45 anos se passaram desde então: Uma jornada de memórias e transformações (1978-2023)

mário pazcheco

Considerando o tempo como uma linha reta, olhando para trás, vamos abordar o segundo semestre de 1978, quando chegamos ao Guará para morar. Desde então, se passaram 45 anos.

Naquele ano, tive minha primeira experiência de falência educacional e acabei perdendo o ano letivo. Essa experiência me levou a concluir que o sistema educacional estava em colapso e não atendia adequadamente às necessidades dos alunos. Havia um desinteresse geral.

Minha adolescência era preenchida com revistas eróticas suecas, o Almanaque Marvel da RGE e os livros de bolso da espiã Brigitte Montfort, uma morena de olhos verdes que alimentava as fantasias dos leitores.

O álbum que ecoava pelos conjuntos residenciais era o ALIVE! do Kiss. As faixas "Rock and Roll All Nite", "Deuce", "Strutter", "Black Diamond", "Firehouse" e "Cold Gin" eram as mais curtidas na semana em que o disco emprestado passava pela casa de um amigo. O LP circulava entre os conjuntos até que voltasse às minhas mãos ou outro disco subisse.

Como passatempo, em junho daquele ano, comecei a montar um álbum de recortes de rock. Lembro-me de começar com recortes de Elton John, Rita Lee e um sobre o lançamento do LP dos Rolling Stones, SOME GIRLS Na televisão, passava o anúncio do álbum duplo dos Rolling Stones pela Som Livre, chamado 30 GREATEST HITS Foi o meu primeiro disco deles, e eu ficava fascinado com as imagens deles em ação nos anos 60. Aquelas canções soavam brutalmente novas para mim, com um toque de nostalgia.

Os amigos foram chegando e se estabelecendo. Os primeiros nomes foram Ricardo, Antônio, Marcelo, Rubinho e Ismael. Depois vieram Joel, Gaspar, Zé, Ely e Pedro, os nomes recorrentes da U.V.A., uma sigla que identificava aqueles que faziam parte da hipotética União dos Vagabundos Alcoólatras - um título impactante: UVA! Que nome mais beat, que desilusão literária impossível.

Naquele momento, antes do alistamento militar obrigatório, era o que os jovens do subúrbio podiam desfrutar. Respeito, mas classifico como reacionária a fala daqueles que afirmam que a U.V.A. nunca existiu ou que não era nada disso, ou que nem aconteceu. Para mim, o grupo organizado expandia nossas alternativas existenciais, filosóficas, amorosas, etc.

Claro, o serviço militar e a inclusão no mercado de trabalho tiraram parte da vitalidade. O que os vagabundos da U.V.A. faziam? Resistiam às revistas armadas do exército, sempre com a hora marcada às 20 horas, quando ocorria o toque de recolher, e nos mandavam de volta para casa. Ou, aos sábados, em torno de uma fogueira no centro da praça, assávamos um frango e bebíamos o conhecido vinho "Chapinha".

Essa experiência da U.V.A. deixaria marcas em nossas trajetórias profissionais. Como sobreviver imprimindo camisetas, fazendo faixas, vendendo discos, organizando festas e se aproximando do meio ambiente. Também estabelecemos conexões políticas e profissões futuras, como a de professor. Muitos de nós acabamos trabalhando no serviço público, e agora o tempo de aposentadoria finalmente está chegando.

Com amigos mais refinados e mais velhos, que tinham dinheiro, começamos a ler a revista Mad e a ouvir uma banda mais sofisticada, o Queen, que revivia a histeria das bandas dos anos 60. Havia também AC/DC e Van Halen, mas não me lembro de discos dos Sex Pistols frequentando as festas.

O álbum ALIVE II do Kiss foi lançado naquele ano, renovando memórias e emoções. Além disso, não mais frequentavam as festas de Natal com meus pais, refirmando um período de transição e busca por mudanças.

Inspirados pelos professores, começaram a surgir os primeiros grêmios estudantis e festivais internos de música, refletindo uma busca por reformas acadêmicas e uma expressão cultural mais ampla. O ano de 1979 prometia um verão de reconciliação política e uma nova moda, que afetava tanto as roupas, cabelos, sons e até mesmo os corpos das pessoas. Essas mudanças podem ter trazido uma sensação de renovação e uma ruptura com o comportamento anteriormente considerado equivocado.

Essa evolução pessoal e social é um reflexo do tempo em que vivemos, com suas transformações políticas, culturais e sociais. É compreensível que essas mudanças tenham impactado nossas memórias e causado um saudosismo nostálgico.

Após 45 anos, surge uma ideia trabalhosa de trazer de volta, em uma noite, as bandas Psicose Crônica e o Extremo, representadas pelos membros Tuca e Ricardo. A ideia é criar um evento comemorativo, reunindo os remanescentes dessas bandas. Felizmente, essa reunião não seria como voltar ao ginásio, à faculdade ou ao primeiro casamento, evitando assim sentimentos nostálgicos indesejados. Seria uma celebração da sobrevivência ao longo dos anos, agora marcados em décadas.

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