Andy Parker: Rock e artes plásticas caminhando juntos!

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Andy Parker: Rock e artes plásticas caminhando juntos!
Escrito por Antonio Celso Barbieri

Lá pelo final de 1995, André “Pomba” Cagni veio visitar Londres e, ficou hospedado aqui em casa. Já nos conhecíamos de longa data pois, lá pelo meio dos anos 80 tinha produzido vários shows com sua banda Vodu na qual ele era o baixista, aliás, um baixista competente.

Sempre fui uma pessoa interessada por todo tipo de música (inteligente) e também pelos processos e idéias por trás da sua criação e, portanto já em 1995, meu interesse pelo Rock Industrial era grande ao ponto de que, quando recebi a visita do Pomba, tinha um pequeno estúdio caseiro onde estava fundindo rock com música eletrônica usando dois computadores Atari (um como sampler), teclados, bateria eletrônica, etc..

Como, Pomba agora era o dono e editor de duas revistas, a Dynamite e a On & Off, convidou-me para escrever uma matéria para a On & Off explicando como é que eu fazia para controlar os teclados via MIDI usando o computador. Esta matéria deu inicio à uma colaboração que durou uns 4 anos. A revista On & Off era uma revista mais voltada para instrumentos musicais e equipamentos de som e, também abria espaço nas suas páginas para aulas e workshops com músicos e profissionais da área. A revista On & Off durou pouco tempo.

À bem da verdade, logo já estava escrevendo também para a Revista Dynamite que tinha um perfil mais jovem e era aberta para o Rock, Pop e cultura em geral. Durante o curto período que escrevi para a On & Off, Pomba passou meus dados pessoais para uma empresa de publicidade também sediada aqui em Londres e então, comecei receber material de imprensa relativos à instrumentos musicais, equipamentos para estúdios de gravação e acessórios. De vez em quando recebia um telefonema desta empresa perguntado se eu estaria interessado em testar algum equipamento ou instrumento. Quem ligava sempre era Andy Parker. Andy era guitarrista e também um pintor muito criativo.

Na guitarra Andy é excelente mas, conversar com ele sobre técnicas de estúdio é uma tarefa difícil porque Andy é muito dogmático e ainda vive preso ao mundo analógico. No estúdio, gravando, ele é uma pessoa muito meticulosa, muito detalhista e sempre batemos de frente porque eu valorizo muito o espontâneo e imediato. Outro ponto de atrito é a questão dos Direitos Autorais. Eu acho que se você é realmente um artista você primeiro deve ter uma compulsão para criar e segundo uma compulsão para mostrar para todo mundo seu trabalho. Na minha opinião, aquele que cria o tempo todo e não mostra não é artista. Fico desolado de perceber que ele prefere ser um desconhecido do que dar seu trabalho gratuitamente na Internet. Confesso que não consigo entender esta lógica... Acreditem, será um milagre se ele deixar o álbum dele tocando aqui nesta matéria!

Recentemente depois de meses sem contato, tive a honra de sua visita para um bate-papo prolongado onde retornamos à questão do direito autoral quando mostrei-lhe a matéria que publiquei aqui no meu site onde o guitarrista Neil Young proclamou em voz alta que “A pirataria é a nova rádio!”. Na conversa, Contei tambem que tinha acabado de gravar meu álbum chamado The Holographic Mirages of the Soul do meu projeto Better Ashes Than Dust e, que o tinha disponibilizado para o povo baixar gratuitamente. Confessei que estava decepcionado pois tinha enviado e-mails para mais de 3.000 pessoas e até agora, apesar de estar dando o álbum gratuitamente apenas 95 delas tinha baixado. Sua resposta foi totalmente previsível: “Se você der de graça ninguém valoriza, ninguém quer saber!”.

Disse que discordava porque o problema à meu ver é o excesso de oferta. Tem muita coisa na Internet para baixar e nosso tempo é muito limitado para ouvir todo este material. Outro problema é que, está muito difícil divulgar o material próprio neste mar de informação. Bom, sei que este é um assunto controverso por isso paro por aqui...

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Andy parker na frente de uma de suas pinturas. Foto: A. C. Barbieri.

Coolwater

Mas, voltando ao Andy, quando o conheci ele estava numa banda de Rock Alternativo na linha Pop Glitter chamada Coolwater onde ele era o guitarrista e vocalista. Para a época, com a devida produção, acho que esta banda teria tido muita chance e poderia ter estado tranquilamente ao lado, por exemplo, de bandas na linha da banda inglesa Pulp do guitarrista e vocalista Jarvis Cocker. Aqui no meu estúdio, preparei o máster das 9 faixas, criei uma capa e colocamos num CDR que, levei, sem sucesso, para o MIDEM em Cannes na tentativa de negocia-lo. infelizmente, este álbum nunca chegou à ser prensado.

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Capa do álbum nunca lançado. Design: A. C. Barbieri

A banda Coolwater acabou, anos se passaram, Andy sofreu um acidente com sua moto e perdeu a pontinha do seu dedo mínimo da mão esquerda. Durante seu período de convalescência, enquanto fazia fisioterapia com sua mão, lentamente voltou tocar guitarra e no processo, um novo trabalho começou surgir. Andy nunca escondeu sua admiração pelo trabalho de David Gilmour o virtuoso guitarrista da lendária banda Pink Floyd. Aliás, foi Andy o primeiro à mostrar-me como Gilmour fundia sutilmente o Blues com o Reggae.

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Barbieri prestigiando Andy Parker em uma das suas exposições.

Andy periodicamente visitava-me trazendo sempre uma nova música recentemente gravada. Às vezes eu gostava mas, às vezes eu questionava a qualidade da gravação ou alguma parte da composição. Ele ficava muito “puto”, fazia de conta que não aceitava minhas críticas mas, semanas depois ele voltava com uma versão melhorada daquele trabalho.

Listening at the Keyhole

Um dia, dei-lhe uma intimada: “Quando é que você vai botar isto num CD e deixar o povo ouvir?”

“Você deixa eu fazer o remix final do álbum na sua mesa de som?” Foi sua resposta. A possibilidade de ficar um mês com o Andy aqui em casa, com ele levando o dia inteiro para mixar 30 segundos de música, não estava nos meus planos. Então, resolvi ir para São Paulo em férias e deixar Andy com liberdade para visitar minha casa e mixar seu álbum em paz.

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Em 2002, quando seu álbum solo chamado Listening at the Keyhole (Escutando pelo buraco da chave) foi lançado, no encarte, nos agradecimentos, encontrei estas palavras: “Many thanks... Antonio Celso Barbieri for his help and patience (Muito obrigado... Antonio Celso Barbieri pela ajuda e paciência).” Achei até engraçado ele ter usado a palavra “paciência”.

Listening at the Keyhole é um álbum instrumental gravado com muito carinho e atenção aos detalhes. Ouvindo este álbum a primeira coisa que veio à minha mente foi o álbum Blues Breakers with Eric Clapton gravado em 66. O álbum, em algumas faixas mistura muito bem o blues com reggae mas também em outras nos brinda com uma latinidade bem ao estilo da banda Santana. Trata-se definitivamente de uma viagem saudosa e competente aos final dos anos 60.

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Vídeo filmado e editado por Antonio Celso Barbieri no seu estúdio em Londres.

Tranquille

Um ano depois, em 2003 seu segundo álbum instrumental intitulado Tranquille foi prensado. Como o próprio nome sugere, trata-se de um álbum “tranquilo”, com uma calma profissional de quem sabe o que está fazendo. Este álbum contendo 11 faixas complementa muito bem o primeiro e poderia muito bem, juntamente com Listening at the Keyhole fazer parte de um álbum duplo.


Midas Touch

E, por falar em álbum duplo, depois de quase 10 anos, período em que Andy Parker dedicou-se de corpo e alma à pintura tendo feito várias exposições e pequenas incursões pela música, experimentando sem sucesso outros estilos, os quais invariavelmente receberam sempre minhas criticas não muito favoráveis onde repetidamente insisti para que Andy mantivesse seu padrão de qualidade e, desse continuidade ao seu trabalho solo, fiquei feliz com sua ultima visita quando brindou-me com uma cópia do seu último trabalho, ainda não lançado e intitulado Midas Touch (Toque de Midas).

Como para compensar o tempo passado, trata-se de um álbum duplo com 18 faixas menos “tranquilas” onde o som apesar de manter um senso de continuidade com os álbuns anteriores caminha mais para a latinidade.

O grande problema de Andy Parker é que seu trabalho, apesar de excelente, é instrumental e, o mercado da música que, já a algum tempo, vem passando por uma revolução, é bem limitado. Portanto solicito que, se o caro leitor gostou do que está ouvindo, faça um pequeno esforço e mostre para seus amigos. Em nome de Andy Parker, desde já agradeço!

Antonio Celso Barbieri

Pinturas de Andy Parker

Vistas de Londres

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Dentro do Ônibus

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