Bill Graham acervo será aberto ao público
- Details
- Hits: 3800
Bill Graham acervo será aberto ao público
(Por Tiago Faria e Vítor Rangel - Whiplash)
18 jul. / 2006 - O maior acervo independente de Rock e Pop, figurando estrelas do Rock que vão de JIMI HENDRIX a ELVIS COSTELLO e de JANIS JOPLIN a MADONNA, está para ser aberto pela primeira vez! São mais de 100.000 músicas gravadas e filmadas entre 1966 e 1991 por Bill Graham, o promotor de shows americano, que ficaram paradas em um porão em São Francisco por mais de 10 anos após sua morte.
Mais tarde o acervo foi comprado por Bill Sagan, executivo de uma companhia de saúde que virou produtor, e que agora lançou negociações para conseguir a permissão das estrelas para lançar suas músicas. No final de semana passado ele estava voando para Londres para conversas com advogados representando roqueiros britânicos como LED ZEPPELIN e THE WHO.
O acervo contém filmagens jamais vistas de performances legendárias pelo THE WHO em 1973, quando o baterista Keith Moon teve um colapso e um estudante foi pego da platéia para terminar o show, e o último show do SEX PISTOLS, em 1978 (Nota do Editor: talvez a intenção da matéria original seja dizer que este material nunca foi lançado oficialmente, pois versões 'piratas' - incluindo o show do Led mencionado abaixo - já circulam há muitos anos, e de acordo com a lenda, foram 'passadas adiante' por membros da equipe de Bill).
Têm performances desconhecidas do LED ZEPPELIN, como uma versão de Killin' Floor de HOWLIN' WOLF, que mais tarde se transformou na canção The Lemon Song, e um Elton John de cabelo bagunçado, cantando sua balada Your song, de 1970.
Vários momentos gloriosos talvez devessem ser esquecidos, como JOE COCKER vomitando no palco e Madonna batendo em sua própria cara com um colar grosso. Todos esses momentos foram capturados pelos fotógrafos ou câmeras de Graham.
Graham, nascido Wolfgang Grajonca na parte nazista de Berlin, foi descrito por JANIS JOPLIN como o primeiro promotor de shows a respeitar os artistas e dá-los o que queriam, tanto no palco quanto fora deste.
Como resultado, artistas normalmente desconfiados, como FRANK ZAPPA e BOB DYLAN assinaram contratos que o permitiam gravar seus shows com termos que Graham gerenciava em Nova Iorque ou na Califórnia.
Graham guardava tudo, desde canhotos de ingressos e crachás de acesso aos camarins a pôsteres de JEFFERSON AIRPLANE e camisetas do Duran Duran.
Quando Graham morreu em um acidente de helicóptero em 1991, ele deixou para trás um porão com ar condicionado contendo inúmeros artefatos. Há três anos seus herdeiros legais venderam-no por 2,9 milhões de libras esterlinas a Sagan, um fã de LED ZEPPELIN natural de Minnesota, que brincou que só comprou a coleção por causa dos objetos do grupo. Ele disputou a compra com ninguém menos que Paul Allen, o bilionário da Microsoft.
Agora, tendo gasto meses vasculhando caixas suficientes para encher 25 caminhões de 12 metros quando ele moveu o acervo para um lugar mais seguro, Sagan estima que a compra deva valer mais de 50 milhões de libras esterlinas.
Sagan, aos 56 anos de idade, já começou a recuperar seu investimendo vendendo alguns pôsteres e ingressos através de um site chamado “Cofre de Wolfgang” (Wolfgang’s Vault - http://www.wolfgangsvault.com/). Mas ele acredita que os mais de 7.000 shows gravados em fitas de áudio e vídeo são o bem mais valioso de tudo.
Em fevereiro Sagan começou a colher a reação dos fãs de rock ao mostrar gravações ao vivo de BOB MARLEY, BRUCE SPRINGSTEEN, e CHUCK BERRY em sua estação de rádio na Internet. Ele teve sua caixa de entrada inundada de e-mails pedindo por mais.
Alguns dos shows, como o de ARETHA FRANKLIN no Fillmore West em 1971, foram oficialmente lançados, mesmo em forma um pouco ruim, e outros podem ser encontrados em versões piratas. Mas a maior parte das músicas só foi ouvida por aqueles que tiveram sorte o suficiente para estarem lá naquele momento.
Jimmy Page, do LED ZEPPELIN, que gastou anos implorando por gravações piratas de fãs para que pudesse compilar a história da banda em 2003, é um forte candidato a vasculhar o acervo. “Foi gravado um show em São Francisco que Jimmy lembra como tendo sido um grande momento: que fã de Led Zeppelin não gostaria de ouvir isto?”, disse uma fonte da Atlantic Records na semana passada.
Link:
http://www.guitarvibe.com/2006/12/wolfgangs_vault.html
O livro obrigatório número 1 sobre rock
Sabe o “Mate-me Por Favor”? Esqueça. “Hammer of Gods”? Deixe de lado. “Come As You Are”? Aposente. O livro definitivo sobre rock and roll atende pelo nome de “Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock”, escrito a quatro mãos pelo próprio Graham e por Robert Greenfield. Agora, cacete, quem é esse tal de Bill Graham, pergunta o leitor esperto antes de “dar um google”. Vamos lá: Bill Graham foi um dos produtores responsáveis em transformar o rock em um negócio lucrativo. Bem possível que sem ele o rock ainda estivesse na idade da pedra e, hoje em dia, você estivesse ouvindo jazz, bebop ou quetais ao invés de guitarras. O livro segue o mesmo formato do citado “Mate-me Por Favor”, acumulando centenas de entrevistas que se sucedem uma após a outra em um trabalho primoroso de edição que procura esmiuçar o assunto do capítulo ouvindo todas as partes da história, com exceção, óbvia, aos mártires do rock que partiram cedo demais. Jim Morrison (que faltou a um show produzido por Graham para assistir – três vezes – ao filme “Casablanca”), Jimi Hendrix (que tocou fogo dezenas de vezes em sua guitarra na frente de Graham) e Janis Joplin (que desabafou para o amigo: “os caras da minha banda estão lá se divertindo com as garotas. E o que uma mulher faz após um show?”) estrelam passagens antológicas. A história de Bill Graham, porém, começa muito antes dele fundar o Fillmore, em São Francisco. Filho de russos, criado na Alemanha, Graham deixou Berlim aos oito anos no auge da caça aos judeus promovida pelo exército de Hitler. Sua mãe deixou que um padre o levasse primeiro para Paris, depois para Barcelona, e então para os Estados Unidos, enquanto tentava salvar a vida de suas três irmãs. Uma delas acabou indo para Auschwitz, e saiu de lá viva em 1945. As outras acabaram tentando a sorte em países vizinhos enquanto a matriarca morreu sufocada com gás em um ônibus a caminho do campo de concentração. Toda primeira parte do livro traz a família Graham remoendo lembranças da guerra. São socos no estômago atrás de socos no estômago do leitor. Nos Estados Unidos, Bill primeiro vê a Estatua da Liberdade, depois é adotado por uma família, vira garçom e segue um espiral de acontecimentos até descobrir sua grande vocação: produtor de shows. É aqui que o livro começa a se tornar obrigatório para fãs de rock castigados pelo fustigante e excelente começo do livro. Bill Graham torna-se um grande produtor dono de badaladas casas de shows em São Francisco e Nova York. Passa a se relacionar com todos os principais nomes do rock no mundo e muitos deles rendem passagens clássicas em “Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock”. Não a toa, o prefácio é escrito por Pete Townshend, apresentado no final como “guitarrista principal do The Who, uma ótima banda do distrito de Shepherds Bush, em Londres”. Para se ter a idéia da importância do nome do homem no cenário rock dos anos 60, 70 e 80, quando Bill Graham sentou para conversar sobre a turnê que os Rolling Stones pretendiam fazer em 1981, o martelo só foi batido de verdade quando o produtor avisou a Mick Jagger que os cartazes não iriam trazer “Bill Graham apresenta…”, como de praxe em todo o show produzido por Bill, mas apenas “Rolling Stones”. Foi uma das poucas vezes que o nome do produtor não figurou no topo do cartaz em letras garrafais maiores que o nome dos artistas que ele apresentava. Bill Graham era uma grife, um atestado de qualidade ambulante que enfrentava produtores, empresários e músicos de igual para igual na busca incansável do que ele julgava primordial no meio em que ajudou a criar: entregar ao público um grande espetáculo. Escrito a quatro mãos, sendo que duas são do próprio Bill, é de se esperar que o livro tenha uma tendência chapa branca, mas em quase todo o livro os dois lados são ouvidos. Robbie Robertson, líder da The Band (e responsáveis por uma das passagens Top 5 do livro), dá a deixa quando é perguntando sobre o motivo em que ele e Bill deixaram de se falar. “Vou dizer exatamente o que aconteceu. Como todos nós, Bill é famoso pelo editor de memórias na cabeça dele”. O músico segue contando a sua versão da história, e o leitor ganha mais objeto para análise. Bill é acusado de oportunista pelos hippies, de manipulador por adversários, de ausente pela família, e tudo isso é escrito às claras, sem enrolação. É claro que, ao final, o peso pende para o lado criativo do produtor, mas as histórias valem à pena. Bill conta detalhes da gravação do especial “The Last Waltz”, da The Band, filme produzido por Martin Scorsese no Winterland, uma de seus templos de shows. O produtor relembra o primeiro Woodstoock (em que aparece no filme sobre o festival descendo a lenha na organização), rememora tretas com a polícia e abre o baú para contar com detalhes a história da confusão que envolveu membros de sua produtora com integrantes da equipe do Led Zeppelin, o que causou a prisão do empresário Peter Grant, do baterista John Bonham, do empresário de turnê e de um segurança. O caso acabou num processo de dois milhões de dólares pelos funcionários de Bill Graham. E o Led Zeppelin, após esse show, nunca mais tocou nos Estados Unidos. O produtor ainda se envolveu nos anos seguintes com o Live Aid e a turnê Conspiracy of Hope da Anistia Internacional, mas são suas lembranças sobre astros da música um dos maiores destaques do livro. Não à toa, ainda na época das entrevistas (Bill Graham morreu em 1991), cinqüenta e oito discos gravados no Fillmore foram lançados e dezessete destes foram disco de ouro (a conta deve ter duplicado nos últimos quinze anos). Em 2006, um site foi processado por integrantes do Doors, Led Zeppelin e Santana – entre muitos outros – por vender milhares de gravações raras de áudio e vídeo de shows coletados durante 30 anos nas casas de Bill Graham. A coleção foi descrita por analistas como uma das mais importantes do rock reunidas em um único negócio. O mesmo pode ser dito do livro “Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock”. As memórias do produtor que ajudou a lançar ícones do rock não invalidam, de forma alguma, os outros livros de rock (como os citados com ironia brincalhona na abertura deste texto), mas ampliam o alcance ao registrar imagens de dezenas de personalidades e contar – um pouco que seja – sobre o submundo do rock. Não é preciso ser um expert em música para saber que a briga de egos de malas como Crosby, Stills, Nash and Young deveria ser uma tortura para os que estavam ao redor da banda – e um deleite para quem estava na platéia. Esses momentos, porém, acabam sendo sublimados por passagens líricas como a de um casal que falsificou o bilhete de entrada de uma noite de fim de ano no Fillmore, e foi levado até a administração. Bill olhou os bilhetes, perguntou como o casal tinha feito aquele trabalho, elogiou a arte gráfica e deixou-os curtir o ano novo na companhia de Janis Joplin e Grateful Dead. Ou então uma carta que o produtor recebeu de alguém que entrou sem pagar num show, e dizia ter tido uma das melhores experiências de sua vida. O tal rapaz enviou cinco notas de um e o resto em moedas para pagar pelo ingresso do show que viu de graça. Fatos pequenos como esses são jogados aqui e ali no colo do público em um livro que muitas vezes soa violento como uma canção do Sex Pistols, do Black Sabbath ou do Led Zeppelin, mas que também poderia ter momentos de Otis Redding, Bob Dylan e Rolling Stones na trilha sonora, entre muitos, mas muitos outros. Entre os livros obrigatórios de rock, este passa a ser o número 1. “Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock”, 536 páginas
Bill Graham e Jim Morrison “O Doors tinha três shows para fazer no primeiro Fillmore. Na noite anterior eles tocaram em Sacramento. Na época, estavam começando a fazer sucesso, e os ingressos esgotaram. Todo mundo da banda apareceu na hora certa, mas nada do Jim Morrison. Ele não apareceu e ninguém sabia onde ele estava. Tivemos que pedir a todo mundo para ficar com os ingressos. Reembolsamos alguns e pedimos às outras pessoas que ficassem com o ingresso para a próxima noite. Na tarde do dia seguinte, Jim entrou no meu escritório no Fillmore pedindo desculpas. Ele me disse que quando saiu de Sacramento para ir até São Francisco, de carro, passou por um cinema. E ‘Casablanca’ estava em cartaz. E ele não podia perder. Então foi ver ‘Casablanca’ ao invés de ir para o show. E eu dizia: - Eu sou um grande fã de Humphrey Bogart. Conheço bem ‘Casablanca’. Mas ‘Casablanca’ em Sacramento não era bem o que eu tinha em mente ontem à noite. Você devia ter ligado. E ele: - É, eu podia ter ligado. E completou: - Eu vi o filme três vezes. Isso mostra o quanto ele gostou do filme.”
Bill Graham e Otis Redding Trecho sensacional do livro “Bill Graham Apresenta: Minha Vida Dentro e Fora do Rock”, lançado no Brasil pela Editora Barracuda (aqui): “Havia um grande músico que todo mundo queria ver. Todo mundo dizia: ‘Este é o cara’. Otis. Otis Redding. Ele era o cara. Para todo mundo que falava comigo. Para fazer Otis vir tocar no Fillmore, eu fui de avião até Atlanta para depois ir até Macon, que ficava no meio do nada. Acho que acabei impressionando o cara por ter ido tão longe. Mas eu pensava: ‘Como é possível explicar para alguém que eu realmente quero que ele vá tocar para mim?’. Eu poderia ter oferecido dez mil dólares, o que significaria a minha morte. Meu negócio quebraria. Na época, eu não podia pagar tanto dinheiro. Ou então eu poderia dizer que quando eu falava com artistas que respeitava, Paul Butterfield, Michael Bloomfield, Jerry Garcia, e perguntava quem era o cara, quem era o número de suas listas, eles sempre diziam que era você. Tentei ser humilde com ele. Nada de ‘você tem que vir tocar no maravilhoso Fillmore’. Foi o contrário. ‘Todo mundo me diz que eu preciso convencer você a tocar. Eu sou fã de música latina e não conheço a sua música. Sou fã de Carmen MacRae’. O pessoal dele me perguntou sobre os jovens que iam ao Fillmore e as drogas que tomavam. Só faltava acharem que havia rituais de vodu no lugar. Aquelas tintas, as luzes, as roupas malucas. Era uma coisa estranha para eles. E esse foi outro motivo por que ir até Macon ajudou. Porque eu era um cara supercertinho que não se vestia de um jeito maluco. Finalmente, ele concordou em vir com sua banda, chamada Robert Hathaway Band. Ele tocou em dezembro de 1966. Otis Redding foi o talento mais extraordinário que eu já vi na vida. Disparado. Não havia comparação. Nem naquela época, nem agora. Todo artista na cidade pediu para abrir o show do Otis. Na primeira noite foi o Grateful Dead. Janis Joplin chegou às três da tarde no dia do primeiro show para ter certeza de que conseguiria um lugar na frente. Até hoje, acho que nenhum músico conseguiu fazer com que todo mundo viesse para um show como ele fez. Todos os músicos apareceram. Ele era o cara. O VERDADEIRO cara. Gostasse de rhythm n’blues, rock de brancos, rock de negros ou jazz, a pessoa sempre ia ver Otis. Ele tinha uma banda enorme. Dezoito músicos. Na primeira noite usou um terno verde, uma camisa preta e uma gravata amarela, com uma corrente de chaveiro pendurada no cinto. Tinha um metro e noventa. Era um Adônis negro. Ele se movia feito uma serpente. Uma pantera à espreita da presa. Ciente de que era o dono do universo. Belo, brilhante, negro, suado, sensual, apaixonado. Era o predecessor daquele que finalmente conseguiu tocar diante de uma platéia de fãs de rock and roll negros e brancos. Foi só quando Jimi Hendrix apareceu que me dei conta de que Otis esteve lá antes. Jimi foi o primeiro a ter mulheres brancas o desejando abertamente sem nem se dar conta disso. Mas Otis foi seu predecessor. No palco o homem não parava de se mexer. Ele tocava uma música e, no fim, andava pelo palco. ‘Yeah! Uff! Hey! Oh! Yeah! Vamos lá! Oh! Yeah! Uff! Um, dois…’. e ai entrava na música seguinte. Três, quatro músicas depois do set da primeira noite, eu já estava em pé ao lado do palco. Eu não conseguia acreditar no quanto ele era bom. Ele começou a andar para cima e para baixo. ‘Yeah! Uff! Hey! Oh! Yeah!’. Enquanto fazia isso, uma mulher estava debruçada na frente do palco. Uma jovem negra belíssima num vestido decotado. Ela começou a suspirar como se não pudesse se conter. ‘Otis! Ah! Oh!’. Ele viu. Ele andava para cima e para baixo e dizia: “Yeah”. Estava com o microfone na mão. Ele a viu e ela disse: ‘Uhhh’. Ele atravessou o palco, se debruçou, pegou o microfone e fez uma coisa que nunca ninguém fez igual. Ele olhou para ela, e era um cara grandão e bonito, e ela estava toda animada. E ele disse olhando bem dentro dos olhos dela. ‘Essa vai com tudo para você, querida. Um, dois…’ e todo mundo fez ‘Hah!’ juntos. Eu esperava algo especial, mas não aquilo. Aquela coisa animal. Ele fez algo naquela noite que ninguém conseguia fazer. Todo mundo batia palma enquanto ela falava ‘fa fa fa fa’ andando pelo palco. Quando terminou as pessoas estavam loucas, gritavam, ‘Yeah! Yeah!’, aplaudindo loucamente, e pouco antes do aplauso morrer tocou ‘I Been Lovin Too Long’. Ele sempre recomeçava logo antes do ânimo morrer. Logo antes de a platéia se acalmar. Vocês estão nas alturas? Vão cair? Eu ainda estou aqui. Não fui embora ainda. Ninguém nunca conseguiu isso. Até hoje eu nunca vi ninguém fazer isso. Quando Richard Pryor estava no ápice não dava para parar de rir. A gente ria, ria, ria de novo, e doía. No caso de Otis, nunca doía. O negócio é que ele era calmo. Era um cara relaxado. Mas se mexia também. Era o verdadeiro Tom Jones. A pessoa que Tom Jones sempre quis ser. Foi uma maravilha. Otis terminou o show. Ele estava lá em cima, no camarote. Eu estava do lado de fora e ele me chamou: ‘Bill! Bill’. Eu entrei e ele disse: ‘Eu amo essas pessoas!’. Estava sem fôlego e suava loucamente porque tinha acabado de pôr o lugar abaixo. Estava lá sentado com um monte de toalhas, e eu disse: ‘Otis, nem sei o que dizer, meu deus’. E ai eu desatei a falar. A primeira coisa que ele me disse foi: ‘Muita mulher bonita aqui. Mulheres muito bonitas’. - ‘Meu Deus’, eu disse a Otis. “Mais duas noites. Existe algo que eu possa fazer por você?’. Quando eu estava saindo, ele disse. ‘Espere, Bill. A gente acabou de chegar da Inglaterra, e quando você faz shows lá nunca tem gelo. Será que você pode me arranjar um negócio grande com gelo e 7-Up’. Desci correndo as escadas até Denise, que trabalhava atrás do balcão. E falei: Então sai de lá. Sai correndo de lá, possuído. Desci a Geary e fui até um mercado que ficava a um quarteirão de distância. Comprei um saco de gelo. Subi correndo a Geary de volta e entrei no Fillmore. Quebrei o gelo no balcão. Quando entrei estava resfolegando. Aí coloquei o gelo nos copos e coloquei o 7-Up. Quando cheguei lá em cima, comecei a pensar: ‘Como posso fazer o Otis saber que fiz isso por ele?’. De propósito, comecei a resfolegar de novo. Comecei a respirar como se tivesse corrido. ‘Aqui está o 7-Up’, eu disse. ‘Está bom de gelo?’. - ‘O que houve?’, perguntou Otis. Se alguém quisesse saber como era o mundo dos negócios na música, eu sempre achei que aquela noite respondia. Como eu podia deixar claro que eu queria que ele voltasse a tocar para mim? Com 7-Up com gelo.”
|