SERGUEI: A LEILA DINIZ DO ROCK (2004)
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SERGUEI, ‘A LEILA DINIZ DO ROCK’
“Se não fosse o rock’n’roll, estava caquético por aí.” (Serguei)
“Sorrir não é rock’n’roll!”
17 abr. / 2004 • “Numa festa em San Francisco, Janis tinha levado um ator de cinema e cantor, Kris Kristofferson, aliás muito bom cantor; fomos à festa e Jim Morrison estava lá; foi ele quem convidou Janis. (...)
Durante a festa, os dois muito doidos, ele falou: ‘Hey you! Venha cá!’ E Janis, ajoelhando-se, disse: ‘O que é, príncipe?’ Ele aproveitou e segurou a cabeça dela entre as suas pernas, e apertou. Realmente a coisa ficou preta, pois ele não largava mais a cabeça dela dali. E aí o pessoal da festa começou a ficar assustado e mandou que ele parasse, e Morrison não parou. Ficou histérico, enquanto Janis batia em suas pernas. Quando ele a soltou, estava vermelha e roxeada.” (Serguei)
Dizem que Janis se vingaria mais tarde batendo nele com uma garrafa de vinho em sua cabeça na saída da festa.
“Sou extremamente sensível. Acho que as pessoas ainda são fascinadas por rock, e rock é uma forma de ver o mundo. Não sou o dono da verdade, mas nesses anos todos aprendi muitas coisas. Fui ovacionado, vaiado, e nunca ganhei dinheiro.
Hoje não faço concessão, porque toda vez que fiz me envergonhei. Reconheço, por exemplo, que minha discografia é deplorável.” (Serguei)
Appearances on TV
Sérgio Augusto Bustamante, seu nome civil, nasceu em novembro de 1933. Serguei é filho único de um alto técnico da IBM Corporation, com High-School nos Estados Unidos. Foi demitido por ter feito strip-tease em pleno voo da Varig, direto para a TV Globo.
Em seu programa de estreia, Serguei errou a marcação e saiu do palco pela porta errada, e esbarrou em Roberto Carlos, quase levando a nocaute o Rei da Jovem Guarda.
Lábios de silicone, franja de Keith Richards, figurino absurdo, saltos plataforma, lentes de contato e perucas azuis ou vermelhas. Óculos espelhados escondem as pupilas de gato. Maquiado, requebrando selvagemente, forte apelo sexual. Esse apetite, ainda em 1966, no programa do Rei da Jovem Guarda. Visual que só se via na Greenwich Village ou na Carnaby Street.
Ao assisti-lo, Arnaldo disse: “Very strange.” Sérgio confirmou: “Very strange!”
O mais radical dos roqueiros brasileiros, um Anjo Caído? Bissexual antes da androgenia, resistente sim por mais de cinco décadas!
Em 1973, no programa do Flávio Cavalcanti, ganhou o Troféu Policarpo de Pior Cantor do Ano, ao lado de Gal Costa.
Se a mídia nutria estima por Serguei, os militares o tachavam de inconveniente.
No meio dos 70s, Serguei reapareceu, havia retornado de NYC.
Ouvíamos muito um disco pirata chamado JAM 68, gravado no The Scene, em NY, com os falecidos Jimi Hendrix e Johnny Winter nas guitarras, Jim Morrison nos vocais e Buddy Miles na bateria. Serguei da plateia acompanhando... – toda vez que olhava as efígies de Hendrix/Morrison/Brian Jones, eu pensava em Serguei, mas agora também penso em Leila Diniz.
Garrafada de Jack Daniels na cabeça de Jim Morrison, e ele vai te empurrar um ácido goela abaixo, se você, Serguei, não controlar esse tique! Avisou a amiga Janis Joplin. A calça índigo blue mandada para a lavanderia pela Dona Maria, mãe do roqueiro, e os versos e desenhos da viagem com Janis água abaixo.
De maiô nos cabarés da Praça Mauá e Copacabana, entrava com uma pá na mão, gritando: “e agora uma pá de mulatas”, para a entrada das moças.
De 1973 a 1975, trabalhou na Centaurus Production, uma empresa que o escalava para shows. Foi o primeiro roqueiro brasileiro a cantar para adolescentes americanos. Recortes de jornais dos EUA documentaram as suas passagens, também por boates, cantando de Elvis Presley a Chuck Berry.
“Iggy! Iggy! Iggy!”
Quem estava gritando era Andy Warhol, e Serguei respondeu que não conhecia nenhum Iggy.
Em 1977/78, Serguei Samba Salsa se apresentava em bailes de subúrbios do Rio.
Isso o deixou deprimido, e ele voou para os Estados Unidos. Voltou em 1981, pois seu pai estava morrendo, aqui no Rio.
Um ano depois, shows no Rock Voador e no Noites Cariocas. Com apoio da banda de Celso Blues Boy, tocava “Move over”, “Instant Karma”. E até uma versão de “O Bom”, de Eduardo Araújo, dos seus primórdios da Jovem Guarda. Serguei se viu novamente na moda.
No Saque do Rock, ele se apresentou com uma banda nova, a Cerebelo.
Durante essa década, seu repertório incluía “Tropicália” e “Brasil”, a eterna “Summertime”, além de outros clássicos “Cry me a river”, “Satisfaction”, “Help!”, “Maybe”, e “Fascination”.
Serguei sempre conseguiu ser mais feroz cantando originais em inglês. Em 1983, sairia um compacto dele, que nunca rolou – proibido pela Censura. Ninguém por isso ouviu “Mamãe não diga nada ao papai”, a não ser em alguns shows.
Víamos Serguei na TV. Me ligava na sua plástica. Seu clássico era a versão que fazia para “Sympathy for the devil”. Irremediavelmente alguém perguntava: “Tá dublando?” E eu Mário respondia: “Pegou o espírito da coisa?...”
No final dos 80s, perguntei ao Zé da Gaita pelo Serguei: “Tá lá em Saquarema...”
Saquei o preconceito.
1990. Circo Voador. Cinco anos sem se apresentar no Rio, Serguei decidiu voltar à ribalta. Enquanto o público aguardava Luiz Melodia, Serguei deu o seu recado. Estava lançada a sua candidatura ao Rock in Rio. Naquela apresentação, ele já sabia o que faria no maior festival do mundo.
No final desse ano, em entrevista gigante ao Pasquim, ele revelou a outro decano, o cartunista Jaguar, que não gosta de veado, e que nunca teve crise existencial, porque isso seria coisa de viado.
Em janeiro de 1991, Serguei conquistou o público, fez o que prometeu naquela noite, com Luiz Melodia. Ele pediu para a plateia se sentar antes de cantar “Summertime”, e, no final, desceu de microfone em punho para cantar no gramado.
– Foi emocionante! Não foi vaiado pelos metaleiros, e ainda saiu no lucro, gravando o LP Serguei – BMG – 1991 – não o definitivo...
Na terceira edição do Rock in Rio, Serguei surgiu vestido de ursinho Blau-Blau – ao lado do ex-Absyntho Sylvinho.
No ano de 2000, candidato a vereador em Saquarema pelo Partido Liberal, recebeu apenas nove votos. Ele perdeu pela segunda vez consecutiva em candidatura política – em 1996 teve 246. Sua bandeira, como no outro pleito e em toda a sua carreira, foi “Rock’n’Roll Para Todos”.
No aniversário da Baratos Afins, em maio de 2003, Serguei foi o grande homenageado da noite, e os meninos da Mákina du Tempo – Célio, Bruno, Anderson, Lya e Rockdrigo – injetaram pujança, mas também cobraram um desempenho mais rocker de Serguei, que finalmente se divertiu e sentiu como se estivesse de volta aos 60s. Nessa noite, Serguei deixou mais uma vez patente que só abandonará o rock’n’roll quando não mais puder cantar. Ele se empenha em evitar a autocomiseração, que foi coisa que aprendeu com Janis Joplin, e que orgulhosamente ajudou a provocar mudanças nos costumes, ao lado de estrela como Leila Diniz.
Luís Carlos Calanca me falou da felicidade e da facilidade de se trabalhar com Lanny Gordin e Serguei, e quem sabe dessa feita o disco Serguei Sings Joplin não sai de vez?
foto: Marcos Ramos
Rock’n’Roll, A Vida de Serguei
Botafogo-RJ. Em maio último, durante o seu show de curta duração para a grife Cavalera, no Rio Sul, Serguei arrasou, com a mão no pau e a língua em ato erótico, em interpretações rasgadas de “Love of my Life” e “Satisfaction”. O público adorou os seus requebros, a irreverência e o visual setentista: lentes de contato azul-piscina, calça de couro, luvas, tatuagens por todo o corpo e unhas pintadas.
Subiu na mesa e gritou: “Rock’n’Roll, minha vida!” Serguei também sapecou um festival de bicotas, carimbando de Preta Gil a Sidney Magal.
Em maio de 2013, fomos a Luziânia-GO, a 60 km de Brasília. A van branca estacionou, e logo uma pequena multidão se aglomerou na porta. Tablets filmavam, fãs pediam autógrafos. A facção se dispersou. E Serguei ficou sozinho. Eu então lhe disse: ‘Oi, Sérgio!’ E ele: ‘Eu pensei que o show fosse em Brasília...’ Peguei em sua mão e o fui conduzindo pelo asfalto, na frente dos carros, e como um bom escoteiro fiz sinal para pararem. Descemos as escadas e entrei no camarim, batendo palmas. Logo todos estavam batendo palmas também. De fininho, deixei Serguei... e saí fora. Mais tarde, falaram meu nome no microfone do evento. O rock de Brasília sempre andou de mãos dadas, mas aquela noite foi especial. Acho que o ápice do movimento, i.e., quando ficamos mais juntos e fortes. Havia muita coisa paralela acontecendo, e o programa de televisão independente O Libertário cobria as noites do rock. Outros independentes rodavam um filme, sobre a banda Stoner Babe. E o público de rock era o mais quente, jovem e diversificado, que eu já assistira. Luziânia fervia, e no Sarau Psicodélico nós coroamos O Anjo Maldito, nascido Sérgio Augusto Bustamante.
NA ESTRADA PARA LUZIÂNIA, PARA VER SERGUEI
Lendas
• Em 1966, na Gravadora Equipe, Ed Lincoln produziu o compacto “As alucinações de Serguei” / “Eu não volto mais” (parceria do organista e Rei dos Bailes Ed Lincoln com Orlandivo). Ed Lincoln disse que Serguei não era cantor, mas mesmo assim teria uma carreira meteórica.
• “Cantor para mim é Maria Callas. Eu sou um intérprete, e um entertainer.” “Há 40 anos divirto as pessoas” – disse Serguei.
• A Grande jogada e a Margarida, LP-coletânea com sete artistas da gravadora Continental, em 1968. São eles Sérgio Murillo, Fernando Pereira, Serguei, Milena, Cleópatra, Stelinha e Didier. Serguei interpreta “Maria Antonieta sem bolinhos” (Antônio Cláudio / Romeu Fossati Filho) e “Eu sou psicodélico” (Carlos Cruz / Emanoel Rodrigues). A sua discografia se completa com nove compactos. Seu primeiro CD foi a coletânea Serguei, lançada ao final de 2002 pelo selo paulista Baratos Afins.
• Em março de 1986, o produtor José Accioly, da gravadora Top Tape, mandou um telegrama para Serguei. Só que ninguém sabia o endereço do cantor. E mais uma vez o prometido e aguardado Serguei Sings Joplin ficou nas expectativas...
Bibliografia
Serguei, um Anjo Maldito, de João Henrique Schiller, lançado em 1998.
– É meu cartão de visitas, assim as pessoas podem saber mais sobre mim.