GEORGE HARRISON: 'SOU O BEATLE CLASSE ECONÔMICA' (2001)
- Details
- Hits: 1914
'SOU O BEATLE CLASSE ECONÔMICA'
(Keith Badman, biógrafo dos Beatles*)
30 nov. / 2001 - George Harrison era o Beatle relutante.
Enquanto os outros integrantes dos Beatles – John Lennon, Paul McCartney e Ringo Starr – ficavam felizes com a luz dos holofotes, George estava sempre se esquivando da fama.
Ele foi forçado a existir sob a maravilhosa sombra musical de Lennon e McCartney, o que fez com que o próprio George descrevesse sua posição como o "Beatle classe econômica".
Mais tarde, ao comentar o antigo grupo, ele admitiu: "Eu me sentia como um observador dos Beatles, mesmo sendo parte deles. Acho que Paul e John eram as grandes estrelas".
Relações pós-Beatles
Mas, afora uns pequenos desentendimentos, George sempre permaneceu próximo a John depois do fim do grupo. Com Paul, o caminho foi muito mais árduo.
Quando Paul anunciou que um tipo de reconciliação dos Beatles estava em discussão, George respondeu declarando, como havia feito em 1974, que "não queria jamais voltar a tocar numa banda com Paul McCartney".
De Ringo, George sempre permaneceu próximo, freqüentemente sendo visto em público com ele e eventualmente até fazendo shows conjuntos, como o especial de TV Carl Perkins e os shows da organização beneficente britânica Princes Trust em 1985 e 1987.
E – enquanto John, Paul e George tiveram suas dificuldades ao lidar um com o outro depois do fim dos Beatles – Ringo tornou-se a ponte entre os ex-integrantes do grupo.
Para os fãs, a idéia de que dois membros dos Beatles não estão mais com a gente é um pensamento duro de aceitar.
Quando assistimos o primeiro filme do grupo, A Hard Day’s Night, ou qualquer outro de seus filmes, honestamente acreditávamos que os Beatles e seus integrantes eram mais que humanos e durariam pela eternidade, sem envelhecer.
A morte de John
Muito devagar e relutantemente, nos acostumamos com a ideia da trágica morte de John Lennon em 1980. Mas, 21 anos mais tarde, a morte de George Harrison – que sucumbiu ao câncer – faz com que nos déssemos conta de que mesmo os grandes Beatles são suscetíveis a coisas que afligem meros mortais.
Pela primeira vez, parece que George – até que enfim! – se tornou o beatle mais importante, e isso deve ter dado a ele imenso prazer. Ele deve, finalmente, ter se dado conta de que nós realmente amávamos esse quieto, espiritualista e doce integrante da banda.
O legado dos Beatles permanece inigüalado.
Nós ainda vamos falar, ouvir e dissecar o legado do grupo por muitos anos.
Uma nova geração de adoradores dos Beatles vai nascer no ano que vem, quando Love Me Do completar seu 40º aniversário.
Um beatle a menos
Mas o mais triste é que agora, 39 anos depois de sua estréia, apenas Paul e Ringo permanecem com a gente, a nos entreter e conquistar. Simplesmente não me parece certo.
E nós realmente acreditávamos que eles sobreviveriam a todos nós. Felizmente, tenho certeza de que Paul ainda estará com a gente quando ele tiver 64 anos, ainda lançando discos e promovendo o vegetarianismo.
E também tenho certeza que Ringo vai continuar a se apresentar e a lançar discos por muitos anos ainda.
George uma vez descreveu a morte como a remoção de um sobretudo, enquanto o espírito segue vivendo. Graças à sua forte crença em Krishna, George encarou a morte de John de maneira filosófica.
Mas sua morte ainda virá como um choque para seus ex-colegas dos Beatles e para as muitas legiões de fãs ao redor do mundo.
Paul recentemente deixou de lado as promoções de seu disco, Wingspan, para visitar George na Itália. Ringo também disse que vinha mantendo contato constante com George.
Não há nada que possa ser escrito para descrever como eles devem estar se sentindo. Mais do que perder um colega dos Beatles, eles perderam um amigo querido, alguém com quem eles passaram boa parte dos loucos anos 60.
Nesta hora triste, eles vão procurar conforto quando lembrarem da canção escrita por George com a frase: "Life flows on within in and without you", ou "a vida segue em você e sem você".
Em relação aos fãs, não há dúvidas de que veremos cenas de histeria em massa.
A casa de George, em Henley on Thames, assim como o apartamento de John, no edifício Dakota, em Nova York, vai se transformar num santuário para milhares de fãs do mundo todo.
Para muitos desses fãs, os Beatles são sua vida, e a ideia de que há um Beatle a menos no mundo vai ser muito difícil de digerir.
*BBC BRASIL.COM
Harrison lutava para se fazer ouvir, diz "quinto" Beatle
da Reuters, em Coleshill - (Folha de S. Paulo)
30 nov. / 2001 - O produtor dos Beatles George Martin disse na sexta-feira que o guitarrista George Harrison precisou lutar duro, como compositor, para se fazer ouvir, sendo geralmente preterido por seus colegas de banda John Lennon e Paul McCartney.
Apelidado de "o quinto Beatle" devido a seu estreito envolvimento musical com o grupo, Martin recordou que, no início, foi apenas com dificuldade que Harrison conseguiu que suas canções fossem incluídas em álbuns dos Beatles.
"George era o mais jovem do grupo. Ele era o garoto que seguia os outros", contou Martin, 75, à Reuters Television no dia em que foi anunciada a morte de George Harrison.
"Acho que, com talentos como John e Paul, provavelmente os maiores compositores do século 20, a oposição era dura. Eles colaboravam e rivalizavam entre si."
"George teve que fazer tudo sozinho. Ele estudava, se esforçava. Tinha determinação, construía sua música com cuidado e muito trabalho, com cada pincelada em seu devido lugar."
Martin, que esteve estreitamente envolvido com os Beatles durante toda sua carreira, disse que George Harrison foi formando sua técnica de composição até o ponto de tornar-se um grande compositor.
Ele descreveu "Something", composta em homenagem a Pattie Boyd, a primeira mulher de Harrison, como "uma das maiores canções de amor já escritas".
Ele também recordou a espiritualidade do músico, dizendo que Harrison não queria ser famoso.
"George era uma pessoa muito espiritualizada", disse Martin. "Ele acreditava com firmeza que a alma é o mais importante de tudo. Dizia, com frequência, que precisamos descobrir o que viemos fazer no mundo."
George Harrison era "o Beatle discreto e quieto"
da Reuters, em Los Angeles - Folha de S. Paulo
30 nov. / 2001 - Ele era conhecido como "o Beatle discreto e quieto", mas "frustrado" talvez teria sido um rótulo mais apropriado para George Harrison, que se via relegado à sombra por dois dos mais importantes compositores da história da música.
Mesmo assim, o guitarrista conseguiu fazer um trabalho memorável nos Beatles, e uma das coisas importantes foi despertar seus colegas de banda para o misticismo oriental.
Harrison, que morreu em Los Angeles na quinta-feira, compôs e cantou pérolas dos Beatles como "Something", "While My Guitar Gently Weeps", ``Here Comes The Sun'' e "Taxman".
Depois que os Beatles deixaram de existir como grupo, ele embarcou numa carreira solo que começou forte em 1971 com o lançamento do álbum triplo "All Things Must Pass", e os singles "My Sweet Lord" e "What Is Life". Mas seus trabalhos posteriores não conseguiram equiparar-se ao nível mostrado nesse primeiro álbum.
No final dos anos 1980, sua carreira voltou a decolar em função da banda The Traveling Wilburys, que também incluía Bob Dylan, Tom Petty, Jeff Lynne e o falecido Roy Orbison.
No ano passado, Harrison relançou "All Things Must Pass" com uma versão atualizada de "My Sweet Lord". Na época de sua morte, ele estava criando novas músicas para um álbum, com a colaboração de seu filho, Dhani.
Quando garoto, Harrison sofreu influência de guitarristas como Jimmie Rodgers, Carl Perkins, Scotty Moore e Eddie Cochran. Mas não era um estudante fanático.
"Só Deus sabe como consegui virar quem sou", disse ele à revista "Billboard" em 1996. "Quando era garoto, eu ficava estudando, mas não conseguia me concentrar por muito tempo."
Já como Beatle, Harrison assistiu a John Lennon e Paul McCartney comporem um sucesso após o outro. Harrison teve que brigar para ter suas composições aceitas nos álbuns do grupo. A mesma coisa, aliás, se deu com Ringo Starr, em grau um pouco menor.
No entanto, Harrison exerceu grande influência sobre o som dos Beatles, criando, com a guitarra Rickenbacker de 12 cordas, sua marca registrada, sons memoráveis em canções como "A Hard Day's Night" e "Ticket to Ride".
A amizade com o músico indiano Ravi Shankar e o controvertido guru Maharishi Mahesh despertou seu interesse pela cultura oriental. George Harrison aprendeu a tocar a cítara e a usou em canções como "Rain" e "Norwegian Wood".
Ele teve que esperar até 1969 para conseguir seu primeiro single lado A: "Something", do álbum "Abbey Road". A balada, que ele compôs em homenagem à sua primeira mulher, Patti Boyd, foi sua canção mais conhecida com os Beatles.
Até então, suas composições eram usadas principalmente como "recheio de álbuns", como foi o caso de "I Need You" e "You Like Me Too Much", no disco "Help!" (1965), e de "Think for Yourself" e "If I Needed Someone", em "Rubber Soul" (1965).
"Taxman", de "Revolver" (1966), foi uma música inovadora na qual ele teceu críticas irônicas ao sistema tributário britânico. No ano seguinte, Harrison conseguiu incluir Within You Without You' no álbum "Sgt. Pepper's Lonely Heart's Club Band".
Seu amigo Eric Clapton tocou guitarra solo em "While My Guitar Gently Weeps", do álbum duplo "The Beatles", de 1968, que incluiu três outras faixas de Harrison: "Piggies", "Long, Long, Long" e "Savoy Truffle".
George Harrison é o Beatle que, pela lógica, teria mais a ganhar com o fim do grupo, em 1970. Livre da sombra de Lennon e McCartney, ele podia seguir sua própria musa.
No ano passado ele disse que curtiu a liberdade com a qual gravou "All Things Must Pass", em 1971, com artistas como Eric Clapton, Bobby Keys, Dave Mason e Jim Gordon.
"Foi um alívio enorme poder gravar todas as minhas composições, que anteriormente não tive onde produzir", contou o ex-Beatle.
O álbum vendeu bem. Mas George Harrison se envolveu num processo desagradável por plágio, com a alegação de que "My Sweet Lord" teria plagiado "He's So Fine", dos The Chiffons.
Os trâmites legais se arrastaram por 20 anos e Harrison acabou sendo absolvido da acusação, chegando a ficar com os direitos autorais de "He's So Fine".
Comentário: O mais discreto, mas não o menos talentoso Beatle
(Sonia Delesalle) - da France Presse, em Londres - Folha de S. Paulo
30 nov. / 2001 - George Harrison, que morreu nos Estados Unidos aos 58 anos de idade, em conseqüência de um câncer, foi, sem dúvida, o mais discreto dos Beatles e seu talento acabou ocultado pelo brilho de seus companheiros John Lennon e Paul McCartney.
No tempo áureo dos Beatles, assim como sua posterior carreira de músico, que teve altos e baixos, George Harrison sempre foi tímido, mantendo-se em segundo plano. E, no entanto, foi o autor de algumas das mais belas canções do célebre conjunto de Liverpool.
"Here Comes the Sun", "While My Guitar Gently Weeps" e "Something", entre outras, são composições suas.
Amigo de escola de Paul McCartney, Harrison tinha apenas 15 anos em 1959 quando se uniu aos "Quarrymen", que se transformariam depois dos famosos Beatles.
Quatro anos antes, havia fundado seu próprio conjunto, "The Rebels", junto com seu irmão.
Em 1960, Ringo Starr se uniu a Lennon, McCartney e Harrison, e assim começou a formidável aventura dos Beatles. Depois de tocar em clubes nocurnos de Hamburgo (norte da Alemanha), o conjunto se apresentou no The Cavern, um clube de Liverpool, onde atraiu a atenção de Brian Epstein, seu futuro agente.
Desde os primeiros momentos, John Lennon e Paul McCartney colaboraram de forma estreita na criação das canções e das letras. George Harrison, por sua parte, preferia compor sozinho suas canções.
Quando os Beatles estavam no apogeu de sua glória, George Harrison foi se interessando cada vez mais pelas correntes espiritualistas orientais, que influenciaram tanto sua obra, como a do grupo, especialmente em "Within You Without You", do álbum "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band".
Paralelamente a sua carreira de Beatle, lançou discos solo ("Wonderwall Music" e "Electronic Music") e produziu "Hare Krisna Mantra", que reunia 20 canções.
Apenas um ano depois da separação dos Beatles, em 1970, George Harrison lançou "My Sweet Lord" e deu uma série de shows em Nova York, cujas rendas doou para Bangladesh.
Seu disco seguinte, "Living In The Material World", recebeu uma modesta acolhida. Depois, uma turnê catastrófica nos Estados Unidos e o disco "Dark Horse" coincidiram com problemas de ordem pessoal.
Sua mulher, a modelo Patti Boyd, o trocou por um de seus amigos, o guitarrista Eric Clapton. O casal se separou em 1974 e se divorciou em 1977. Clapton e Harrison ficaram brigados até o princípio dos anos 90.
Mas em 1974, George Harrison conheceu Olivia, americana de origem mexicana, com quem se casou em 1978 e com quem teve um filho.
Harrison fez uma incursão no cinema, fundando uma firma de produção e financiando os Monthy Python em "A vida de Brian" e Madonna em "Surpresa de Xangai".
Depois de vários sucessos, a empresa sofreu uma série de reveses financeiros, e finalmente foi vendida para uma companhia canadense.
Em 1981, George Harrison retornoou com êxito em uma homenagem a John Lennon, "All Those Years Ago", na qual participaram Paul McCartney e Ringo Starr.
Poucos anos depois, formou o grupo "Traveling Wilburys", com Bob Dylan, Roy Orbison, Tom Petty e Jeff Lynne.
Em 1992, se apresentou no Japão junto com Eric Clapton, com quem havia se reconciliado. Paralelamente, apoiou o Partido da Lei Natural, que promovia a meditação transcendental, na campanha eleitoral britânica de 1992.
Em 1997, foi operado de um tumor cancerígena na garganta. E, em março passado, foi submetido novamente a um câncer de pulmão.
Voltou aos noticiários em dezembro de 1999, quando um fã desequilibrado entrou em sua mansão de 120 cômodos de Oxfordshire (oeste de Londres) e o esfaqueou dez vezes no peito. Nessa ocasião, salvou-se graças à iniciativa de sua esposa, que colocou o agressor fora de combate atingindo-o com um abajur.
George Harrison era o roqueiro que soube envelhecer
da Reuters, em Londres
30 nov. / 2001 - George Harrison, que morreu na quinta-feira aos 58 anos, foi o Beatle mais discreto e calado, mas que soube amadurecer com elegância.
Muitos dos grandes roqueiros se recusam a agir como homens maduros, e os excessos no mundo hedonista do sexo, drogas e rock'n'roll só contribuem para sua aura de astros eternos.
O Rolling Stone Mick Jagger é o clássico roqueiro envelhecido que luta contra a devastação do tempo, mesmo que seu crédito tenha aumentado quando ele apareceu como "pin-up do cachimbo e chinelo" na capa de uma revista para cinquentões.
Jagger, que teve sete filhos de quatro mulheres, finalmente admitiu, aos 58 anos: "Acho que, como a maioria das pessoas, meus valores morais tendem a ser bem confusos".
E seu colega Keith Richards, frequentemente considerado o roqueiro mais "acabado" em atividade, também não dá sinais de desistir e se render à velhice.
A lista de roqueiros de terceira idade que custam a entregar os pontos é grande - Rod Stewart, Alice Cooper, Mike Love, Timothy Schmit (do Eagles), Bryan Ferry - todos em plena atividade, com turnês e álbuns.
Como disse Cooper, "o rock é um tipo de vírus". E ele não disse isso como algo positivo.
O ex-Dire Straits Mark Knopfler é o único que, afinal, pode se gabar de ser chamado de verdade de dinossauro do rock. Cientistas chamaram a ossada de uma criatura de 70 milhões de anos, encontrada em Madagascar, de Masiakasaurus Knopfler, em homenagem ao guitarrista.
A música do roqueiro estava tocando quando eles desencavaram o dinossauro.