Ex-baterista de James Brown, um dos mais sampleados do mundo, busca reconhecimento
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Clyde Stubblefield tem uma mão esquerda precisa como a de nenhum outro baterista do século 20. Ele definiu o funk
Ex-baterista de James Brown, um dos mais sampleados do mundo, busca reconhecimento
Plantão | Publicada em 30/03/2011 às 08h40m
Isso porque ele participou de Funky Drummer, um single de James Brown de 1970, cujo solo de bateria de 20 segundos tornou-se, segundo a maioria das pesquisas, o mais sampleado de todos os tempos. Ele foi usado centenas de vezes, tornando-se parte do DNA do hip-hop e, no final de 1980 e início dos anos 90, era obrigatório para qualquer um que quisesse pegar um pouco desse ritmo (daí o Kenny G.).
Mas o nome de Stubblefield quase caiu pelas frestas da história. Os primeiros rappers quase nunca davam crédito ou pagavam pelos samples e, se dessem, o dinheiro iria para Brown, que assina como compositor da música.
— Toda minha vida eu pensei sobre o meu dinheiro - disse Stubblefield em meio a uma risada. Ele está com 67 anos e ainda toca bateria.
Um novo projeto tenta pegar parte desses royalties para ele. Stubblefield foi entrevistado para o documentário "Copyright criminals", de Benjamin Franzen e McLeod Kembrew, sobre as zonas cinzentas da lei de direitos autorais da música. Para a edição especial em DVD, chamada "Funky Drummer Edition", lançada nesta terça nos EUA, ele gravou uma série de batidas de bateria prontas para serem sampleadas. Preenchendo um formulário de licenciamento básico, qualquer pessoa disposta a pagar royalties de 15% - e dar o devido crédito - pode usar as bases de um dos arquitetos da percussão moderna.
" Teve gente mais rápida e gente mais forte, mas Clyde Stubblefield tem uma mão esquerda precisa como a de nenhum outro baterista do século 20. Ele definiu o funk "
— Teve gente mais rápida e gente mais forte, mas Clyde Stubblefield tem uma mão esquerda precisa como a de nenhum outro baterista do século 20 - disse Ahmir Thompson, conhecido como Questlove of the Roots, ao se preparar para tocar "Fight the Power", com ele e Chuck D, do Public Enemy, no programa "Late Night With Jimmy Fallon" - Ele definiu o funk.
Nascido em Chattanooga, Tennessee, Stubblefield foi inspirado pelos ritmos industriais das fábricas e trens em torno de sua casa e começou a carreira tocando em bandas regionais. Um dia, em 1965, Brown viu-o em um clube em Macon, Geórgia, e contratou-o no ato. Durante o ano de 1971, Stubblefield foi um dos principais bateristas de Brown. Em canções como Cold Sweat e Mother Popcorn, ele aperfeiçoou um estilo de toque leve com síncopes conhecido como "notas fantasmas".
— Sua notas suaves definiram uma geração - acrescentou Thompson.
Era de se esperar que Stubblefield tivesse alcançado a fama ou, pelo menos, uma lucrativa carreira em estúdio. Mas nos últimos 40 anos ele se manteve satisfeito em Madison, Wisconsin, tocando com seu próprio grupo e, desde o início de 1990, no programa de rádio pública "Whad'Ya Michael Feldman Know?". Alan Leeds, que foi diretor da turnê de Brown quando Stubblefield tocava na banda, lembra dele como um músico talentoso, mas pouco ambicioso.
— Ele era um cara divertido - disse Leeds - Mas se alguém fosse se atrasar para a passagem de som, seria Clyde.
A tecnologia e as convenções do sampling - isolar um trecho musical a partir de uma gravação e reutilizá-lo em outra - também impediram um maior reconhecimento do artista. Funky Drummer não aparece em nenhum álbum até 1986, quando foi incluída em "In the Jungle Groove", uma coletânea de Brown amplamente reutilizada por produtores e samplers. A falta de reconhecimento tem incomodado Stubblefield mais do que a falta de "royalties".
— As pessoas usam os meus padrões de bateria em muitas dessas canções - reclama - Eles nunca me deram crédito, nunca me pagaram. Isso não me incomoda ou perturba, mas acho que é desrespeitoso não pagar as pessoas pelo que elas usam.
A versão de "Funky Drummer Edition" em "Copyright criminals" traz a batida de Stubblefield tanto em vinil quanto em formato electrônico. Além de possíveis licenciamentos, ele também receberá um pequeno valor em royalties pelo DVD, disse McLeod, um professor adjunto de comunicação da Universidade de Iowa. Como em seus dias com Brown, Stubblefield foi pago pela sessão de gravação.
Álbuns com batidas prontas não são novidade no mundo do hip-hop. O próprio Stubblefield fez quatro ou cinco coleções desse tipo, mas nem todos lhe pagaram os royalties.
— Eles nos enviaram a papelada, mas não os cheques - disse, referindo-se a um desses discos encomendado por uma empresa japonesa.
" Muita gente deveria ter recebido mais crédito de James Brown, mas ele só falava sobre si mesmo "
Para Stubblefield, a falta de crédito não foi um problema apenas com DJs e produtores. Também se tornou um ponto de discórdia com Brown, que ficou famoso pela rigidez com os funcionários - ele multava os músicos que errassem uma batida ou usassem sapatos gastos - e por não dar créditos aos colegas.
— Muita gente deveria ter recebido mais crédito de James Brown - critica - Mas ele só falava sobre si mesmo. Ele podia chamar o seu nome durante uma música ou algo assim, mas é só isso.
Isto levanta a questão se Stubblefield viola algum direito de Brown ao gravar batidas usadas quando estava na banda. McLeod renega essa sugestão, dizendo que as batidas não são idênticas e que os registros originais dos direitos autorais de músicas de Brown mencionam melodia e letras, mas não o ritmo.
— Isso é diferente de comprar um pacote de amostras para o GarageBand - disse ele, referindo-se ao programa da Apple de gravação em casa - Você sabe o que está ouvindo e que vai samplear o trabalho genial de um músico incrível. É Clyde Stubblefield.