A SAGA DE UM FÃ DE ROCK (1975)

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   0, 1, 2, 3 - fogo!

   A primeira mensagem musical que meus ouvidos decodificaram em português foi "Balada do Louco," dos Mutantes, sem que eu soubesse o quanto ela se tornaria significativa na minha vida. Depois, veio a febre entre os estudantes do primário com "O Vira," dos Secos & Molhados. E, fechando a ponta do triângulo, "Gita," de Raul Seixas. Eventos interligados cuja origem eu desconhecia.

   Ainda em 1973, nossa professora Dona Lilian nos ensinava a cantar 'O Vira', dos Secos & Molhados. Era o único momento doce durante suas aulas no Grupo Escolar;

   Em 1974, Marcos Gabriel Lopes Esteves fundou o único fã-clube dos Beatles na América Latina, com sede no Rio de Janeiro.

   É claro que o Slade foi visto como os 'novos Beatles' da sua época, algo que eu só fui descobrir mais tarde, quando soube que foram rejeitados pela Apple Records. A Slademania me conquistou muito antes da Kissmania. Para meu espanto, meio século depois, continuo acompanhando com entusiasmo os novos lançamentos e livros sobre o Slade, ainda mantendo viva a chama daquelas memórias.

    Sábado Som

   Programa quinzenal aos sábados  
   Apresentado por Nelson Motta, Sábado Som fornecia dados sobre os intérpretes – informações sobre suas carreiras e discos lançados no Brasil – e exibia gravações de concertos de rock comprados pela Rede Globo no exterior.

   Apresentação: Nelson Motta | Período de exibição: 09/03/1974 – 22/02/1975 | Periodicidade: sábados | Horário: 15h

   Para assisitir basta clicar: (o vídeo abre direto no YouTube)

   

   

   O recorte mais alucinado de todos os tempos – infelizmente sem identificação da revista ou do ano (suspeito que seja de 1974 e tenha a assinatura de Big Boy, ou quem sabe tenha sido desmentido como uma participação num disco do Ringo) – é, sem dúvida, uma mentira brutal. Detalhe: todas as fábulas nascem no passado e acabam voltando para nos atormentar

 

 

 

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1975 - 1980

METADE DA DÉCADA DE 70, DE 1975 A 1980, foi um período doce e inocente, com o sabor do algodão-doce, quando sonhávamos em alcançar o estrelato como nossos ídolos. Eu, pessoalmente, tinha uma inclinação para a crítica musical e era um garoto apaixonado por Big Boy e Ezequiel Neves, minhas referências e preferências. Pouco depois, surgiria Tárik de Souza, da Veja. A leitura começou com gibis de super-heróis da Marvel e da DC, passou para a revista Pop, seguiu com Rock, A História e a Glória, e, no segundo grau, foi complementada pela Manchete e pela Veja, que já traziam uma visão do jet set internacional e um enfoque político. ROCK, A HISTÓRIA E O MITO, de Roberto Mugiatti, foi provavelmente o primeiro livro que li. Também devorei livrinhos de faroeste e espionagem, o que caía nas minhas mãos. Inglês, nem pensar, mas já guardava recortes da Time.

Na verdade, o parágrafo acima é uma versão estilizada da história. A leitura começou bem mais cedo, com a revista Recreio e gibis em preto e branco de Mandrake e Fantasma, além de muitos gibis resgatados dos ANOS 60, como Solar e os super-heróis da Marvel e da DC, que eram publicados pela Ebal. No entanto, foi em 1975 que esses gibis começaram a ser lançados coloridos e em formatinho, gerando uma nova febre entre os fãs.

Já tentei seguir esse esforço, mas sempre fico preso aqui, como naquela cena do Jimmy Page em The Song Remains the Same, em que ele retrocede de ancião para jovem e até para um bebê no útero. É como aquela sensação de cair do céu em um sonho. A lembrança mais distante que guardo é de Caetano Veloso, em preto e branco, na TV, cantando "Eleanor Rigby". Naquele tempo, eu não compreendia a magnitude de Caetano na MPB, mas sua interpretação me tocou profundamente, em meio aos dias cinzentos da minha infância, aos 11 anos.

É claro que QUALQUER COISA faz alusão à capa de LET IT BE, mas ninguém se aprofundou no mistério por trás da arte. Mais um trabalho de Rogério Duarte, feito para não ser completamente compreendido. Entre as faixas, lá estavam "Lady Madonna" e "Eleanor Rigby". No outro LP lançado no mesmo ano, Caetano cantava "Help!". QUALQUER COISA é uma joia, e joia é Qualquer Coisa.

Outro fragmento que me vem à mente é de um domingo, quando assisti a um pedaço de Yellow Submarine na televisão em preto e branco. A TV, naquela época, era dominada pelos adultos, e não podíamos escolher a programação ou mudar de canal — as opções eram limitadas. A visita chegava e, quase como um ritual, ligavam a televisão, sintonizando os antigos programas de auditório, que continuam a se arrastar até hoje, enquanto nós, crianças, ficávamos à margem, sem poder assistir algo como Os Três Patetas.

 1975

   Em 8 DE JANEIRO, um dos maiores guitarristas vivos do rock, Eric Clapton, desembarcou no Rio de Janeiro em um dia ensolarado, acompanhado da deslumbrante Patti Boyd. Como outras celebridades que o precederam, como Mick Taylor, Chris Wood, Jim Capaldi e Cat Stevens, Clapton pediu e prometeu o de sempre: uma relativa tranquilidade, pouco assédio da imprensa e nenhum show previamente agendado.

   11 DE JANEIRO 
Hollywood Rock - Rio de Janeiro: O primeiro grande concerto de rock brasileiro aconteceu. Contando com Celly Campelo, Erasmo Carlos, Rita Lee & Tutti-Frutti (sua nova banda), Raul Seixas, O Peso, Vímana e Mutantes, o evento enfrentou diversos problemas, como falhas na produção, segurança insuficiente, iluminação precária e, mais notavelmente, a chuva, que atrapalhou grande parte das apresentações.

25 DE JANEIRO

Durante o Sunbury Festival, na Austrália, ocorreu uma briga inusitada entre as bandas AC/DC e Deep Purple. O festival, que estava em sua última edição devido a problemas financeiros, trouxe o Deep Purple como atração principal, mas a banda estava em meio a conflitos internos e o organizador temia que eles não se apresentassem. Para garantir que o evento continuasse, o AC/DC foi chamado como uma solução de emergência.

Quando o Deep Purple finalmente subiu ao palco, o AC/DC, já preparado para tocar, acabou envolvido em uma confusão. Um desentendimento com a equipe do Deep Purple evoluiu para uma briga generalizada, com roadies e membros das bandas lutando no palco. Angus Young, guitarrista do AC/DC, relembra o caos, com Bon Scott, vocalista do AC/DC, e outros envolvidos em lutas físicas.

Apesar da briga, o AC/DC não chegou a se apresentar. No dia seguinte, a história da briga entre as bandas foi amplamente comentada. David Coverdale, do Deep Purple, também relembrou o incidente de forma humorística, mencionando que o público do festival parecia estar em uma "convenção de camisinhas" devido às capas de chuva que usavam por causa da lama.

No fim, a confusão se tornou uma memória engraçada entre as bandas, que mais tarde riram do episódio em encontros futuros. O Sunbury Festival nunca mais ocorreu, e o Deep Purple chegou a abrir um fundo para ajudar os artistas que não foram pagos devido aos altos custos do evento.

   FEVEREIRO  

   Arnaldo Baptista lança o icônico LP Lóki?

O disco LÓKI? evoca medo e inquietação; essa sensação é palpável desde a capa até os títulos das faixas. Ele poderia ser chamado de DISCO VOADOR — um álbum repleto de lendas, cuja gravação teria sido feita em apenas um dia (o que é exaltado pela gravadora). É um disco feito para ser ouvido em alto volume, mas que pode provocar certo desconforto no ouvinte, com seus 16:50 minutos distribuídos entre os lados A e B. Lançado sem divulgação na quarta-feira de cinzas de 1975, LÓKI? ainda assim ganhou um belo videoclipe da canção "Será que eu vou virar bolor?". Arnaldo Baptista reclamou que a gravadora não financiou o teatro para a temporada de lançamento do show. Ele teria condições de se apresentar ao vivo?

Quanto à questão da cisão, diz-se que Liminha queria que apagassem a fita por ela soar como Sérgio Mendes. O baixista se ressentiu da falta da guitarra ou do seu papel na música?

Sentimentalmente, o disco reflete uma visão do amor e a bad trip existencial de John sem Yoko. É um álbum de êxtases, que expressa linguisticamente um apetite sexual e lisérgico exacerbado, além de uma crise precoce de meia-idade e o fim das utopias. Algum dia será revelada a ordem de gravação das músicas? Haverá instruções anotadas na caixa da fita pelo artista?

Arnaldo foi considerado louco por ter incendiado o piano "desafinado" de sua mãe. No único espaço que encontrou na revista Amiga, pediu que esclarecessem essa intriga e reforçou que era um profissional!

Esse é o disco que ouço quando estou puto, após brigar com a minha mulher; choramos juntos ouvindo LÓKI? e acabamos nos reconciliando. É o álbum que, quando estou doidão e sozinho, coloco em alto volume para esconder minhas lágrimas. Que falta faz Arnaldo Baptista!

   • A nova mesa de som dos Mutantes, projetada por CCDB, expeliu de uma de suas caixas-cornetas cinco pessoas que se acomodaram dentro dela.

   • Localizada na Rua Padre João Manuel, 446, além da residência da banda Apokalypsis, essa foi uma das bases do rock em São Paulo em 1975.

   "Os sabiás, bem-te-vis, pardais, gente, carros, buzinas... a cidade, enfim, eram a vista da minha janela (que já não existe mais) na Rua Padre João Manuel, travessa da Paulista, em 1975." (Zé Brasil)

Começa assim a conexão de Ezequiel Neves com o Made In Brazil, marcando o fechamento de um ciclo. Cornelius, o cantor, sai para retornar 10 anos depois. O melhor show do ano na categoria de rock nacional, segundo a revista Veja.

24 DE FEVEREIRO

O álbum Physical Graffiti da banda Led Zeppelin é lançado. Esse é o sexto álbum de estúdio da banda e é considerado um dos mais importantes de sua discografia.

17 DE FEVEREIRO (EUA)

O único single do álbum ROCK 'N' ROLL de John Lennon, "Stand By Me" foi uma versão da clássica música de Ben E. King de 1961.

Lançamento: 21 DE FEVEREIRO DE 1975 (Reino Unido).

LENNON ACOMODADO
De acordo com a revista russa New Times, publicada em inglês, o talento de John Lennon havia se deteriorado devido ao seu afastamento das atividades políticas, resultado das pressões das autoridades americanas. Desde 1972, Lennon teria entrado em um processo de decadência, com provas disso em seus dois últimos álbuns, MIND GAMES e WALLS AND BRIDGES, considerados "claramente inferiores a todo o seu trabalho anterior, carregado de consciência político-social." (Revista Pop, 1975).

• Em breve, o ex-Beatle John Lennon deverá estar livre para viajar para fora dos Estados Unidos, de acordo com seu advogado, Leon Wildes. A batalha legal que Lennon vinha travando com as autoridades norte-americanas estaria prestes a chegar ao fim, o que beneficiaria o artista. Lennon, que enfrentava um processo por posse de entorpecentes (na Inglaterra), estava ameaçado de ser expulso dos Estados Unidos. (Revista Pop, 1975).

• Em entrevista, John Lennon descreveu sua relação com George Martin como "uma verdadeira parceria."
"Algumas pessoas dizem que George Martin fez tudo, outras dizem que os Beatles fizeram tudo. Não foi nenhuma das duas opções. Aprendemos muito juntos", afirmou.

ABRIL  

Almôndegas: primeira formação: Quico Castro Neves, Kledir Ramil, Pery Souza, Kleiton Ramil e Gilnei Silveira.
Estava marcado para a primeira quinzena de abril o lançamento do primeiro LP do grupo gaúcho Almôndegas. Um grande esquema promocional da Rádio Continental levaria os cinco integrantes, incluindo os irmãos Kleiton e Kledir, até Salvador, passando por grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Antes disso, haveria um show especial com as presenças de Milton Nascimento e Gilberto Gil.

14 DE ABRIL
A entrada de Ron Wood no mundo de excessos do rock 'n' roll, com os Rolling Stones, foi anunciada por meio de um comunicado de imprensa. Mesmo após provar sua habilidade ao tocar no primeiro show da turnê mundial da banda, Wood ainda levaria um tempo até se tornar membro permanente.

18 DE ABRIL
Reconciliado com Yoko Ono, John Lennon se apresentou ao vivo pela última vez em um especial de televisão.

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In my life...

24 DE MAIO DE 1975, Foi no dia do meu aniversário de 11 anos, que minha jornada pelo mundo do rock começou.

Desse dia até 18 DE OUTUBRO DE 2024, foram 18.045 dias de uma perspectiva misteriosa, temperados com doses de esperança, dedicação e aprofundamento. Técnicas de controle de vícios, um caso de abnegação e a escolha consciente na construção de um perfil não esotérico, mas excêntrico, na criação de um "mad" estilo de vida. Assim descrevo a minha participação no universo do rock'n'roll, que começou quando comprei um compacto duplo da trilha sonora do filme A HARD DAY'S NIGHT dos Beatles.

O compacto duplo com as músicas "A Hard Day's Night", "I Should Have Known Better", "Can't Buy Me Love" e "And I Love Her" foi lançado exclusivamente no Brasil pela Odeon. Não houve lançamento oficial no mercado internacional, tornando-o um item raro e valioso para colecionadores. A Odeon, detentora dos direitos dos Beatles no Brasil, costumava lançar versões adaptadas para o público brasileiro, o que explica a exclusividade deste compacto no país, que tinha um grande público de fãs da banda na época.

O que eu não sabia era que A HARD DAY'S NIGHT foi o primeiro filme dos Beatles, indicado ao Oscar de melhor trilha sonora, mas sem ganhar. Com orçamento reduzido e filmado em preto e branco, o filme acabou adquirindo um toque artístico. Foi o primeiro álbum pop com músicas exclusivamente compostas por seus próprios autores, Lennon & McCartney. Nos EUA, a Capitol lançou apenas as músicas do filme e a trilha incidental, enquanto no Brasil, pela Odeon, o disco saiu com o título adaptado para OS REIS DO IÊ-IÊ-IÊ e capa vermelha.

Lançado em 20 DE MARÇO DE 1964, o LP vendeu mais de 2 milhões de cópias nos EUA em uma semana, e no Reino Unido, os pedidos ultrapassaram 1 milhão. Junto ao álbum, o single "Can't Buy Me Love" / "You Can't Do That" foi lançado, e menos de um mês depois, saiu o EP Long Tall Sally, com 3 covers e uma canção de John, "I Call Your Name".

Atualmente, em 2024

Vivemos em um tempo em que as estrelas do rock nacional brasileiro ainda buscam o reconhecimento que merecem. Essas pessoas geralmente são uma década mais velhas do que eu. No lado editorial, os lançamentos sobre músicos de rock nacional dos ANOS 80, que têm a mesma idade que eu, continuam sendo predominantes. Então, enquanto ainda vivo com minhas memórias intactas, decidi escrever este texto por diversão. Claro, não me levo a sério como uma verdadeira estrela da imprensa alternativa, pois sequer conseguiria responder à pergunta: 'O que esse cara fez?'"

Meu segundo contato com os Beatles: O compacto duplo Anna / Chains / Misery / I Saw Her Standing There, lançado exclusivamente no Brasil em 1967, é importante por ser uma edição bastante exclusiva e limitada. As quatro canções pertencem ao álbum de estreia dos Beatles, PLEASE PLEASE ME, lançado em MARÇO DE 1963. Embora eu tenha ouvido esse disco após o compacto duplo de A HARD DAY'S NIGHT, a energia e a febre da novidade estavam presentes, com as músicas vibrantes e quentes do início da carreira da banda.

Ainda em 1975, o ano revelou "Ovelha Negra", que se tornou um verdadeiro hino para aquela geração e as seguintes, representando o espírito de rebeldia e a busca por individualidade. Pouco tempo depois, outro ícone da contestação surgiu com 'Filho Único', de Erasmo Carlos, uma canção que abordava os desafios e os conflitos na luta por liberdade.

Como fui batizado no rock?

"Girafa", o irmão mais alto, e "Cabeça", o mais baixo, com olhos claros, tinham discos de rock em casa. Suas irmãs namoravam caras que, acredito, gostavam de rock pesado. Na esquina, a coleção de discos do Geraldinho era ainda maior. Lembro-me vividamente do selo Purple Records, do selo Vertigo com as duas naves colidindo, da capa de SABBATH BLOODY SABBATH, e de ouvir o som de um esmeril em uma gravação de kraut rock. Apesar de manusear e limpar esses discos na época, não cheguei a ouvir de verdade – estava distante da minha realidade.

Meu batismo no rock veio pelas águas lamacentas de Elvis Presley, Bill Haley, talvez um pouco de Little Richard. Chuck Berry só entrou na minha vida quando me aprofundei nos Beatles. Na verdade, meu batismo aconteceu com a trilha sonora da novela ESCALADA. Eu colocava o álbum ELVIS' 40 GREATEST, da SomLivre, na vitrola e mergulhava nos quadrinhos do Demolidor da Bloch. Ali, começava meu caminho como colecionador – primeiro de revistas de super-heróis, e logo, de discos, embora estes fossem bem mais caros.

No ano seguinte, a trilha sonora de ESTÚPIDO CUPIDO tomou conta, comprávamos discos sugeridos pela TV Globo. Enquanto isso, meu vizinho Carlos já me levava em viagens sonoras com álbuns como EXCELSIOR – A MÁQUINA DO SOM e os compactos duplos da série 4 TOP HITS FROM ENGLAND" do selo Young. Do rock nacional, ainda sem muita noção, íamos dos Pholhas cantando em inglês até o forró d'Os Incríveis!

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27 DE MAIO

Paul McCartney & Wings lançam o LP VENUS AND MARS.

Essas são algumas histórias reinventadas ue foram vividas em 1975: Passeei pelos barracos de fundo nas ruas de barro do Jardim Rochdalle, em Osasco, na Rua Paraíba, número 176. Foi lá que conheci "Cabeça" e "Girafa", os apelidos de dois irmãos, cujas irmãs eram as mais bonitas do planeta. Na esquina de baixo no fim da rua, morava o Geraldinho do Bradesco, que curtia kraut rock; e o Brás, são paulino, vendia bandeiras do time no Morumbi e tinha um compacto arrasador dos Beatles, "I Wanna Hold Your Hand". Minhas primas Alvenita e Vilma também estavam por ali. Eu frequentava os quartinhos onde ficavam os discos — uma verdadeira atmosfera de fã-club. Um dos primeiros discos que ouvi foi o do Slade, com aquela histeria, tocado até no Top of the Pops e no Barros de Alencar. Esse disco pirou muita gente. Obrigado pelo eterno presente, Renato Aguiar.

• Como relatou o New York Times, já se sabia da existência de um caderno de notas em que Bob Dylan havia anotado as letras de BLOOD ON THE TRACKS, seu álbum lançado em 1975.

• Um grupo de parentes de Brian Wilson, liderado por sua esposa, convoca o Dr. Eugene Landy para cuidar de Brian. O Dr. Landy era um típico personagem da cena californiana — um psicólogo pop, tão famoso quanto seus renomados pacientes, conhecido mais por suas técnicas excêntricas e estratégias promocionais do que por seu rigor científico.

• Al Hendrix começa a receber royalties pela obra de seu filho, embora a quantia seja bem menor do que o esperado.

• A banda Kraftwerk, de Düsseldorf, vende 450.000 cópias de seu álbum AUTOBAHN nos Estados Unidos, além de 500.000 cópias do compacto homônimo. Na mesma época, o grupo Nektar ocupa o segundo lugar, com cerca de 300.000 álbuns vendidos, seguido pelo Triumvirat, que vendeu 160.000 discos na América.

• George Harrison lança EXTRA TEXTURE - READ ALL ABOUT IT.

• Os Rolling Stones lançam a coletânea METAMORPHOSIS.

• A banda Soft Machine, em sua 13ª formação, apresenta BUNDLES, mantendo sua essência sem um rosto definido.

• Miles Davis lança AGHARTA.

• Back Street Crawler traz THE BAND PLAYS ON.

• Keith Relf, que havia seguido uma breve carreira como produtor e se afastado da cena musical, retorna com um álbum homônimo de seu novo grupo, Armageddon, que também teve uma vida curta. O maior destaque deste LP, lançado no Brasil, é sua capacidade de redefinir a percepção musical de quem o escuta!

• Pink Floyd apresenta WISH YOU WERE HERE.

• Bill Haley faz sua passagem por aqui. Ave Sangria chega ao fim. The Incredible String Band se dissolve. Ten Years After também se desintegra.

7 DE JULHO

Keith Richards, do The Rolling Stones, é preso no Arkansas, Estados Unidos, por porte de arma e direção perigosa. Centenas de adolescentes cercaram a delegacia onde ele ficou detido por quase um dia, aguardando sua liberação.

Nesse dia de 1975, ele e Ron Wood foram detidos em Fordyce, Arkansas, dentro de um carro cujas portas estavam abarrotadas de drogas. Para qualquer policial do sul dos Estados Unidos, prender "a banda de rock mais perigosa do mundo" se tornou um ato de patriotismo. O episódio terminou com um juiz embriagado, uma multa de 165 dólares e um Chevrolet Impala amarelo abandonado, que ainda hoje faz Richards se perguntar se alguém continua dirigindo, sem saber que as portas estão cheias de drogas.

28 JULHO

Black Sabbath lança o LP SABOTAGE.

5 DE SETEMBRO

Lynette "Squeaky" Fromme se aproximou do presidente Gerald Ford em Sacramento, como se fosse cumprimentá-lo, junto com vários outros espectadores, enquanto ele caminhava para o Capitol Park. Ela apontou uma pistola de calibre .45 para o estômago dele e puxou o gatilho, mas a arma não estava carregada. Fromme afirma que não tinha intenção de matar Ford. No entanto, ela foi condenada a uma pena de prisão perpétua pelo juiz do Tribunal Distrital dos EUA, Thomas J. MacBride.

OUTUBRO

Joelho de Porco começa a gravar o LP SÃO PAULO 1554 - HOJE.

9 DE OUTUBRO

Não foi por acaso que Sean nasceu no aniversário de John. Anteriormente, Yoko havia tentado várias vezes completar essa proeza, mas acabou sofrendo abortos espontâneos. Ela acreditava na superstição de que, se um filho nasce no aniversário do pai, ele herdará a alma do pai ao morrer. Assim, em 9 DE OUTUBRO DE 1975, Sean foi removido cirurgicamente por cesariana, de forma prematura.

18 DE OUTUBRO 

O grupo Som Nosso de Cada Dia, composto por Pedrinho (bateria e vocal), Pedrão (contrabaixo, violão e vocal), Egídio (guitarra) e Tuca (sintetizador, mini-moog, órgão, piano e melotron), iniciou sua turnê pelas principais capitais brasileiras. As apresentações ocorreram no Ginásio Marista, às 21 horas, em uma promoção da Publiarte. Os ingressos estavam disponíveis por Cr$ 30,00 e Cr$ 20,00 para estudantes.

Um fato curioso é que os padres maristas, ao ouvirem os nomes O Terço e Som Nosso de Cada Dia, acreditavam que se tratavam de bandas de música religiosa. Essa confusão foi crucial para que os grupos se apresentassem na L2 Sul durante a repressão militar, quando Golbery e seu grupo dominavam o país. Se não fosse o aval dos maristas — que só perceberam a verdadeira natureza do show no dia da apresentação — jamais teria havido um sinal da paranoia no Plano Piloto. Essa história foi compartilhada por Pedrão.

O som da apresentação foi fornecido pela própria banda, e apesar da resistência dos padres em cancelar o evento, a energia do público, composta em grande parte por filhos de militares e diplomatas, garantiu que o show prosseguisse. Essa conexão com famílias de alta patente funcionou como um salvo-conduto para o rock na cpital federal.  

Sérgio Pinheiro, relembrando uma entrevista com Pedrão em um hotel próximo ao Setor Comercial, menciona uma cena inusitada: a namorada de Pedrão trocou de vestido na frente deles, um momento que Sérgio achou incrível.

Quanto a informações sobre o som do P.A., o público presente e registros fotográficos do show, ainda há uma lacuna a ser preenchida, especialmente sobre o cenário do rock nacional na época.

• "Teve um show em Brasília em 1975 em um ginásio grandão, Colégio Marista e o Paulo Coelho foi junto. Nos intervalos o Paulo fazia uns discursos. Eu pensava 'É hoje. Ninguém mais sai de Brasília. Vi a polícia nos cantos, mas não aconteceu nada de grave. Havia essa preocupação: ainda vou ser preso um dia com esse cara. Não é possível (ri). Eu admirava o Raul por esse lado." (GUSTAVO SCHROEDER).

Letting Go (single do Wings)

Como muitas das músicas de Paul McCartney desse período, o tema de "Letting Go" é sua esposa, Linda. O cantor se descreve em um relacionamento com uma mulher bonita, mas permanece preocupado com a relação. O biógrafo de McCartney, Peter Ames Carlin, afirma que a canção "traça a linha tênue entre amor e obsessão", com "paixão em toda a sua glória descontrolada e perigosa". A música reflete o reconhecimento de McCartney de que ele precisava dar mais espaço à esposa para que ela pudesse seguir seus próprios interesses, depois que Linda abandonou sua carreira como fotógrafa para se juntar à banda dele. O conteúdo das letras varia entre os versos e o refrão, com os versos descrevendo o assunto e o refrão reconhecendo a ideia de "deixar ir". A tonalidade é lá menor no início da canção, mas ela termina em dó menor.

Paul McCartney – vocal principal e de apoio, guitarra elétrica, baixo, piano elétrico
Denny Laine – vocal de apoio
Jimmy McCulloch – guitarra elétrica
Linda McCartney – vocal de apoio, órgão
Geoff Britton – bateria
Músicos adicionais:
Clyde Kerr – trompete
John Longo – trompete
Michael Pierce – saxofone alto
Alvin Thomas – saxofone alto
Carl Blouin – saxofone barítono

NOVEMBRO

Resumo: "Duprat: um craque no banco de reservas"

O artigo de José Marcio Penido, publicado na revista Rock, a história e a glória retrata o maestro Rogério Duprat, figura emblemática do tropicalismo. Com 43 anos e uma aparência que mistura a de um artista e um intelectual, Duprat reflete sobre o impacto do tempo na música e na cultura, destacando a nostalgia e a resistência à mudança que vêm com a idade.

No cenário musical de 1975, ele se encontra gravando jingles no Estúdio Vice-Versa, uma mudança significativa de sua época de glória como maestro que orquestrou obras de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Apesar de reconhecer a monotonia do mercado musical e a falta de inovação, Duprat expressa otimismo quanto ao futuro e à possibilidade de uma nova explosão criativa.

Ele critica a homogeneização da música na mídia, especialmente em relação ao rock, e lamenta a falta de jovens dispostos a se posicionar. Apesar de sua frustração com a indústria, Duprat mantém uma atitude aberta, valorizando a diversidade musical e a expressão artística genuína. O artigo conclui com uma imagem de Duprat como um observador crítico, ciente das limitações da música em um mundo em transformação, mas ainda esperançoso por um renascimento cultural.

• Steve Jones, Paul Cook, Glen Matlock e John Lydon se unem e resolvem formar uma banda de rock. Surge, então, The Sex Pistols.

• Entre 1975 e 1977, Dee Dee e Joey Ramone, dos Ramones, moram no loft de Arturo Vega.

DEZEMBRO

Rick Wakeman desembarca no Brasil...

Mick Jagger e Joaquim Ferreira dos Santos d'O Globo

Aí eu, cheguei para o Mick Jagger, que é o da esquerda, e tentei, como me é do estilo, ser gente boa. “Please to meet you, hope you guess my name”. Como todos sabem estes são os primeiros versos de “Sympathy for the devil”, um dos maiores sucessos dos Rolling Stones. Já deviam ter feito a piadinha tantas vezes que o cara nem se mexeu. Ô saco. Silêncio sepulcral, e com toda razão. Mick evidentemente não sabia o meu nome. Muito menos podia retribuir qualquer prazer especial em me encontrar como dizia a letra. Por quem sois? — eu julguei tê-lo ouvido, dublado com sotaque de Trás-os-Montes. Eu era um Zé Ninguém, um Zé Carioca com oclinhos John Lennon. Coloquei no rosto um esgar cético, sublinhei com o dedo sobre os lábios um jeitão de quem já tinha visto o diabo nessa vida e tentei soar frio diante do ídolo. Tudo disfarce. Tudo mentira, falcatrua de quinta. Eu era mais um jornalista, com inglês pavoroso, querendo uma entrevista. Would you, please ? Resolver a pauta do dia e, em seguida, comer um diabólico no Gordon. Um mercenário da curiosidade alheia querendo driblar o ferrolho inglês. O motorista que estava com ele também se chamava Joaquim, mas até aí morreu o abominável homem das neves. Resolvi num raro instinto de dignidade e zelo pela liturgia do cargo não tentar mais uma piadinha como forma de aproximação. Mostrei os documentos. ABI. Kim. Joa. Joa Kim. Quero falar contigo. Be nice . Sentaí, mermão. Era uma técnica de reportagem que eu tinha aprendido com Neném Prancha, o filósofo do futebol. Herbert Moses não recomendaria. Zuenir Ventura, que era meu chefe na “Veja” e tinha me escalado enviado especial para a missão, talvez. Desconheci os sábios da imprensa. Ouvi a voz do divino, obedeci ao destino, como está no samba “Madureira chorou”. E fui. Nenén Prancha dizia que o jogador devia ir na bola como se fosse num prato de comida. Eu não tinha muita alternativa. Matei quase todas as aulas do Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF. Tentava ali, tête-à-tête com Mick Jagger, adaptar para a reportagem as únicas lições que tinha ouvido até aquele momento com alguma atenção: as boutades dos campos de várzea e os riffs das guitarras que Jair de Taumaturgo, durante a década de 60, colocou no “Hoje é dia de rock” da Rádio Mayrink Veiga. Cruzei Neném Prancha com o meio é a mensagem de McLuhan. Fui faminto enfrentar a fonte. Disse. Mick, seguinte, ouve só. A história da Humanidade não moveu um centímetro em qualquer direção quando se deu esse encontro, em dezembro de 1975. Os anais da ABI não tomaram conhecimento. É mister e monsieur informar que o pesquisador Nélio Rodrigues faria na década de 90 um curtidíssimo livro, “Os Rolling Stones no Brasil”, uma história das passagens dos componentes do grupo em férias por aqui.

Tudo gente normal, atrás dos valores básicos da civilização quando ela se põe em chinelos. Mulhas numas, mar noutras, a mente morta das marmotas. Eu, aceso, Neném Prancha aos gritos no cangote, corria atrás da notícia viva no paraíso tropical. Nélio registrou para a posteridade meu encontro com Mick, e eu lhe sou grato. Coloque a cena acima com mais duas ou três linhas de méritos, do tipo: em 2002 Cafu me deu para segurar, no avião da volta do Japão, a Taça do Mundo; em 2005 comecei uma crônica com a palavra “aliás”; em 2006 outra com “aí eu” — e eis o melhor de um currículo magro. Eu havia escutado todos os LPs, Mick resolveu ouvir as perguntas. Ele passava as noites na boate Sótão, templo doidinho da galeria Alaska, discotecou para o programa do Big Boy na Rádio Mundial e chegou a ver um show da Barca do Sol no Teatro Casa Grande. Todos estão mortos, eu quase e Mick, como veremos sábado, a mil. Trinta anos atrás, quando sentamos para a foto ao lado, no jardim da casa da atriz Florinda Bolkan — por sinal ainda não morta mas totalmente desaparecida — Jagger estava lorde inglês. O fino do rock. Pagou US$ 5 mil para passar, com a mulher, Bianca Jagger, e a filha, Jade, duas semanas de papo pro ar naquela mansão da Joatinga. No entanto, gentil, topava que o repórter blasé , cabelo anunciando o corte Chitãozinho-Xororó de 20 anos depois, perguntasse o que desse na telha. Bissexualismo, Nixon, rock depois dos 40, se havia paz possível no desencontro dos amantes e se tinha sido mesmo ele — confessa, vai — quem esfaqueou Brian Jones antes de jogar o corpo na piscina. Definitivamente, eu tinha aprendido as lições de jornalismo dadas por Neném Prancha. Conversamos por 20 minutos no jardim. Ainda bem que na semana seguinte foram impressas duas páginas da Veja com todas as palavras ditas. Não me lembro de qualquer frase. O tempo apaga o que é dor, o que é prazer também. Acho que Bianca fazia topless no jardim da Joatinga. A coitada não tem qualquer culpa. Também não foi por causa dela. O tempo passa a borracha e o que sobrevive o vento da Joatinga joga no mar. Lembro que meu gravador enguiçou. Mick, bad boy em férias, foi lá dentro pegar o dele. Disse one, two, three e bateu palma para testar. A fita gravada faria o orgulho de qualquer museu do repórter. Também foi parar embaixo de alguma pedra da Barra. Escafedeu-se como os pensamentos por trás dos oclinhos do repórter. Acho, e espero que algum novo discípulo jornalístico de Neném Prancha confirme quando ele chegar, que Mick admitiu na fita perdida. Sim, eu matei Brian Jones. Não tenho certeza. Pode ser. Apure-se. Ventava muito. Pela expressão distante, o repórter pensava no paradeiro de alguma Angie ou Lady Jane. Todas até hoje desaparecidas.

Brasil, mostra a tua cara

• Carlos Vergara faz parte do conselho editorial da revista Malasartes, uma publicação organizada por artistas e críticos de arte com o objetivo de fomentar debates e reflexões sobre o cenário artístico no Brasil.

• Sob a direção do pintor Rubens Gerchman, é fundada a Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, onde começa a se formar a geração 80, que valoriza o prazer do ato de pintar.

• É publicado o único número da revista Navilouca. Luciano Figueiredo, após sua marcante participação na histórica publicação, dedica-se a criar objetos tridimensionais a partir de colagens, malhas de arame e relevos monocromáticos.

• O escritor paranaense Leminski, um dos poetas herdeiros do concretismo e conhecido por seus poemas sintéticos e bem-humorados, finalmente publica seu livro Catatau, escrito a partir de 1967. Essa obra reúne uma coleção de guardanapos e outras iguarias, resultando em uma pororoca iluminada a serviço de um mundo melhor.

O Estruturalismo dos Pobres e Outras Questões, de José Guilherme Merquior, é lançado como parte da Coleção Diagrama – 2, pelas Edições Tempo Brasileiro Ltda. 

• Chico Mendes, seringueiro desde a infância, torna-se um dos fundadores dos Sindicatos dos Trabalhadores de Brasiléia e Xapuri. Sua luta inicia-se com a criação de escolas de alfabetização para seringueiros, durante o governo Geisel.

• Em uma entrevista à revista Veja, Antonio Candido discute a vida e a morte da crítica literária: "No Brasil, até trinta anos atrás, a crítica era feita em artigos de cinco a dez páginas nos rodapés dos jornais, semanalmente. Escritos por pessoas intelectualmente sérias, esses artigos produziam uma visão comprometida que informava e formava o leitor. Isso acabou."

• Serguei trabalha na Centaurus Production, uma empresa que o contrata para shows. Ele se torna o primeiro roqueiro brasileiro a cantar para adolescentes americanos, e recortes de jornais documentam suas apresentações em boates, onde canta Elvis Presley e Chuck Berry.

• Lula Cortês se volta para novos projetos, como o excêntrico LP PAÊBIRÚ, lançado em parceria com o ainda desconhecido Zé Ramalho.

• Jards Macalé lança o LP APRENDER A NADAR.

• O primeiro disco de Walter Smetak é lançado, com a participação de Caetano Veloso, produzido por Roberto Santana. Ezequiel Neves resenhou o álbum no jornal da revista Rock, mencionando: "Haja saco! Melhor passar correndo para outro disco."

• Walter Smetak, colaborador assíduo do jornal alternativo Ordem do Universo, é o primeiro a juntar fragmentos entre a pós-guerrilha do Araguaia, o pós-LSD de Engenho de Dentro, e as experiências com comunas rurais (como Guariroba e Mozondó, as re-fazendas de Gilberto Gil em Brasília) e suas consequências.

• Walter Franco lança REVOLVER pela Continental (em CD: 996609-2, © 1994 - Warner Music). Ele é pioneiro no uso de loops e processamento de sons na MPB. Sucessor do caótico ÁLBUM DA MOSCA (OU NÃO, 1973), esse segundo disco de Walter, com arranjos do baixista Rodolpho Grani Jr. e do baterista Diógenes Burani, e produção de Pena Schmidt, traz uma faceta zen e quase beatífica da poesia de Walter, conferindo-lhe um caráter mais intenso e enfático. Neste álbum, que tem uma veia francamente beatleniana, Walter apresenta um som mais agressivo e roqueiro, com uma pegada stoniana.

• Walter Franco participa do Festival Abertura com a música "Muito Tudo", uma homenagem a João Gilberto e John Lennon, com arranjo de Júlio Medaglia. Mais uma vez, ele recebe vaias e reconhecimento da crítica e do júri, conquistando o terceiro lugar.

• Tom Zé lança o importante álbum ESTUDANDO O SAMBA.

• A CID lança o LP THE BEATLES WERE BORN, que é semi-pirata ou algo do tipo... Avalizado e autografado por Big Boy, o lado A, Ao Vivo no Hollywood Bowl'64, começa com "Boys" e encerra o show com um medley de "Twist and Shout", que aparece em duas versões. No lado B, na juventude, acreditávamos que eram os Beatles acompanhados de Tony Sheridan em Hamburgo, mas nos questionávamos: como os Beatles já eram tão bons em Hamburgo? Na verdade, eram takes do especial Rock’n’Roll Circus dos Rolling Stones. Até hoje, ouvimos o disco com o volume baixo, com medo dos gritos. Grande parte do culto à Beatlemania deve-se à divulgação dos outtakes, conhecidos como "acetatos" — um codinome utilizado em vez de bootlegs, que são o termômetro da febre e um item indispensável para qualquer publicação relacionada aos Beatles.

75 cartaz

Psicodelia Brasileira é uma exposição de cartazes que promoviam o rock nacional na DÉCADA DE 70. Fabrício Bizu é o responsável pelo resgate e impressão do cartaz do Banana Progressiva, um festival de rock realizado em São Paulo em 1975. Entre os grupos participantes, houve uma surpresa: Biscoito Celeste, uma banda de Brasília que é considerada pioneira do rock feito aqui.

75 guitarra

"Fender Telecaster de 1967. Comprei essa guitarra em 1975 de Andy Mills, o engenheiro de som do Alice Cooper, quando eles se apresentaram no Canecão, no Rio de Janeiro. No case original, estavam os nomes Phlo e Eddie, os vocalistas do Mothers of Invention, a banda de Frank Zappa. Phlo e Eddie ganharam essa guitarra de presente do próprio Zappa. Entre as várias músicas do Raul que gravei com essa guitarra estão 'DDI', 'Paranóia II (Baby, Baby, Baby)' e 'Canceriano Sem Lar (Clínica Tobias Blues)'." (Rick Ferreira)

LP da Série Vanguarda: Som Imaginário, Equipe Mercado, Módulo 1.000 e Tribo

Neste disco, a Odeon apresenta uma coletânea que reúne gravações de rock brasileiro do início dos ANOS 70. Essa proposta é bastante pertinente, pois os sons de Equipe Mercado, Módulo 1.000, Tribo e Som Imaginário são notavelmente criativos e se aproximam mais do estilo "progressivo" do que o rock que se faz atualmente, em uma época em que a década já avança. As explorações musicais, harmônicas e rítmicas desses quatro grupos servem como uma valiosa lição para os novos rockeiros. Infelizmente, entre eles, apenas o Som Imaginário se manteve ativo e inovador ao longo dos anos, continuando a trilhar o caminho da vanguarda.

• Candinho saí do Vimana.

Mesmo enfrentando obras e sem um baterista fixo, o Vímana conquistou uma oportunidade valiosa: graças a Guto Graça Mello e Nelson Motta (que já havia introduzido o grupo no Hollywood Rock), a banda se tornou atração da peça A Feiticeira, protagonizada por Marília Pêra. Embora a peça tenha sido um total fracasso (você pode ler mais sobre isso no livro Noites Tropicais, de Nelson Motta), a parceria inicialmente foi benéfica para ambos os lados: Marília ganhou uma banda fixa e o grupo teve um espaço para ensaiar livremente.

No entanto, o problema com a falta de baterista persistia. O grupo chegou a fazer uma tentativa com Azael Rodrigues, que havia tocado no Scaladácida com Ritchie, mas a colaboração não deu certo. A seguir, outros bateristas foram testados até que, durante um ensaio, Lobão foi quase "enfiado" na banda por um amigo de colégio. Na época, o jovem baterista, que ainda não tinha 18 anos, estava mais interessado em tocar violão clássico e considerava o rock uma "coisa de colonizado". Ao subir no palco, meio desconfortável, tocou algo que Ritchie descreveu como "um samba no ritmo da Mangueira". A apresentação acabou agradando ao grupo e a Nelson, que não hesitou em assumir a responsabilidade pelo jovem Lobão para que a peça pudesse viajar.

Filmes

Câncer (Glauber Rocha) — cujo título original era Naquele Dia Deslumbrante, a Paisagem Era um Câncer Fascinante — estreou na TV italiana. Esse curioso e quase inédito filme contou com Rogério Duarte e Hélio Oiticica. Em uma cena de troca de papéis, Antônio Pitanga estrangula Hugo Carvana. Câncer é uma metáfora sobre a doença da burguesia que corrói a humanidade, que teme atravessar a ponte e perdeu o contato com a fonte original. Reflete sobre o abutre que destrói o fígado de um homem cego pela luz do fogo do vulcão.

Claro (Glauber Rocha). Ficção, longa-metragem, colorido (Eastmancolor), 3.000 metros, 110 minutos. Roma, Itália.

O filme é um resumo dos principais eventos históricos que ocorreram durante as filmagens, incluindo o fim da Guerra do Vietnã, as reivindicações trabalhistas das classes operárias na Europa, a decadência do capitalismo nos países desenvolvidos e a incipiente expansão das ideias socialistas. Contudo, enfrentou problemas de produção.

"Já fazia anos que o Glauber não estava bem. Desde 1975, eu me preocupava com sua saúde, mencionando várias vezes a amigos como Cacá Diegues que ele poderia morrer. Ele não se alimentava adequadamente, não dormia, e passava as noites escrevendo, consumindo apenas um pouco de macarrão e pão. Havia uma falta de rotina em sua vida cotidiana. Quando atendia ao telefone, Glauber não dizia alô; ele imediatamente começava a falar sobre política ou qualquer assunto, sem sequer se apresentar. Ele passava noites escrevendo catálogos de telefone inteiros, acumulando milhares de textos inéditos. Começamos a temer por sua saúde. O mundo parecia pequeno demais ou muito complexo para ele; a partir dos ANOS 70, Glauber percebeu que não havia espaço para nossas utopias, e que seria impossível fazer um cinema verdadeiramente livre no contexto internacional." (Arnaldo Jabor).

• Orson Welles, Marcelo Mastroianni e Peter O'Toole estão entre os 600 atores selecionados por Franco Zeffirelli para seu próximo filme, Jesus. A obra, uma coprodução ítalo-inglesa-americana, será exibida na televisão em seis episódios, cada um com duração de uma hora.

• Tubarão.

• Um Estranho no Ninho, diretor Milos Forman.

 1975

Literatura

• A revista francesa Entrettiens, dedica um número à Beat generation.

Livros sobre os Beatles  

75 livros beatles

(1) HELTER SKELTER... Pelas ruas controladas por gangues de Liverpool, em shows tão violentos que a polícia nem aparecia. Nos clubes de striptease da cidade mais dura da Grã-Bretanha. Nos bordéis do distrito da luz vermelha de Hamburgo. Com uma dieta de flocos de milho, leite e cerveja, reforçada por pílulas, explodindo de talento... OS BEATLES! Finalmente — a verdadeira história por trás da ascensão deles à fama, contada pelo único homem qualificado para isso: O HOMEM QUE ENTREGOU OS BEATLES "INIGUALÁVEL!... Perspectivas que vêm tão intensamente depois de ler o livro quanto surgem ao saboreá-las pela primeira vez." — Record World Publicado por Ballantine Books, Nova York, 1975.

(2) Paul McCartney é conhecido em todo o mundo como um dos quatro gigantes do pop — Os Beatles. E, embora a banda tenha se separado, para muitas pessoas ele sempre será um Beatle. Mas, recentemente, Paul e sua esposa Linda têm trabalhado com seu próprio grupo, Wings, fazendo turnês pela maioria dos países da Europa, produzindo seus próprios especiais de TV e uma série de álbuns de sucesso, notadamente, "Band on the Run" e "Red Rose Speedway". Esta é a história de como Paul se tornou um Beatle, de sua vida naquela época, como se casou, como sua carreira mudou e de sua vida hoje. É a história de Paul McCartney. Publicado por Futura Books, Grã-Bretanha, 1975.

(3) Um livro lindo, repleto de muitas fotos coloridas com informações que documentam a história da banda, incluindo suas carreiras solo muito iniciais. Publicado por Octopus em associação com Phoebus, 1975.

(Elton John) 

Obituários

1975

FEVEREIRO

Austin Wiggin, pai das The Shaggs morre do coração. No dia da sua partida, finalmente elas conseguiram tocar Philosofy of the world próximo à perfeição!

3 DE JUNHO

Ralph J. Gleason (1917-1975). Colunista do San Francisco Chronicle durante 25 anos, foi também vice-presidente da Fantasy Records e produtor e comentarista de televisão. Foi autor de diversos livros, inclusive "The Jefferson Airplane and the San Francisco Sound" e "Celebrating the Duke". “Odeio Ralph, mas o convido para minhas festas porque ele é um crítico importante” - Janis Joplin. “Gente como o Gleason, Gleason esteve com a gente enquanto a nossa fantasia coincidiu com a dele. Mas assim que fomos mais longe, ele não entendeu e por isso se voltou contra nós. Ele... não tinha fé. (...) Como Ralph Gleason com sua coluna no Chronicle e sua própria doutrina do que era ser hippie. Gleason era um desses. Kesey se lembra de todos eles, gente que achou que ele era genial até o ponto em que sua fantasia deixou de coincidir com a deles. Mas ele ia em frente, um pouco mais a toda hora, e eles ficavam ressentidos e confusos... Tom Wolfe, O Teste do Ácido do Refresco Elétrico.

13 DE AGOSTO

Murilo Monteiro Mendes (1901-1975

Falece em Portugal, o poeta, ensaísta e crítico de arte Murilo Mendes, uma das figuras mais emblemáticas da literatura brasileira do século XX. Com 73 anos, Mendes deixa um legado literário profundo e influente, que continua a ressoar na poesia moderna e na crítica cultural.

Nascido em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 DE MAIO DE 1901, Murilo Mendes formou-se em Direito, mas logo se dedicou inteiramente à literatura e às artes. Sua obra abrange poesia, ensaio e crítica, refletindo uma sensibilidade aguçada e um olhar crítico sobre a sociedade brasileira. Entre suas obras mais importantes estão "Poesia de Murilo Mendes", "Viva o Povo" e "A Poética do Crítico", que exploram temas como a identidade brasileira, a modernidade e a espiritualidade.

Mendes foi um dos fundadores do "Grupo dos Poetas de 45", um movimento que revolucionou a cena literária nacional ao propor novas formas de expressão artística e romper com as tradições acadêmicas da época. Sua poesia é reconhecida pela musicalidade, pela força das imagens e pela originalidade. Ao longo de sua carreira, recebeu diversos prêmios, incluindo o Prêmio Jabuti e o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras.

Além de sua produção literária, Mendes se destacou como crítico de arte, atuando como defensor das vanguardas e contribuindo para a formação de uma crítica que valorizasse as novas expressões artísticas. Seu olhar atento sobre a pintura e a escultura contemporânea ajudou a consolidar o diálogo entre a literatura e as artes visuais no Brasil.

Murilo Mendes deixa um vasto acervo de escritos e um importante legado para a literatura brasileira. Sua paixão pela poesia e pela arte permanecerá viva nas gerações futuras, que continuarão a se inspirar em suas palavras e em sua visão de mundo. Sua vida foi um testemunho da capacidade da arte de transcender o tempo e o espaço, ecoando por meio de seus versos e ensaios.

O velório será realizado em Portugal, e o sepultamento ocorrerá em local a ser definido, onde amigos, admiradores e amantes da literatura poderão prestar suas últimas homenagens a um dos grandes mestres da poesia brasileira.

2 DE NOVEMBRO

Pasolini é assassinado, na localidade de Ostia, nos arredores de Roma.

Flashbacks

Eu sou Billy Shears: Loucura & Dedicação aos Beatles

A vida é uma incrível máquina do tempo. Retorno aos dias em que ainda usava calças curtas de estudante. Sou um freak – em uma tradução mais amena, "extravagante"; em uma mais direta, "doido". Era 1975, e eu ouvia os jogos do Paulistão no meu rádio valvulado, um presente do Natal do ano passado que ganhei, verde e perfeito para torcidas. Os tempos de brinquedo tinham ficado para trás, e eu me via mergulhando nos gibis.

Em um quartinho da minha prima, vi um disquinho do Slade que ela me mostrou. Outra prima, da parte da minha mãe, me ensinou a trocar discos. Eu escutava tudo alucinado. O vizinho da esquina me chamava para organizar e limpar seus LPs, e, nesse tempo, espelhinhos de bolso oval eram vendidos nas lojas. Comprei uma dezena às escondidas, só para quebrar os espelhos e retirar as fotos das modelos nuas que decoravam o fundo. A vendedora me olhava com um sorriso sarcástico; foi o primeiro sinal de desvio de conduta.

E então cheguei a Michael Jackson. Sua música "One Day in Your Life", que ouvi no programa do Barros de Alencar, me fez refletir sobre como as tardes eram tristes e a vida poderia ser cinza. Essa canção, assim como tantas outras, assumiria significados novos ao longo da vida. O estado febril de descoberta retrocede aos dias em que percebi que poderia observar o mundo ao meu redor, e isso mudou tudo.

Comecei minha coleção com 50 discos compactos da RCA Victor, todos organizados em um pino fixo em uma base de metal. Nunca fui às lojas do centro de São Paulo comprar as capinhas; na verdade, minha única visita a uma discoteca em Alto de Pinheiros foi quando comentei com meu pai que os discos estavam muito mais baratos lá. Na época, eu não conhecia a expressão "pau de sebo" e mal sabia o que era um sebo; mas, já na Rua Parayba, os caras estavam formando suas pequenas equipes de som. O sucesso era o LP A MÁQUINA DO SOM e um compacto duplo chamado 4 TOP HITS FROM ENGLAND.

No meu aniversário de maio, ganhei um disco duplo dos Beatles, A Hard Day's Night. Foi um divisor de águas! Ao olhar fixamente as quatro fotos dos rostos deles, me apaixonei, e claro que todos notaram minha nova paixão. Terminei o ano com um LP de novela, Escalada, e 1975 foi mais um ano de rock'n'roll, como sempre, em meio a toda a branquidão daquela época.

Com a coletânea 40 GREATEST HITS, foi a primeira vez que consegui pescar um significado em uma capa de disco. Depois de um tempo, percebi que havia um número 40 na parte interna da capa e comecei a estudá-las, sempre com a aprovação dos Beatles como minha maior referência.

Blues da PQP

Cai no rock em 75 DC com um compacto. Talvez essa queda tenha sido a responsável pela nossa mudança para Brasília. Em Osasco-SP, as pessoas costumavam morrer jovens.

PQP 2

Outro dia alguém me perguntou, “Você caiu no rock com 11 anos?” e eu respondi que ninguém vai contar a minha história como eu a vivi.

Para mim, é impossível lembrar o nome da loja. Naquela época, os shoppings ainda não existiam, e uma butique que vendesse jeans era uma verdadeira raridade. Na vitrine principal, o pôster de John e Yoko se destacava, ao lado dos manequins, trazendo um pouco da cultura pop para Taguatinga. Aquela loja na comercial me transportava para as ruas de outras cidades, como Rio e São Paulo.

Na esquina da comercial norte, havia um pequeno conjunto de lojas escondidas, onde descobri a Discodil, lugar onde comprei Sgt. Pepper. Outra lembrança vívida é da praça do relógio em 1975, onde já havia moradores de rua que chamávamos de "hippies". Na nossa educação, qualquer mendigo era considerado hippie, e por isso detestávamos ser rotulados dessa forma!

Sweet Rock'n'Roll Memories, Taguatinga 

Quase 49 anos: Cheguei a Brasília, vindo de Osasco-SP, em DEZEMBRO DE 1975. Minhas boas lembranças de Taguatinga incluem as caminhadas pela comercial e o pátio da Escola Classe 23, localizada na praça do D.I. Na Comercial Norte, perto do centro, havia uma vitrine de uma loja de jeans que exibia um pôster icônico de John e Yoko nus, com Lennon cobrindo sua intimidade com um jornal.

Em 1975, aconteceram coisas ótimas; talvez tenha sido até a minha primeira punheta. Outra lembrança boa que guardo é da radiola Philips que tínhamos. Eu ligava o gravador no auxiliar dela, e se eu tivesse sido mais esperto, ela estaria comigo até hoje. Esse som me deu muito trabalho: travava o automático e, quando veio para Brasília, queimou por causa da voltagem de 110V.

• Geraldinho trabalhava como caixa no Bradesco em 1975. Foi na sua casa, no Jardim Rochedale em Osasco-SP, que tive meu primeiro contato com os LPs de kraut rock; eu ajudava a limpá-los. Na mesma Rua Parayba, Carlão, o irmão mais velho de Sérgio Brito, meu colega de classe, também era um colecionador de discos.

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