Beatles: pelos bosques da cultura pop
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Porto Literário
The Beatles
Pelos bosques da cultura pop
Texto publicado em 11 de Agosto de 2011 - 01h47
por Alessandro Atanes * http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=51931
Ao som de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e “Magical Mistery Tour”
Lado A
Edição especial publicada pela Rolling Stone agora em 2011 reúne descrições de 100 melhores canções dos Beatles. São descrições do processo de gravação enquanto artesanato de estúdio.
Na apresentação, o compositor Elvis Costelo afirma que “antes dos Beatles, você tinha caras vestindo jalecos de laboratório fazendo experimentos de gravação, mas não tinha roqueiros desbalanceando as coisas, como um vocal baixo a frente de uma faixa alta como Strawberry Fields Forever. É impossível mensurar a quantidade de possibilidades que estas inovações abriram a todos os músicos, da Motown a Jimi Hendrix”.
A número 1 é A Day in the Life, que encerra o “Sgt. Pepper”, gravada em cinco sessões entre janeiro e fevereiro de 1967. É aquela do John Lennon que começa com “I read the News today, oh, boy...” [“Eu li as notícias hoje, ah, menino...”], com a parte de Paul McCartney no meio. A revista conta como isso ocorreu:
... os Beatles criaram um álbum de visões psicodélicas; surgindo no fim do disco, A Day in the Life soa como se o mundo todo estivesse desmoronando. Lennon canta sobre a morte e horror em seu vocal mais espectral – uma voz, conforme disse o produtor George Martin em 1982, “que dá frio na espinha”.
Lado B
Mais do que um cara de jaleco fazendo experiências, o destino quis que desde o início George Martin fosse o responsável pela sonoridade do grupo. Isso já é bem conhecido. Ele ouvia as vanguardas musicais, assim como depois os próprios Beatles, e acompanhava o trabalho de compositores como Stockhausen e a Neue Musik ou John Cage. Ele abriu as portas para que surgissem alguns dos melhores momentos da música do século XX.
A Day in the Life, para a revista, é o ponto máximo de um processo que começa com algumas inovações vocais em I Want to Hold your Hand (1963), se refina a partir do álbum “Rubber Soul” (1965), continua se desenvolvendo em “Revolver” (1966) e chega ao ápice em “Sgt. Pepper”, nas canções do filme “Magical Mistery Tour”, ambos de 1967, e nos compactos do mesmo ano Penny Lane e All You Need is Love, entre outras.
A revista traz uma série destas influências eruditas ou de técnicas de gravação no trabalho do grupo:
A “aura de atemporalidade surreal” de Strawberry Fields Forever é fruto da união da colagem de duas partes tiradas de tomadas diversas em tons e velocidades diferentes. O efeito, que casa com as memórias da infância narradas na canção, ocorre porque uma é desacelerada e outra é acelerada. Também o solo invertido, a cítara e o vocal com efeitos de Tomorrow Never Knows; as seções de metais e arranjos dos álbuns mencionados acima (o par de quarteto de cordas de Eleanor Rigby, por exemplo); as colagens de Revolution nº 9.
Pós Escrito
Esse pequeno passeio sem novidades pelo bosque musical dos Beatles é fruto da releitura de “Seis passeios pelos bosques da ficção”, as conferências de Umberto Eco em que trata da natureza da ficção e seus efeitos na vida das pessoas. John, Paul, George e Ringo liam o que acontecia artísticamente a sua volta e alimentaram sua música pelo que mais havia de inventivo em seu momento.
Sobre o a ligação dos Beatles com a vanguarda e o cosmopolitismo, a coluna Porto Literário publicou também Os portos e uma viagem de iniciação do rock’n roll.
* Alessandro Atanes, jornalista, é mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Servidor público de Cubatão, atua na assessoria de imprensa da prefeitura do município.
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