THE WALL: 40 ANOS DA MINICANTATA POP
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MINICANTATA POP
(JOÃO JOSÉ MIGUEL)
O Pink Floyd está com um novo disco nas lojas, o álbum-duplo The Wall, gravado entre abril e novembro do ano passado. E, para surpresas gerais, oferece ao longo das quatro faces do novo trabalho, material suficientemente instigante para que se possa considerar seus 13 anos de carreira, uma marca vital na história da música pop.
Afinal não se deve esquecer que ainda hoje o quarteto inglês representa o suprassumo daquela variante pop rotulada de rock progressivo, cuja evolução durante a década de setenta levou muitos grupos a territórios extremamente pantanosos. Na verdade, com exceção do próprio Floyd e de alguns raros conjuntos hoje extintos – dentre os quais, o King Crimson foi o mais importante – o som progressivo muito pouco apresentou de consistente. A derivação eletrônica assentada na arapuca dos sintentizadores destruiu em curto prazo de tempo alguma esperança que se pudesse alimentar na criatividade de Emerson, Lake And Palmer, Yes, Rick Wakeman, Triumvirat e outros personagens que hoje não passam de zeros à esquerda na cena pop.
The Wall, embora em momento algum, possa pretender o papel de disco revolucionário- de impacto similar ao causado por um Ummagumma em 1969, ou um Dark Side of the Moon quatro anos mais tarde -, deixa claro que os membros do conjunto estão conscientes das limitações de sua arte, enquanto rock progressivo, procurando opções concretas, principalmente no terreno dos temas para suas canções.
Fruto do psicodelismo dos meados dos 60s, o Pink Floyd – então liderado pelo louquíssimo guitarrista Syd Barrett - entraria de sola na cena musical inglesa, através do LP The Piper at the Gates of Dawn, onde letras voltadas para o surrealismo lisérgico se apoiavam em decodificações realmente inéditas da linguagem roqueira. Aquilo era vanguarda e durante um bom período de tempo o quarteto levou à frente tal bandeira, abrindo caminhos para toda uma experimentação de fundamental importância para crescimento do som pop.
NOVOS RUMOS
O que diferencia a banda dos outros artistas envolvidos no rock progressivo, contudo, é ter percebido a tempo o rápido esgotar das possibilidades criativas do gênero, durante a primeira metade da década passada. E se até 1973, quando o genial Dark Side of the Moon chega às lojas, o grupo acumula nada menos de nove LPs em sua discografia, daí em diante, mostra-se muito mais cuidadoso, com uma média – considerada baixíssima para qualquer artista envolvido na máquina do showbiz – de um álbum a cada dois anos.
Em termos puramente musicais, The Wall, nada mais acrescenta à obra do Pink Floyd. Desde o lançamento de Wish you were here, em 1975, que tornou-se evidente a nova filosofia do grupo: os limites de seu território de ação já estavam estabelecidos, portanto, o quarteto não pretendia ousar mais a nível de música, mas sim, encontrar a foram esteticamente perfeita, possibilitada pelos elementos acumulados durante os anos anteriores de sua carreira.
É neste momento que se mostra decisivo o desempenho do bixista Roger Waters, de uma hora para outra, revelado como um poeta de agudo senso crítico, capaz de trazer o Pink Floyd uma vez mais para os territórios das canções. Não as mesmas canções psicodélicas de 8 anos atrás, mas outras, cujas letras continham uma identificação profunda com o real. E é extamente sob este ponto de vista que The Wall se mostra um passo à frente na carreira do conjunto.
A poética de Waters, geralmente amarga e mordaz, traça uma visão nada otimista das relações humanas nesta sociedade tipo Admirável Mundo Novo, que a civilização ocidental impôs ao planeta. Da doença da família à das instituições de ensino, passando pela própria problemática do artista em relação à indústria do superconsumo musical, o álbum cava fundo na sua análise dos descompassos da vida moderna. (CORREIO BRAZILIENSE, 9 DE ABRIL 1980)