Living Colour em Brasília: Rock, Energia e Sintonia em 40 Anos de História (2024)
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LIVING COLOUR NO TOINHA BRASIL SHOW
Quadra SOF Sul Quadra 9 SN, Conjunto A - Guará, Brasília
13 DE OUTUBRO DE 2023
Era um domingo com um gosto diferente. A sensação era de que ele marcava o começo do resto da minha vida no GDF. Na noite anterior, um e-mail chegou como um presságio: a tão aguardada certidão de tempo de contribuição tinha sido concedida. Era o último degrau para a aposentadoria, e o domingo parecia o primeiro dia de uma nova era.
Coincidentemente, era também a véspera do aniversário do Virgílio, meu filho do meio, que nasceu em 1993, anos depois do sucesso do Living Colour. Virgílio me convidou, junto com sua irmã Ana Luiza, para um dia de lazer, uma dessas tentativas de manter vivo o laço entre pais e filhos. Mas Luiza, com seus compromissos de trabalho, estava longe, e, no fim, quem aceitou a aventura foi Marizan, minha noiva, ainda que sua paixão seja a MPB, e não o rock. Animada, ela enviava vídeos do show para sua amiga, a cantora Márcia Tauil, compartilhando a energia que sentíamos naquele momento.
O lugar era o "Toinha", um refúgio do rock originalmente nascido em Samambaia, a apenas 18 minutos de casa. A primeira surpresa da noite foi rever velhos amigos. A família Dog Savanna estava lá, com sua hospitalidade de sempre. Em seguida, apareceu o Alexandre Renato, um camarada que nunca falha em me dar aquela força nas minhas festas, sempre pronto e disposto. E, para minha surpresa, também vi Révero Frank, um fiel frequentador de shows, que havia vindo direto do Gama, pela quinta vez no ano, só para ver seus ídolos. Frank, que além de fã do Living Colour, também circula por ambientes extremos do black metal, foi alvo de ironias nas redes sociais, acusado de "trair o movimento" por alguns mais puristas. Ah, as redes sociais... Eu, por minha parte, prefiro me afastar delas nos fins de semana.
Aquele show era um evento especial para mim. Minhas pernas finas foram postas à prova, enquanto eu aguardava de pé por mais de uma hora até que a banda entrasse no palco. O espaço tinha suas peculiaridades, dividido em duas facções: a área VIP com pulseira verde, e a parte comum com pulseira branca, onde era mais fácil chegar ao bar e ao banheiro. Durante a espera, encontrei o grande Célio de Moraes. Entre uma conversa e outra, ele me fez um convite para jogar totó no "Barraco da Loucura", e, com um sorriso, anunciou o retorno da banda Os Merah, cujo vocalista havia se recuperado de um câncer. Célio ainda soltou uma piada de portugueses em homenagem ao saudoso Ary Toledo. Entre o bom humor e a esperança, o clima era leve.
Musicalmente, deixo os detalhes para a resenha do meu amigo Révero Frank, um fã de primeira hora do Living Colour. Ele cantou cada música junto com o vocalista Corey Glover. E, como sempre, Vernon Reid foi a estrela que brilhou no palco, lembrando Virgílio de sua importância como guitarrista. Para mim, Vernon Reid parecia uma ponte entre o passado e o futuro do rock, uma espécie de Jimi Hendrix da transição das décadas de 60 e 70 para os 80. Reid era a síntese de uma fusão musical e social que refletia um momento único na história.
Assistir ao Living Colour foi uma viagem no tempo, uma Nova York viva na minha mente, quando Andy Warhol ainda estava entre nós e coletivos de artistas pretos desafiavam a noção de que o rock era território exclusivamente "branco". Para mim, ver aquela banda era o equivalente a ter assistido Chuck Berry, Little Richard ou o próprio Hendrix. O show, lotado por mil e quinhentas pessoas, me trouxe memórias de uma época que misturava rock e o surgimento do hip-hop, como o Run-D.M.C., um caldeirão cultural efervescente.
No final da noite, como um ato de amizade, encontramos a própria Toinha, a proprietária do espaço. Uma senhora simpática, fã de rock, que muitos não sabem, mas foi a responsável por abrir esse templo em Samambaia e por último no SOF, onde shows memoráveis como o de hoje acontecem, mantendo viva a chama do rock para todos nós. E assim, a noite terminou, com a sensação de que, naquele domingo, algo novo havia começado.
Que incrível! Para mim, Living Colour é uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Eu tive praticamente todos os discos deles. Nos anos 90, por muito tempo, achei que só eu e mais uns poucos tinham sacado o que esses caras vieram fazer no mundo do rock. Lembro que, em uma das vezes que eles vieram ao Brasil – acho que foi para o Hollywood Rock – tentei ir, mas faltou grana, como sempre. Agora, mais uma vez, as agendas complicaram. Fazer o quê, né? Ainda bem que temos um monte de gravações pra consolar.
O Vernon Reid sempre será um dos guitarristas mais criativos que existe. A mistura que ele faz é pura energia, cheia de referências, com riffs únicos. O Corey Glover destrói com aquele vocal cheio de grooves – você precisa ouvir o álbum Hymns'. E o Will Calhoun? Cara, ele traz o peso de todos os batuques que deram origem ao rock de uma forma magistral nas pancadas do Living Colour. E o Doug? Faz as linhas de baixo mais belas e cheias de peso e swing que um rock considerado 'pesado' nunca teve... até o Living Colour aparecer.
Ainda bem que você esteve lá pra me contar tudo! Aqui estou eu, todo emocionado, tentando descrever minha paixão por essa banda, do jeito que você faz com as suas histórias. 😄 Ah, antes que eu esqueça, já viu Tongues on Fire: A Tribute to the Black Panthers?' E, por fim, só quero mesmo agradecer por você continuar escrevendo e compartilhando suas histórias com a gente. Muito obrigado! Marco Gomes (Marcão)
Living Colour em Brasília: Rock, Energia e Sintonia em 40 Anos de História
Révero Frank
O quarteto de sessentões fez sua estreia em Brasília, presenteando-nos com um espetáculo musical de alta qualidade. Durante os quase 90 minutos de show, ficou aquela sensação de que poderiam ter tocado por mais de duas horas, dado o vigor e a sintonia entre eles. Músicos excepcionais em seus instrumentos, o destaque vai para a interação e o feeling que transmitiram ao público, que correspondeu à altura.
Com a casa lotada em sua capacidade máxima de 1.500 pessoas, o que testemunhamos foi pura insanidade. O setlist caprichado teve como ponto alto "Glamour Boys," que incendiou o público, levando todos ao delírio. A complexidade dos discos foi reproduzida ao vivo com uma fidelidade impressionante, algo que poucos conseguem fazer com tanta maestria. "Love Rears Its Ugly Head" foi um exemplo claro disso.
Sem me deter em comentar faixa por faixa, prefiro destacar os momentos de magia que presenciamos ontem. O Living Colour, com seus 40 anos de estrada, mostrou que a chama do rock and roll ainda pulsa forte. Muitos jovens estavam presentes, curtindo esses mestres que, em cada música, transmitiam mensagens profundas, seja sobre política, amor ou outras temáticas.
Foi um prazer estar em tão boa companhia, com o sempre presente e querido Mário Pazcheco (dopropriobolso.com.br), sua namorada Marizan Fontinele, seu filho Virgílio, e também reencontrar a Gabi da Madame Bovary. E assim se encerrou a última das quatro apresentações da banda no Brasil este ano.
Dica do Révero Frank via ChatGPT
Vernon Reid tocou com Jack Bruce, o lendário baixista e vocalista do Cream. Eles fizeram parte de um projeto chamado Spectrum Road, uma banda formada em homenagem ao baterista de jazz fusion Tony Williams e seu grupo The Tony Williams Lifetime. Spectrum Road era composta por Jack Bruce no baixo e vocais, Vernon Reid na guitarra, Cindy Blackman Santana na bateria, e John Medeski nos teclados.
Essa colaboração entre Jack Bruce e Vernon Reid foi uma fusão de jazz, rock e improvisação, misturando as influências musicais de ambos. O álbum homônimo da banda foi lançado em 2012 e recebeu elogios por capturar o espírito experimental e inovador de Tony Williams.