Jimi Hendrix: Ainda soberano!

Jimi Hendrix
1967! Johnny Allen Hendrix (27/11/1942 - 18/09/1970) quebra tudo no Monterey Pop Festival
Foto: Ken Marcus - Animação: Barbieri
Rádio DPB$ 

Ainda soberano...

A história da guitarra elétrica será sempre contada em duas partes: Antes e depois de Hendrix. Antes de Hendrix guitarristas visionários usaram seus instrumentos como poderosas formas de expressão dentro de um "aprovado" contexto musical. Grandes pioneiros tais como Charlie Christian, T-Bone Walker, Les Paul, B.B.King, Chuck Berry, Jimmy Bryant, Wes Montgomery, Dick Dale, Jeff Beck e Pete Townshend, respeitando cada estilo musical, puxaram suas guitarras ao limite máximo da criação. Estes guitarristas nos deram maravilhosos e variados sons, expandindo nossos horizontes e, deixando para os guitarristas que viriam, a herança de toda uma vida para estudar, copiar e construir encima.

Mas, quando Hendrix explodiu no cenário artístico com "Purple Haze", "Manic Depression" e "Third Stone From The Sun", como num relâmpago o mundo percebeu: Ali estava um tipo música especialmente concebida e criada para a guitarra elétrica e que, nunca tinha sido feita antes. O instrumento era inseparável da música. Um universo sonoro cheio de estranhas e, ao mesmo tempo atrativas texturas e timbres, produzidas por Hendrix na sua uivante Stratocaster. Hendrix liberou a guitarra elétrica pois, ela não era mais obrigada a tocar só meras notas ou ritmo. Nas suas mãos, a guitarra transformou-se numa máquina geradora de sons tridimensionais; um sintetizador ou uma segunda voz capaz de sonoridades fora da nossa compreensão.

O que será que passou pela cabeça dele? Porque será que ninguém teve a ideia antes dele de criar um som assim incendiário? E o interessante é que, depois do choque inicial, a música dele era coerente e lógica. Tente imaginar como Hendrix deve ter sentido-se enquanto sozinho e desconhecido, maquinava a sua visão deste novo som.

Aqui está um mistério: O que será que aconteceu com Hendrix no verão de 1966? Se você ouvir JH ao lado de Curtis Knight em gravações feitas naquela época, o que encontrará será apenas um competente músico de R&B. Ike Turner e outros teriam esnobado ele. Então, surgiu o Jimmy James And The Blue Flames, sua banda que teve curta vida e serviu como laboratório no desenvolvimento de suas idéias revolucionárias. Aliás, foi esta banda que o Chas Chandler ouviu tocar num barzinho de New York chamado Café Wha? e, resultou no começo da sua explosão meteórica para o sucesso. Depois disto, no decorrer de apenas um ano Hendrix já nos brindava com "Purple Haze".

É inacreditável! A música de JH apareceu já madura e formada. Não existia nada em fase experimental à respeito de "Are You Experienced", seu primeiro disco. JH não necessitou lançar alguns álbuns para encontrar o seu estilo e desenvolver a sua voz. Com seus companheiros de banda, de forma econômica e rápida, eles gravaram este disco num gravador de 4 canais e, como num passe de mágica, surgiram gemas preciosas tais como "The Wind Cries Mary", "Fire", "Hey Joe", "May This Be Love", "Foxy Lady", "The Third Stone From The Sun", e Are You Experienced?". Vamos ser francos! Ninguém mais faz isto hoje em dia. Temos que admitir que o homem era um gênio!

Muita gente alega que as experiências alucinógenas praticadas por JH encheram seu cérebro de ideias criativas e ultimamente foram responsáveis por todo o seu legado musical. Qualquer um que ouviu JH durante uma "viajem" sabe que o homem tocou o som do LSD. Entretanto, se a gente reduzir a causa disto tudo à uma simples pastilha então todos que a experimentaram também seriam "voodoo chiles". Quantos guitarristas na tentativa de emular a incandescente luminosidade de Hendrix queimaram-se tão rapidamente que nem deixaram marcas.

Francamente, não me importa se Hendrix "era um visitante de outro planeta" como ele mesmo afirmou em algumas entrevistas e nas letras de algumas músicas ou se, simplesmente ele conseguia abrir certas portas criativas da mente que, infelizmente a maior parte de nós sempre manteve fechada. A verdade é que, no palco ou no estúdio seu lema sempre foi "deixe rolar e toque".

Sua música nos faz tomar conhecimento de que notas, escalas, acordes invertidos e coisas do gênero são apenas brinquedos usados no grande esquema da criação musical. Tire estes brinquedos para um segundo plano e, o ouvinte poderá sentir na voz da sua guitarra chorando o sentimento vindo direto do coração.

Tem música que acalma, cura e relaxa. Não era esta a finalidade de sua música. Como um tremendo relâmpago vindo dos céus e que nos estremecia da cabeça aos pés, sua música era impaciente e destrutiva. Hendrix estava aqui, na Terra, numa missão para acabar com a nossa complacência.

Neste mundo eletrônico em que vivemos, é difícil apreciar quanto radical foi o surgimento de sua música em 1967. Ele vestiu-se, tocou, falou e viveu de forma diferente do resto todo. Ele expandiu nosso conceito de sonoridade, composição e comportamento social. Ele lembrou-nos que, as raízes da guitarra dormem profundamente na alma cigana. Sua pulsação pode-se ser ouvida ao redor das fogueiras dos acampamentos e não nas salas de aula.

Hendrix foi um alquimista do som. Ele gostava de pegar um sinal sonoro e manipulá-lo até o ponto de que o mesmo ficasse irreconhecível. Neste sentido, ele pode ser considerado o pai da guitarra elétrica. Para aqueles que amam o Blues dos anos 50 e o R&B, de certa forma JH foi o guitarrista que segurou a chama eis que codificando este som em sua música ele preservou a mensagem do blues para que as novas gerações o descobrissem. Ele foi o protótipo do roqueiro negro, um modelo para Prince, Vernon Reid e Lenny Kravitz entre outros. Entretanto, Hendrix transcendeu raça, classe e nacionalidade. Para os devotos dos estados psicodélicos ele era um viajante explorando territórios desconhecidos para, depois, recontar sua viagens em suas músicas.

No dia 18 de setembro de 1970 morria Jimi Hendrix. O ano que vem, fará 40 anos que perdemos este gênio da guitarra.

Apesar de todos estes anos que se passaram, hoje em dia sua música está mais viva e vital do que muita coisa que ouvimos no rádio e TV (Eu desafio o leitor a ligar o rádio e a TV e, dar uma "geral" em todos os canais e, se você achar algo mais criativo que Hendrix, eu prometo comer a minha meia; aquela suja!). Não importa quantas vezes você toque "Voodoo Child (A Slight Return)", "Axis: Bold As Love", "Stone Free", "Little Wing" ou "Castles Made Of Sand", toda vez, você ouvirá algo novo.

Bom, depois deste papo todo, o negócio é por um disco do Jimi para rolar, fazer a cabeça e apagar a luz.

Há! Eu estava quase esquecendo! Como aqui no Do Próprio Bol$o nós sempre procuramos "ir um pouco mais longe", preparamos na nossa Rádio DPB$ um canal especial com todo o álbum "The Jimi Hendrix Experience" contendo 20 hits para vosso prazer. (clique aqui)

Vejo vocês todos lá em Eletric Ladyland...

Antonio Celso Barbieri

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