1980: GANHEI UMA ‘VOLTA’ NO LP RUBBER SOUL
- Details
- Hits: 21
1980
Era o tempo de Milionário e Zé Rico (a dupla tinha filme deles no cinema). A família Pazcheco alugava ônibus e íamos a Nova Glória. Nesse ano fomos presenciar a inauguração do busto do meu avô materno, Avelino Baiano — ilustre comerciante pioneiro — na praça. Eu frequentava as boates tomando cuba com o olho aberto. Quem confirmou a heustória foi a própria Ana Luíza quando montou uma árvore genealógica para as cotas raciais.
GANHEI UMA ‘VOLTA’ NO LP RUBBER SOUL
Meu irmão! De ganhar volta eu entendo. Mate esse pulha!
Finalmente, ao ouvi ‘Rubber Soul’, pensei: Os Beatles estão a imitar os Monkees?’
Gosto do Sweet porque a sonoridade deles evoluiu como a do Queen — seus discos progrediam, o timbre da guitarra era legal. E na pindaíba naqueles 15 anos, na Rodô, vi o ‘Strung Up’ que traduzido é ‘Amarrado’ tinha os 80 cruzeiros no bolsinho da calça colada no quadril e o tênis e o que dava e o comprei — fiquei estudando o disco com reverência ali saquei a produção do disco um lado ao vivo o outro de estúdio. Ainda tinha a dupla de compositores Nicky Chinn & Mike Chapman — A febre do Sweet foi tão alta quanto a do Queen ou pior, a febre do Queen era sofisticada, enquanto — Sweet, Slade eram rocks de barraco.
Adquiri, aquele ‘Greatest Hits’ de capa azul, do Bob Dylan, e o Quinzinho me vendeu um ‘House of the Holy’ novo, meu primeiro Led Zeppelin e me deu um play de ‘Rubber Soul’, original mono, maltratado e riscado. Por azar, minha mãe e minha tia pegaram logo este e aconselharam-me a jamais comprar discos usados e que eu devolvesse aqueles. Acabei vendendo-os para o Neto, irmão caçula do dono de um mercadinho na QE 32. Não me pagou, me enrolou. Falei com seu irmão mais velho do rapaz e nada. Acho que ninguém desconfiava, mas eu tinha chegado de Taguatinga Norte com poeira nas ventas. Quando o caloteiro pintava no caixa do mercado, eu me servia de picolés, chocolates, danones ou qualquer coisa. Assim diminui o prejuízo e aprendi muito. Naqueles tempos, muitos boicotavam o começo de qualquer coleção, mas eu já tinha partido e tomado prejuízo.
Gilberto Gil lançou o compacto-simples ‘Não chore mais (No Woman, No Cry’ / ‘Macapa’. Fui à loja e o comprei e toquei poucas vezes em casa. Alberto pegou o disco emprestado para tirar o hit. Passaram-se meses... Em algum domingo terrível daquele ano, os meus pais perguntaram: ‘O que aconteceu que você nunca mais ouviu Não chore mais'?’. Dei uma saidinha e fui direto na casa do Alberto. Ele havia imposto um toque de recolher determinando que jamais o chamassem em sua própria casa — seus parentes eram federais. Passei a cabeça pelo portão e dei dois gritos: Alberto! Alberto! Alberto que era temido por ser praticante do nunchaku, saiu. ‘Quero o disco do Gil!’ Ele ainda quis protelar. Insisti: ‘Só saio daqui com o disco do Gil, meus pais querem ouvi-lo’. Alberto devolveu o disquinho com poucas marcas. Foi tocado naquele domingo que me fiz homem, só tinha 15 anos.
AMÉRICA
Abbie Hoffman entrega-se ao FBI, imaginando que o ódio nutrido pelo Sistema contra ele já havia arrefecido. Foi preso pela última vez em 1987, por liderar um protesto contra a CIA.
JAPÃO
16
JANEIRO
Quarta-feira
O consumo de drogas de McCartney é tema de manchetes mundiais, quando ele é preso por dez dias, durante uma turnê pelo Japão, após encontrarem 225 gramas de maconha em sua bagagem.
Naquela quarta-feira, Paul McCartney apareceu algemado no Jornal Nacional. Lógico que minha mãe fez o maior discurso, alertando para a nefasta influência das drogas — hoje, eu a entendo completamente.
Aquela noite foi de amargar — rock'n'roll demos-lhes todos os espaços de nossas vidas!
08
FEVEREIRO
Sexta-feira
“Eu voltei para as gravações brutas originais das fitas mestre de 1980 de Duncan Haysom, as mesmas fitas nas quais ele gravou os shows do Joy Division que lançamos. Comecei do zero — essencialmente, se a Warner batesse à minha porta hoje e pedisse para eu masterizar esses shows, fiz o que faria para eles, com as habilidades, técnicas, segredos e a mágica que desenvolvi e aprendi do zero desde 2006.
“Eles são espetaculares. Não quero me gabar, mas essas agora superam em muito o que foi usado nos lançamentos de 2007. Até os ouvintes com dificuldade auditiva mais acentuada conseguem perceber a diferença, e não apenas em detalhes. Os pratos soam, os tambores batem com um THWACK e não com um "thwop", e as guitarras cortam a névoa. “Assim, começamos, cronologicamente pela data da apresentação, com o conjunto usado em associação com a Edição de Colecionador de Closer. Gravado por Duncan, esse conjunto da Universidade de Londres é uma verdadeira explosão.
Você tem as faixas de Closer, ainda em desenvolvimento (que ainda não haviam sido gravadas por Martin Hannett), misturadas com Unknown Pleasures e outras escolhas anteriores a Closer. "Dead Souls" começa brilhantemente o set, e "Digital" nos encerra. E graças a Duncan, isso foi magicamente capturado em fita C45 para que possamos desfrutar mais de 32 anos depois.“
JOY DIVISION
08 February 1980
University of London Union
Mastered in November 2012 by Analog Loyalist, from Duncan Haysom's master recording
01. Dead Souls
02. Glass
03. A Means To An End
04. Twenty Four Hours
05. Passover
06. Insight
07. Colony
08. These Days
09. Love Will Tear Us Apart
10. Isolation
11 — encore break —
12. The Eternal
13. Digital
1980
18
FEVEREIRO
Segunda-feira
Foi feita a última foto de Bon Scott, do AC/DC, tirada por Ross Halfin. Ele está nos bastidores do Hammersmith Odeon com Pete Way, da banda UFO, na noite anterior à sua morte. Conforme Ross Halfin declarou, eles não estavam em um show do UFO, mas se encontraram nos bastidores de outro show.
Em uma entrevista à Paste Magazine, Angus Young, do AC/DC, esclareceu os rumores de que Bon Scott teria gravado algumas músicas do álbum Back in Black antes de falecer. Angus negou essas alegações, afirmando que Scott "nunca teve a chance". Ele explicou que, enquanto ele e seu irmão Malcolm escreviam as músicas em Londres, Bon apareceu para ajudar em algumas demos, como Hells Bells e Have a Drink on Me, tocando bateria. Após a morte de Bon, que estava escrevendo as letras, Malcolm e Angus consideraram abandonar a banda, mas foram incentivados a seguir em frente, o que levou à contratação de Brian Johnson como o novo vocalista.
19
FEVEREIRO
Bon Scott é encontrado morto dentro de um carro, em um estacionamento. Ele havia bebido muito, e não tinha comido nada. A bílis subiu pelo estômago e bloqueou a traqueia. Morreu com apenas 33 anos de idade.
27 de FEVEREIRO a 8 de MARÇO
De quarta-feira, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo, às 21h. Noturno
Unziôtru
Roteiro e Direção: Wilma Dulcetti
Assistente de Direção: Scarlet Moon
Sala Funarte
Rua Araújo Porto Alegre, 80 — Centro.
"Há um folder das apresentações na sala Funarte. Se você procurar na minha comunidade, encontrará um link para o meu segundo álbum de fotos, onde tem a imagem. Não há gravações da banda, mas como mencionei na entrevista, o material foi utilizado no início da carreira do Lulu. Lembro do Arnaldo tocando 'Sanguinho Novo' e 'Corta Jaca'. Também me lembro da gravação do Walter, mas não participei dela. O Márcio fez alguns shows no Apaloosa, e o Rui entrou na temporada da Funarte. O baixo Rickenbacker é meio 'fake', só é possível tirar som dele com uma aparelhagem bem potente. Abraços." (Depoimento de Antonio Pedro via Orkut)
“Foram oito shows, de quarta a sábado. Uma foto do programa está no meu Facebook.” ( Antonio Pedro)
Fizemos algumas canções, Bernardo pôs umas letras, até que apareceu no Rio o Arnaldo Dias Baptista, ex-Mutantes. Os Mutantes tinham sido minha escola, e eu tinha uma admiração reverencial pelo grupo e pelos indivíduos. De fato, em relação a nós, eles estavam a mil anos-luz de distância. Eu os conhecia dos meus anos de tietagem, sempre corri atrás deles. Eram o referencial mais forte do que eu queria para mim, de toda a MPB. Sérgio Dias, o guitarrista, foi meu amigo e meio que mestre. Até que saquei que o que eu desejava era o oposto do objetivo dele. Foi necessária essa referência. Só um norte pressupõe um sul, ou um leste, for that matter.
Anyway, ninguém soava, nem zoava como os Mutantes. Ninguém tocava como o Sérgio. Ninguém tinha o know-how, o who e, acima de tudo, o equipamento. O que eles não tinham, eles faziam.
Os primeiros wah-wahs (você não é ninguém, em guitarra pop, sem um wah-wah) eram da marca Regulus,fabricados e vendidos pelo Té, Cláudio César Dias Baptista, o terceiro, inexpugnável e algo genial irmão mais velho. (Hoje eu sei que Regulus é a estrela mais brilhante da constelação de Leão.) Tive todos os discos e, a rigor, num primeiro momento, os Mutantes eram minha maior influência. Arnaldo era o líder inconteste e namorado da cantora. Ponto.
Era, para mim, um upgrade estar num grupo com ele, porque foi isso que aconteceu: Arnaldo se juntou a nós, e nos chamamos de ‘Uns e Outros,’ terrivelmente grafado como Unziôtru (mea culpa). Ensaiamos na casa do Pedro um tempo, com Márcio Bahia (hoje baterista do Hermeto Paschoal e da Vittor Santos Orchestra). Fizemos uma temporada de shows na Sala Funarte, na Rua Araújo Porto Alegre, no Rio.
Era meio esquizofrênico o lance: eu e Pedro naquela viagem funk-soul-brasil, e o Arnaldo com sua indelével carga de história, personalidade, sofrimento e rock'n'roll. Lei de Murphy: o que pode dar errado, vai dar. E deu.
Seria mais fácil se abríssemos o show com nossas coisas e depois acompanhássemos o Arnaldo em seu Sanguinho Novo. Em retrospecto, teria sido muito mais justo. Com ele. No mínimo, tentamos, e isso ficou na história... d’EU! Hehe (Lulu Santos).
Um ano após sua saída do grupo, Arnaldo Baptista declarou:
— O Unziôtru foi muito bonito. Tocamos na Funarte, era algo mais rock'n'roll mesmo, heavy rock, bem pesado. E estava bom, casa cheia.
Hoje, porém, Arnaldo afirma que o som do Unziôtru era mais parecido com Elton John!
As fotos conhecidas do Unziôtru foram clicadas pela fotógrafa Vânia Toledo. Além da foto do folder, outra apareceu na revista Interview em um anúncio de uma nova marca de jeans, mostrando Lulu, Antônio Pedro e Arnaldo em pose de “trenzinho,” promovendo o produto.
A única gravação conhecida dessa formação está registrada na faixa "Lindo Blue," do LP Respire Fundo de Walter Franco. Nela, Sérgio Dias participa tocando guitarra, Lulu Santos toca violão e os demais contribuem com seus instrumentos habituais.
Dos cadernos de anotações de Air Now Do!
Lulu Santos possuía uma mente que buscava a perfeição. Casado com Scarlet Moon, formava um casal admirado. Nessa busca por perfeição, Lulu utilizava uma guitarra Fender Stratocaster.
— Perguntei por quê.
E ele respondeu:
— Há vários aspectos da minha vida que prefiro não compartilhar, inclusive no improviso musical. Com minha Fender, consigo me isolar quase completamente, até mesmo do contrabaixista que toca comigo.
Arnaldo complementa:
— Nas Fenders, a área dos médios é onde os contrabaixistas muitas vezes atuam.
Perguntei: — E se o contrabaixista, usando um Rickenbacker, explorar os médios-agudos?
Lulu respondeu:
— Nesse caso, o som perde os graves, e eu paro de tocar junto com ele.
Lulu também demonstra grande interesse em microfones, afirmando que a qualidade do som gravado depende muito deles. Ele declarou: — O melhor microfone é o Neumann, mas não o usado nos estúdios; prefiro um modelo que se conecta diretamente, como os Shures.
Arnaldo acrescenta:
— O Sennheiser também é ótimo!
Além disso, Lulu domina os efeitos de guitarra ligados ao amplificador por sintetizadores como o Minimoog. Como guitarrista, é um dos melhores que conheço no resultado sonoro final. (Arnaldo Baptista).
★ No cenário cultural do Rio de Janeiro, Léo Guanabara conhece um novo parceiro e, juntos, compõem a primeira canção da dupla: "Cozinho de Noite", que seria proibida pela censura por ser considerada “bem engraçadinha”.
Na época, Léo Jaime, com cerca de 17 ou 18 anos, conheceu Arnaldo em Ipanema. Léo compartilhou com ele a ideia de uma música sobre o "cozinho de noite", e Arnaldo adorou a ideia. Eles foram para a casa de Arnaldo e criaram a música. Essa foi a primeira parceria entre eles. Arnaldo, que fazia parte do Unziôtru com Lulu Santos, sugeriu mostrar a música para os integrantes da banda. Quando Lulu ouviu a música, um rock'n'roll, ele simplesmente virou as costas e foi embora. Lulu não gostou nada da canção. E foi assim que Léo Jaime conheceu Lulu Santos, que, na época, achava um absurdo Arnaldo e Léo estarem fazendo rock'n'roll. Mais tarde, a dupla ainda compôs outra música, uma homenagem à Kombi de Arnaldo, chamada “Dirce”, mas essa nunca foi gravada.
Nos anos seguintes, Lulu se mostrava constantemente incomodado com o purismo do rock'n'roll e costumava se queixar: "Ainda estão tocando isso?"
★ Após o fim precoce do Unziôtru, Arnaldo Dias Baptista mergulhou na escrita do livro Rebeldes entre Rebeldes, cujo manuscrito original foi revisado por Lidoka, integrante das Frenéticas. A expressão que dá título à obra captura a essência de sua personalidade: um espírito que desafiava tanto o mainstream quanto as normas sociais.
Simultaneamente, Arnaldo direcionou sua atenção ao teatro, aprofundando seus estudos em arte dramática e balé. Além disso, ele compôs a música para a peça e dirigiu a parte musical da produção de dança e teatro Heliogábalo, o Anarquista Coroado, a qual ele descreveu como "um reflexo do que pintava no momento".
★ No ano anterior, em 1979, Regina Miranda fundou a companhia Atores Bailarinos do Rio de Janeiro, após retornar de Nova Iorque, onde estudou e trabalhou com dança. O primeiro espetáculo da companhia, Heliogábalo, o Anarquista Coroado, foi dirigido e coreografado por ela, com base no texto de Antonin Artaud, adaptado por Carlos Henrique Escobar. A criação da companhia visava integrar dança, música, teatro, literatura e artes plásticas, uma abordagem que Regina sempre desejou articular cenicamente. Ela reuniu um grupo diverso de bailarinos, atores e não-bailarinos, e, além de aulas de movimento com o Sistema Laban, o grupo se envolveu em leituras, apreciações musicais e na produção de figurinos. A música ficou a cargo de Arnaldo Dias Baptista e o cenário foi criado por Luiz Áquila.
★ Na sala de ensaio da Companhia de Atores Bailarinos, o ambiente estava tomado por um misto de concentração e improviso. Um piano repousava num canto da sala de aula, enquanto os bailarinos se moviam em harmonia com a música. De repente, Arnaldo, que até então parecia integrado ao processo, se levantava abruptamente, esquecendo momentaneamente sua função como músico. E se juntava à coreografia, que seguia como se nada tivesse acontecido.
— Quem é você?
— E, aí?
Arnaldo nunca parecia realmente parado; havia algo em seus movimentos que transmitia a impressão de uma pausa momentânea, como se estivesse estacionando. Ensaiavam intensamente com ele, mas, de repente, a música parava, e ele não dava mais nenhuma resposta. Às vezes, era possível vê-lo observando, ou sentado frente a frente com alguém, imerso em conversas que duravam horas. Nessas ocasiões, ele desorientado perguntava:
— Quem é você?
Era uma situação recorrente em seu passado.
Porém, tudo mudou quando uma crise o atingiu de forma inesperada. Ele parou de responder à música, e sua presença no ensaio, antes tão ativa, transformou-se em ausência. O abandono dos ensaios foi um golpe violento, deixando um vazio no processo criativo da companhia.
★
Dois Arnaldos e um Lobão: O depoimento de Arnaldo Brandão
“Eu entendo perfeitamente, eu já vivi isso, eu já vivi isso!" (Arnaldo Baptista)
Eu tinha uma banda com o Lobão e o Arnaldo Baptista. Conheci o Arnaldo na época dos Mutantes; ele já havia saído de uma das suas internações, mas estava ótimo, limpo. Ele me disse: "Olha, tenho um disco pra gravar com o Menescal na Polygram. Vamos lá gravar." Respondi: "Vamos sim, tenho umas músicas aqui." Ele perguntou: "Você conhece o Lobão?" Falei que já tinha ouvido falar, era um baterista jovem que tocava com o Vímana.
Arnaldo me contou que o Lobão tinha um estúdio em casa, lá em Canoas, uma casa na ribanceira. Fomos ensaiar lá, onde tinha uma sala de ensaio ao lado da casa. Eu no contrabaixo, Lobão na bateria, e Arnaldo nos teclados. Antes do ensaio, eu pegava meu baseadinho, fumava; o Lobão também fumava, mas o Arnaldo, que estava careta, não usava droga nenhuma. A gente ensaiava as músicas, que basicamente eram do Arnaldo.
Na segunda ou terceira semana de ensaio, antes de começarmos, o Lobão começou a me oferecer cachaça. Pra socializar, aceitei. Mas era uma cachaça forte demais. No meio do ensaio, os andamentos começaram a cair, até que, de repente, o Lobão desabou por cima da bateria. Eu precisava pegar o Rodrigo na escola às seis, então sugeri: "Joga água no rosto dele pra ver se acorda." Mas nada fazia ele despertar. Era álcool puro, não era cachaça.
Pegamos o Lobão, que era magro, mas pesadão, e levamos para a sala, esperando que a esposa dele chegasse. Mas ela não aparecia, e eu precisava buscar o Rodrigo. Começamos a ligar para Niege, irmã da esposa dele. Quando fui embora, Arnaldo, pálido, desceu as escadas dizendo que não podíamos deixar o Lobão ali.
Perguntei: "Por que não podemos deixá-lo aqui?" Ele respondeu: "Ele tentou suicídio." Fiquei perplexo, e ele explicou: "Vou te mostrar como eu sei..." Subimos ao quarto do Lobão e vimos vários frascos vazios de comprimidos ao lado da cama.
Arnaldo estava sério, dizendo que já tinha passado por isso. Ele tinha uma Kombi, sem banco nenhum atrás. Decidimos levar o Lobão para o hospital. Descemos aquela escada íngreme, e jogamos o Lobão no chão frio da Kombi. Fomos para o Lourenço Jorge e esperamos notícias.
A mãe do Lobão, uma senhora muito elegante, apareceu e disse que ele já havia tentado isso antes. O médico informou que ele não corria risco de morte, mas precisaria ficar internado por pelo menos uma semana. Fizeram uma lavagem estomacal.
No dia seguinte, sugeri ao Arnaldo que fôssemos visitar o Lobão, mas ele não apareceu. Dois dias depois, ele ainda não havia aparecido. No terceiro dia, fui até sua casa em Ipanema. A porta estava entreaberta e tudo estava revirado. Perguntei ao porteiro sobre ele, e ele disse que houve uma confusão e que Arnaldo e sua esposa tinham ido para São Paulo.
Pouco tempo depois, encontrei Sérgio Dias na praia e contei a história. Ele disse que o Arnaldo havia pirado de novo e que sua mãe o internou, mas que agora ele estava na fazenda dela, se recuperando.
★ Uma lua de mel que parecia carregar os presságios de uma tragédia. Ainda em São Paulo, durante as aulas de balé na Academia Stagium, localizada na Vila Mariana, Arnaldo Baptista conheceu Suzana Teixeira Braga. Ela era linda, encantadora e possuía uma educação refinada, com uma voz suave e de volume baixo. Filha do renomado escultor e ceramista português Américo Braga, de fama internacional, Susana também tinha raízes portuguesas e era uma talentosa artesã. Ela vendia suas criações em cerâmica na Praça General Osório, no Rio de Janeiro.
O casal viveu um ano de aventuras no Rio, focados mais no aprendizado e na busca de experiências do que em conquistas financeiras. Ao fim desse período, retornaram a São Paulo, onde se estabeleceram em uma casa alugada ao sopé da Serra da Cantareira, como quem busca refúgio em meio à natureza, distante do tumulto da cidade. Contudo, aquele aparente recomeço carregava sombras que não tardarão a emergir.
Sem Defesas ou Limites
— “Como é que você aguenta?”.
(...) — “Porque isso tudo... eu me sinto completamente esburacado por essa experiência, é como se as pessoas estivessem dançando e passando por todos os meus poros.”
A última conversa entre Arnaldo Baptista e a coreógrafa Regina Miranda aconteceu em um mirante ao lado do teatro Ruth Escobar, em São Paulo. Arnaldo, visivelmente afetado, questionou como Regina conseguia aguentar, explicando que se sentia "esburacado" pela experiência, como se as pessoas estivessem passando por seus poros. Regina, para lidar com essa intensidade emocional, o abraçou longamente, descrevendo o momento como um "momento de fundição". A frase de Arnaldo simboliza uma profunda vulnerabilidade emocional, em que ele se sentia incompleto ou "quebrado", uma sensação comum em estados depressivos ou psicodélicos, onde o sentido do "eu" pode se dissolver.
MARÇO
Compro o LP ‘Who do We Think We Are’, lançado pelo Deep Puple sete anos antes (1973), foi numa sexta-feira. Não tenho saudades da vida familiar destes tempos, tenho saudades dos amigos e quando a balança marcava 35 quilos de cabelos.
29
MARÇO
Sábado
B. B. King — Ginásio Ibirapuera — São Paulo
10
ABRIL
Quinta-feira
Registrava-se uma década sem os Beatles. Paul McCartney fazia sucesso com “Coming Up”, compacto extraído de seu solo McCartney II, música intimista, híbrida em nuances e ritmos. John Lennon vive no Dakota. Os jornais especulam sobre uma iminente reunião dos Beatles.
Das Imagens e Selos
A UVA foi pioneira na impressão de camisetas com estampas de rock e de Jesus!
★ A plateia dos shows não tinha muita importância. Os fotógrafos não tiravam fotos nossas. Pedi para um fotógrafo fazer uma com um amigo. O cara da câmera nos desprezou: "Quem são vocês?". Daí, passei a odiar fotógrafos. Foi assim que construímos a ponte do arco-íris.
★ Passamos a nos corresponder com a Revolution (SP) e Live (RJ) fã-clubes dos Beatles (as cartas sobreviveram).
18
ABRIL
Sexta-feira
Foi uma sexta-feira diferente quando recebi a primeira carta do fã-clube dos Beatles, o ‘Revolution, cujo presidente até hoje é o senhor Marco Antônio Mallagoli. Naquele fim de semana, eu mal tinha ideia do esforço do meu pai para pagar dois aluguéis, um residencial e outro comercial. Morávamos em quatro pessoas — meus pais, minha irmã caçula e eu — no Conjunto C da QE 34. A carta me inspirou a começar a conhecer revistas e publicações em inglês, o que acabou me levando a desenvolver o inglês, embora nunca tenha dominado a língua perfeitamente. Marco Antônio Mallagoli, que já era um cara bem viajado e mantinha a coluna ‘Beatles 4 Ever na revista Somtrês, tornou-se minha leitura essencial todo mês. Fiquei triste quando alguma edição era pulada, sem ser publicada, e não entendia as dificuldades com editores que cortavam trechos que considerávamos importantes.
A partir da ‘Revolution’, comecei a explorar discos solos importados, raros, piratas, além de fotos, revistas e cartas com muitos membros da comunidade de fãs dos Beatles. Já fazia dois anos que eu colecionava recortes de jornais e revistas para álbuns de recortes, que começaram com críticas de discos coladas na capa de um caderno escolar. Talvez minha origem para esses álbuns venha de minha infância, quando colecionava álbuns de figurinhas de jogadores de futebol, sempre à espera da figurinha ‘chave’, que daria direito a um prêmio hipotético. Álbuns de recortes também eram populares entre sambistas, que guardavam registros de suas carreiras, ou entre cantoras de rádio, que usavam esse método para preservar resenhas, fatos e fofocas de suas vidas.
Mais tarde, descobri que, no mausoléu de Graceland, em Memphis, Tennessee, onde Elvis Presley descansa no Jardim da Meditação ao lado de sua mãe, Gladys, seu pai, Vernon, e sua avó, Minnie Mae, fãs do mundo inteiro enviaram seus álbuns de recortes para lá, como uma forma de deixar suas homenagens e recordações. O scrapbook se popularizou como um hobby para guardar pertences pessoais, como fotos, bilhetes, recordações, ingressos, cartas, anotações, recortes de revistas e outros materiais de valor sentimental. De vez em quando, alguns desses scrapbooks dos tempos iniciais dos Beatles são leiloados. Até Janis Joplin tinha o seu, que foi transformado em livro.
21
ABRIL
Segunda-feira
Inauguração do teatro Dulcina, Brasília
A convite de JK, veio a Brasília no final dos anos 60. Na ocasião, foi o próprio presidente que mandou Dulcina escolher um terreno no conjunto do SDS. Sendo mística, espírita, ela gostava de trabalhar com cristais e tinha premonições, entre estas a de se transferir do Rio para Brasília. E assim fez, anos depois. Vendeu o seu teatro na Cinelândia, e que começou a construir aqui um moderno teatro de palco tipo italiano com iluminação suspensa.
Seis anos depois em 1980, o Teatro Dulcina de Moraes, foi resultado de muita luta da parte da conhecida artista, que contou com uma grande ajuda do governo militar: — Uma curiosidade que pouca gente sabe: todas as cadeiras da plateia foram doadas pela esposa do general Figueiredo antes de ser presidente, que também era espírita e amiga de Dulcina de Moraes, da mesma forma como recebeu boa ajuda da filha do presidente Geisel, também espírita e artista plástica.
(Guilherme Cabral).
24
ABRIL
Quinta-feira
Peter Tosh — Palácio das Convenções Anhembi — São Paulo.
★ Esse dia também é lembrado principalmente pelo lançamento do álbum McCartney II, de Paul McCartney. Esse disco marcou o retorno do ex-Beatle à sua carreira solo, após o fim do Wings, e é considerado uma obra experimental, com McCartney tocando quase todos os instrumentos e explorando novos sons, incluindo o uso de sintetizadores.
05
MAIO
Segunda-feira
Saxon lança o LP Wheels of Steel.
JUNHO
Carlos Vergara participa, ao lado de Antônio Dias, Anna Bella Geiger e Paulo Roberto Leal, da 39.ª Bienal de Veneza. Apresenta um desenho de 20m de comprimento e 2 de altura; para o artista “uma espécie de catarse de desenho”, no qual parece encerrar seu trabalho de documentação do carnaval. O catálogo que acompanha sua participação traz texto de Hélio Oiticica.
★ Pedro Escosteguy participa de uma exposição, na Galeria Jean Borghici — Rio de Janeiro, com Objeto Popular. Retorna a Porto Alegre. Encerra suas atividades médicas.
02
JULHO
Quarta-feira
Bob Weir, Mickey Hart e o “manager” Danny Rifken, do Grateful Dead, são detidos por incitarem tumulto durante uma apresentação no San Diego Sports Arena, em San Diego, Califórnia, Estados Unidos; segundo a polícia, o objetivo teria sido obstruir a ação dos policiais, que procuravam drogas na plateia.
07
JULHO
Segunda-feira
★ O Led Zeppelin apresenta-se no Eissporthalle, em Berlim, Alemanha. É a última apresentação ao vivo da banda. Com a morte de John Bonham, baterista pouco mais de dois meses depois.
03
AGOSTO
Domingo
A cadeia de lojas Ponto Frio Bonzão, lança uma caixa de luxo com 14 LP’s dos Beatles, entre eles a versão inglesa do LP Rarities, acessório exclusivo da caixa.
Conj. C da QE 34. Outro futuro amigo, Sidney mudou-se para uma casa em frente à casa do meu melhor amigo. Rikki me disse: "Ele tem discos dos Beatles e começa a ouvi-los cedo às 8 horas". Assim persuadi o novo morador a trocar alguns LP’s dos Beatles por revistinhas de super-heróis Marvel da RGE! Esse futuro amigo dos LP’s tinha a caixa do Ponto Frio Bonzão e foi muito legal ao me repassar o LP Rarities, que mantenho até hoje. Lamentável foi ter trocado as revistinhas, e, ele ter sumido.
11
AGOSTO
Segunda-feira
Jimi, Gênio Total (Rogério Sganzerla)
Folha de S. Paulo
Neste primeiro texto, Sganzerla exalta a genialidade de Jimi Hendrix, afirmando que ele era mais que um músico, mas uma verdadeira divindade humana. Ele reflete sobre a breve vida de Hendrix, que, entre 1965 e 1970, revolucionou a música e a cultura.
Sganzerla analisa a habilidade única de Hendrix, como seu modo peculiar de tocar a guitarra com a mão esquerda e a inversão das cordas, além da profundidade de suas letras, que abordavam temas essenciais como o poder, a transformação e a rejeição das normas
sociais. O autor lamenta que o gênio de Hendrix não tenha sido devidamente coroado em
vida, mas reconhece sua transcendência. Hendrix, para ele, era um espírito livre, cuja música libertava a mente e desafiava as convenções.
18
AGOSTO
Yes Lança o Surreal e Visionário LP Drama
Ah, como se fosse possível voltar para aquelas pick-ups com tampas transparentes tocando LP’s e os amigos com espinhas vermelhas nas caras, como cerejas! Um futebol às 10h, de bem com a vida, e o ano letivo em outubro ameaçado. As formigas dentro do cérebro saindo pelos poros. As cigarras cantam e o Yes faz o som mais introspectivo, incapaz de ser repetido, ainda que audível — a visão derradeira do paraíso, com guitarras e viradas de baterias. O espetáculo vai começar! É rock na chácara... sábado de torpor... ai, que saudades de Glauber e dos seus planos de nos livrar da espoliação capitalista.
"Chega de espetáculos fajutos: vamos ensaiar. Quero cortinas de isopor. Chega de manchetes repetidas! Chega de servir ao deus metal! Chega das próprias exposições que a corrupção não descansou um só dia e virão novos golpes!". Os golpes são a forma que qualquer governo encontra para continuar o serviço não terminado no golpe anterior.
"Chiiii... cuidado, Mário, se não eles cortam a sua língua e o seu rabo ficará preso no elevador.".
28
AGOSTO
Quinta-feira
• Batalha dos Leões
• Por baixo do pano: o pacote de maio!
• O fantasma do AI-5 na cassação de João Cunha
• A manutenção da famigerada Lei Falcão
• Desculpas esfarrapadas para adiar as eleições
• Estudantes e jornalistas enquadrados na Lei de Segurança
Perto de Ti
Perto de ti a vida é um paraíso,
é o mundo a derramar felicidades,
a tristeza transformada em riso.
Perto de ti a vida não tem mágoas,
é um jardim repletíssimo de flores.
Longe de ti meu coração palpita,
minha alma chora entristecida e louca.
Chego a ouvir a minha voz aflita,
e o sorriso esqueceu a minha boca.
Versos que dona Lúcia Rocha fez para o filho no aeroporto no dia em que este embarcou para o exílio final.
Glauber tem muitos admiradores e espera que os críticos reconheçam o valor do filme para que ele se recupere, porque ele é supersensível com tendência a não aceitar críticas.
Contra o embotamento da sensibilidade, os complôs dos empresários europeus e a esclerose da inteligência crítica, Glauber Rocha leva à Europa, A Idade da Terra para a 23ª Mostra de Cinema de Veneza, da qual fora convidado a participar, já estava acordado que o filme seria premiado ao fim foi boicotado. Atlantic City de Louis Malle e Glória, de John Cassavetes dividem o prêmio. Quando o filme passa, a crítica italiana o malha igual à brasileira. Glauber Rocha não estava fazendo o filme para ganhar. Mas aí o francês Louis Malle o provoca.
“Glauber, cabeça fria. Festival é assim mesmo. Nem todos podem ganhar.”
Glauber Rocha, responde: "Você é um cineasta de segunda categoria. Não tem condições de me derrotar. Você é medíocre, faço cinema do futuro e você uns filmezinhos comerciais." E continua: "Malle, você sabe que não é nada disso. O que se passou aqui foi algo muito diferente. Você ganhou o Leão de Ouro porque as cartas estavam marcadas. Você venceu porque o seu filme foi produzido e teve a promoção da Gaumont, uma multinacional imperialista."
Malle ironicamente, volta ao diálogo: “E o seu filme foi produzido por quem?”
“Pela Embrafilme, uma empresa estatal de meu país.” Responde Glauber Rocha.
Malle irônico: “E o Brasil não tem um regime fascista? Ou você é daqueles que acha que Figueiredo é democrata?”
Glauber Rocha berrando: “Fascistas são vocês, que manipulam as multinacionais do cinema, que impõem toda sorte de mediocridade ao mercado do Terceiro Mundo.”
“Fascista é você, Malle, e não o presidente Figueiredo, que está redemocratizando o Brasil. Devido ao ataque Malle fica paralisado e Glauber Rocha avança...”
Diante da fúria do Leão das 7 Cabeças, Malle abandona o saguão do Hotel Excelsior, Glauber Rocha de dedo em riste ainda repete:
“Fascistas! Fascista!”
Malle perde a cabeça e volta correndo. Aproxima-se de Glauber Rocha, como se fosse agredi-lo. Glauber arma a guarda e grita: “Quebro a sua cara, fascista.”
Depois de apartados, Glauber ainda bate:
“Oh Malle, você Nouvelle vague, sempre foi servil à sub-Hollywood, por isso fique sabendo que você merece é um leão de merda, e não o leão de ouro.”
O valente Rocha não aceita o resultado do prêmio e, com a coragem inata, investe contra os críticos, jornalistas e o próprio vencedor, o comportado Atlantic City. Ninguém mete o dedo na cara dele. Quando chega na rua, que está cheia de pessoas, todos gritam Glauber! Glauber! Aplaudindo-o. Glauber Rocha agita e não paga o hotel, manda Carlo Lizzani, organizador da mostra pagar. Denuncia que o júri está vendido a Hollywood. Segundo Glauber Rocha a direção do festival, favorece o cinema comercial “É uma vergonha, o júri foi pago pelos Gaumont, Columbia e pela RAI-Radiotelevisione Italiana. É um festival comercial e não um festival cultural.”
O jornal editado pelo festival comunica, por meio de uma nota, que não publicará mais nada relativo ao seu filme até que ele se retrate, devido às suas declarações “inadmissíveis e injuriosas”.
Por causa do escândalo A Idade da Terra não será apresentado no 2º Festival de Cinema Ibérico e Latino-Americano de Biarritz.
Ao ser criticado, um Glauber Rocha enojado investe violentamente contra os 18 jornais italianos que tinha lido pela manhã, unânimes em considerar sua mais recente obra uma lamentável e precoce revelação do crepúsculo de seu talento e da grande confusão mental em que vive e trabalha desde que voltou ao Brasil.
Glauber Rocha parte para uma agressão generalizada, mais veemente e contundente no caso de três críticos — Grazzini, do Corriere Della Sera: “Uma montagem paranoica e uma recitação de obsessivos, um acúmulo de sons e cores que não transmitem nem emissões nem ideias.” (...) Acolhido como um filho pródigo pelos militares e como um traidor pelas esquerdas, por seus velhos companheiros de rua. Savioli, do L’Unita, e Micciché, do L’Avanti. — Além de estúpidos, decadentes, corruptos, vendidos ao capital americano, intolerantes, escravos, imperialistas como os demais. Teriam a agravante de agir como burocratas de Partidos. Glauber Rocha não perde a oportunidade para declarar, numa conferência de imprensa:
“A cultura europeia está acabada, o Cristo é do Terceiro Mundo, o futuro é o Brasil, quem pensa que este seja um país fascista erra grosseiramente. E retira-se, furioso, da entrevista. Antonioni discorda do discurso, mas identifica em cada plano do filme um acontecimento, saí em defesa pública, afirma que A Idade da Terra será um filme compreendido depois do ano 2000. Antonioni faz talvez a melhor definição de trabalho: — “Os filmes vencedores são produções corretas e comuns. Logo serão esquecidos. Mas A Idade da Terra é um filme que não se esquece nunca, que deixa sua marca em nós para sempre.”
Alberto Moravia vibrou durante a sessão. Margareth von Trotta, no júri, apoia Glauber discretamente. Le Monde, Humanité, Libération e o próprio Cahiers du Cinemá publicam críticas favoráveis. Naquela altura do campeonato, o procedimento desses intelectuais franceses representava um alívio na humilhação e mágoa que corroía Glauber e alteravam seus planos eventuais de estabelecer-se na Itália.
30
AGOSTO
Sábado
Rockonha, Eu Não Fui
Nesse sábado, ajudei Mecenas e a sua Kombi velha a chegarem a tempo da exibição: andávamos com um garrafão de vidro dentro da Kombi e tivemos que parar em postos para reabastecer (Não me pergunte o motivo de tamanho consumo de fundos). Finalmente, conseguimos chegar à Cultura Inglesa! Para ver ‘Help! No banheiro feminino no foyer, óbvio! estava escrito Women; bati na porta! Entrei! Mecenas dava uns tapas na pantera: ‘vamos embora que não estás no Palácio de Buckingham!.
Em Brasília, beatlemaníacos da pesada, pela loucura era o contrabaixista Mecenas: na cara dura roubava o rádio FM da própria mãe para ouvirmos o especial dos Beatles, tínhamos que fazer vaquinha para comprar pilhas.
Reconhecidos beatlemaníacos eram Renato Manfredini Jr., pela coleção de discos e sabedor dos mínimos detalhes, e Manel Henriques, o jornalista bukowskiniano-beatle-fã. De vez em quando, eu punha os olhos neles e só se falava em Beatles.
Sempre viajei mais em Lennon que ao leme iria atravessar o Atlântico e atracar a sua nau em Liverpool. Este era mais um de seus sonhos malucos. Mas Lennon, agarrado aoleme da sua pequena embarcação, teve que salvar a tripulação da sua nau numa tormenta nas Bermudas ainda em 1980.
Jimi Hendrix por Sganzerla. ‘Woodstock’. ‘Monterrey Pop’. Exibições de ‘Rock é Rock Mesmo’ no Gama. Cine Brasília.
Na Cultura Inglesa, ao final do mês de agosto, assisti a ‘Help!’ E nesta mesma sala, uma semana depois do assassinato de John Lennon, assisti a ‘Alucinados do Som e da Guerra’.
05 a 10
SETEMBRO
Sexta-feira a quarta-feira
• Glauber Rocha em Veneza um vulcão baiano cospe fogo sobre a 'cultura europeia'
• Festival de Veneza — Glauber briga com Malle e o chama de medíocre e fascista
• Glauber Rocha no Festival de Veneza
"Fiz o que Figueiredo faria se estivesse aqui. Botei para quebrar. Somos um país pobre, mas não temos o direito de calar diante de uma indústria dos países ricos.”
"E também não quero mais saber da polêmica cultural brasileira. Ela se resume em discutir se a sunga do Gabeira é mais transparente do que as calcinhas ou o sutiã do Caetano Veloso. Estamos em pleno ridículo cultural e isso tudo já era. Aproveito a Manchete para dar um adeus definitivo à vida cultural brasileira. Vocês não me verão mais, nunca mais."
“Chamaram ele de o grande, o gênio, o sábio. Parecia uma Torre de Babel todo mundo falando uma língua. Todo mundo aplaudiu o filme.” (DonaLúcia Rocha)
"Estávamos ambos hospedados no Hotel Excelsior. O filme de Glauber não foi bem recebido pelos críticos. As pessoas não entendiam que, de repente, o filme era uma espécie de homenagem ao regime militar. Não me lembro dos detalhes. Glauber era em geral amado pelos críticos do mundo inteiro. Ele teve uma entrevista coletiva em que ficou muito nervoso e começou a atacar cineastas como eu e John Cassavetes e acabamos por dividir o Leão de Ouro. Glauber disse que eu tinha ido a Hollywood e tornara-me um verdadeiro capitalista. É claro que não fiquei contente com aquilo. (...) Soube depois na França que a imprensa brasileira fez um grande barulho sobre isso, mas no resto do mundo a imprensa levou em conta o contexto. Um dia depois, mais ou menos, eu estava voltando ao meu quarto, tarde da noite, e vi Glauber andando pelo corredor, embalando um bebê e cantando para ele. Olhei para Glauber e ele para mim e tivemos uma pequena conversa. Foi a última vez que o vi. Na manhã seguinte voltei a Paris e ele morreu pouco depois. Minha última imagem de Glauber foi bela."
(Louis Malle)
“O Festival de Veneza andou esquecido, estava fraco, sem importância, estava meio apagado durante um período. Ele estava sendo retomado, não tinha grande importância mundial, porque o Festival de Veneza, e eles estavam querendo torná-lo comercial, era mais cultural. O Festival de Cannes também é empresarial, você vai lá, tem tudo que é sala de cinema exibindo, acontecem mostras paralelas, gente negociando filme do mundo inteiro. E o Festival de Veneza não tinha esse prestígio, então eles negociaram a premiação, fato que o Renzo Rossellini, que era o diretor da Gaumont, acabou contando que foi negociado, foi dado o prêmio para as empresas por isso que gerou essa coisa toda, e o Glauber já estava sabendo dessas histórias. (...)
“Glauber estava assistindo A Idade da Terra, com o Michelangelo Antonioni, a pessoa convidada por ele para assistir ao seu lado, e Antonioni gostou muito do filme...
“Glauber gostava de fazer comícios. Lá em Veneza, foi o mais fantástico de todos. Aconteceu que havia mais de 200 jornalistas do mundo. O Louis Malle veio falar que havia
foi feito um acordo na premiação e que A Idade da Terra estava fora da premiação; que o júri resolveu não premiar o filme brasileiro porque era produzido por uma empresa estatal de um país que não era democrático, e o filme dele havia sido negociado. Foi muito engraçado, o Glauber armou uma posição de caratê, que ele nunca lutou e soltou um grito:
‘Pá! Pra cima do Louis Malle’, isso foi à noite, no saguão do hotel, quando ele falou essa história. No dia seguinte, na hora do almoço, a premiação saiu... Com a exclusão de A Idade da Terra, Glauber começou um escândalo, os jornalistas começaram a se aglomerar, e o Glauber seguiu para a frente do Hotel Excelsior, andando e discursando em direção ao Palácio do Festival, e os jornalistas como se formassem um batalhão, escoltando-o... Com aquelas 200 câmeras clicando parecendo armas, e ele discursando e gritando, e eu um pouco atrás dele andando, foi o maior escândalo. Foi bacana! Uma das cenas mais bonitas e fantásticas que já testemunhei, porque ele realmente conseguiu pegar ali mais de 200 jornalistas do mundo inteiro, e ele era o centro das atrações, todo mundo louco com ele.” (Quim Andrade)
A Idade da Terra
Em 1973, em carta, Glauber Rocha já anuncia esse projeto
“Ficarei na Itália trabalhando com Renzo e tratei de produzir meu próximo filme o mais rápido possível. O filme se chama A Idade da Terra, e deve ser filmado na África, Ásia, América e Europa. É um projeto de grande ambição, o maior que já saiu da minha cabeça, porém custa um milhão de dólares, que nem o produtor daqui se arrisca”. Ficção, longa-metragem, 35mm, colorido (Eastmancolor/ Cinemascope). Rio de Janeiro, 1980. 4.350 metros, 160 minutos.
"Disseram que o filme era louco, incompreensível que eu tinha deixado de ser marxista para virar cristão. E que a minha visão do mundo já não estava mais comprometida: disseram que eu tinha traído os princípios revolucionários. Quer dizer, me atacaram ideologicamente querendo me imputar responsabilidades políticas, e foram incapazes de entender o sentido e a novidade formal do filme porque são ignorantes. (...)
Glauber Rocha a Fernando Silva Pinto
"Eu mostro no filme que o mito cristão que é um mito solar, vem da Ásia, vem da África, vem do Oriente Médio e que a Europa sequestrou a verdadeira identidade de Cristo, entende, importando um deus. Então eu disse que como o filme mostra um Cristo negro interpretado pelo Antônio Pitanga, um Cristo pescador e místico interpretado pelo Jece Valadão, mostro o Cristo que é o conquistador português, o São/Dom Sebastião, interpretado pelo Tarcísio Meira, mostro o Cristo guerreiro Ogum de Lampião, interpretado por Geraldo Del Rey. Quer dizer, são os quatro cavaleiros do Apocalipse que ressuscitam o Cristo no Terceiro Mundo, para recontar o mito através dos quatro evangelistas, Mateus, Marcos, Lucas e João e os 4 cavaleiros do apocalipse cuja identidade eu revelo no filme quase como se fosse um Terceiro Testamento, o filme assume um tom profético, realmente bíblico e religioso".
A Idade da Terra dialoga com os filmes da Belair, combina scope e câmera na mão fora da altura do olho, fotograma abstrato e fotogramas inaproveitáveis aproveitados, véus e ab-cena. O infracenso da linguagem: a câmera giratória filma a própria equipe que filma, o atrás da câmera. Jogo de foco e som direto com todas as interferências. Circumcena e claquetes, o diretor dirige o indirigível. Para-cena e dia-cena, cena-ucrônica. Tudo isso, toda essa escolha, todas essas figuras, todo esse procedimento, toda essa concepção de produção e expressão.
Glauber Rocha a João Lopes
"Eu já estava mais ligado aos rituais primitivos, quer dizer, ao teatro do irracional que é o teatro popular, mas já não no sentido de documento histórico, político, ou etnográfico, mas no sentido órfico, quer dizer, no sentido de pegar naquela matéria e transformá-la numa matéria audiovisual. Essa matéria estrutura um discurso que não se define, porque já não existe aquela crença — é um problema filosófico — na racionalidade da história, ou seja, numa dramaturgia que leve a resultados catárticos, como se arte fosse uma metáfora que com a revolução tudo se resolvesse. (...) A Idade da Terra reflete essa luta entre a história e a fantasia solta, deixando ver o que é que a fornalha do inconsciente produz em contato com aquela matéria cultural, como é que aquilo se pode transformar e como é que o cinema pode captar aquilo. Está mais próximo de um poema solto, um poema em verso livre. (...) Eu acho que a fé, a crença é uma coisa fundamental na criatividade artística. Eu acho que n’A Idade da Terra coloco um problema de crença porque, de certa forma, o filme investe o mito cristão, mas não o mito do Cristo católico, europeizado ou civilizado, investe numa espécie de cristandade, mas uma cristandade descristificada. O meu Cristo não morre, não vai crucificado. Acho inclusive que no meu filme não há sofrimento como nos outros filmes. Aí, acho que há uma crença num humanismo, numa espécie de humanismo revolucionário, qualquer coisa que..."
Desfilando e desdobrando-se pela tela em ópera carnavalesca e em cortejos místicos sem fim A Idade da Terra, em clima de delírio e profecia, resgata o universo simbólico/ritual brasileiro costurando-o com a linha da metáfora.
Do Brasil-Colônia (capital Salvador) ao Brasil-Império (capital Rio de Janeiro) desaguando no Brasil República (capital Brasília), as consecutivas capitais do Brasil, tornam-se a cloaca do universo numa tentativa desesperada e extrema de universalização dos mitos religiosos num estilo descontínuo, fragmentado e caótico.
Num estilo descontínuo, A Idade da Terra nos revela as imagens dilaceradas da cabeça de Glauber Rocha. É um testamento precoce arremessado nas telas antes de sua morte, um filme em que o público chega a rasgar as cadeiras e poucos o assistem até o fim e inclusive o cineasta sabia quem dormiu nas poltronas do Belas Artes.
“Quando ele estava terminando de fazer o filme ele não tinha mais dinheiro. Eu tinha uma casa, que ele me ajudou a comprar com o dinheiro que ele ganhou com Cabeças Cortadas. Aí eu vendi a casa para ele terminar o filme, que não estava nem finalizado quando ele recebeu o convite para o Festival de Veneza.” (Dona, Lúcia Rocha)
Norma Benguell, teve o prazer, dentro do caos de perseguições políticas, de dar a Glauber Rocha a alegria de ganhar o prêmio de “melhor atriz coadjuvante da Radio Uno” e Menção Honrosa em Veneza com o trabalho que ela fez.
“Foi admirável que, praticamente morrendo, Glauber soube renovar suas concepções, renunciar às ostentações de vanguarda, para privilegiar antes de mais nada o prazer do público. Pena que ele faleceu sem poder fixar numa película essa sua nova visão hedonista do cinema.” (Sylvie Pierre)
SETEMBRO
Sexta-feira
Turnê do Blizzard of Ozz no Reino Unido com Randy Rhoads. Esta seria a única turnê em que Randy Rhoads tocaria ao vivo com Bob Daisley, Lee Kerslake e Ozzy Osbourne.
21
SETEMBRO
Domingo
Em Nova Iorque, onde foram fotografados fazendo compras na Quinta Avenida, o ex-Beatle, hoje também ator, Ringo Starr, e a atriz Barbara Bach anunciaram o seu casamento, marcado para o início do próximo ano. Eles estão em Manhattan para o lançamento do filme O Homem das Cavernas.
27
SETEMBRO
Sábado
Por ordem da censura, o certificado de exibição do filme, do Led Zeppelin se aproximava do vencimento, iriam mandar fogo nas cópias dos filmes — não tinha visto o filme e aquela cena na entrada dos gângsteres. Aí John Bonham morreu e passaram o polêmico Rock é Rock Mesmo. A distribuidora mandou altas fotos para divulgação, todas presas na parede da bilheteria do Galpãozinho. Quando saí do teatro, as fotos foram surrupiadas. Logo aprendi mais um delito do rock'n'roll, e o som era do Pardal, com 2.000w. Sorry, periferia Brasília era rock, eu era menor — mas já tinha 16 anos.
"Som Pardal... Pode-se dizer que foi a primeira firma de som profissional de Brasília, sem contar as bandas de baile. O Pardal foi um dos meus primeiros mestres. O echo era produzido com fita de rolo." — Sérgio Pinheiro.
★ É um recuerdo mucho loko saber que foi uma dobradinha, sair do filme Rock é Rock Mesmo, e ir direto para o lançamento do LP Continente Perdido do Tellah. Pegamos a sessão das 14 horas e depois seguimos para o Food’s/Cine Chaplin na 111 Sul?
★ "Sim! Depois do show, a galera foi para o Beirute, lá conheci Luciano, um publicitário e, também, a Nani que cantou 'Juriti' (foi a primeira vez que ouvi esta canção)".
— Lincon Lacerda.
SETEMBRO
John & Ringo juntos pela última vez.
12
OUTUBRO
Domingo
Mautner Mutante da Nova Era
Entre nós, Mautner. Desembarcando de um Boeing 474, trajando uma camiseta branca, uma rabeca, pastinha 007 e um gravador, ele era o próprio menestrel eletrônico. Com ele, sua banda: Nélson Jacobina, Ronald Pinheiro e seu manager, Jorge Luís. Do aeroporto, seguiu direto para a redação do Correio, onde, com uma energia possível apenas a um guerrilheiro do ultra-mundo, ofereceu uma vasta gama de ideias sobre o que viria a ser. Mautner chegou, não do além, mas de Itaúnas, Minas Gerais, para lançar seu último livro, Panfletos de Uma Nova Era, e participar, como político, poeta e profeta, do lançamento do jornal Transe, hoje, no Clube da Imprensa. Checado por Chacal, Brother e Severino Francisco, Mautner, entre outras afirmações estarrecedoramente atuais, diz que os artistas e intelectuais de hoje devem descer dos pedestais da Cultura e dar seu testemunho sobre o que vai pelo mundo, para que o novo possa surgir organicamente. Jorge Mautner, que se diz político desde os sete anos, quando fundou seu primeiro partido, faz seu jogo. Aberto e esperto.
"Os perplexos não acreditam na Ásia, no zen, no transe. O transe não é levado a sério. À medida que aumenta a perplexidade deles, aumenta a minha clareza. À medida que eles se sentem deslocados, eu que sempre nadei em águas submarinas estou na tranquilidade".
— Jorge Mautner
22
OUTUBRO
Quarta-feira
Peter Frampton — Ginásio do Ibirapuera — São Paulo.
22 a 31
OUTUBRO
Quarta-feira, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça e quarta
O Grateful Dead fez oito concertos no New York’s Radio City Music Hall. As apresentações foram um grande sucesso de público, mas quase lhe valeram um processo de 1,2 milhões de dólares, movido pela gerência do teatro. O processo foi arquivado graças à não-utilização de um videoteipe, onde apareciam comentários, a exemplo de: “Cuidado! A cocaína que está sendo vendida na sala de espera é uma mistura de naftalina com vidro!”.
★ Anos depois, após um show de Lou Reed na Europa, nos camarins, Arnaldo Baptista relatou ter tido uma experiência controversa com o ídolo do rock. Segundo ele, Lou Reed teria exibido um comportamento que considerou "indecoroso".
22 A 25
NOVEMBRO
Nossos Ídolos Quarentões (ou quase)
A juventude da beleza
A roqueira Rita Lee ganhou. Chegou a vez de uma geração de jovens sem complicações e disposta a ser bela e saudável sem querer salvar o mundo.
23
NOVEMBRO
Domingo
• Glauber no futuro
• Amanhã é dia de festival
Superthin: O Primeiro Zine — Uma Super Paródia!
Sebastião, o ‘Doctor’, o instruído vizinho do Conj. A na QE 34, passava um ar de intelectual. No final da década, em meio aos exames finais, quando alguns de nós sabíamos que tínhamos perdido o ano letivo, Superman 2 foi levado às telas. Doctor, com sua fala mansa, apareceu no conjunto com uma revistinha ilustrada a lápis com o título de Superthin (‘Supermagro’) eu era caricaturado, nessas páginas, como um esqueleto voador com capa — e no final havia uma entrevista comigo feita em minha mansão em Hollywood! Nessa tirinha, o esqueleto aparecia fumando. Doctor era o sabido mesmo. Sabia inglês tanto quanto os professores. Ele não me deu oúnico exemplar existente com medo que eu o rasgasse. Nunca mais soube o que foi feito com a vida do Doctor, nem esqueci do seu nome de batismo.
Este foi o primeiro fanzine! Até então os boletins informativos dos fã-clubes eram impressos em offset. Nascia o conceito Do Próprio Bol$o — aproveitamos os parcos recursos, e falhamos em escala industrial.
MÚSICA
O Polirrítmico Rogério Duprat
O artigo da revista Música, assinado por Carole Chidiac, faz um tributo ao maestro e arranjador Rogério Duprat, ressaltando sua importância no tropicalismo e sua versatilidade musical. Duprat, que se destacou pelo arranjo inovador de “Domingo no Parque” é lembrado por sua genialidade e pela disposição em derrubar barreiras entre a música erudita, popular e experimental. Ele estudou com figuras renomadas, como Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen, e colaborou com Caetano Veloso e Gilberto Gil no programa Divino, Maravilhoso. Atualmente, Duprat vive afastado dos holofotes, preferindo a paz do campo e administrando duas produtoras fonográficas em São Paulo. Sua extensa obra inclui nove LP’s e trilhas sonoras para mais de trinta filmes, conquistando prêmios e consolidando sua influência na música brasileira.
LITERATURA
José Paulo Paes lança Resíduo.
TEATRO
Luiz Carlos Maciel ganha Jango, Uma Tragédia, a única peça de Glauber Rocha, que o autor lhe deu de presente — com uma típica justificativa: — Tu és gaúcho, como Jango, e gostas de churrasco, como ele gostava; então pega e faz.
São Paulo. Diagnosticado como um agudo caso de esquizofrenia, o escritor e artista multimídia José Agrippino de Paula é encontrado a vagar pela Av. Angélica.
22 A 25
NOVEMBRO
A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Com a direção musical de Renato Matos e o Grupo de Teatro Cabeças. De todos os seus espetáculos, o que Aloísio Batata mais gostava era esta peça. Ele interpretou o porco Napoleão, tirano, que dominava os bichos de uma granja. O espetáculo mostrou a todos o talento histriônico de Batata. Ele passou a ser para nós, espectadores brasilienses, o nosso Oscarito.
ARTES
Museu de Arte Moderna de Nova York, retrospectiva de Picasso.
FILMES
A Idade da Terra (Glauber Rocha. Originalmente deveria ser filmado na África, Ásia, América e Europa. Depois, apenas na América do Norte, em Nova Orleans, Califórnia, Chicago e Nova York. Longo filme barroco não-comercial, proposto junto com a Estética da Fome. Desdobra-se entre negros, camponeses, operários, políticos, revolucionários — os filhos do Terceiro Mundo. Novidade Barroco-épica, novo em enquadramento, som, interpretação e montagem — o épico de Brecht, no brabo barroco de Jorge Amado. Segue o romance da Bíblia — mas não Cristo mortis.
★Na Estrada da Vida (Nelson Pereira dos Santos).
★Where The Buffalo Roam. 100 min. Violentíssima crítica de Art Linson em cima do american way of life. A legenda engraçada é de Hunter S. Thompson, jornalista radical e famoso consumidor de álcool e drogas. Faz uma visita nostálgica dos anos 60 e início dos 70, e usufrui dos trabalhos deste famoso cult hero. Temas musicais originais de Neil Young, ao lado de desempenhos históricos de Hendrix (†) (“Purple Haze”, “All Along The Watchtower”), Bob Dylan (“Highway 61”), Creedence Clearwater (“Keep On Chooglin’”) e Temptations (“Papa Was A Rolling Stone”).
OBITUÁRIOS
18
JANEIRO
Sexta-feira
Cecil Beaton ficou solitário, semiparalítico e perdeu a memória. Greta Garbo foi visitá-lo pela última vez e, ao sair, deixou a assinatura no “Livro de Visitantes”. Um dos espectadores privilegiados do glamour do século XX.
22
MARÇO
Sábado
Hélio Oiticica passou seus últimos dias em solidão. Na noite final em que foi visto, estava sozinho na boate Dancing Day’s, no Morro da Mangueira, bebendo cerveja. Ao retornar ao seu apartamento, sofreu um derrame cerebral que o paralisou. Durante três dias, lutou para alcançar o telefone, mas não conseguiu. Preocupada com seu desaparecimento, Lygia Pape, sua amiga de longa data, foi até o apartamento e, sem resposta, entrou pela janela do vizinho. Lá encontrou Oiticica, caído atrás de um sofá, envolto em suas próprias obras, com um projetor de slides iluminando seu rosto.
Levado para fora do prédio, o artista parecia se recuperar. Lygia recorda que seu rosto se iluminou ao ver a rua. No entanto, no hospital, embora tenha tentado se comunicar, entrou em coma e faleceu em 19 de março de 1980. Foi enterrado no Cemitério de São João Batista, com a bandeira da Mangueira cobrindo seu caixão e um surdo da escola de samba entoando um canto fúnebre em homenagem ao passista que tanto amava o carnaval. Rubens Gerchman relembra a convivência com Hélio, que viveu um ano em seu apartamento em Nova York, entre 1969 e 1970, após vir de Londres sem lugar para ficar. "Ele tinha profunda admiração por mim. No Brasil, já havíamos feito capas de parangolés juntos. Hélio me abriu a cabeça para novas formas de participação do espectador na arte, embora ainda fosse muito ligado à pintura e ao design gráfico."
Oiticica participou da exposição Information no MoMA, mas não conseguiu avançar além disso. Sustentava-se com traduções e, mais tarde, envolveu-se com o tráfico de drogas. Seu ateliê foi invadido e destruído, forçando-o a se esconder em outra parte de Manhattan. Quando voltou ao Brasil, sua genialidade foi amplamente ignorada. A saúde debilitada e o descaso público marcaram seus últimos anos. "Ele dizia: ‘Agora estou purificando meu nariz, pego ar puro da praia, até estou nadando’, mas ninguém comparecia às suas manifestações, como as do Caju ou do Buraco Quente na Mangueira. Eu sempre ia, mas os outros, não."
A morte de Hélio, segundo Gerchman, reflete o abandono que ele enfrentou. "Teve um aneurisma e ficou dois dias desacordado no chão. Sem socorro imediato, acabou morrendo pouco depois." Sua trajetória brilhante foi ofuscada por uma vida de dificuldades e solidão, mas sua obra permanece como um marco transformador na arte brasileira e mundial.
18
MAIO
Domingo
Aos 23 anos, Ian Curtis é encontrado morto em sua casa, enforcado por uma corda utilizada como varal. O motivo provável para o suicídio é sua epilepsia, e convulsões cada vez mais constantes. Curtis falava obsessivamente da morte, a ponto de antecipar o próprio suicídio, em letras como “In A Lonely Place” (Um lugar de paz).
06
JUNHO
Sexta-feira
Morre seu Adamastor Bráulio Silva Rocha, pai de Glauber.
07
JUNHO
Sábado
Morre o escritor americano Henry Miller, nascido em 1891.
01
AGOSTO
Durante testes em Hockenheim, Patrick Depailler sofreu um acidente fatal após a suspensão de sua Alfa Romeo 179 falhar na curva Ostkurve. Ele colidiu violentamente com o guard-rail, sofreu graves lesões na cabeça e faleceu pouco depois no hospital.
25
SETEMBRO
Quinta-feira
John Bonham morre na casa de Jimmy Page. Ele tinha bebido cerca de 40 doses de vodka, em doze horas. Morreu sufocado pelo próprio vômito.
27
OUTUBRO
Segunda-feira
John Graz, pintor, ilustrador, decorador, escultor e artista gráfico; 1891 (Genebra, Suíça) — 27 de outubro de 1980 (São Paulo, SP).
07
DEZEMBRO
Domingo
Darby Crash, o vocalista punk dos The Germs, se mata aos 22 anos, com uma overdose intencional de heroína, mas sua morte ficou em segundo plano diante do assassinato de John Lennon, ocorrido no dia seguinte.
08
DEZEMBRO
Segunda-feira
Assassinato de Lennon: Uma Crônica da Queda de um Pacifista
Nova York — A cidade que nunca dorme parou naquela noite, quando os ecos de tiros reverberaram pelas paredes do edifício Dakota, um marco arquitetônico no Upper West Side de Manhattan. Eram 22h40 quando Mark David Chapman, um homem aparentemente inofensivo que passou o dia esperando na entrada do prédio, apertou o gatilho e encerrou a vida de John Lennon, um dos maiores ícones culturais do século XX.
Na manhã do mesmo dia, Chapman, de 25 anos, traçou seu plano macabro com uma precisão perturbadora. Entre suas posses, estavam uma cópia do álbum Double Fantasy e um revólver calibre .38, ambos peças-chave na tragédia que se desenrolava. Testemunhas afirmam que ele conversou casualmente com outros frequentadores do Dakota, incluindo o fotógrafo Paul Goresh e uma babá que cuidava do filho de Lennon. Chapman, que havia se apresentado como um fã devoto, até conseguiu o autógrafo de John Lennon horas antes do crime. "Ele assinou sorrindo", lembra Goresh, que capturou a interação em uma fotografia que agora simboliza uma irônica despedida.
À noite, quando Lennon e sua esposa, Yoko Ono, retornaram do Estúdio Record Plant, o destino selou seu trágico desfecho. Enquanto Yoko caminhava à frente, Lennon foi abordado por Chapman, que, sem hesitar, disparou cinco vezes. Quatro projéteis atingiram o ex-Beatle, causando ferimentos fatais.
Testemunhas descrevem cenas caóticas. "Ele correu para dentro dizendo 'Levei um tiro', antes de colapsar na portaria", relatou Jay Hastings, o porteiro do Dakota, que tentou prestar os primeiros socorros.
Chapman, por sua vez, não fugiu. Ele permaneceu no local, lendo calmamente O Apanhador no Campo de Centeio, enquanto esperava ser preso. Quando a polícia chegou, ele declarou friamente: "Agindo por vontade divina, cumpri minha missão."
Lennon foi levado às pressas para o Hospital Roosevelt, mas não resistiu. O médico responsável, Stephan Lynn, descreveu os esforços frenéticos para reanimá-lo: "Coloquei minha mão diretamente no coração dele, mas não houve resposta." John Lennon foi declarado morto às 23h15.
Uma pergunta sem resposta
Nas horas e dias que se seguiram, psiquiatras, fãs e especialistas tentaram entender as motivações de Chapman. Alguns apontaram para a obsessão do assassino por O Apanhador no Campo de Centeio, enquanto outros destacaram sinais claros de paranoia e desilusão.
Teorias ainda sugerem que Chapman se sentiu "traído" pela transformação de Lennon, que havia deixado o espírito rebelde dos anos 60 para abraçar a vida doméstica e familiar, conforme evidenciado em Double Fantasy.
Uma herança irreparável
A morte de John Lennon deixou um vazio irreparável na música e na cultura global. No local do crime, fãs em luto improvisaram um memorial com velas, flores e cânticos de "Give Peace a Chance".
A tragédia, que ecoa como uma ferida aberta na memória coletiva, também reacendeu o debate sobre o acesso às armas nos Estados Unidos e a vulnerabilidade de figuras públicas.
Hoje, o mundo continua a refletir sobre aquele fatídico 8 de dezembro, um dia que tirou mais do que uma vida: roubou um símbolo de paz e esperança.
09
DEZEMBRO
Terça-feira
Por um momento, meus olhos cansados não veem nada — além das pós-imagens embaçadas do pesadelo. Semiacordado pelo grito estridente do vinco da janela aberta eles se arregalam sou acordado na metade da manhã por Ismael Lennon & Sidney Presley, sem entender o porquê estarem gritando: — O sonho acabou!
O Quadro de Dalí e o Assassinato de John Lennon: Uma Análise Psicológica e Social
Nova York. Um quadro de Salvador Dalí representando o assassinato de Abraham Lincoln tornou-se um ponto central nas investigações psiquiátricas sobre as razões que levaram Mark Chapman a assassinar John Lennon. Segundo os psiquiatras do Hospital Bellevue, a obsessão de Chapman pela obra pode ter desempenhado um papel crucial na construção de seu ato violento.
Relatos de conhecidos em Honolulu, onde Chapman residia, revelam que, semanas antes do crime, ele adquiriu por 100 dólares uma reprodução da obra de Dalí, mesmo estando sem recursos para pagar contas básicas. O quadro, exibido com orgulho em sua sala, pode ter alimentado sua fantasia de reproduzir a cena em uma ação real. A partir daí, Chapman teria começado a planejar meticulosamente o assassinato de Lennon.
Outro elemento apontado pelos especialistas foi o impacto do disco Double Fantasy, no qual Lennon expressa valores familiares e tradicionais. Para Chapman, um admirador da rebeldia dos Beatles dos anos 60, essa guinada pode ter soado como uma traição, intensificando sua raiva e obsessão.
Perigos à Fama
O psiquiatra Frank Ochberg, do Hospital Mental de Michigan, advertiu que os outros ex-Beatles — Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr — também poderiam ser alvos de ataques similares, refletindo uma mudança no comportamento de assassinos psicopatas, que estariam passando a mirar celebridades em vez de figuras políticas.
Já o dr. L.J. West, chefe de Psiquiatria da Universidade da Califórnia, sugeriu que o caso de Chapman pode estar mais relacionado a pesadelos ou desilusões do que à busca por notoriedade. Ele descartou a tese de que o crime seria puramente um ato calculado para chamar atenção.
A Psicodinâmica do Crime
O psiquiatra brasileiro Nikodem Edler descreveu o caso como típico de paranoia. Segundo ele, Chapman provavelmente erigiu Lennon como um ídolo absoluto, convivendo com um sentimento ambivalente de amor e ódio. “O fã paranoico ama e odeia seu ídolo ao mesmo tempo. Mata o ídolo para eliminar aquilo que odeia nele e em si mesmo”, explicou.
Edler também chamou atenção para o contexto sociocultural dos Estados Unidos, uma sociedade excessivamente armada, onde revólveres são símbolos de poder e masculinidade. Ele argumentou que, se Chapman não tivesse acesso a uma arma, o desfecho poderia ter sido muito diferente. “Sem um revólver, o crime talvez se resumisse a um soco ou chute, sem consequências fatais”, afirmou.
Essa análise resgata paralelos históricos, como o caso do pintor Iberê Camargo, que assassinou um engenheiro em um episódio que poderia ter terminado em agressão física, não em morte, caso armas de fogo não estivessem envolvidas.
O assassinato de John Lennon, portanto, emerge como um caso complexo, que combina obsessões individuais, influências artísticas, desilusões pessoais e os efeitos de uma sociedade permeada pela violência e pelo acesso fácil a armas.
Mulher do projetista relata crime do pintor
— Depois de atirar no meu marido, ele (o pintor Iberê Camargo) saiu caminhando calmamente, com a secretária.
• Giscard quer abafar caso dos diamantes, diz jornal
• Papa diz que a paz mundial depende da Polônia
• Brejnev tem plano de paz para golfo pérsico
★Escritor Polonês Recebe o Nobel em Nome dos Oprimidos
Estocolmo — Ao receber ontem o Prêmio Nobel de Literatura das mãos do rei Carlos Gustavo XVI, na capital sueca, o escritor e poeta polonês naturalizado americano Czeslaw Milosz, de 69 anos, disse que “neste século do exílio, a pobreza e a perseguição forçaram milhões de pessoas a sair da Polônia”.
• Noel Rosa, 70 anos. A vila está em festa
• Uma vigília silenciosa por John Lennon
• É difícil acreditar, mas ele insiste: Bob Dylan encontrou Cristo
"Se conseguirmos, no curso de 1981, colocar em movimento internacional o grupo A, assim como a edição dos roteiros (...), eu já dormiria com a esperança de ter salvo a vida, ou os filmes." — Glauber Rocha, carta.
Ceia de Natal
Os vizinhos, bons avarentos, faziam as contas da ceia de Natal, mas ainda assim nos convidaram para comer
Ainda adolescente pobre, besta e sonhador. Passei o Natal na casa do vizinho, comendo rabanadas e bebendo vinho. Pensei: 'que noite legal!’. Um outro amigo me disse que a mãe desse amigo onde eu passei o Natal, perguntou: ‘A Família do Mário não faz ceia? Pqp! Além de ser dado como doido, maconheiro, ainda passava carão na família. Rezei para minha mãe não descobrir. Depois, na frente da casa dos vizinhos, como lunático, e abria os braços, e ria mais ainda, gesticulava e assobiava a canção. De merda o mundo anda cheio.
DEZEMBRO
27
Sábado
O que Pensa Golbery Sobre Abertura e Crise Econômica
"Paradoxo estranho parece, sem dúvida, o querer-se levar avante uma liberalização democratizante desde o campo político, logo agora quando tão negativas são as condições vigentes na área econômica, a reclamarem, insistentes, por controles mais amplos e efetivos e, pois, uma disciplina centralmente coordenada, com profundos reflexos em toda a estrutura governamental e social. Na realidade, não nos resta outra opção.
Momentos muito mais favoráveis não foram, dantes, aproveitados, por motivos que aqui não nos cabe pesquisar. Mas isso, de qualquer forma, não justificaria retardar-se ainda mais aquele processo descentralizador, já há muito reclamado como necessário e urgente. Além do que, as pressões contrárias, hoje fortes e quase insuportáveis, voltariam a acumular-se aceleradamente, pondo em risco a resistência de todo o sistema nessa enorme panela de pressão em que, como já teria sido assinalado em tempos, passados, veio a transformar-se o organismo nacional, após década e meia de crescente compressão".
Afinal, quem é Golbery?
Alexandre Garcia
Os que reclamam que o Planalto não abre mão do comando da abertura, como resultado de uma imposição golberiana/aquiniana, se esquecem de que os choques Alacid/Passarinho — Marchezan/Passarinho, isto nas próprias hostes governistas, dispensam até de se comentar as defecções partidárias, prova concreta de uma ideologia político-partidária muito à brasileira.
No capítulo: de fato, o hiato dos últimos 16 anos parece que apagou a maior parcela da criatividade dos políticos brasileiros, que hoje podem ser rotulados em duas categorias: os que são a favor do governo porque se beneficiam dele e os que são contra porque não o são, com suas dignas exceções apenas confirmando a regra. Em tal quadro, o negócio é atribuir ao ministro Golbery e a Heitor de Aquino maquiavelismo, mais para justificar a falta de credibilidade da classe política, que não inspira ao Planalto a confiança necessária para que se transfira o comando da abertura. — Consuelo Badra, in Manchete.
29
DEZEMBRO
Segunda-feira
Retiro Espiritual (Rogério Sganzerla) Folha de S. Paulo
Neste segundo texto, Sganzerla defende a ideia de que o gênio existe, mas que muitas vezes não é reconhecido ou promovido pela sociedade. Ele usa como exemplo Jimi Hendrix, cujo talento, segundo ele, transcende as normas e foi facilmente identificado por aqueles com sensibilidade. O autor descreve sua experiência ao ver Hendrix ao vivo no Festival da Ilha de Wight em 1970, considerando esse momento como uma das maiores experiências de sua vida. Sganzerla destaca a genialidade de Hendrix em aspectos como sua habilidade de tocar a guitarra "ao contrário" e sua forma de criar música explosiva sem ser exibicionista. Ele vê Hendrix como um ser extraordinário que rompeu as barreiras musicais e trouxe algo divino à arte. Para ele, Hendrix não apenas tocava música, mas também se conectava com esferas superiores de existência, transformando o palco com sua presença.
31
DEZEMBRO
Quarta-feira
Marshall McLuhan, teórico da comunicação que defendia a noção da “aldeia global”, (1911-1980). Ele escreveu extensivamente, e com grande visão de futuro, sobre os meios de comunicação de massa e seus efeitos na sociedade, na vida profissional e na política.
Glossário
Faça Você Mesmo: tradução do termo Do It Yourself (DIY), que emergiu no movimento punk e se tornou um pré-requisito essencial para artistas independentes e entusiastas da cultura faça você mesmo.
Fandom: termo de origem inglesa derivado da junção de fan (fã) com o sufixo "dom," em analogia à palavra kingdom (reino), formando o conceito de "reino do fã." É usado como uma designação geral para comunidades de pessoas que compartilham interesse em um gênero, área ou tema específico (por exemplo: ficção científica, música, quadrinhos, entre outros).
2. Outra interpretação associa fandom à união de fan (fã) com domain (domínio), sugerindo o "domínio dos fãs" sobre determinado tema ou universo cultural.
Fanphilia: é um termo que une "fan" (fã) com o sufixo grego "-philia" (amor ou afeição), referindo-se a uma afeição intensa e idealizada de um fã por um objeto de adoração, como uma pessoa, artista, banda, filme ou conceito cultural. Embora não seja amplamente reconhecido ou formalmente estabelecido, "fanphilia" descreve uma paixão profunda e dedicada, semelhante à idolatria, que vai além do simples interesse e reflete a forte conexão emocional dos fãs com seus ídolos. O termo pode ser utilizado para explorar a psicologia e a cultura dos fãs, destacando o vínculo intenso entre eles e seus objetos de admiração.
Fanthology: Reaproveitamento! Uma coleção de textos de fãs, maior que um fanzine típico, reunidos em torno de um tema central.
Fanzine: Publicação independente criada por entusiastas apaixonados por um tema específico. O termo remete a um material impresso, geralmente artesanal, produzido de forma colaborativa ou individual, com o objetivo de compartilhar ideias, opiniões e conteúdos sobre assuntos de interesse comum, como música, cinema, literatura ou cultura alternativa.
Flyer: Uma espécie de cartão de visitas que teve grande popularidade nas décadas de 1980 e 1990. Geralmente, trazia o nome de um fanzine, banda, ou evento, acompanhado de informações como endereço e ilustrações ou mensagens promocionais. Distribuído principalmente via correspondência, era uma ferramenta eficaz para divulgar fanzines, shows, e eventos, além de ampliar a rede de contatos. Também conhecido como "filipeta," tornou-se um ícone da comunicação alternativa e da cena cultural independente até hoje.
Mail Art: Forma de arte que utiliza o correio como meio de expressão, envolvendo o envio de correspondências criativas, como desenhos, colagens, fotografias e textos. Surgiu nas décadas de 1950 e 1960, como parte dos movimentos de arte alternativa, especialmente o fluxus. A prática promove a troca de obras entre artistas ao redor do mundo, subvertendo as convenções da arte tradicional e enfatizando a comunicação direta e a experimentação com os meios de envio.
Ready-made: o termo refere-se a obras de arte criadas a partir de objetos comuns e cotidianos, recontextualizados pelo artista para serem considerados arte. Popularizado por Marcel Duchamp no início do século 20, o conceito ganhou destaque com a apresentação de seu "Fonte", um urinol assinado com o pseudônimo "R. Mutt", como obra de arte. O ready-made quebra as convenções tradicionais da arte, questionando autoria, originalidade e estética, e influenciou movimentos como o dadaísmo e a arte conceitual. Esse conceito continua a ser uma referência importante nas práticas artísticas contemporâneas.