Cinco anos sem Coquinho!

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Coquinho vira Papai Noel

5 anos sem Coquinho!
Escrito por Antonio Celso Barbieri

Londres, 23/12/2009

Inverno bravo! Céu nublado e cinza. Os jardins e parques, como resultado da última nevasca, ainda continuam cobertos de neve. Nas calçadas poças d’água congeladas e pelotões de gelo aqui e ali as deixaram escorregadias e perigosas. O povo, encapotado, tenta ignorar e segue fazendo suas compras natalícias. Este Natal está meio sem graça e a falta de Sol não ajuda nada!

Hoje, juntamente com Andrea, minha esposa, fomos comer um peixinho com batatas-fritas em Holloway Road. Não existe nada mais inglês do que "fish and ships". Foi quase por acidente que descobri esta lanchonete comandada por um afegão exilado. Gente muito boa. Na minha busca pelo perfeito “fish and ships” ainda não encontrei um melhor do que este e, ainda mais, por um preço tão baixo. Nem preciso dizer que, sou cliente desta lanchonete à muitos anos. O dono, quando me vê, sempre sorri e já diz: "O senhor quer o de sempre?"

Quase na porta de casa, tomamos o ônibus 271.

O 271 é um destes ônibus vermelhos de dois andares. Como sempre, fomos para o andar de cima. Sei lá, depois de mais de 20 anos, às vezes, ainda me sinto como turista.

Por causa do frio lá fora, as janelas estavam todas embaçadas.

O ônibus parou num sinal de trânsito e eu tentei ver onde estávamos. Através daquela janela fosca, de uma forma, destorcida e deformada, como num pesadelo eu percebi que estávamos quase na porta do prédio onde morou o baixista Oswaldo Gennari mais conhecido como Coquinho ou simplesmente Koko, como ele preferia ser chamado aqui em Londres. Em 1977, Coquinho juntamente com Arnaldo Baptista, Rolando Castello Junior e John Flavin fundadaram a seminal banda Arnaldo e a Patrulha do Espaço.

Nossa mente é uma coisa fabulosa. No meu caso, parece que existe uma “gaveta” cheia de histórias do Coquinho.

Ninguém é perfeito!

Recentemente eu traduzi e publiquei os dois primeiros capítulos sobre a infância traumatizante do legendário John Lennon. Nas minhas pesquisas ficou claro que John era uma pessoa complexa e muitas vezes difícil. Ele não era perfeito e, o mesmo posso dizer do meu amigo Coquinho. Aliás, está escrito “quem for perfeito que atire a primeira pedra”.

Portanto, tendo disto isto, abaixo segue a história nua e crua do Coquinho que eu conheci.

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Coquinho em 1977 no I Concerto Latino Americano de Rock. Foto: Antonio Celso Barbieri

O começo

Lá pelos anos 70, o Arnaldo e a Patrulha do Espaço, ainda com Coquinho no baixo participaram do I Concerto Latino Americano de Rock. Eu estava lá e fotografei a banda. Ninguém nunca tinha visto estas fotos.

Ainda no Brasil, anos mais tarde, uma pessoa que trabalhava num estúdio de gravação conseguiu tirar escondido de dentro do estúdio uma fita de rolo com as gravações de um álbum que estava sendo gravado pelo Arnaldo e a Patrulha.

Como eu tinha uma gravador de rolo fizemos duas cópias. Eu fiquei com uma e a pessoa que pegou a fita ficou com outra. Pelo número de músicas, estava claro que esta fita era apenas a metade do disco.

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Arnaldo e a Patrulha do Espaço: Dudu, Rolando Jr, Coquinho e Arnaldo em 1977

Quando, finalmente conheci Coquinho pessoalmente, parte deste material já havia sido lançado, depois de mais de 20 anos, com o nome de Elo Perdido.

Coquinho em Londres

Um dia, aqui em Londres o telefone tocou. Era Coquinho que, apenas me conhecia de nome e, havia conseguido o meu telefone com um amigo comum.

Ele estava visitando a Inglaterra com uma amiga pela primeira vez.

Obviamente, convidei-o para um bate-papo. Ele ficou muito emocionado ao ver as fotos que eu tinha e, chocado ao ouvir a fita pois, segundo ele, esta fita ele nunca tinha ouvido antes. Para minha surpresa ele trazia a segunda fita que eu desconhecia. Portanto, a minha fita somada com a fita dele completava o álbum. Imediatamente juntei tudo e dei o nome de Elo Completo.

Arnaldo e a Patrulha do Espaço: Elo Completo

Coquinho, fazia o tipo: Roqueiro da Pompéia. A Pompéia foi um núcleo gerador de algumas das primeiras bandas de São Paulo. Entre elas, destacou-se Mutantes e Made in Brazil. Rolando Castello Junior da Patrulha do Espaço tinha sido o baterista do Made no primeiro álbum e Coquinho tocou com o Junior na Patrulha na sua primeira formação ainda com Arnaldo. Esta “escola” da Pompéia gerou uma geração de músicos difíceis de trabalhar, desconfiados e cheios de malandragens.

Mas, retornando à minha história, uns dois dias depois, Coquinho visitou-me novamente, desta vez ele estava acompanhado de um guitarrista negro Norte Americano chamado LeBurn. O negro era natural de Monterey na Califórnia. Para quem não sabe, foi em Monterey que aconteceu, o lendário Monterey Pop Festival perpetuado pela participação de muitas lendas do rock mundial com destaque para Janis Joplin e Jimi Hendrix. Bom, LeBurn tocava como Hendrix! O homem era realmente brilhante!

Coquinho explicou que tinha entrado num Pub, para beber uma cerveja e viu o negro sentado sozinho numa mesa tendo apenas a sua guitarra, como companhia. O inglês que o Coquinho falava era praticamente zero mas a música parece que falou mais forte e ele convenceu o negro a acompanhá-lo até minha casa.

LeBurn e eu nos identificamos imediatamente. LeBurn tinha estado tocando em Hong Kong mas, como resultado dos ingleses retornarem a ilha para o controle da China, sua visa foi cancelada. Já em Hong Kong LeBurn tinha uma namorada branca inglesa. Sabendo que, como Norte Americano, ele teria problemas com a imigração no Reino Unido, casou-se com sua namorada inglesa. Portanto, LeBurn tendo acabado de chegar no Reino Unido, sentia-se um pouco perdido.

Naquela mesma semana, Coquinho voltou para o Brasil mas ficou fascinado com a idéia de voltar e montar uma banda com LeBurn.

Convenci LeBurn à gravar, no meu estúdio, duas músicas para mostrar nos clubes e assim, arrumar um lugar para tocar. Logo LeBurn estava tocando todos os sábados num clube perto de Picadilly Circus chamado Bourbon Blues Café. No Bourbon, ele me apresentava para todo mundo como sendo seu empresário e, sempre me arrumava bebida gratuita. Era a glória! Seus shows eram contagiantes, rock como deveria ser. Era como estar na frente do próprio Hendrix. Ele tocava guitarra com os dentes ou com a guitarra nas costas e atraia a mulherada como se tivesse algum tipo de mágica. Enquanto ele tocava a mulherada subia no palco e enfiava no seu bolso bilhetinhos com o número dos seus telefones... incrível

Enquanto isto, no Brasil o Coquinho estava desesperado. Uma vez ligou-me dizendo: “Me tira daqui, não agüento mais esta merda”. Coquinho não era uma pessoa de meias palavras.

Ele achava que LeBurn ia montar uma banda e chamá-lo para tocar. LeBurn, no entanto, podia arregimentar uma banda em minutos. Ele era um músico de bar e todo mundo que ele conhecia sabia tocar os clássicos de Hendrix, James Brown, Bob Marley e outros. Ele era capaz de montar uma banda rapidinho. Ele não precisava do Coquinho.

Tive uma conversa com LeBurn e decidimos que, se Coquinho viesse para Londres eu o abrigaria, na minha casa, por 3 meses gratuitamente. LeBurn por sua vez faria o mesmo. Portanto Coquinho teria 6 meses para organizar-se e andar com suas próprias pernas.

Algum tempo depois, quando Coquinho ligou novamente eu expliquei-lhe qual era o plano. Coquinho aceitou. Hoje, em retrospectiva, penso que Coquinho achava que LeBurn ia montar uma banda especialmente para tocar com ele e que eles iriam fazer muitas tournées e ficarem famosos.

Enquanto isto, LeBurn começou ter problemas no clube. O porteiro, um branco forte não gostava do LeBurn porque o músico vivia cercado de mulheres bonitas e ele não conseguia nada. LeBurn, era só “sexo, drogas e rock’n’roll”. Ele era só festa, vivia dando risadas, não estava nem aí com ninguém e ignorava o porteiro.

Acontece que, por incrível que pareça, o porteiro foi promovido à gerente da casa. Primeira medida, colocar uma máquina de karaokê e mandar LeBurn embora.

Neste mesmo período, como combinado, Coquinho chegou em Londres e veio morar comigo. Coquinho tinha passaporte italiano e como “representante do Mercado Comum Europeu” ele não precisava de visa para entrar no Reino Unido (e toda Europa).

Meu apartamento é de um quarto só e ele teve que dormir num colchonete na sala. Na época eu era casado com uma boliviana. Não havia guerra mas, nossa relação já estava acabando. Imaginem, chegar num pais novo, sem falar a língua, ir morar na casa de uma pessoa que você praticamente desconhece e sem a privacidade do seu próprio quarto. Não era fácil. Eu sei! Eu passei por isto!

Coquinho era uma pessoa muito carente, carregando uma enorme amargura do passado. Odiava o Oswaldo do Made in Brazil e tinha a maior bronca do Junior da Patrulha. Para ele música era dinheiro e reconhecimento e, no Brasil, ele não tinha tido nada disto.

Ao mesmo tempo que dizia que Sergio Dias guitarrista dos Mutantes era um dos melhores músicos do planeta, que Sergio lhe tinha dado abrigo, reclamava que ensaiava as novas músicas com ele mas que, quando Sergio gravava chamava outros músicos.

Como disse, seu inglês era muito ruim. Fui com ele e ajudei-o à inscrever-se no Departament of Social Security para receber o seu cartão de trabalho. Apresentei-o ao Lloyds Bank para que ele pudesse abrir sua conta bancária. Assessorava-o de várias formas, como comprar a passagem do metrô, como andar na rua, fazer compras, etc.

Muito embora me esforçasse para ajudá-lo, Coquinho, às vezes, me fazia sentir como que se eu estivesse fazendo nada mais do que minha obrigação e, pior, de forma mal feita. Para Coquinho, a palavra “obrigado” era uma palavra difícil de ser pronunciada. Ele não sabia fazer uma média, era muito negativo e vivia sempre reclamando, além disso, estava muito impaciente com LeBurn que não montava uma banda.

Conforme o tempo foi passando, Coquinho foi desenvolvendo um tipo de dependência psicológica à ponto de não atravessar uma rua sem, perguntar-me antes se devia ou não.

Depois de me perguntar muitas vezes como visitar lugares eu lhe dei um guia “A to Z”, que é um livro de endereços com mapas das ruas e, mandei-o se virar.

Logo no primeiro mês, ele entrou na escola para aprender inglês e levava as aulas à sério. Mesmo assim, às vezes ele grudava e dava uma canseira danada. Depois de uns 2 meses achei que estava na hora de ele sair à luta e eu comecei à empurrá-lo à fazer as coisas por si mesmo.

Depois de 3 meses ele foi morar com LeBurn. Lá, por um lado, foi bom porque LeBurn só falava inglês, por outro foi muito ruim porque até que enfim, ele enxergou a realidade. LeBurn vivia às custas da mulher e, nunca iria montar uma banda para tocar com ele. Ele ficou muito nervoso e chateado.

O próprio LeBurn, na época, confidenciou-me: “A música, o rock é uma linguagem universal mas sem falar inglês não dá! Veja bem, o Koko toca muito direto, toca muito preciso no tempo. É muito rock. Eu sou mais Funk! Estou acostumado à tocar mais no “groove”, mais solto. Eu quero um baixista negão, os caras tem a pegada.” Quer dizer, Coquinho não tinha chance. Além do mais, o que LeBurn não disse é que a presença de palco do Coquinho cabeludo e com sua jaqueta de couro, correndo de um lado para outro e ocupando todo o palco batia de frente com a postura do LeBurn onde ele era a estrela e o resto da banda ficava sempre mais para trás no palco. LeBurn dava espaço para todo mundo e era muito respeitoso com os músicos mas, o povo já sabia como funcionava a coisa. Infelizmente Coquinho não percebeu qual era a jogada e por falta de experiência internacional ou por desconhecimento da língua, não sabia como ganhar a simpatia e fazer parte do grupo.

LeBurn com Coquinho no baixo executa a música Voodoostitious que é uma fusão das músicas Superstition (Stevie Wonder) e Voodoo Child (Jimi Hendrix). Nesta música, gravada no estúdio do Barbieri (Raw Vibe), Barbieri programou a bateria para servir como guia. A idéia, era acrescentar um bom baterista no final. Nunca aconteceu! Esta música nunca foi lançada oficialmente!

Coquinho era asmático. Vivia sempre carregando a sua bombinha. Um dia até brinquei com ele e perguntei se aquilo “dava barato”. Ele até ofereceu, perguntando seu eu queria dar uma bombeada.

Eu expliquei-lhe que como asmático, se ele não conseguisse emprego ou não pudesse trabalhar, ele teria direito à auxílio do governo. Expliquei-lhe que uma pessoa sem casa e doente, ganha pontos e passa na frente de outras pessoas esperando por uma casa do governo.

A primeira coisa a fazer, foi registrá-lo num GP (o médico do bairro). O médico então iria construir sua ficha médica e validar a sua situação.

Hide Park é um parque enorme que fica no centro de Londres. Numa das entradas, todos os dias, bem cedo, lá pelas 7 ou 8 da manhã uma associação de caridade entrega chá, café com leite e sanduíche para os mendigos. Eles além disso, cadastram as pessoas e tentam ajudá-las à saírem das ruas.

Coquinho por meses, todas as manhãs estava lá para tomar seu cafezinho. Sentava-se sempre num banco junto com os mendigos até que foi notado por um dos funcionários que o viu usando a bombinha. O funcionário perguntou onde ele dormia e ele apontou para outro banco disse: “Eu durmo lá”.

Nem preciso dizer, Coquinho foi cadastrado e devido à sua condição de saúde imediatamente enviado para um hotelzinho com café da manhã (Bed and Breakfast). Lá no hotelzinho, coincidentemente, o administrador do lugar era um brasileiro que intercedeu por ele.

Logo Coquinho tinha seu próprio apartamento não muito longe de onde vivo numa área muito boa e central. Coquinho estava feliz e convidou-me para visitar seu apartamento que, já continha todas as amenidades. Uma enorme TV de tela plana na sala e uma mobília básica mas de bom gosto. Mas, o que ele queria mostrar mesmo era seu baixo Fender Jazz Bass e seu baixo eletro/acústico Yamaha, uma verdadeira obra de arte, uma escultura.

Coquinho contou-me que ele agora tinha um “case worker”, uma pessoa responsável pelo seu caso e que esta pessoa estava dando a maior força para que ele voltasse à estudar música. Naquela semana, nós fomos num restaurante indiano onde ele insistiu em pagar-me um almoço. Se por um lado parecia que ele queria mostrar sua gratidão por outro, ele tinha que mostrar que agora ele era o “dono da bola”. Quer dizer, como disse antes, Coquinho não foi explicito. Pela sua linguagem e jeito eu achei que esta era a forma que ele encontrou para fazer o seu agradecimento. Eu preferia que ele chegasse e simplesmente dissesse “Celso obrigado pela força inicial, nunca esquecerei!”

Na verdade, demorou muitos anos para eu entender que não devemos fazer o bem esperando recompensa. Eu entendi melhor quando conversei com um amigo budista que contou-me esta história:

Um homem estava tentando alcançar o nível mais alto de evolução através dos desprendimento de tudo. Se alguém chegasse e pedisse o seus sapatos ele os tirava e dava. Durante os anos ele foi purificando-se e estáva quase lá. Era quase um santo. Um dia, ele foi parado na rua por uma pessoa que olhou bem no seu rosto e disse:

“Eu quero este seu olho direito”

“Você tem certeza?” Perguntou o “quase santo”.

“Sim! Eu quero este seu olho direito!” E estendeu a palma da mão para recebê-lo.

Então, ele dolorosamente enfiou seus dedos pelo canto do olho até entrar atrás e, o arrancou depositando o mesmo na palma da mão daquela pessoa desconhecida.

A pessoa olhou bem de perto, cheirou, fez uma careta, jogou-o no chão, pisou em cima e se foi.

O quase santo ficou tão chocado, nervoso e irado que perdeu todas as virtudes que tinha conseguido ganhar ao longo dos anos.

A moral da história é que o “ato de dar” termina quando se dá. Não devemos esperar mais nada. Se que vier alguma coisa é lucro!

Nesta vida já me decepcionei muito! Já estou quase vacinado! Mas voltando ao Coquinho, agora ele andava com as suas próprias pernas e, eu pude seguir meu caminho sem ser perturbado.

Para aqueles que já me conhecem, eu não sou do tipo de fazer visitas e ficar ligando. Eu sempre estou, dentro do meu universo de idéias, muito ocupado. Eu sempre estou fazendo alguma coisa.

Coquinho quando me ligava ou me visitava tinha esta qualidade terrível para irritar-me.

Por exemplo, para ele, nenhum artista brasileiro ou banda era boa. Para ele, nas suas palavras tudo era “merda”. Ele ouvia o primeiro acorde e já metia o pau.

Eu ficava muito desapontado porque sempre achei que só pelo fato de ser uma banda brasileira já merece um ponto à mais. É assim que a Inglaterra funciona. Primeiro as bandas inglesas e depois o resto. No Brasil a mentalidade terceiro mundista é primeiro eles depois nós. Outra coisa é que, às vezes, ele queria se equiparar à mim em termos de experiência na Inglaterra. Tinha um elemento de competição. Eu cheguei aqui em 1987, comi o pão que o diabo amassou. Joguei o meu passaporte pro espaço, fui preso duas vezes, conheci duas celas, morei em casas invadidas, eu fui rebelde anarquista, conheço todas as manhas.

O mesmo erro que ele cometia com o LeBurn ele cometia comigo. Às vezes lhe faltava humildade. Eu falo para todo mundo que aqui chega: “6 meses não é nada! Você tem que fazer um plano de, no mínimo 3 anos. Depois de 3 anos, as coisas começam fazer sentido!”

De qualquer forma, tenho que tirar o chapéu para o Coquinho. Em menos de 3 anos ele já tinha seu próprio apartamento.

Coquinho estava bem mas, faltava uma coisa muito importante; uma mulher na sua vida. Ele era um homem muito solitário, envelhecendo rápido e ganhando peso.

Enquanto isto, separei-me da boliviana e fui ao Brasil. Em São Paulo encontrei-me novamente com a garota que eu estava namorando em 1987 quando fui para a Europa. Depois de tantos anos, a velha mágica ainda estava presente! O coração bateu mais forte! Os dois meses que fiquei em São Paulo fiquei com a Andrea e ficou claro que ela era a pessoa com quem eu deveria ter ficado desde o começo.

Eu voltei para Londres e alguns meses depois Andrea me seguiu.

Logo depois da sua chegada, convidei o Coquinho para um jantar e ele estava todo meloso. Coquinho voltou para sua casa e ligou-me imediatamente:

“Cara você tem que cuidar muito bem desta mulher, você tem que levar ela para passear, comprar flores...”

“Coquinho o que é isto? Eu o interrompi e continuei:

“Olha lá Coquinho, você agora vai me ensinar como cuidar de mulher. Já fui casado duas vezes! Veja só a minha idade!” Depois desta ele, todo sem jeito, mudou de assunto.

Posso estar errado e até ter sido muito duro ou talvez até já estivesse um pouco cansado da sua personalidade negativa mas, às vezes ele era uma pessoa muito chata. Até parece que eu tenho um imã que atraí um monte de filhos adotivos.

Veja bem, tinha um amigo dele que morava em Londres. De vez em quando, ele referia-se à esta pessoa como “o meu melhor amigo”. Eu ficava muito chateado porque não foi “o melhor amigo dele” que segurou as pontas. Alimentou-o e ensinou-o todas a manhas. Fui eu!

Sempre usei computadores Mac. Mac é considerado o melhor computador para música, edição de vídeo, e gráficos em geral. Como eu trabalho com Macs e tenho todos os programas insistia para que Coquinho comprasse um. Seria ótimo para ele, pois poderia lhe dar toda a assistência técnica gratuita.

Um dia, Coquinho ligou para informar-me que tinha comprado um Mac e feito um seguro de 3 anos e comprado um roteador wireless da Apple. Eu comentei que era uma pena que ele não tinha me consultado pois o roteador da Apple custava mais que duas vezes o preço de um de outra marca e que o seguro de 3 anos era desnecessário. Sua resposta foi seca e bruta:

“Porque é que eu tenho que dar ouvido à você? Você não é Deus?”

“Porque é que você me aborrece fazendo tantas perguntas se não segue o que eu digo! Por favor, faça-me um favor, não me ligue mais!” Desliguei o telefone na cara dele.

Já percebi que as pessoas não entendem bem o meu sistema. Eu vou agüentando, agüentando... A água vai pingando no copo até que transborda. Daí, quando eu explodo as pessoas não entendem e acham que sou louco! O pior é que, eu tenho um senso de autocrítica enorme e, depois, fico sofrendo e me sentindo culpado por um tempão.

Bom, eu virei a página do Coquinho e segui minha vida. Uns dois anos depois Sergio Dias Baptista arregimentou um grupo de músicos e apresentou-se aqui em Londres num clube chamado Guanabara. Foi como se fosse uma experiência exploratória. Meses depois eles voltariam já com Arnaldo para o legendário concerto no Barbican. Eu estive no Guanabara e depois do show fui ao camarim bater um papo rápido com Sergio. Na porta, do lado de fora, estava Coquinho. Lá estava ele meio encolhido e com seu ar triste. Não havia como fugir! Eu estendi a mão e nós nos cumprimentamos de forma adulta e profissional.

Não pude deixar de pensar que ele poderia ter estado ali naquele palco tocando junto com Sergio, um músico que ele conhecia bem e que realmente tinha muito respeito. Possivelmente ele tinha pensado a mesma coisa e é por isso que parecia triste...

Algumas semanas depois o telefone tocou. Para minha surpresa era Coquinho:

“Cara reconheço que pisei na bola. Não posso viver sem sua amizade.” Falava com dificuldade e emoção.

“Koko, eu não guardo rancor. Eu também sou meio esquentado. Eu explodo e depois de 5 minutos, já estou bem de novo! Vamos bater um papo, venha tomar um café!” Foi minha resposta.

Meia hora depois ele estava aqui. Eu abri meu coração e falei tudo que eu sentia, (mais ou menos o que já escrevi aqui) ele reconheceu algumas coisas e negou outras mas, estava claro que ele tinha aprendido algumas coisas à respeito de, respeito e humildade. Por outro lado sua agressão e prepotência certamente tinha tido muito à ver com o fato de ele ter chegado aqui, na Inglaterra, com uma mão na frente e outra atrás. Ele sentia-se inferior e inseguro e por isso reagia de forma agressiva.

Agora, ele realmente não precisava provar mais nada. Ele estava na faculdade especializando-se em Jazz, tinha seu próprio espaço e forma de sobrevivência.

No entanto, sua alma ainda estava torturada. Ele tinha arrumado uma namorada brasileira. Esta mulher tinha um pedaço de terra numa praia no norte do Brasil e convenceu-o que os dois deveriam construir uma casa lá. Coquinho trabalhou duro por mais de dois anos, mandando dinheiro para ela no Brasil para que ela supervisionasse a construção. Quando a casa, de dois andares, ficou pronta ela intimou-o a ir morar com ela sabendo que Coquinho tinha planos e escola em Londres. Coquinho achava que, a casa seria para eles ficarem juntos quando fossem de férias. Na verdade, tudo indicava que ela tinha outras idéias. Ela rompeu com Coquinho e quando Coquinho pediu seu dinheiro de volta ela disse que não tinha e não iria pagar.

Coquinho, então arrumou um advogado no Brasil e processou a mulher. No dia do julgamento ela foi arrogante com o juiz e o juiz embargou a casa até que o problema fosse resolvido. Koko estava no caminho para a vitória!

Acontece que Coquinho recebia um benefício por incapacidade de trabalho (Incapacity Benefity) só que trabalhava escondido em um clube noturno na área boêmia de Camden Town. Na carta ao juiz no Brasil ele dizia que trabalhou arduamente para ajudar na construção da casa e fornecia os valores dos depósitos. Esta mulher traduziu a carta para o inglês, veio para Londres e lá pelas 8 da manhã bateu na porta do Coquinho. Ele, não estava preparado e abriu a porta. Ela então disse que se ele não parasse com o processo ela iria na polícia.

A verdade é que Coquinho já tinha metido os pés pelas mãos meses antes.

Coquinho conseguiu financiamento do governo para entrar na faculdade mas, não informou ninguém de que já estava recebendo outro benefício, o que aqui é crime. No primeiro ano da faculdade ninguém percebeu a jogada mas no segundo ele foi pego e quase preso. O juiz teve dó dele, parcelou a sua dívida e fichou-o por 3 anos. Se acontecesse mais um problema deste tipo neste período, ele iria desta vez, direto para a cadeia. O erro do Coquinho foi um erro básico de principiante, foi o erro do malandro bobo.

Bom, Coquinho estava com o rabo preso e a sua ex-namorada com a faca e o queijo na mão. Ele teve que desistir do processo. Ele perdeu quase 3 anos de trabalho (£10.000,00 libras) mais o que ele já tinha pago ao seu advogado. O pior de tudo, foi ele ter que engolir o fato de que tinha sido usado, manipulado e feito papel de idiota. Nem sempre cuidar muito bem da mulher, levar ela para passear, comprar flores, ajudar a construir a casa é suficiente. Qualquer relação sempre carrega um elemento de sorte! Sua necessidade de companhia e seu amor por esta mulher não permitiu que ele visse a realidade que estava estampada na cara dela.

Ele estava realmente ferido e precisando de um amigo.

Como homem que divorciou-se 2 vezes, eu realmente identifiquei-me com seu problema e, juntamente com ele até conversamos com um advogado inglês para saber qual eram suas chances se ele comprasse a briga. Não havia nenhuma!

Coquinho entrou em depressão e teve até que entrar nos comprimidos. Estava no último ano da faculdade e as coisas não estavam fáceis:

“Estamos estudado as harmonias do Keith Jarret está duro para cacete. Minhas costas andam doendo e não estou conseguindo mais tocar o baixo acústico”. Reclamava.

“Estes garotos da faculdade são um saco! Nós nos juntamos para fazer uma Jam e já gritam! Koko toca algo latino, uma salsa ou uma bossa-nova! Vão tomar no cu! Que é isso! Eu sou Rock! No Brasil tive que tocar até sertanejo! Nunca mais!”

Uma vez, ele chegou em casa. Estava gordo. Sentou-se todo espalhado no sofá, pegou nos seus mamilos com se fossem seios, olhou para mim, balançou-os e disse:

“Olha que merda. A gente fica velho e a primeira coisa que aparece são as tetas”.

Estou na cama assistindo a BBC e um político fala: “Vamos revisar a lista das pessoas que recebem benefícios e por todo este povo para trabalhar!” Um minuto depois meu telefone toca, é o Koko todo nervoso:

“Cara você viu, é o fim, os caras vão pegar a gente! Vai acabar com a nossa manha!” Eu respondo:

“Fica calmo, isto é tudo conversa eleitoral, você passou por uma junta médica. Você tem problema respiratório e depressão”. Koko nem escuta e continua:

“Cara dezembro vou para o Brasil, preciso de umas férias! Este ano foi fodido! Tive até que fazer uma biopsia da próstata! Cara até um troço no meu cu enfiaram! Que merda!” Ele está com a corda toda, precisa desabafar:

“Eu vou para o Brasil realizar uma fantasia. Vou me vestir de Papai Noel, já até comprei a fantasia, estou levando um monte de presentes para distribuir para meus sobrinhos maravilhosos.”

Uns dias antes do Natal, antes de viajar para o Brasil ele veio despedir-se. Eu falei:

“Koko você está um pouco gordinho, tem que se cuidar!”

“Claro! Deixa eu aproveitar este fim de ano. O ano que vem eu vou entrar num regime sério. Senão não vou conseguir arrumar mulher nenhuma!”

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Foto do Arnaldo Baptista usada para poster e capa do DVD do documentário Loki. Foto: Antonio Celso Barbieri.
Até agora, Barbieri não foi creditado pela produção do filme! Pura incompetência!

Coquinho tinha sido entrevistado e estava muito curioso para ver o documentário "Loki" produzido pelo Canal Brasil feito sobre a vida de Arnaldo Baptista. Não era para ser! Aliás, foi através dele que fui contactado pela produção do documentário e, minha foto do Arnaldo tirada em 1977 no Palácio das Convenções do Anhembi (SP) foi escolhida para o poster e capa do DVD.

Coquinho chegou ao Brasil e realizou sua fantasia. Vestiu-se de Papai Noel e entregou seus presentes. Na passagem do Ano, sozinho num quarto da casa de um amigo, sofreu um infarto fulminante e morreu. Ele só foi descoberto no dia seguinte.

Coquinho era muito gente! Muito real! Muito humano! Com seu tipo emocional bem italiano, ele era um batalhador e estava conseguindo, com muita dificuldade, construir um destino melhor para si mesmo. Com todas as suas imperfeições, para mim, Koko faz muita falta! Sinto saudades da sua personalidade triste e da sua revolta. Eu também sou um pouco assim! Talvez por ele ser sempre uma pessoa real ele sempre teve muitos amigos. Do Koko sempre sabíamos o que esperar. Apesar de temperamental e direto, ele era muito honesto e sincero. Para mim, ele é um verdadeiro ícone do Rock Brasileiro. Ainda hoje sinto sua perda.
 

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Coquinho em Londres (2008)


Homenagem ao Coquinho. Música composta e executada por Greg Holden em Londres.
Celso, sou alguém que com certeza conhece muito bem o Koko, que antes era chamado de Vado.
Concordo com vc em muitas coisas que disse sobre ele, pois realmente ele era uma pessoa muitas vezes arrogante, carente e cansada de batalhar por um sucesso que nunca chegou.
O Brasil é um país de muitos talentos, como Ronaldinhos fenômenos, Elis Reginas, Fernandas Montenegro, etc, mas infelizmente quem acaba fazendo sucesso é o Tcham.......
Muito sabiamente alguns desistem, vão trabalhar em outro ramo, formar suas famílias, outros poucos se realizam e muitos se frustram.
O Vado acreditou tanto que poderia viver de música, que quando começou a se dar conta que não seria possível, ao invêz de desistir, se frustrou, ficou triste e desanimado, pois sabia que era um músico brilhante e sem oportunidades.
Teve muitos relacionamento, todos duravam pouco, porque em primeiro lugar vinha a música e em segundo todo o resto. O fator sorte, como vc mesmo disse, também é muito importante.
Seu último relacionamento causou-lhe realmente uma grande decepção, pois apesar de seu jeito arrogante, ele era só coração e não conseguiu perceber que se tratava de uma pistoleira oportunista que segundo uma pessoa de sua própria família nos falou, vivia de pequenos golpes, tentando sempre se dar bem sugando tudo que era possível de seus muitos namorados pelo mundo afora.
O que me consola é que ela está envelhecendo, ficando feia e que vai ficar cada vez mais difícil de ela dar seus golpes pelo mundo e que este $ roubado não vai lhe trazer felicidade nunca. Tenho muita pena de pessoas como ela que não são capazes de honestamente seguir seus caminhos.
O Vado foi o filho mais querido, o sobrinho predileto, o único irmão homem de uma família com mais três irmãs mulheres.
Teve todo o amor da família, teve todas as oportunidades, não sei se vc sabe, mas ele era um grande desenhista e animador de desenho, fez curso de animação com o Maurício de Souza, mas nunca quis saber de nada que não fosse música.
Admiro sua coragem, largou a família e os amigos e foi buscar o que seria seu sonho.
Infelizmente descobriu que esta estória de que se vc quer vc consegue não é para todos. A busca de um sonho tem seu preço e para ele foi alto demais, pois ele passou a sofrer do maior e pior mau da humanidade: a solidão.
Por causa desta distância da família e dos amigos, tornou-se chato ligando muitas vezes para algumas pessoas, que ao contrário dele não estavam disponíveis.
Hoje, acho que ele foi um exemplo de perseverança. Seria hipocrisia de minha parte dizer que ela era um santo e que não tinha defeito, mas acho que nem todos conheceram realmente o tamanho de seu coração.
Celso, aproveito para te agradecer por nunca esquecer do Vado, por manter sempre viva a memória dele. Após sua morte pude contar com o carinho e a amizade de alguns de seus amigos, que hoje, são meus amigos.
Alguns deles me ligam sempre, acompanham nossa dor, nos confortam e embora talvez não saibam, fazem nos sentir pertinho dele quando conversamos e lembramos de passagens de sua vida.
Dizem que conforme o tempo passa a dor diminui, mas não é o que sinto, pois quanto mais distante de sua presença mais aumenta a saudade, as vezes penso que tive um sonho ruim e que quando acordar tudo vai voltar ao normal e ele vai me ligar para saber da criança.
Gosto muito de lembrar das gargalhadas debochadas dele. Lembro muito dele quando ele ainda não trazia esta amargura dentro do coração, quando ele ensaiava no porão de casa com o nosso amado amigo Carlini.
Lembro quando ele tocava em cada buraco que não tinha nem bilheteiro e nosso tio era quem ficava na bilheteria recebendo aquelas notas todas amassadas............
 
Quem realmente conheceu o Vado sabe que atrás daquela cara carrancuda e daquele jeito rude existia um cara com um enorme coração que não tinha vergonha de pedir desculpas e que estava sempre pronto para ajudar um amigo.
 
Um beijo a vc e a todos que de alguma forma fizeram parte da vida dele.
 
Obrigada,
Paula A. Gennari ( irmã do Koko)
 

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Paula com sua filhinha e seu irmão Oswaldo "Coquinho" Gennari em dezembro de 2008

Paula, irmã do Coquinho, abre seu coração e nos envia depoimento emocionante!

Barbieri, sou alguém que com certeza conhece muito bem o Koko, que antes era chamado de Vado.

Concordo com você em muitas coisas que disse sobre ele, pois realmente ele era uma pessoa muitas vezes arrogante, carente e cansada de batalhar por um sucesso que nunca chegou.

O Brasil é um país de muitos talentos, como Ronaldinhos fenômenos, Elis Reginas, Fernandas Montenegro, etc, mas infelizmente quem acaba fazendo sucesso é o Tcham.......

Muito sabiamente alguns desistem, vão trabalhar em outro ramo, formar suas famílias, outros poucos se realizam e muitos se frustram.

O Vado acreditou tanto que poderia viver de música, que quando começou a se dar conta que não seria possível, ao invêz de desistir, se frustrou, ficou triste e desanimado, pois sabia que era um músico brilhante e sem oportunidades.

Teve muitos relacionamentos, todos duravam pouco, porque em primeiro lugar vinha a música e em segundo todo o resto. O fator sorte, como vc mesmo disse, também é muito importante.

Seu último relacionamento causou-lhe realmente uma grande decepção, pois apesar de seu jeito arrogante, ele era só coração e não conseguiu perceber que se tratava de uma pistoleira oportunista que segundo uma pessoa de sua própria família nos falou, vivia de pequenos golpes, tentando sempre se dar bem sugando tudo que era possível de seus muitos namorados pelo mundo afora.

O que me consola é que ela está envelhecendo, ficando feia e que vai ficar cada vez mais difícil de ela dar seus golpes pelo mundo e que este $ roubado não vai lhe trazer felicidade nunca. Tenho muita pena de pessoas como ela que não são capazes de honestamente seguir seus caminhos.

O Vado foi o filho mais querido, o sobrinho predileto, o único irmão homem de uma família com mais três irmãs mulheres.

Teve todo o amor da família, teve todas as oportunidades, não sei se vc sabe, mas ele era um grande desenhista e animador de desenho, fez curso de animação com o Maurício de Souza, mas nunca quis saber de nada que não fosse música.

Admiro sua coragem, largou a família e os amigos e foi buscar o que seria seu sonho.

Infelizmente descobriu que esta estória de que se vc quer vc consegue não é para todos. A busca de um sonho tem seu preço e para ele foi alto demais, pois ele passou a sofrer do maior e pior mau da humanidade: a solidão.

Por causa desta distância da família e dos amigos, tornou-se chato ligando muitas vezes para algumas pessoas, que ao contrário dele não estavam disponíveis.

Hoje, acho que ele foi um exemplo de perseverança. Seria hipocrisia de minha parte dizer que ela era um santo e que não tinha defeito, mas acho que nem todos conheceram realmente o tamanho de seu coração.

Barbieri, aproveito para te agradecer por nunca esquecer do Vado, por manter sempre viva a memória dele. Após sua morte pude contar com o carinho e a amizade de alguns de seus amigos, que hoje, são meus amigos.

Alguns deles me ligam sempre, acompanham nossa dor, nos confortam e embora talvez não saibam, fazem nos sentir pertinho dele quando conversamos e lembramos de passagens de sua vida.

Dizem que conforme o tempo passa a dor diminui, mas não é o que sinto, pois quanto mais distante de sua presença mais aumenta a saudade, as vezes penso que tive um sonho ruim e que quando acordar tudo vai voltar ao normal e ele vai me ligar para saber da criança.

Gosto muito de lembrar das gargalhadas debochadas dele. Lembro muito dele quando ele ainda não trazia esta amargura dentro do coração, quando ele ensaiava no porão de casa com o nosso amado amigo Carlini.

Lembro quando ele tocava em cada buraco que não tinha nem bilheteiro e nosso tio era quem ficava na bilheteria recebendo aquelas notas todas amassadas............

Quem realmente conheceu o Vado sabe que atrás daquela cara carrancuda e daquele jeito rude existia um cara com um enorme coração que não tinha vergonha de pedir desculpas e que estava sempre pronto para ajudar um amigo.

Um beijo a você e a todos que de alguma forma fizeram parte da vida dele.
 
Obrigada,
Paula A. Gennari ( irmã do Koko)

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Coquinho nos anos 70. Foto de Carlos Hyra (in memoriam) fornecida por Zé Brasil

 
 

Leia matéria feita na época da sua morte (clique aqui)

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