YARDBIRDS: O TRIUNVIRATO DAS GUITARRAS
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Yardbirds O triunvirato das guitarras
(Mário Pazcheco)
Criado em 1963, Yardbirds, na gíria “os presidiários” ou também animais ciscando no alpendre ou ainda “engaiolados” no banho de sol, foi o grupo-trampolim dos guitarristas Eric Clapton (Ripley, Surrey, 30 mar. / 1945) e sua amplitude sonora apropriada, Jeff Beck (Wallington, Surrey, 24 jun. / 1944) o príncipe absoluto coroado, e o sólido Jimmy Page ao lado de Keith Relf (Richmond, Surrey, 22 mar. / 1943-76, vocais e gaita), Cris Dreja (Surbiton, Surrey, 11 nov. / 1945, guitarra-base e contrabaixo), Paul ‘Sam’ Samwell-Smith (baixista e produtor) e Jim McCarthy (Liverpool, 25 jul. / 1943, bateria). O quinteto considerado como um dos principais expoentes do blues-rock-britânico, foi a primeira banda inglesa catalogada pelos anais a apresentar-se no Fillmore em San Francisco, responsáveis pelo surgimento do psicodelismo inglês lançaram as futuras bases do heavy-metal.
Contemporaneamente regravados por diversos conjuntos - desde Renato e seus Blue Caps a Nazareth e recentemente pelo Rainbow de Ritchie Blackmore. Essa idolatria é a razão pela qual tantos fãs aprofundam-se na história e arrecadação de minuciosos subsídios e raras gravações e fotos, desse esplêndido conjunto que sempre se superou chegando até ao esoterismo misterioso.
Alguém sempre exprimirá sua visão de forma concisa e clara, mas sem muita pretensão e a título de curiosidade extrema marcada por uma gargalhada seleciono essa pérola da obviedade da crítica, no ofício de serializar ou sacramentar a arte...
“The Dave Clark Five e Herman’s Hermits podem ter vendido mais discos, mas, no período de 1963 a 1968, o Yardbirds fez uma das músicas mais originais dos anos 60 - um grupo cuja influência e presença vai ser sentida e vista em tudo que vier mais tarde” - Lenny Kaye, 1981.
Vamos voltar a quinze anos antes dessa declaração da revista Guitar World, precisamente em 20 de outubro 1966, quando os Yardbirds, fornecem uma conferência de imprensa no Hotel Americana de Nova York, para a Epic Records, onde responderam a perguntas sobre as influências da música indiana e da música psicodélica na sua. Jim McCarty exprimiu a opinião que as influências indianas estavam a morrer devido ao seu demasiado uso e acrescentou que “Keith e eu lembramo-nos que Jimmy Page foi um dos primeiros a mandar vir um sitar em 1964; veio de Bombaim especialmente para ele e embora na altura não fizesse parte dos Yardbirds seria a sua sitar que usaríamos em Heart full of soul primeiro compacto com Jeff Beck, fevereiro de 1965. Jimmy nunca tocou sitar em palco pois na sua opinião exigia muitos anos de trabalho; sentia que o seu uso em discos pop era apenas uma moda passageira, que não era o que Jimmy desejava. Naquele serviço de computador registra-se que possivelmente em 1964, Jimmy gravou utilizando o sitar em duas faixas e Consequentemente a imprensa musical adularia Brian Jones dos Stones por apresentar-se ao vivo e George Harrison dos Beatles como os grandes cultores pop do instrumento de origem indiana.
Hit Parader - Qual a razão do interesse dos rockeiros nos sons indianos?
Jimmy Page - Creio que a razão principal é o seu esoterismo. Todos julgam que compreendem. Obtêm um novo som e pronto! Está tudo feito, mas na verdade não sabem do que se passa. Escutei músicos a tocar sitar sem realmente saberem o que fazem; nem conseguem afiná-la.
Hit Parader - Existem muitos indianos em Londres?
Jimmy Page - Sim, bastantes. Contrariamente ao que se podia supor, quando se fala com eles sobre a música indiana, parecem desconhecê-la totalmente! Tudo o que conhecem é a música ocidental ou a música indiana de filmes, a qual é completamente diferente. Às vezes aconselham os interessados a dirigirem-se à Sociedade Asiática. Eu conheci Ravi Shankar e só assim pude aprender a afinar o sitar.
Keith Relf disse a um repórter que: “o termo música psicodélica não era mais do que uma mecânica reprodução dos efeitos das drogas sem uso delas”. Nós não estamos interessados em soar constantemente do mesmo modo e ultimamente temos experimentado sonoridades aborígenes (ouçam o tema Hot House of Omagarashid do segundo álbum) e mesmo canções infantis. Metade das atuações dos Yardbirds eram improvisadas quer musicalmente quer liricamente.
Jeff Beck referiu que “na América as audiências eram mais descontraídas e acolhedoras, o que tornava os concertos bastantes agradáveis, mas na Inglaterra o mercado para este tipo de música, está saturado”. As novas bandas que ouviu pensavam, para o seu divertimento, “que estavam a produzir algo original, mas estão a tocar o que nós produzíamos há uns 3 ou 4 anos atrás”.
O grupo parecia estar interessado em responder a perguntas informais como estas:
Letras estilo Costa Oeste - Todo o grupo as considerava mais criativas e interessantes que as produzidas em Inglaterra.
Álbum Revolver dos Beatles - unanimemente - Excelente.
Imitam alguém? - Não.
Beach Boys - Eles e o álbum "Pet Sounds" eram os favoritos do grupo.
A cena mod Londrina e Carnaby Street de Londres - Jimmy Page vestindo uma camisa de seda fúcsia, roupa estilo “Guerra dos Boer” e um alfinete à Roy Rogers, disse que “a cena mod londrina em vez de diminuir estava a aumentar”. Explicou que achava mais interessante vestir num alfaiate do que comprar em Carnaby Street onde todos acabariam por se parecer uns com os outros.
O último assunto focado nesta conferência foi o envolvimento no filme produzido pela MGM que resumia a Swinging London, chamado "Blow-Up". Foi realizado pelo famoso realizador italiano Michelangelo Antonioni, o mesmo de Zabrieskie Point.
O segmento dos Yardbirds neste filme é uma cena num estúdio que imita o Ricky Ticky Club e na cena os Yardbirds tocam Stroll on, uma versão alternativa de Train kept a’ rolling; Jeff aparece tocando guitarra e ao notar qualquer problema num acesso de fúria parte-a aos pedacinhos. Pontos de interesse nesta parte são, primeiro: a guitarra com que Jeff aparece tocando não é a mesma que destrói; segundo: Jimmy Page aparece a tocar baixo enquanto na verdade a faixa apresenta duas guitarras solo. O clube burlesco foi perfeitamente reproduzido, mesmo as ateias de aranha no teto.
"Blow-Up" do qual surgiu uma trilha-sonora, ajudou a estabelecer a reputação do grupo, principalmente na América e isto apesar do disco conter apenas uma faixa sua; nos Estados Unidos passaram a ser considerados uma banda influente - o arquétipo da banda moderna - e foram creditados como verdadeiros pace-setters. Os Yardbirds empurravam o rock para a frente quer harmônica quer estruturalmente muito mais do que qualquer grupo até este momento.
O dueto Page-Beck atraía novos fãs, enquanto a fuzz-tone (distorção sonora produzida através de um pequeno aparelho eletrônico, o fuzz box, que acentua e faz ondular o som, do qual Brian Jones foi um pioneiro) estabelecia um rapport que possibilitava uma infinita gama de novidades à guitarra; grande parte devido da criatividade expressa em guinchos, lamentos e gemidos sem nenhum torpor pelo acústico as futuristas guitarras não davam tregua antecedendo o apocalipse - ouça as faixas para confirmar...
Enquanto membros dos Yardbird, as armas usadas durante os duelos da dupla era uma Telecaster de Page e a Les Paul de Beck, dois sons diferentes. Jimmy e Jeff nas guitarras, gravaram o compacto Happenings ten years time ago / Psycho daisies. O compacto foi recebido com entusiasmo pela crítica, que mostrava-se particularmente interessada na profusão de sons que a dupla arrancava de seus instrumentos, como sirenes de polícia. Sobre o lado B do compacto (Psycho daisies, escreveu um crítico americano: “Diálogos de guitarra entre Jimmy e Jeff, vocais pouco extensos, todo o disco indica uma excepcional jam-session”. O disco revelava influências que Keith Relf dizia terem tido origem na última viagem do grupo pela América. Do lado principal ele disse: “é um disco revolucionário, mesmo para nós. Há umas piadas in e mesmo uma fantástica explosão a meio. Jeff produz os ruídos de guitarra mais ridículos que algum dia terão sido ouvidos; é uma canção que se pode considerar muito perto da influência psicodélica”.
O entusiasmo com que foi recebido pela crítica não impediu que o compacto fosse tremendo fracasso e o curioso é que um pouco mais tarde uma banda da Califórnia lançou um plágio descarado da música, Psychotic Reaction, e foi enorme sucesso...
Em Beck’s Bolero (arranjo de Page do Bolero de Ravel) com um grupo de estúdio formado por John Paul Jones, Nicky Hopkins e Keith Moon.
De volta à América, acabariam a tourné como quarteto tocando inclusive no Carrousel Club em San Francisco.
Diz Keith: “Fomos um pouco lentos a escapar-nos e Jimmy foi duramente atingido. Houve uma louca corrida em direção ao carro e Jimmy ficou para trás. Ficou apanhado e foi quase desfeito em pedaços pelos fãs, que continuavam a vir ter conosco e a perguntar-nos como conseguíamos obter os nossos loucos sons e continuavam a categorizar a nossa música como psicodélica, o que era apenas uma parte do show”.
Hit Parader - Encontrou muitas diferenças entre a juventude americana e inglesa?
Jimmy Page - Os americanos são um pouco limitados. Neste momento os ingleses são completamente liberais. Isto não será o conceito original que fariam dos ingleses, não é? Podemos chocar as pessoas na América facilmente; se as pessoas se chocam facilmente é um problema delas. Deviam abrir as suas mentes. Na Inglaterra pode-se andar nu pelo meio da rua sem chocar seja quem for; poderiam ser da opinião que nos devíamos retirar mas não agrediriam; para além disso os 16 anos são a idade da emancipação; pode-se casar aos 16 anos. As atitudes são completamente livres o que se pode ver pelas roupas. As pessoas andam por aí do modo mais ousado possível; estão a rebentar com as cadeias de uma sociedade que já foi. Provavelmente tudo isto faz da Inglaterra um país muito decadente, mas que importa? Billy Graham, o evangelista, veio até a Inglaterra e se estivéssemos com ele veria que tudo parece muito decadente. Tenho de concordar com isso. Ele não teve qualquer tipo de impacto. Acredito que tudo isto seja uma previsão do fim da sociedade; mas não quero saber! Estarei morto antes do fim. Se chegarmos a este ponto em 5 anos, creio que algo acontecerá nos próximos cinco anos. Gostaria que a nova sociedade fosse pacífica, mas não será, porque a violência parece ser a resposta para todo o tipo de problemas. Um jovem passeia-se por ai de cabelos compridos, alguém o provoca, ele responde de um modo um pouco duro, o que eles não esperavam; não conseguem responder e tudo acaba com os punhos. Que espécie de mentalidade é esta? Não posso discutir com pessoas deste gênero. Deve ser terrível ter de lutar numa guerra. Nunca me vi obrigado a pensar realmente sobre guerras, nunca tive de as enfrentar realmente; apenas vi os seus horrores.
“Meu Deus, que batida excitante a dos Yardbirds. Uma pedrada fortíssima enviada com toda a força e isto decorado com violentos sons metálicos e efeitos de sitar, que criam um incomodo e insinuante muro de som. Psicodélico? Sim, talvez mas não de mau gosto.
As letras são simples mas típicas e absorventes e a melodia é um pouco mais do que um riff repetido até a exaustão. Um disco intrigante e obrigatório que deverá ter melhor carreira que o anterior. Lado B-Grandes sonoridades, especialmente na passagem instrumental ”.
As apresentações ao vivo dos Yardbirds começam a modificar-se com kaftans, sinos, penteados loucos e guitarras que “mudavam de cor”.
“Eu vi a guitarra de Jimmy Page mudar três vezes de cor numa só canção, do vermelho ao azul passando pelo verde”. (Mac MacIntyre).
Os dois grandes momentos das atuações dos Yardbirds eram agora "White Summer" uma música numa tonalidade bastante estranha, um longo instrumental que se estendia por vinte minutos que Jimmy Page costumava tocar com uma guitarra Danelectro com dois captadores, e "I'm Confused, a versão original do que seria mais tarde "Dazed and Confused", embora a versão dos Yardbirds incluísse Keith Relf a cantar versos diferentes.
“Sei que alguns de nossos discos soam primitivos agora, mas as idéias e músicas com toques psicodélicos tinham sempre uma ajuda de Giorgio Gomelsky, nosso empresário. Ele também dava idéias sobre a luz nos shows, mas não era sempre que conseguia por suas ideias em prática. Nós achávamos que boa parte de suas idéias eram um bocado bobas. Eu acho que ele queria fazer de nós os novos Monkees”.
(Jim McCarty)
“Fazíamos uma música climática, que começava suave, crescia e explodia. Eu adorava isso, era tão animal e tão simples” (Jeff Beck).