IAN GILLAN: 'SÓ QUERO FICAR TRANQUILO NO MEU BARCO'
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Deep Purple comanda noite incendiária de rock entre cinquentões, sessentões e setentões
Prestes a completar 50 anos de carreira, banda inglesa dividiu a noite com os americanos do Cheap Trick e Tesla, estreantes no Brasil
Deep Purple em ação na Jeunesse Arena - Bárbara Lopes / Divulgação T4F
POR BERNARDO ARAUJO 1
16 dez. / 2017 RIO — Uma banda fundada nos anos 1960, uma nos anos 1970, uma nos 1980 — as duas últimas em sua primeira vinda ao Brasil. O festival Solid Rock, realizado na noite desta sexta-feira na Arena Jeunesse, no Parque Olímpico, mostrou mais uma vez a força do catálogo musical em tempos de internet, além da pouca renovação do gênero. "Só lamento", pareceu dizer o público, que compareceu em bom número, não perguntou a idade dos integrantes de Deep Purple (uns 70, em média), Cheap Trick (chegando lá) e Tesla (50 e poucos) e se divertiu com três colorações diferentes do hard rock, em apresentações redondíssimas.
O Tesla, quinteto de Sacramento, Califórnia, formado em 1981, foi a atração de abertura da noite, pontualmente às 19h30m. A Arena ainda começava a receber o público, sacrificado pelo trânsito sempre complicado das sextas-feiras na Zona Oeste, quando o cantor Jeff Keith (um filhote bastardo de Steven Tyler e Mick Jagger) puxou "Into the now", abrindo espaço para as guitarras de Frank Hannon e Dave Rude, à frente da cozinha de Brian Wheat (baixo) e Troy Lucketta (bateria). A banda não se importou com o público ainda minguado (porém empolgado) e se mostrou animada e entrosada em músicas como "The way it is", "Heaven's trail (no way out)" e o sucesso "Signs", canção originalmente da banda canadense Five Man Eletrical Band, dos anos 1970. Os músicos do Tesla pareciam genuinamente felizes com a reação da plateia a seu som com pitadas de folk e rock sulista ao fim dos 45 minutos de show, encerrado com "Modern day cowboy".
A banda americana Cheap Trick - Bárbara Lopes / Divulgação T4F
Uma narração em português anunciou o Cheap Trick como "a banda mais foda do mundo" e trouxe o quarteto de Chicago, formado no distante ano de 1974, com o visual extravagante que o caracteriza. O lendário guitarrista Rick Nielsen, 68 anos, com seus tradicionais boné e óculos escuros, liderava a banda ao lado do cantor e ex-galã Robin Zander, 64 (bizarramente vestido de terninho estampado e chapelão), que também portava uma guitarra ao cantar "Hello there", primeira música do show. Pouco conhecido no Brasil, o Cheap Trick é uma instituição do rock americano, principalmente na década de 1970, quando emplacou pencas de sucessos. Ao vivo, seu som é mais agressivo do que o que ficou consagrado no rádio, mas as melodias e refrãos — sempre bem cantados por Zander, com a garganta em forma — ganchudos estão sempre presentes. O público embarcou na bagunça do quarteto, que, embalado pelos constantes arremessos de palhetas de Nielsen, também parecia amarradão, ao som de "You got it going on", "I'm waiting for the man" (cover do Velvet Underground cantada por Tom Petersson, um monstro no baixo de doze cordas) e nas mais conhecidas "Dream police" e "Surrender". O Cheap Trick saiu aplaudido após uma hora e meia de show — que cansou parte do público, ansioso pela atração principal.
Às 23h em ponto, a clássica "Mars, the bringer of war", de Gustav Holst, nos alto-falantes, anunciou o Deep Purple, que entrou com a tradicional "Highway Star", incendiando o público. Com o som bem ajustado, os teclados de Don Airey e a guitarra de Steve Morse brilhavam ao lado da voz de Ian Gillan — que, aos 72 anos, não é o mesmo de três ou quatro décadas atrás, mas segura a onda com dignidade e bom humor. A banda toda dá a impressão de que gosta do que faz, como também mostraram Ian Paice (bateria, 69 anos) e Roger Glover (baixo, 72) no bloco inicial do show, que emendou "Pictures of home", "Bloodsucker" e "Strange kind of woman" com a canção inicial — e músicas do Deep Purple, os fãs sabem, não costumam durar três ou quatro minutos.
O baterista Ian Paice, do Deep Purple - Bárbara Lopes / Divulgação TF4
- Superb! — empolgava-se Gillan ao ver a animação cada vez maior do público, que urrava com os longos solos de Airey e Morse. Os dias das viúvas de Richie Blackmore, guitarrista que fundou e ajudou a forjar o som da banda, que deixou definitivamente em 1993, após décadas de problemas de relacionamento com os outros músicos, parecem finalmente ter ficado para trás. A formação atual, junta há 15 anos, já é a mais longeva da história da banda fundada em 1968 em Hertford, na Inglaterra. A turnê se chama The Long Goodbye ("O longo adeus"), mas o próprio Gillan já admitiu que a despedida final pode demorar.
O último a deixar o quinteto, o tecladista Jon Lord, que morreu de câncer em 2012, foi homenageado em "Uncommon man" ("Homem incomum"), e seguiu-se o revezamento entre músicas recentes ("Birds of prey") e antigas ("Lazy"), entremeado por solos e longas passagens instrumentais — que Gillan aproveitava para dar uma descansada. O riff mais conhecido do rock, o de "Smoke on the water", veio com Rick Nielsen, do Cheap Trick, dando uma canja com os colegas ingleses, na guitarra. No bis, uma citação do clássico "Peter Gunn", de Henry Mancini, "Hush" e 'Black night", e estava ganha a noite.
COTAÇÃO: ÓTIMO
Leia mais: https://oglobo.globo.com/cultura/musica/deep-purple-comanda-noite-incendiaria-de-rock-entre-cinquentoes-sessentoes-setentoes-22200267#ixzz51i1uwCZ5
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Ian Gillan, do Deep Purple, diz não ter interesse em ouvir rock: 'Só quero ficar tranquilo no meu barco'
Eles tocam no Rio, em SP e Curitiba. Ao G1, vocalista fala de futebol, Black Sabbath, cafés (ruins) no Brasil e aposentadoria: 'Todo mundo da banda estava doente. Agora estamos bem'.
Por Braulio Lorentz, G1 - https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/ian-gillan-do-deep-purple-diz-nao-ter-interesse-em-ouvir-rock-so-quero-ficar-tranquilo-no-meu-barco.ghtml
Deep Purple (Foto: Divulgação/Jim Rakete)
12 dez. / 2017 - Com mais de 50 anos dedicados ao rock, Ian Gillan não aguenta mais. Ele diz que não ouve música em seu tempo livre: prefere ver futebol. Em três momentos diferentes durante o papo com o G1, ele cita futebol, mesmo sem ter sido perguntado sobre isso.
E quando perguntado sobre a boa fase da seleção inglesa, ele gasta mais tempo do que em qualquer outra pergunta anterior.
Mas música, claro, ainda assim é o principal assunto. Na entrevista, ele diz que o Deep Purple seguirá em turnê "por mais dois, três ou quatro anos". Os três shows no Brasil neste mês (veja serviço abaixo) não devem ser os últimos da banda por aqui.
O cantor fala ainda sobre o disco que gravou com o Black Sabbath ("Não curti muito a produção, o som é abafado") e evita comparar as diferentes formações do Deep Purple.
"É a mesma coisa que perguntar qual a diferença de um bom time de futebol de agora se comparado a um dos anos 70. Se os dois são campeões, qual a diferença?", pergunta.
G1 - Você sabe quantas vezes veio ao Brasil?
Ian Gillan - Eu não lembro bem quantas vezes. É sempre um choque, é um país extravagante, cheio de música e de energia. As melhores lembranças são do começo, de conhecer o Rio pela primeira vez e me encantar. Também estive em São Paulo, Brasília... E desde as minhas primeiras idas fiz amigos e eu tento encontrá-los de novo. Tudo é fantástico. Quer dizer, tem uma coisa que não é...
G1 - O quê?
Ian Gillan - O café. [Risos] Ele é horrível. Tudo é demais, mas não gosto mesmo do café brasileiro.
G1 - Você diria que esta deve ser a última vinda do Deep Purple à América do Sul?
Ian Gillan - Há uns dois anos, todo mundo da banda estava mal, doente. E a gente pensou: "Talvez a gente deva parar agora". Mas agora estamos nos sentindo melhor. Todo mundo está em forma. Então, devemos seguir em turnê por mais dois, três ou quatro anos. E eu acho que devemos, sim, voltar para a América do Sul nesse tempo.
G1 - Qual sua opinião sobre o rock hoje? Você escuta bandas novas?
Ian Gillan - Eu quase não escuto música, só quando estou trabalhando no estúdio ou em turnê. Mas não sei muito bem o que está acontecendo com o rock hoje. Quando não estou trabalhando, eu só quero ficar tranquilo no meu barco, sem escutar música.
G1 - Por que não escuta música no barco?
Ian Gillan - Eu já ouvi música o bastante durante a minha vida toda. Nos seis meses do ano em que não estou trabalhando com música, eu só quero saber de relaxar. Faço outras coisas, como ler, ver futebol... Não tenho interesse em ouvir rock.
G1 - Sei que você não gosta do rótulo "rock clássico". Por quê?
Ian Gillan - Não gosto de rótulos em geral, somos o que somos... Eu entendo a necessidade de se criar rótulos, para vender revistas, para poderem falar sobre a gente. Mas se quiser a minha opinião honesta, eu não gosto dessas coisas. Não tenho interesse. Se você quiser falar de "rock clássico" em um programa de rádio, tudo bem. Vai lá. Mas não peça que eu goste disso.
G1 - O que você costumava fazer nos anos 60 e 70 que parou de fazer?
Ian Gillan - Essa é fácil. Eu costumava jogar futebol e não faço isso mais. Eu jogava críquete e não faço isso mais. Eu dirigia carros em alta velocidade e não faço isso mais. [Risos] Hoje, eu também fico bem menos bêbado do que eu ficava naquela época. Eu também parei de usar umas roupas bem ridículas que eu usava. [Risos]
G1 - Além de beber menos, quais cuidados você tem para seguir cantando bem?
Ian Gillan - Eu tento me manter em forma e canto muito. Acho que se você canta bastante, é mais fácil. Sua voz fica melhor se você se acostuma a cantar muitas vezes e não só duas ou três por ano, em estúdio. Não faço nada especial, só canto bastante mesmo. Não tenho preparo vocal. Os desafios de cantar ao vivo são o suficiente.
G1 - O que a formação de hoje do Deep Purple tem de melhor e pior em relação às outras?
Ian Gillan - É a mesma coisa que perguntar qual a diferença de um bom time de futebol de agora se comparado a um dos anos 70. Se os dois são campeões, qual a diferença? Como você vai comparar os dois times? Como comparar o Ritchie Blackmore com o Steve Morse e com Joe Satriani?
O que eu posso dizer é que temos química. Essa banda está bem estável por uns 25 anos. Somos bons amigos e a mágica está no palco. Também era assim nos anos 60 e 70... Eu tenho ótimas lembranças, mas o tempo passa e as coisas mudam. As pessoas morrem, mudam e a vida continua.
G1 - Você passeia de barco em Portugual, certo? Aprendeu português?
Ian Gillan - Eu fico quase sempre em Algarve. Eu não falo tão bem português não. Falo o suficiente para fazer compras e pedir cerveja no bar. Sei dizer boa tarde e falar os dias da semana. Mas faço todos os meus amigos portugueses falarem em inglês. [Risos]
G1 - Tendo citado futebol tantas vezes, quero saber sua opinião: você acha que a Inglaterra tem chances na Copa da Rússia? Por ter um bom time e ter sido campeã nas Copas sub-17 e sub-20...
Ian Gillan - Interessante você dizer isso, porque os jogadores jovens tiveram sucesso várias vezes, por muitos anos, mas não têm chance de jogar em seus times no Campeonato Inglês. Eles estão prontos... Nos últimos amistosos da seleção, alguns jogadores estavam machucados, então foram chamados vários jovens... Eles ficaram meio nervosos, mas acho que eles são mais criativos do que os outros jogadores. Foi legal vê-los. Tomara que dê certo.
Porque é uma pena ver esses jogadores fazerem 20 anos, não jogarem por seus clubes, e deteriorarem, não se desenvolverem. Não sei o que vai acontecer na Copa. Eu lamento que seja no verão, então os jogadores ingleses geralmente estão exaustos. Acontece isso na Eurocopa também. Eles parecem ter menos energia. Mas acho que os jogadores jovens vão conseguir fazer algo interessante.
G1 - Você já disse que 'Born Again', o disco que você fez com o Black Sabbath, é um dos piores que você gravou. Mas os fãs aqui no Brasil amam... Por que diz isso?
Ian Gillan - Eu não disse que era "o pior álbum". Eu amo o disco, o que sempre acontece é que algumas declarações são publicadas fora do contexto. O disco tem algumas músicas que eu acho que são ótimas. Adorei trabalhar principalmente com o Tony [Iommi, guitarrista do Black Sabbath].
É uma banda incrível e eu os respeito muito. Não curti muito a produção, acho que ficou abafado e eu queria um som mais limpo. Mas eu consigo ouvir "Trashed", e ela está no top 5 da minha vida inteira.
Deep Purple no Brasil
Quando: Sexta-feira, 15 de dezembro, às 19h30
Onde: Jeunesse Arena – Avenida Embaixador Abelardo Bueno, 3401, Barra da Tijuca
Preço: R$ 250 (cadeira superior), R$ 280 (cadeira central), R$ 310 (pista), R$ 350 (cadeira lateral) e R$ 580 (pista premium). Há meia-entrada
A compra de entradas pode ser feita pela internet, no site da produtora Time 4 Fun, nas bilheterias oficiais e em outros pontos de venda espalhados pelo país.