FÃ CONTA EM LIVRO BASTIDORES DOS ROLLING STONES (2009)
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Fã conta em livro bastidores dos Rolling Stones
FERNANDA EZABELLA
Colaboração para a Folha
5 mai. / 2009 - Entre sexo, drogas e rock'n'roll, Bill German ficou só com o último. E não por falta de chance. Quando garoto, desistiu de perder a virgindade para ir atrás de uma gravação rara dos Rolling Stones. Mais velho, deixou de tomar diversas drogas ao lado dos membros da banda. Tudo para estar sempre disponível e sóbrio para narrar as aventuras em seu fanzine, Beggars Banquet.
Histórias de amor pelos Stones, intercaladas por outras de ódio entre os integrantes do grupo, estão num livro recém-lançado nos EUA, assinado por German, 46, chamado Under their Thumb - How a Nice Boy from Brooklyn Got Mixed Up with The Rolling Stones (and Lived to Tell About It).
Divulgação |
Bill German, o fã e o ídolo, Keith Richards |
German era um rapaz de 16 anos do Brooklyn, NY, que conseguiu se enturmar com os Stones e sobreviver às baladas para contar tudo depois, embora com alguns traumas e pensamentos suicidas no final. O fanzine durou de 1978 a 1996. Era lido inicialmente por ninguém e, mais tarde, virou boletim oficial da banda, por um ano.
"Acho que sexo é uma parte normal da vida que sempre estará lá, mas não os Stones. Sexo pode esperar, os Stones não esperam ninguém", disse à Folha o autor. "E, se você quiser qualquer coisa deles, seja ingressos, discos raros ou a chance de conhecê-los, então é melhor fazer disso sua prioridade."
E foi isso que German fez. Largou a faculdade de jornalismo e a casa dos pais para morar num apartamento minúsculo de Manhattan, onde dividia a cama com um colega. O local servia de "escritório" do "Beggars", onde ele lambia 3.000 selos e 3.000 cartas a cada uma das 102 edições do fanzine. "De acordo com meus pais, estava fugindo de casa para me juntar ao circo", escreveu no livro.
German deu a sorte de pegar o "período nova-iorquino" de três Stones --Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood moravam na cidade e circulavam pelos bares. O garoto colou neles e aos poucos foi se aproximando, colecionado fontes que, entre outras coisas, descolavam os discos antes dos lançamentos. Fazia também um diário de baladas dos músicos, com a ajuda dos paparazzi.
"O Ronnie [Wood] costumava dizer: 'O 'Beggars Banquet' é por onde a gente fica sabendo o que cada um dos Stones está fazendo'", disse German, que, aos 23, ficou amigo do guitarrista e passou a frequentar sua casa. Os dois costumavam varar noites ouvindo música, passando trotes e, uma vez, German tocou pandeiro com Jagger e Wood no estúdio da casa.
Máquina de dinheiro
Além das narrativas de fã, o livro dá conta de um momento delicado e pouco narrado na vida dos Stones, como a transformação da banda em uma máquina de fazer dinheiro, o fim temporário do grupo nos anos 80 e o agravamento da relação Jagger-Richards --o guitarrista não suportava a maneira como Jagger colocava sua carreira solo acima dos Stones.
Embora German não tenha se aproximado tanto de Jagger como de Wood e Richards, que chegou até a conhecer seus pais, o vocalista deu um dos maiores presentes aos leitores do fanzine, repassando 40 ingressos para seu show solo em Nova York, em 1993.
A histeria e o assédio dos fãs para conseguir as entradas levaram German à paranoia. Ele percebeu, afinal, que o fanzine consumia sua vida, sem tempo para namoradas, médicos ou para tirar a carteira de motorista. Vieram então a depressão e a ideia de suicídio. Três anos depois, o fanzine acabou.
"Escrever o livro foi como fazer terapia. Algumas partes foram bem difíceis de digerir. Mas eu sabia que tinha que tirar isso do meu sistema", disse.
German perdeu o contato com os músicos, mas disse que a sobrinha de Richards gostou muito. "Acho que isso foi a aprovação da família", disse.
Cerca de 50 edições do fanzine podem ser compradas por US$ 59,90 (R$ 130) em www.beggarsbanquetonline.com. O livro está à venda no site da Amazon, por US$ 16,50 (cerca de R$ 35, mais taxas).