O arquivo secreto de Bob Dylan (2016)
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Bob Dylan lançará disco em maio e fará turnê por EUA e Japão
Seu 37º álbum, Fallen Angels, sairá 4 dias antes de aniversário de 75 anos.
Primeiro show será em 4 de junho, em Seattle; turnê dura dois meses.
Da France Presse
8 mar. / 2016 - Bob Dylan não dá demonstrações de querer diminuir o ritmo aos seus quase 75 anos. Nesta segunda-feira (7), anunciou o lançamento de um novo álbum, juntamente com uma turnê promocional.
O cantor e compositor americano afirmou que seu 37º álbum de estúdio, Fallen Angels, será lançado em 20 de maio, quatro dias antes de seu aniversário, mas não deu informações adicionais.
Ícone da contracultura nos anos 1960, Dylan falou superficialmente de seu próximo álbum ao anunciar sua turnê por Estados Unidos e Japão, em um comentário no Facebook em que mencionou que a compra de dois ingressos dá direito a um CD grátis.
Fallen Angels chega um ano depois do último lançamento, Shadows in the Night, uma coletânea de sucessos antes interpretados por Frank Sinatra.
Dylan se manteve vivo e não deu sinal algum de pensar em se aposentar.
Seu álbum de 2012, Tempest, levou alguns fãs a especular - incorretamente - que aquele seria seu último trabalho. As suspeitas se deviam a que a última obra de Shakespeare tem o mesmo título.
Mas o artista se preocupa cada vez mais por preservar seu legado. Na semana passada, anunciou que está vendendo seus arquivos à Universidade de Tulsa (Oklahoma), onde suas anotações e lembranças estarão em exposição perto do museu de um de seus heróis, o cantor de folk Woody Guthrie.
A turnê começará em 4 de junho, em Seattle (estado de Washington) e durará dois meses.
Bob Dylan vendeu o seu baú de memórias
Mário Lopes - Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/bob-dylan-vendeu-o-seu-bau-de-memorias-1725145
Os arquivos de Dylan são compostos por cerca de 6 mil itens que contemplam todas as fases da sua carreira. Ficarão alojados em Tulsa, no Oklahoma, a mesma cidade onde se encontra o Museu de Woody Guthrie, o primeiro herói musical e grande referência de Bob Dylan.
3 mar. / 2016 - Bob Dylan fugiu de Greenwich Village nos anos 1960 por já não suportar a atenção de que era alvo. Quando dylanólogos precoces, simples maluquinhos ou gente que conjugava as duas características, começaram a bater-lhe à porta a horas impróprias ou a vasculhar o seu caixote do lixo em busca de “respostas”, Dylan soube que era a hora de fugir do olhar público. “I was so much older then, I’m younger than that now”, poderá dizer com propriedade, cinco décadas depois. Porque vai ser possível esmiuçar e questionar, descobrir cada passo, cada rasura e cada intenção nas cartas expedidas, nas letras alteradas ou em acordes trocados. Bastará ir até Tulsa (e numa primeira fase, ser um académico reconhecido ou dylanólogo encartado), onde estará disponível um imenso acervo de Dylan.
Adquirido pela George Kaiser Family Foundation, criada pelo maior milionário do Oklahoma, homem liberal num estado conservador, e pela Universidade de Tulsa, que já haviam conseguido levar para a cidade os arquivos de Woody Guthrie, os cerca de seis mil itens que compõem a colecção de Dylan ficarão para a posteridade na mesma localidade que acolhe a do seu primeiro herói e grande referência e onde também encontramos uma mostra permanente de arte nativa americana. “Deixa-me feliz que os meus arquivos, reunidos ao longo de todos estes anos, tenham finalmente encontrado um lar e que sejam agrupados com as obras de Woody Guthrie e, principalmente, ao lado de todos os valiosos artefactos das Nações Nativas Americanas. Faz muito sentido para mim e é uma grande honra”, escreveu Dylan em comunicado, citado pelo New York Times.
O diário norte-americano, a quem foram abertas as portas do arquivo de Dylan, revela que este foi adquirido por uma quantia entre os 15 e os 20 milhões de dólares (entre os 13,7 e os 18,3 milhões de euros). O propósito, tal como já acontecera quando da aquisição do material de Woody Guthrie, é chamar mais gente a Tulsa e revitalizá-la com turismo cultural e com a chegada de investigadores de todo o mundo. “Portland nem sempre foi ‘fixe’, Seattle nem sempre foi ‘fixe’. Uma das formas de fazer a nossa cidade ‘fixe’ é atrair pessoas jovens e talentosas, esperando que algumas delas fiquem cá”, disse George B. Kaiser, 73 anos, ao New York Times.
Meticuloso e obsessivo
Dylan já se vinha revelando metodicamente através das Bootleg Series através das quais fomos conhecendo material musical inédito. Com elas descobrimos a evolução em palco, as canções registadas sem que a edição fosse o objectivo final, bem como o processo criativo em estúdio. Os arquivos, cuja catalogação e preparação para disponibilização pública demorará cerca de dois anos, expandem enormemente essa visão da produção artística de Dylan. Existem as curiosidades, como uma carteira com o cartão de apresentação de Otis Redding, uma nota escrita pela mão de George Harrison comentando a edição de Nashville Skyline, ou uma carta endereçada por Peter Fonda e Dennis Hopper dando conta dos avanços na definição da banda-sonora de Easy Rider. De maior interesse para os estudiosos, para além de mais gravações inéditas, áudio e vídeo, ou da correspondência trocada, por exemplo, com Allen Ginsberg, serão os cadernos manuscritos, através dos quais se revela o carácter meticuloso, no limite do obsessivo, da criatividade de Bob Dylan.
Como conta o New York Times, já era conhecida a existência de um caderno de notas onde o músico registara as letras de Blood on The Tracks, o seu álbum de 1975. Sabe-se agora que existem mais cadernos – o jornal nova-iorquino chama-lhes “uma trindade”. Enquanto isso, as páginas escritas em quartos de hotel, dada a diversidade dos locais que estes identificam, sugerem a imagem de “um auto editor obsessivo em movimento constante”. Marcas de cigarros e de café povoam as páginas que ocupavam Dylan em cada canção – o trabalho em Tangled up in blue, de Blood On The Tracks, ocupa metade de um caderno; uma canção menos conhecida como "Dignity", de Oh Mercy (1989), desenvolve-se ao longo de 40 páginas.
Todo o arquivo foi sendo reunido ao longo dos anos pela equipa de Glenn Horowitz, um negociante nova-iorquino de livros raros que já estivera envolvido na venda do arquivo de Woody Guthrie à George Kaiser Family Foundation. Quando se tornou óbvio o valor de mercado do material relativo a Dylan (manuscritos de letras de canções emblemáticas chegaram a ultrapassar o milhão de dólares em leilão), Horowitz foi contratado para a equipa responsável por tudo o que envolve o músico. Segundo Horowitz, o espólio teria lugar em qualquer universidade, mas a escolha de Tulsa assegura que este seja alvo de uma atenção e destaque que não teria caso fosse destinado a uma grande biblioteca ou universidade, onde sofreria a concorrência de outros arquivos de outros gigantes da cultura.
Neste momento, ainda estão em estudo os moldes em que os documentos dos arquivos, que já têm contas oficiais de Instagram, Facebook ou Twitter, serão disponibilizados. Por agora ficarão alojados no Helmerich Center for American Research, directamente ligado à Universidade de Tulsa, com acesso restrito a académicos e “dylanólogos” reconhecidos. A George Kaiser Family Foundation não exclui, porém, a possibilidade de, próximo do Museu Guthrie, criar no futuro um espaço aberto ao público.
“Falamos de um artista cujo processo de trabalho tem sido tão confidencial quanto a sua vida pessoal”, declara Sean Wilentz, historiador da Universidade de Princeton e autor do livro Bob Dylan in America (2010). Nos últimos anos, através da autobiografia Crónicas Vol.1, do documentário No Direction Home, assinado por Martin Scorsese, e das Bootleg Series, começámos a conhecer melhor a privacidade de Dylan. Agora, quando o grande mestre da música americana da segunda metade do século conta 74 anos, vamos poder saber muito mais.
O arquivo secreto de Bob Dylan
Mais de seis mil itens ligados a obra do artista são adquiridos por universidade americana
Bob Dylan, o gigante da canção americana, escolheu Tulsa como centro de estudo da sua obra DR
O músico Bob Dylan teve uma canção, "Masters of war", citada na prova de inglês - Don Hunstein / Divulgação / Agência O Globo
2 mar. / 2016 — RIO — Há anos, os estudiosos de Bob Dylan comentam sobre um caderno de anotações, visto por poucos, no qual o mestre trabalhava as letras de seu clássico álbum “Blood on the tracks”, de 1975. Pois esse caderno não só existe, como faz parte de um extenso arquivo de mais de seis mil itens, recentemente adquirido pela Fundação George Kaiser Family e pela Universidade de Tulsa, revela o “New York Times”. Esse tesouro privado remonta os primeiros dias de Dylan como artista, incluindo letras, correspondências, gravações, filmes e fotografias. Agora, se tornará um recurso para o estudo acadêmico.
“Para antigos estudiosos, o arquivo inova um sentimento familiar de assombro com a profundidade do poço da Dylanologia. Sempre há mais sob a superfície do que qualquer um poderia esperar”, diz a matéria do “New York Times”.
Uma prévia do “Arquivo Bob Dylan” oferecida ao jornal americano deixa claro que ele é mais vasto do que mesmo os maiores especialistas poderiam imaginar, prometendo uma visão inédita da obra do compositor.
O material está sendo transferido para Oklahoma, estado natal de Woody Guthrie, ídolo máximo do compositor. Após dois anos de catalogação e digitalização, ficará em Tulsa ao lado de um raro exemplar da Declaração de Independência, uma coleção de arte nativa americana e papéis de Guthrie.
Dylan em decisões judiciais
As cortes muitas vezes deixam de lado o testemunho de especialistas quando o assunto é de conhecimento comum. Tanto a corte estadual quanto a federal na Califórnia citaram Dylan para explicar isso: “You don’t need a weatherman to know which way the wind blows.”
Dylan disse em nota oficial estar feliz por seus arquivos terem encontrado uma casa "e serem colocados ao lado das obras de Woody Guthrie e, especialmente, ao lado de todos os valiosos artefatos das nações indígenas norte-americanas". Ele acrescentou, com modéstia típica, "Para mim isso faz muito sentido, e é uma grande honra."
Com rascunhos volumosos de todas as fases da carreira de Dylan, a coleção oferece um olhar abrangente sobre o processo de trabalho de um artista conhecido por criar em segredo. Clássicos dos anos 1960, cujas letras os fãs sabem de cor, aparecem em rascunhos. “You know something’s happening here but you”, diz uma versão inicial de "Ballad of a Thin Man", omitindo o trecho “don’t know what it is” e o famoso desfecho da canção: "Do you, Mister Jones?”.
O arquivo traz ainda centenas de fitas originais, shows inéditos, contratos que vão até o início da carreira de Dylan e outros detalhes pessoais. Há uma carteira de meados dos anos 1960 com o número do telefone de Johnny Cash e um cartão de Otis Redding; além de um telegrama de 1969 de “Peter e Dennis” (Fonda e Hopper, no caso) sobre o uso de “It’s alright, ma (I’m only bleeding)” no filme “Sem destino”. A resposta foi escrita por um advogado.
Com fortuna estimada em US$ 7 bilhões, George B. Kaiser, de 73 anos, é um magnata do petróleo e do setor bancário e o homem mais rico de Oklahoma. Ao “New York Times” ele disse não ser um grande fã de Dylan, mas sim de seu lugar na história americana. Há cinco anos, sua fundação adquiriu os arquivos de Woody Guthrie. Segundo ele, os dois acordos fazem parte da missão de sua empresa de revitalizar Tulsa.
“Portland nem sempre foi legal, Seattle nem sempre foi legal”, disse. “Uma das formas de tornar sua cidade legal é atraindo jovens talentos e esperando que alguns deles fiquem por aqui”.
A oportunidade de adquirir o material de Dylan surgiu em setembro de 2014, quando Glenn Horowitz, negociante de livros raros em Nova York, avisou à fundação de Kaiser de uma oportunidade de “importância global”. Kaiser não comenta quanto pagou pelo material, avaliado em US$ 60 milhões.
Os arquivos foram reunidos ao longo de anos, enquanto Dylan e sua equipe guardavam resmas de material em um depósito. Mas conforme colecionadores curiosos e instituições começavam a fazer perguntas e somas astronômicas eram pagas por manuscritos antigos — uma cópia escrita a mão de “Like a Rolling Stone” foi leiloada por US$ 2 milhões em 2014 —, eles acabaram contratando um arquivista e Horowitz.
O acesso ao material será restrito, mas para estudiosos as credenciais acadêmicas tradicionais não serão aplicadas: “Vamos aceitar acadêmicos sérios e também pessoas conhecidas por serem Dylanologistas”, disse o reitor da Universidade de Tulsa, Steadman Upham.
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