecho

“Los Angeles. Os Beatles se reúnem após uma década de separação, gravam um novo LP e apresentam-se ao vivo num superlotado estádio de baseball em Los Angeles. Tanto o disco quanto o show são massacrados pela crítica, que aceita bem os sucessos antigos, mas repudia as criações novas. (...) Para as apresentações subsequentes do grupo, os promotores são obrigados a contratar Peter Frampton como atração principal, pois os fãs se recusam a comprar ingressos para ver apenas John  Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr cantando músicas novas como "Disco Jesus" e "Son of pizza man". (...)

O que não entendo. Diz Ringo, é toda aquela agitação sobre uma reunião dos Beatles. Durante 10 anos, eu só ouvia isso. Não passava um dia sem que alguém me perguntasse quando íamos nos reunir... Se queriam tanto que a gente se reunisse, então por que não nos apoiam? 

Paul, Eles na verdade nunca quiseram que a gente voltasse... Éramos apenas símbolos do que queriam de volta: juventude, inocência... (...)

John, isso mesmo... Enquanto a gente só canta "She loves you", vai tudo bem. Durante três minutos eles voltam à época de estudante nos anos 60, quando não tinham responsabilidades, preocupações, obrigações. (...)

Paul, Não é culpa deles. Pensa só. Se você fosse assistir a Bill Haley e seus Cometas, ia querer ouvir o quê? As músicas novas dele? De jeito nenhum”...

Toda essa fertilidade de imaginação está no livro Paperback Writer de Mark Shipper, publicado em junho de 1978!

** Originalmente publicado no fanzine Yellow Submarine (RJ) fev. / 1982.

 A volta dos Beatles 

(John Weeks)

O conto A volta dos Beatles, de John Weeks, narra um show fictício de reencontro dos Beatles, após sete anos separados, no estádio Superdome, em Nova Orleans. O público de 80 mil pessoas está em êxtase com a volta da banda, mas os Beatles começam o show com músicas menos conhecidas e de qualidade questionável, o que provoca uma estranheza. Aos poucos, eles quebram essa sequência com canções populares, levando a multidão ao delírio. O show se prolonga por horas, culminando com "Let it Be" e "Hey Jude", deixando todos, inclusive os Beatles, emocionados. No final, os três membros recebem cheques e um bilhete de Ringo, revelando que ele organizou o evento como uma surpresa, sem intenções financeiras, apenas por amor à banda.

 

ARTES

Incêndio no MAM carioca.

Ney Braga era o ministro da Educação e Cultura, de 1974 a 1978. 

Rogério Duarte se torna Rajneeshee e adepto do Visva Dharma. Glauber Rocha logo ao saber convoca os amigos dizendo que Rogério é muito importante e que não poderiam perdê-lo para este Trust e traçam o plano de um sequestro que nunca aconteceu. 

Carlos Vergara apresenta na Petite Galerie, individual a partir de seu trabalho sobre o carnaval carioca, quando mostra fotografias, pinturas em papel, desenhos e montagens com caramujos. Os moluscos têm, para o artista, interesse semelhante ao bloco Cacique de Ramos, em que todos parecem, à primeira vista, iguais, porém, sutis diferenças marcam sua individualidade. Em novembro, apresenta a mesma mostra na Galeria Arte Global (SP). 

O catálogo traz texto do próprio artista. Em dezembro, a Funarte edita o livro 

Carlos Vergara, como parte da Coleção Arte Brasileira Contemporânea, com textos de Hélio Oiticica e programação visual de Vera Bernardes, Sula Danowski e Ana Monteleone.

Em Manhattan, onde viveu entre 1969 e 1978, Hélio Oiticica experimentou os altos e baixos de um espetáculo violento. Foi da disciplina monástica dos primeiros anos, quando tentava criar uma versão de sua Tropicália para o Central Park, à esbórnia das boates gays do Village e das noites em claro embaladas por Jimi Hendrix e pelo efeito da cocaína.

 

QUADRINHOS

Black Sabbath — The Ten Year War: amazing promo artifact from 1978, with R. Crumb style artwork

Black Sabbath — The Ten Year War é um raro item promocional de 1978 que celebra os dez anos de carreira da banda Black Sabbath. Ele é especialmente notável pela sua arte no estilo de R. Crumb, o famoso ilustrador de quadrinhos underground. Esse artefato inclui uma coletânea de álbuns e materiais promocionais exclusivos, que foram desenhados com um visual que lembra o estilo psicodélico e detalhado de R. Crumb, realçando a estética sombria e provocadora da banda na época. É um item de colecionador muito valorizado pelos fãs, tanto pela sua raridade quanto pela arte única e detalhada.

 

VÍDEO

Death is their destiny: home-movies of london punks 1978-81

 

FILMES

O casamento de Maria Braun (Die Ehe der Maria Braun, Alemanha, 1978). É um dos melhores trabalhos de Fassbinder. Hanna Schygulla faz o papel principal, o de Maria, uma mulher que sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, liga-se a um soldado norte-americano e se transforma em mulher de negócios. O filme retrata a Alemanha Ocidental no pós-guerra, quando a necessidade obsessiva pelo desenvolvimento econômico deixou de lado muitos valores morais. O enredo, aparentemente simples, é uma espécie de alegoria política, inquietante e inovadora. Em O casamento de Maria Braun, Fassbinder é simbólico sem ser necessariamente hermético. A protagonista, Maria Braun, é uma síntese da Alemanha do período e seu comportamento traduz a trajetória moral e política do país. 

Céu sobre Água (José Agrippino de Paula), com takes impressionistas das águas de Arembepe, mostra-nos uma mulher grávida, uma criança e a natureza. "Céu sobre Água é o filme mais hippie que conheço, talvez o único". (Rubens Machado).

Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1978)

The Wiz (nova versão, de 1978, O Mágico de Oz, com a cantora soul Diana Ross e a participação do então líder do Jackson 5).

Superman.

An Unmarried Woman (Paul Mazursky)

Amargo Regresso com Jane Fonda que venceu também o Oscar 1979.

 

OBITUÁRIOS

31

MAIO
Quarta-feira

Hannah Höch (1889-1978). Foi uma proeminente artista e fotógrafa alemã, conhecida por ser uma das pioneiras do movimento de colagem e do dadaísmo. Nascida em Berlim, ela estudou na Escola de Artes de Berlim e começou sua carreira artística em um período de grande agitação política e social na Alemanha, o que influenciou profundamente seu trabalho. 

07

SETEMBRO
Quinta-feira
Keith Moon, o lendário baterista da banda The Who, falece aos 32 anos. A causa oficial de sua morte foi uma overdose acidental de Heminevrin (clometiazol), um medicamento prescrito para combater sintomas de abstinência alcoólica. Moon lutava há anos contra o alcoolismo e, na noite de sua morte, ele ingeriu uma quantidade excessiva do medicamento. Embora o remédio fosse recomendado para tratar a insônia e a abstinência alcoólica, ele tomou uma dose fatal, que levou à sua morte enquanto dormia em seu apartamento em Londres.

 

12

OUTUBRO
Quinta-feira

O Dia em que o Punk Rock Morreu 

Nancy Spungen, aos 20 anos, foi encontrada esfaqueada e morta no Chelsea Hotel, em Nova York. Mais conhecida pelo relacionamento caótico com Sid Vicious, baixista dos Sex Pistols, sua vida de desafios mentais, uso de drogas e morte trágica tornaram-se símbolos da cena punk. Sua história, retratada no livro And I Don't Want to Live This Life, escrito por sua mãe, Deborah Spungen, representa o fim de uma era rebelde na música e na cultura pop.

17

OUTUBRO

Sid Vicious é solto sob fiança. Sid Vicious foi libertado sob fiança após ser acusado pelo assassinato de Nancy Spungen. Inicialmente, ele pagou uma fiança pouco depois de sua prisão, para responder ao processo em liberdade. No entanto, em dezembro do mesmo ano, Sid foi preso novamente após agredir Todd Smith, irmão da cantora Patti Smith, com uma garrafa em um bar.

 

20

NOVEMBRO
Segunda-feira

Giorgio de Chirico (1888 — Volo, Tessália, Grécia — 1978 — Roma, Itália). Foi um pintor e escritor italiano, conhecido por ser um dos principais representantes do movimento metafísico, que influenciou o surrealismo. Nascido em Vólos, na Grécia, e posteriormente radicado em Paris, Chirico desenvolveu um estilo único que combina elementos clássicos com uma atmosfera de sonho e estranheza.

 

09

DEZEMBRO
Sábado

Sid Vicious é preso novamente. O motivo dessa prisão foi uma briga em uma boate, na qual ele teria atacado Todd Smith, o irmão da cantora Patti Smith, com uma garrafa de vidro quebrada. O incidente ocorreu no Hurrah Club em Nova York, apenas dois meses após a libertação de Sid sob fiança pela acusação de assassinato de sua namorada, Nancy Spungen. Essa prisão fez parte de uma série de episódios conturbados durante o final de sua vida. 

 

DEZEMBRO
15
Sexta-feira

O concerto beneficente para ajudar a pagar a fiança de Sid Vicious, o baixista dos Sex Pistols, ocorreu no Electric Ballroom, em Camden, Londres. Sid estava preso sob a acusação de assassinato de sua namorada Nancy Spungen, e o evento foi organizado para arrecadar fundos para sua fiança, reunindo várias bandas da cena punk que estavam dispostas a contribuir para a causa. 

 

Fim do ano, o disco do vinho chapinha

A volta do Status Quo com o LP Whatever you want e seu toque new wave foi saudada com várias audições da balada “Living on an Island”. O lançamento de Whatever you want coincidia com o relançamento de álbuns recentes do grupo pelo selo Vertigo, à preços módicos, nas discotecas. Assim, entramos nos anos 80 ouvindo muito Status Quo. Após tantas festas e garrafões de vinho, é incrível como o LP esteja sobrevivendo e ainda tocando bem. 

 


Terreno Baldio: Ecos do Estúdio 

Sérgio Dias & Flávio Venturini: Encontro de Beatlemaníacos

 

Articles View Hits
12083796

We have 589 guests and no members online

Download Full Premium themes - Chech Here

София Дървен материал цени

Online bookmaker Romenia bet365.ro