BUTTHOLE SURFERS: BARBIERI COBRE SHOW EM LONDRES! (1996)
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Gibby Hynes vocalsita da banda Butthole Surfers ao megafone
Butthole Surfers
Barbieri faz cobertura de show em 1996
Só pela ousadia na escolha do nome da banda, pode-se imediatamente ter uma idéia do alto grau de ironia dos seus integrantes. Paul Leary e Gibby Haynes, os fundadores do “Surfistas do cu” (embora Butthole possa ser entendido também como um xingamento tipo “cabeça de bagre”), conseguiram persistir com seu humor sardônico por mais de quinze anos e treze álbuns. Seu novo trabalho, divertidamente chamado Electriclarryland é obviamente um trocadilho com o nome do lendário estúdio de Jimmi Hendrix, o Electric Lady Land.
Butthole Surfers - Capa do álbum Electriclarryland (1996)
O som da banda traz uma sonoridade lisérgica com uma mistura de estilos e texturas, mas sem nunca perder os rumos do que nós conhecemos por rock. O álbum Electriclarryland é o segundo lançamento da banda nos EUA pelo selo Capitol (Emi no Brasil). O produtor foi Steve Thompson, que já produziu gente como Metallica, Soundgarden e Anthrax, juntamente com o próprio Paul Leary, que também já produziu The Meat Puppets, Supersuckers e Sublime. Cabe lembrar que “Independent Worm Saloon” (93), seu primeiro lançamento pela Capitol, foi produzido pelo mestre John Paul Jones (Led Zeppelin).
Entre as gemas preciosas encontradas em Electriclarryland temos as punkosas Birds, Ulcer Breackout e L.A. Passando pela sensacional e ácida Pepper, onde eles tiram um barato do novo dandi da crítica musical do momento, Beck, fazendo um rip-off do mesmo.
Leary (guitarra) e Gibby (vocais) conheceram-se em 77 num colégio do Texas, onde ambos estudavam contabilidade. Como esta dupla nem pensava em trabalhar, resolveram formar uma banda. Primeiro chamaram a banda de Dick Clark 5, e depois de cada show, indecisos, mudavam de nome. Veja só a listinha: The Dick Gas 5, Vodka Family Winstons, Nine Foot Worm Makes Own Food, Ashtray Baby Heads entre outros. No outono de 81 quando foram tocar num clube usando o nome Bleeding Skulls, por engano foram apresentados como The Butthole Surfers, o nome de uma de suas música. Naquela noite eles ganharam cerca de cento e cinqüenta dólares, e após este acontecimento resolveram adotar o nome Butthole Surfers pois acharam que o nome deu sorte este e poderia trazer mais dinheiro.
O demente vocalista Gibby veio tornar-se um pouco mais conhecido no cenário musical ao fazer os vocais da música Jesus Builty My Hot Rod para o já consagrado Ministry. Nesta música sua voz emana uma letra ininteligível mas que combinou perfeitamente com a barreira sonora criada por Al Jourgensen e Paul Barker.
O show – Forum (Londres 30/05/96)
O Forum, uma casa de shows perto do bairro boêmio de Candem Town, estava lotado. A impressão que eu tive foi que o Butthole Surfers trouxe consigo o verão norte americano, pois o calor dentro era extremamente sufocante.
Nunca tinha visto um público tão difícil de ser categorizado. Os carecas representavam uns 25% da galera presente, só que não pertenciam ao movimento Skinhead, pois suas carecas não estava brilhando e obviamente não tinham sido polidas com os mesmo trapos que os Skinheads usam para polir seus coturnos imaculados. ?Também não eram membros da comunidade gay, pois não usavam os famosos bigodões estilo Freddie Mercury. Para surpresa pareciam pessoas normais ou apenas velhos punks. Os adolescentes de menos de vinte anos de idade eram minoria, pois a faixa etária presente estava mais beirando os 30 anos. Os cabeludos presentes estavam num visual mais hippie, sem aquela aparência metal.
Não obstante, inexplicavelmente, um clima punk rolava no ar. Muitos homens numa faixa mais velha sem camisa, expunham suas tatuagens antigas mal acabadas no bom e velho estilo punk. O povo aglomerava-se de forma muito tumultuada na frente do palco cuja estrutura que sustentava a iluminação, tinha sido montada propositadamente de forma inclinada, dando a impressão que o palco estava torto, reforçando a idéia de desequilíbrio e instabilidade.
Eu, usando meu passe de fotógrafo entrei no “pit”, que era um corredorzinho na frente do palco, isolado da galera insana por uma grade baixa. ??
Juro que da próxima vez que for num show deste tipo, faço um seguro de vida! ??Imaginem só o drama: Neste corredor os fotógrafos eram alvejados por latas, copos cheios de cerveja ou "outra coisa pior", pontas de cigarro acesas, cusparadas e tudo mais que vocês podem imaginar. Se a nossa situação já não fosse ruim o suficiente, tinhamos que dividir aquele estreito corredor com os seguranças – e haja cotoveladas! As pessoas que eram expelidas da platéia acabavam por vir parar em cima de nós. Cruzes!
Enfim o show começa com Gibby devolvendo ao público tudo o que fora arremessado ao palco, e surpresa, nós também fomos alvos de suas devoluções. ??Teve um momento que, quando agachei-me protegendo minha cabeça com o braço contra uma latada do Gibby, olhei para baixo e vi, já no chão, aos meus pés, uma fotógrafa agachadinha e tentando se proteger. Ela olhou para mim com uma carinha surpreendida e gritou sorrindo: Rock’n’roll! Apesar da suposta violência, a platéia respondia á cada acorde, num delírio tribal.
Eu nunca tinha visto um vocalista fazer tanto uso de um digital sampler conhecido como Pitch Shifter Delay como o Gibby. Ao contrário do que se poderia esperar, ele não usava o efeito para transpor o tom da sua voz para mais grave, como tantas bandas de Rock Industrial fazem. O aparelho estava montado num rack perto do seu microfone, ele segurava sua voz em “loop” em certas palavras que, ele ia repetindo e acrescentando, tudo ao vivo. Gibby terminou muitas músicas deste modo, ás vezes acelerando a velocidade ao mesmo tempo que mudava o tom para o agudo, dando a impressão de que havia um disco voador levantando vôo no palco (no álbum o melhor exemplo está em “My Brothers wife”). Obviamente a banda optou por detonar sucessos antigos junto com as novas músicas, que aliás, nunca será demais elogiar.
Só para terminar, no começo do show, o som estava muito sujo e saturado, mas conforme fui ficando amortecido pelos efeitos do álcool, o som começou a ficar cada vez mais rico conquistando-me pouco a pouco. Ou seja, descobri que o som do Butthole Surfers combina perfeitamente com a minha vodka preferida :-)
Gibby Hynes
Esta matéria é de autoria do Barbieri e foi originalmente escrita para a Revista Dynamite, tendo sido publicada na sua edição de agosto/setembo 1996.
Copy Desk Andrea Falcão
Diagramação, Revisão e Atualização A. C. Barbieri |