Virgil Thomson: petulante mas elegante
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by Alice Neel (1900-1984)
Virgil Thomson
(1896 - 1989)
Compositor e maestro americano, crítico de expressão. Virgil Thomson morreu enquanto dormia (30 set. / 1989), aos 92 anos na suíte do Hotel Chelsea, em Nova York, em que morava há 49 anos.
Thomson ficou conhecido por sua parceria com a escritora Gertrude Stein (1874-1946) que escreveu o libreto da ópera dele, Four saints in three acts ("Quatro santos em três atos"), 1934 e The Mother of Us All ("A mãe de todos nós"), 1947.
Virgil Thomson nasceu em Kansas City, Missouri (Estados Unidos), em 1896. Estudou na Universidade de Harvard e depois, em Paris, com Nadia Boulanger. Entre 1925 e 1932, viveu novamente em Paris, onde esteve ligado ao Grupo dos Seis, mas sofreu sobretudo, a influência de Satie, escrevia músicas breves e bem-humoradas. Evitavam os elementos românticos e impressionistas remanescentes na música francesa e tinham o poeta e cineasta Jean Cocteau como porta-voz. Thomson morou em Partis até 1940. Declarou uma vez que se sentia em casa na França, preferindo “morrer de fome onde havia boa comida”. Foi amigo de Picasso, James Joyce, Ezra Pound e Igor Stravinski, regressando aos Estados Unidos com a eclosão da Segunda Guerra.
Entre 1940 e 1954 foi crítico de música (New York Herald Tribune), definida por ele como “petulante mas elegante”.
Além do par de óperas, Virgil Thomson compôs duas sinfonias, um balé, diversas obras corais, música de câmara, música para piano (4 sonatas, 40 Portraits, 10 estudos) e melodias.
Com o advento do cinema sonoro, os produtores de Hollywood passaram a contratar os compositores de maior expressão como George Gershwin, Aaron Copland e o próprio Virgil Thomson (suas trilhas sonoras The plow that broke the plains (1936), The River (1937) e Louisiana story (1948). Enquanto isso, a Europa também não ficava atrás e corria atrás de importantes nomes da música erudita para trabalhar no cinema, como Shostakovich, Honegger, Prokofiev.
Seus trabalho mais conhecido, porém, continua sendo a ópera Four saints in three acts, que estreou em fevereiro de 1934, em Ann Arbor (Michigan, nordeste dos Estados Unidos). É uma espécie de “folksong opera” com um libreto muito sofisticado, por vezes satírico mas conservando o rigor poético de Gertrud Stein. Lida com temas religiosos e sobrenaturais sem cair numa trama vulgar, típica do tratamento reservado a esses elementos pela tradição musical americana.
Para Thomson, os intérpretes negros conseguiam com mais facilidade traduzir esse fervor religioso. Um baixo, dois sopranos, um contralto, um messosoprano, um tenor e um barítono, além de um coro duplo e seis bailarinos estão a serviço de uma escritura musical sem truques, de sintaxe simples (mas não rudimentar), de canções de igreja e ritmo acentuado. Tudo para transmitir o clima místico de uma procissão de santos numa sociedade industrial dessacralizada, em que duas santas Teresa surgem ao lado de Santo Inácio e de Loyola numa obra solene.
O uso da antífona em contraponto com o canto principal transformou a ópera Four saints in three acts num dos exemplos mais originais da história musical americana, antecipando com seus sons onomatopaicos as experiências mais tarde desenvolvidas por Philip Glass na ópera Einstein on the beach. Mas, ao contrário do minimalista Glass, Thomson jamais se fixou num gênero, compondo em diversos estilos de uma maneira terna e sentimental, mas ao mesmo tempo com sutil verve humorística.