ALIENBALADA: SOM!
- Details
- Hits: 25
III – O SOM!
"Os Mutantes só dariam certo se apresentassem algo novo, grandioso e brasileiro." ().
"Acho biografias contraproducentes no meu caso e em muitos outros. Elas eliminam o mistério. Elas revelam o que é desnecessário e contraproducente revelar. Quem deve aparecer é a obra, ainda mais quando é fruto de uma pessoa famosa – ou seja, pessoa que a sociedade pensa conhecer, porque a fama é sempre enganadora. Ninguém nunca é o que sua fama diz. (...)
Uma biografia que me projete à semelhança de quem quer que seja ou tenha sido está fadada ao erro; não ao insucesso, porque 'biografias' erradas podem fazer o maior sucesso, até mais que as certas, já que seu autor, se imaginoso, nelas porá uma história que incendeie as mentes dos pobres leitores."
().
"Apesar de alguns autores que escrevem sobre os Mutantes quererem dar a palavra definitiva, fui eu, sim, quem gerou o som dos Mutantes, fui o responsável pela construção dos alicerces no muro de som da banda; e não só, dos alicerces: da casa inteira, dos jardins, da atmosfera...
Com Raphael Vilardi, comecei o conjunto que resultou nos Mutantes. Ensinei guitarra ao Sérgio, num instrumento que eu próprio desenhei e manufaturei. Participei de inúmeros debates, nos quais a 'filosofia' e o 'rumo' sobre o som do conjunto, portanto, os alicerces musicais, eram debatidos entre nós, Mutantes. Toda a influência dos vários grupos musicais e artistas sobre os Mutantes deve ser cotejada à tecnologia que condicionou esses grupos. E tal tecnologia também foi condicionada por eles todos; mas não apenas! Eu, a NASA, a ficção, a ciência, a matemática e muita coisa mais conformamos também essa tecnologia. E criei a tecnologia e os instrumentos que condicionaram tal som.
Reergui os Mutantes diversas vezes: numa delas (depois de conceber e realizar o roteiro e a sonorização de um espetáculo dos Mutantes, fazendo-os apresentar primeiro as músicas mais antigas com o som antigo e depois ir mostrando as cada vez mais novas, até chegarem às da época, e enquanto eu fazia o som do sistema se ajustar às novidades que tais músicas iam exibindo) o público, que vinha rejeitando o conjunto, foi-se entusiasmando... até que estrondearam e retornaram os aplausos perdidos. Ganhei um beijão da Rita, no fim do espetáculo. Sempre foram assim as minhas recompensas: breves e inócuas, ao pé do tempo e da eficácia que eu lhes dedicava. E não me importava, porque meu objetivo sucedia: o som! E não só dos Mutantes.
Larguei a faculdade no último ano por dois motivos: o principal foi não querer o diploma, para não ser tentado a trabalhar como empregado; o outro, um apelo veemente do Arnaldo para 'salvar os Mutantes'. Então, alguns meses antes do tempo em que eu planejava largar a EAESP – FGV, no último ano do curso, deixei-a, bem como parei de ajudar um colega na fábrica de máquinas de lavar – e lá fui programar em PERT e realizar em quarenta dias, até à luz de velas, como mostram fotos em meus álbuns, comandando Leo Wolf e Peninha Schcmidt, o novo equipamento de som dos Mutantes que, somado à aplicação dos princípios administrativos ao tornar-me o intermediário entre o conjunto e o empresário Marcos Lázaro, salvou os Mutantes! Cedi ao conjunto e a uma turba de amigos até mesmo a casa onde morava, na qual esse equipamento foi montado; e os ensaios, feitos. Criei mil e um aparelhos de todos os tipos, que condicionaram e conformaram o som dos Mutantes. Batmacumba contém um exemplo da criatividade e desse som. O violoncelo de Rogério Duprat, outro. Alguns mais, todo o mundo está cansado de conhecer e não preciso citar.
Para quem crê em meu irmão do meio como exemplo, a prova da importância que tive na criação dos alicerces e do próprio som dos Mutantes foi pronunciada pela boca do Arnaldo de verdade; não pela língua do mito: a sua primeira palavra significativa, ao dar entrevista ao Fantástico, foi 'CCDB'. Só depois de me citar, lembrou-se de Sérgio. E o locutor do Fantástico abismou-se, ao constatar, sem entender, que a volta dos Mutantes dependia de... tecnologia! Qual? Em primeiro lugar, a minha! O meu som, que sempre foi o parâmetro, o alicerce, o muro inteiro, a casa, o lar, o tudo, sólido qual este parágrafo único, inclusive para discussões, cismas e sismos."
().
"Nem sempre participei das aventuras do conjunto musical. Eu lhe fabricava os instrumentos para o sucesso, inclusive o som, e também contribuía com ideias, muitas das quais aproveitaram ou aproveitamos; nós, Mutantes. A revelação de minha história me beneficia menos do que o carisma de 'Mutante Oculto', que essa revelação reduz." ().
"Fui eu quem iniciou e encerrou os Mutantes: as três últimas apresentações foram sonorizadas e operadas por mim: no Palácio das Convenções; numa cidade do interior, em passagem para Ribeirão Preto; e a derradeira, nesta última."
().
"Fui morar em Itaipava para construir o último sistema de áudio dos Mutantes, montei para Luciano um conjunto de captadores para piano, que funcionou muito bem naquelas três últimas apresentações dos Mutantes. Luciano tocava muito bem; e, contudo, o conjunto em si se comportava como descrevo na suprema obra – leia isso lá, por favor, onde Atlantes é conjunto geóctone equivalente aos Mutantes e os Etéreos (nome fictício dos Atlantes que, quando vêm incógnitos à Terra, repetem exatinho o que aconteceu aos Mutantes. Por isso digo que Géa é, entre outras coisas, a nossa história...).
O último show dos Mutantes foi sonorizado por mim em Ribeirão Preto. Esse é, que eu saiba, o último de todos. Ou poderia ser considerado como último a tríade final de espetáculos, desde o que sonorizei no Palácio das Convenções, passando por mais um, numa cidade a caminho de Ribeirão, até este último, em Ribeirão. Eu gostaria muito de ouvir essas gravações." ().
"Quando a questão Verdade sobrenadar. A Verdade-Mutantes com V maiúsculo, Vale. Não preciso, nem os Mutantes, de mitos; porque a nossa Verdade vale mais que mitos. Ninguém precisa. Eles devem ser o que são: fatos ou fenômenos sociais, que acontecem por si; não, objetivos premeditados. Nossa Verdade supera qualquer mito, vale mais que mitos, máxime os que alguém possa adrede criar. O lugar certo para se criarem mitos não é o mundo objetivo que a história deve registrar; sim, a ficção declarada como tal: ficção. Criar propositadamente mitos é, no primeiro caso, mentir; no segundo, beneficiar o planeta com uma obra de arte – aliás, qualquer Verdade, com V maiúsculo, Vale. Géa trata do que seja a Verdade em si. Ela existe! E pode ser conhecida inteira."
().
"As pessoas ficam atrás do que eu fui, e acabo virando uma espécie de Leonard Nimoy, que todos confundem com Spock; só que eu fui mesmo o Spock das guitarras e tal... Acho boa a ideia de atrair a atenção das pessoas apresentando-me como aquele antigo, e depois necessariamente mostrar o novo, máxime a obra, porque de fama não faço a mínima questão: quero mesmo é transmitir Géa a todos."
().
"Não me importo de vir a ser um novo Van Gogh, ou Cervantes, ou qualquer outro dos que enfrentaram dificuldades imensas: esse tem sido o meu dia a dia. O importante é Géa."
().
"No Brasil, existe uma fila pior que a dos transplantes: é a dos autores em busca de editores. A primeira pode levar os primeiros à segunda." ().
Nessas narrativas, conquanto pareça, CCDB (Cláudio César Dias Baptista) não se tornou uma pessoa amarga com a falta de reconhecimento. Sua verdade, para os fãs e historiadores, é preservada. Congratulo-me por juntar os dados criteriosamente para voar alto e revezar no comando desta epopéia.