BILL HALEY, MORRE O PAI DO ROCK (1981)

BILL HALEY

bill

6 DE JULHO DE 1925 / 9 DE FEVEREIRO DE 1981

MORRE O PAI DO “ROCK”

Jornal do Brasil – 10 de fevereiro de 1981 – Morreu ontem no Texas, aos 55 anos, um dos fundadores do rock. Desparece Bill Haley, o pai de “Rock Around the Clock”, “See a Later Alligator” e muitos outros sucessos. Depois dele vieram milhares de músicos que mergulhariam em sons, senão iguais, semelhantes aos de sua guitarra, de sua voz, de seu ritmo. Ao contrário de Jimi Hendrix, Jim Morrison (The Doors), Janis Joplin, Keith Moon (The Who) e muitos outros que desapareceram de forma violenta, Bill Haley teve morte natural, segundo os médicos.

Em 1954 o mundo desejava nas ruas uam geração de adolescentes que mal havia se recuperado dos traumas da Segunda Guerra. Assim, quando Bill Haley e seus Cometas surgiram, ditariam o som da angústia, da realidade, do protesto, da timidez, do ciúme. O som da contestação. Os jovens vinham de um mundo mergulhado em disciplina onde os pais existiam como poder intocável, ao lado de Deus, da moral, do impecável, da alma. Pais que viram a guerra entrar por suas portas e telhados e que nada mais seriam do que resultado dos anos de repressão e ordem. Haley surgia como uma palavra de ordem: “Vamos à luta”. De repente, o som de “Rock Around the Clock”, o mundo começava a assistir à criação do estopim que seria aceso por Elvis Presley e consumado por Lennon & McCartney.

Ao invés do “sim papai”, “pois não, mamãe”, as meias-palavras, o ainda desfigurado mas presente espírito de independência via gomas de mascar, estados de semialucinação. Tudo sob o signo do novo ídolo, Billl Haley, de rosto redondo de maçãs salientes, smoking, movimentos de corpo desajeitado e um indefectível ”pega rapaz” colado na testa. Nada ortodoxo, Bill Haley regia um grupo de formação complicada, onde guitarras elétricas conviviam harmonicamente com pianos e sax. Mais tarde, esse esquema se transformaria numa escola dentro do rock que seria seguida por dezenas de outros grupos. Ao vivo ou na tela (no filme Sementes da Violência), Haley fazia a juventude tremer de emoção. Eram frequentes os desmaios, os gritos, as cadeiras quebradas, as histerias coletivas e a fuga em massa de milhares de jovens que queriam acompanhar os Cometas em suas excursões. Foi apenas uma faísca. Dois anos depois, Bill Haley implodiria e quase que de um dia para o outro passava a segundo, terceiro plano. A partir de 1956-57 erguiam-se Elvis, Little Richard e Jerry Lee Lewis, que dariam o retoque final no nada ambicioso projeto do rock and roll. Dizimado dentro de seu próprio país, Bill Haley deixava os Estados Unidos para, em 1958, fazer várias excursões. Veio, inclusive, ao Brasil que ainda sacudia com seu balanço das horas. Não parou de combater e durante mais de 20 anos resistiu às transformações impostas sobre e pelo rock, percorrendo o interior dos Estados Unidos, ou compreendendo, sempre com o mesmo furor, às sessões nostalgia. É claro que seu discurso parecia bilhetinho junto as novas propostas dos Beatles e dos Stones, mas não se deixou esquecer e isso a crítica norte-americana não cansou de ressaltar.

Bill Haley foi considerado criador do rock e, de certa foram, esse dado reservava-lhe um prestígio especial. Mas, também esses momentos duraram pouco. Pesquisadores norte-americanos descobriram que um certo Roy Brown, em 1948, utilizando a palavra rock no sentido de rebolar com a música “Roll all Night Long”. Mas, pai ou não da fórmula demolidora, Bill Haley falava sem inibições da receita: “Tive a coragem de combinar o rhythm and blues a música country. Naqueles tempos ou você estava de um lado ou de outro. Faltava a mistura”.

Indagado, certa vez, sobre o que sentia ao ver que essa simples combinação por influenciar milhões de pessoas através dos Beatles, Haley respondeu: “Ela tinha que afetar toda essa gente; afinal fomos nós que construímos tudo”.

1975 trazia sem eu bojo um poço de nostalgias. Nostalgias que acabaram por trazer Bill Haley e seus Cometas, de novo, à tona. Eram os dividendos do apoteótico revival do Madison Square Garden de Nova Iorque, feito em 1972. Voltando Aos Bons Tempos virou filme exibido em todas as telas do mundo. Apesar de ter sido o embrião, o rock dos anos 50, como música, é inocente e puro, apesar de atender os anseios de uma juventude tensa e desacreditada nos modelos convencionais. Segundo uma corrente da crítica de rock a insistência de Bill Haley em se manter nessa linha, jogando em cima da inocência, teria sepultado o seu som tão precocemente, passando-o aos arquivos.

O criador oficial do rock morre no momento em que todos os supergrupos que quase liquidaram com o projeto original procuram as origens para o novo som. Bill Haley morre coma new wave em ascensão e as guitarras voltando a ocupar a frente do rock, exatamente como ele queria.

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