A musa da Swinging London
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A musa da Swinging London
(Mário Pacheco)
“Marianne Faithfull sempre quis chocar”, escreveu o crítico Nick Cohn. “Mas nunca caiu na vulgaridade. Mesmo mergulhada na sarjeta, permaneceu uma Lady”. Filha de uma baronesa austríaca, educada em colégio de freiras, casada com John Dunbar, o dono da galeria de arte Indica, cantora, modelo de Salvador Dalí, garçonete nua num bar de West End londrino, e, segundo suas próprias palavras, “loucamente desejosa de ser morta por um homem fazendo o amor”. Seu tio-avô era o barão Leopoldo Von Sacher-Masoch, cuja novela Venus und Pelz deu origem ao termo masoquismo.
Na primavera de 1964 no primeiro encontro com Jagger numa festa Marianne quando os Stones entravam para os círculos badalados, ela era uma belíssima e culta jovem de 17 anos que foi avistada na festa pelo empresário dos Rolling Stones, Andrew Loog Oldham. Fascinado, Oldham contratou-a na hora.
Com o sucesso, Marianne caiu na badalação e no inevitável encontro com as drogas através de Brian Jones.
Fez também teatro, foi a Ofélia de Hamlet numa versão do Old Vic e cinema A garota da motocicleta, dividindo a tela com Alain Delon.
Londres - 1994, uma das sensações do verão inglês esta nas livrarias, aos 47 anos Marianne Faithfull, lançou o livro de memórias Faithfull escrito com ajuda de David Dalton, a cantora não escondeu seu passado de aventuras lisérgicas, situações que muitas pessoas imaginam como roteiro de um filme de rock dos anos 60. Sua relação com os Stones começou depois que Mick e Marianne assistiram a um show de Ike e Tina Turner em 1966. Ficaram juntos por quatro anos, separaram-se poucos meses depois do maligno Altamont.
A biografia chegou as livrarias depois de Marianne ter encontrado o refúgio que sempre sonhou: uma propriedade de mil acres à meia-hora de Dublin, Irlanda. Ela conheceu a casa onde mora há 20 anos numa “viagem de LSD”. “Vi a casa pela primeira vez com Mick e Marina Guiness, mas não conseguimos entrar. Ficamos olhando pela janela e eu dizendo comigo mesmo: este ácido é fantáááástico”, narra ela.
Não se sabe se o efeito das drogas chegou a tanto, mas a verdade é que Marianne embaralha tudo no trecho que fala de sua passagem pelo Brasil, com Mick Jagger. Reescreveu o litoral brasileiro ao afirmar que foram a um lugar estranho, a Bahia que fica “na costa norte do Rio”. Na Bahia teriam participado de um ritual sagrado “Chamado Santeria”. Assim como confundiu Rio e Bahia, trocou Brasil por Cuba. Santeria é uma espécie de macumba da terra de Fidel Castro.
“Após algumas semanas, decidimos ver o que mais o mundo tinha a nos oferecer. Pegamos um voo para o Rio de Janeiro. Primeiro ficamos em Copacabana. Nunca saímos do hotel antes da noite, quando ficava mais frio. Então saíamos para beber champanha e comer caviar... Depois de algumas semanas percebemos que não era aquilo que nós procurávamos. Encontramos um casal de negros de Nova York que nos contou sobre um lugar estranho e selvagem na costa norte do Rio, chamado Bahia. Fomos para lá. Na primeira noite ficamos muito loucos e fomos assistir a uma cerimônia religiosa chamada Santeria que era organizada na igreja principal de uma cidadezinha. A fachada da igreja estava toda iluminada, como se fosse um teatro do East End. Danças selvagens e tambores. Não havia nenhuma pessoa branca na festa. Nós parecíamos a família sagrada. O Mick estava com barba e tinha o cabelo muito grande. Eu carregava uma criança. Alguma coisa aconteceu e as pessoas começaram a ficar com raiva de nós. Tivemos que fugir do lugar. Sempre achei que esta experiência levou Mick a usar samba como base para a música Sympathy for the devil”.
“Era como se um deus do Olimpo estivesse vindo até mim”. (de seu relacionamento com Bob Dylan).
Trechos do livro
“Respeito-a muito. Mais do que isso: gosto dela. Marianne Faithfull é uma mulher inteligente e cuja sensibilidade é tão aguçada que ameaça destruí-la a cada instante. Ando muito preocupada com isso”. Bianca Jagger.
“Meu principal objetivo era ter um rolling stone como amante. Eu dormi com três e decidi que o cantor era o melhor” - (...)
“Nunca mais gozei em minha vida. Os Rolling Stones destruíram minha vagina”.
“Eu sou a única pessoa que conseguiu sobreviver com o lucro das drogas” - Marianne Faithfull, a respeito dos direitos autorais de Sister Morphine, que Jagger/Richards assinaram, mas era de sua autoria.
No documentário "Rock’n’Roll Circus", Marianne Faithfull queria cantar Sister Morphine, mas Jagger vetou a ideia.
O orgasmo da musa dos Rolling Stones
(revista Época - 2002)
Uma nova biografia dos Rolling Stones, recém- lançada nos Estados Unidos, reúne histórias divertidas e traz uma minuciosa cronologia da banda. Chama-se "Old Gods almost dead – the 40 year old odyssey of the Rolling Stones" (Velhos deuses quase mortos – a odisséia de 40 anos dos Rolling Stones), é assinada pelo jornalista Stephen Davis, tem 624 páginas e um ensaio com 48 fotos em preto-e-branco. No livro fica-se sabendo que os orgasmos de uma musa dos Rolling Stones inspiraram a composição de She’s a rainbow. Trata-se da cantora inglesa Marianne Faithfull, então namorada do guitarrista Keith Richards.
Cantora Marianne Faithfull diz estar curada de câncer de mama
da Folha Online
6 nov. / 2006 - A cantora Marianne Faithfull, 59, divulgou um comunicado afirmando estar curada do câncer de mama que a afastou dos palcos recentemente. Ela faz planos para iniciar a turnê pelos Estados Unidos e Europa, que aconteceria em outubro e foi cancelada um mês antes.
Segundo seu porta-voz, Rob Partridge, a cantora se recupera de uma cirurgia e está caminhando rapidamente "para a total recuperação". "Ela tem se recuperado tão bem que os médicos a liberaram para voltar à sua turnê no ano que vem", disse Partridge. A excursão começará por Budapeste (Hungria) em março.
Em um comunicado à imprensa, Marianne afirmou que sua batalha contra a doença "tem sido uma experiência extraordinária e, em muitos sentidos, extremamente positiva". "Não havia notado quantos amigos verdadeiros eu tenho. Sinto-me muito sortuda e amada", disse a cantora.
No ano passado, ela lançou seu 20º álbum, "Before the Poison", do qual participaram artistas como PJ Harvey, Nick Cave e Damon Albarn. Marianne também se dedicou ao cinema, atuando ao lado de Kirsten Dunst em "Maria Antonieta", de Sofia Coppola.
Em 2004, Marianne já havia cancelado uma turnê na Europa depois de desmaiar antes de um show na Itália. Na ocasião, os médicos diagnosticaram uma "exaustão crônica".
Marianne conquistou fama nos anos 60 como namorada de Mick Jagger e com sua interpretação do clássico dos Rolling Stones As Tears Go By.
Irina Palm traz Marianne Faithfull em ótima forma
O Estado de S. Paulo
Filme de Sam Garbaski, que promete ser o sucesso do Festival de Cinema de Berlim, mostra mulher que se tornou ícone dos anos 60, Marianne Faithfull, em ótima forma
14 fev. / 2007 - Julio Chávez perdeu a conexão em algum ponto no trajeto entre Buenos Aires e Berlim e não conseguiu chegar a tempo da coletiva de El Otro, filme argentino de Ariel Rotter que participa da disputa pelo Urso de Ouro.
Marianne Faithfull veio - e com o filme mais desconcertante deste festival (e que se arrisca a virar também seu maior sucesso de público).
Irina Palm, de Sam Garbaski, teve aplausos em cena aberta durante quase toda a projeção. No final, ouviram-se algumas vaias, soterradas pela avalanche de aplausos.
O que parecia difícil, senão impossível, aconteceu - Marianne é quase tão boa ou até melhor do que Marion Cotillard, a impressionante Edith Piaf de La Môme, exibido no primeiro dia da Berlinale.
Ainda existem importantes concorrentes chegando, mas é possível que a terça-feira entre para os anais do Festival de Berlim de 2007 como o dia em que foram projetados, em seqüência, os filmes com o melhor ator e a melhor atriz. Julio Chávez está excepcional em El Otro, mas na verdade ele já era em El Custodio, de Rodrigo Moreno, exibido há dois anos aqui em Berlim. O filme de Ariel Rotter não pertence à vertente das histórias humanas que pontuam o cinema argentino.
Grande ator
Apesar de todas as diferenças, está mais próximo do universo de metáforas e símbolos de Lucrecia Martel. O diretor disse algo importante - que seu filme, pelo tipo de jornada interior vivida pelo protagonista, poderia ser sobre um homem sentado, pensando. Seu desafio, ele disse, foi transformar o pensamento em ação. A cumplicidade do ator foi fundamental.
Quem viu El Custodio, que no Brasil se chamou O Guarda-Costas, deve lembrar-se da economia de gestos (e diálogos) com que Chávez criava seu personagem. Ele é talvez o ator mais justo, no sentido de exato, do cinema argentino. Não há nada supérfluo na sua presença na tela. A história, ou a jornada interior, é deste homem que tem um velho pai cujas condições físicas estão se deteriorando e que vai ter um filho.
Ariel Rotter fez um filme sobre o tempo que passa e as mudanças que opera no corpo. Chávez vive uma crise de identidade e, num impulso, registra-se em hotéis com nomes falsos. Uma hora ele descobre que o homem cujo nome adotou morreu e está sendo velado Ele vai à capela e tem a antecipação da própria morte. Em outra apresenta-se como médico - e tem de atender a uma emergência.
Irina Palm
Existem ecos de Pirandello, Cortázar e Antonioni (O Passageiro: Profissão Repórter), mas Ariel Rotter minimiza essas influências porque sua grande referência é a poesia de Fernando Pessoa, com seus heterônimos. Na sessão seguinte à de El Otro, Marianne Faithfull entrou em cena com outra história
de família.
Marianne é um mito dos anos 60, os anos que mudaram tudo. Com quantos anos ela deve estar hoje, uns 70? Não importa a idade, ela continua transgressora. Irina Palm conta a história dessa mulher cujo neto está no hospital. A chance de sobrevivência do garoto está ligada a um tratamento em outro lugar. O filho de Marianne, o pai da criança, não tem dinheiro.
A mulher, que revela uma tensão com a sogra, também não sabe de onde poderá tirar o dinheiro. Marianne vai à luta.
Em busca de um emprego, ela vai parar num lugar que pede "hostesses" e aí ela descobre que se trata de um eufemismo para "whore" (prostituta). Mas Marianne tem essas mãos aveludadas que chamam a atenção do dono do negócio. Satisfação garantida, sua habilidade a transforma num sucesso com os clientes e surge sua transformação na Irina Palm do título, por quem fazem fila os freqüentadores da loja de sexo.
Claro que ocorrem coisas engraçadas (e outras nem tanto), primeiro no processo de adaptação da heroína madura à função, depois no envolvimento de Irina com o dono da firma e, finalmente, quando o filho descobre tudo. Marianne nunca é menos que perfeita. Uma velha dama indigna - sua arte consiste na forma impudente como ela desempenha a função. O filme poderia ser sórdido, chocante. Não é. É o tipo do tema que agrada ao presidente do júri, Paul Schrader, que dirigiu O Submundo do Sexo, com George C. Scott no papel de um homem que procura a filha que se perdeu, como diria Plínio Marcos, nas quebradas da vida.