MONTEREY POP FESTIVAL (1967) Uma visão muito pessoal de quem esteve lá!
Escrito por Stan Delk
Traduzido e adaptado por Antonio Celso Barbieri
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Prefácio do Autor
Muito já foi escrito à respeito do Monterey Pop Festival. Portanto, não irei tentar explicar as ramificações políticas e sociais deste evento que durou 3 dias. A minha intenção é dividir com o caro leitor minhas experiências como espectador participante deste festival que aconteceu em 1967, aproveitando também, para ilustrar o texto com algumas fotos relevantes.
Acho importante salientar que "este" ou "aquele" grupo foi deixado intencionalmente fora dos comentários porque eu pessoalmente não vi "este" ou "aquele" grupo. Não é minha intenção fornecer a completa história ou comentar a listagem completa das bandas que apresentaram-se neste festival. Minha idéia é comentar o que eu vi, escutei e experimentei muitos anos atrás quando eu era apenas um garoto que tinha 17 anos de idade! Portanto, peço-lhes que aceitem este texto pelo que ele oferece. Se você gostar e quiser comunicar-se comigo, envie-me um email (em inglês) clicando aqui: This email address is being protected from spambots. You need JavaScript enabled to view it.
Monterey Pop Festival 3 dias, 32 Shows, uma vida de memórias!
Oficialmente, o festival chamou-se The First Annual Monterey International Pop Music Festival (O Primeiro Festival Anual Internacional Pop de Monterey). O evento, num fim de semana, foi fantasticamente recheado com sons, visuais e experiências únicas. Dois anos antes do Festival de Woodstock, mais de 200.000 jovens juntaram-se em volta do Monterey County Fairgrounds para celebrar por 3 dias muita musica, paz, flower-power e amor.
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A lista dos grupos e artistas
(não necessariamente na ordem de apresentação)
The Mamas and The Papas, The Association, Scott McKenzie, Canned Heat, Big Brother & The Holding Company with Janis Joplin, The Jefferson Airplane, The Jimi Hendrix Experience, The Who, The Byrds, Country Joe and The Fish, Lou Rawls, Laura Nyro, Otis Redding, Booker T. and The MG's with The Mar-Keys, Ravi Shankar, The Grateful Dead, The Steve Miller Band, The Paul Butterfield Blues Band, The Electric Flag, Hugh Masakela, Buffalo Springfield, Johnny Rivers, Quicksilver Messenger Service, Eric Burdon & The Animals, Moby Grape, Simon and Garfunkel, The Group With No Name, The Paupers , Beverly, Al Kooper e The Blues Project.
A maior parte dos artistas e bandas apresentaram-se gratuitamente com apenas a acomodação e despesa de viagem pagas pelos organizadores. Foi um tempo de reunião e descoberta tanto para os músicos como para a audiência.
Os recursos financeiros arrecadados com o festival e subseqüente vendas relativas ao filme e CD foram direcionadas para a Fundação Monterey Pop que permanece ainda hoje ajudando causas de importância como por exemplo a clínica gratuita Haight Ashbury.
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Barbieri: Comenta-se que o único artista que recebeu um pagamento foi Ravi Shankar. Bem espiritual, não acham?
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Minhas memórias
Depois de viver 17 anos numa pequena comunidade agrícola no centro da Califórnia, minha viagem para o Festival Pop Internacional de Monterey foi minha primeira oportunidade real de viajar sozinho.
Para falar a verdade, antes, no verão anterior, eu tinha "escapado" e tentado cruzar a fronteira para Tijuana no México com alguns amigos (Nós nos divertimos muito e acabamos arrumando a maior confusão, mas isto é uma outra história totalmente diferente). De qualquer forma esta aventura, durou apenas uma noite.
Nesta viagem ficaríamos 4 noites longe do "papai" e da "mamãe". Então meu amigo Jerry e eu pegamos o carro, um MG e fomos para a costa. Depois de uma paradinha em San Jose para visitar um amigo, nós nos dirigimos para Monterey.
A cidade estava cheia de cabeludos de todas as idades e, encontrar um lugar para nós nos hospedarmos foi impossível. Nós tentamos de tudo! Sem sorte, nós decidimos que o negócio era deixar para nos preocuparmos mais tarde e, fomos direto para o festival.
A noite de abertura foi, para nós dois, uma experiência de arregalar os olhos. Meu amigo e eu estávamos acostumados a sermos os únicos dois cabeludos na nossa cidadezinha conservadora (red-neck) e justamente por isto, éramos ofendidos o tempo todo. Mas, em Monterey! Hippies por todo lado! Caras barbudos e cabeludos e garotinhas hippies lindas por todos os lados! Cara, nós sabíamos de antemão que viveríamos momentos inesquecíveis. Peruas Kombi e carros velhos todos pintados com flores e símbolos hippies de paz. Um grupo estava vivendo num ônibus velho que tinha sido pintado com cores psicodélicas. Tinha gente caminhado e pegando carona por todos os lados carregando gigantescas mochilas. Tinha muita gente usando roupas de couro, peles, sapatos mocassins, colares e arranjos de penas e flores na cabeça. Parecia mais um encontro de caçadores, negociantes de peles, direto do ano 1800 do que um festival.
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Nós compramos os nossos ingressos e fomos direto para a área do festival. A verdade é que o astral estava muito mais louco do lado de fora nas ruas próximas. Gente bonita por todos os lados. Policiais com flores nos seus capacetes. Gigantescos balões flutuando. Muitas faixas coloridas. Povo sentado e deitado por todos os lados. Barracas em volta do evento, vendendo coisas estranhas e malucas como cristais, gargantilhas com símbolos da paz, colares e produtos feitos à mão. Vendiam também os adesivos para pára-choques do Captain Beefheart com o texto “Seguro como o leite da mamãe”. Flautas tocando com as congas e bongôs batendo o mesmo ritmo por todos os lados (para falar a verdade, pela cidade inteira). Estrelas do rock caminhando entre o povo como se fossem gente comum sem que ninguém lhes perturbassem pedindo autógrafos. Era demais! |
Depois das apresentações de sexta-feira à noite, nós abandonamos a área do festival e fomos para o carro que nós tínhamos colocado num estacionamento do restaurante Denny's na rua Fremont. Na porta ao lado, num galpão de madeira, um monte de gente estava montando um acampamento. Nós circulamos entre eles nos divertindo e conhecendo gente ao mesmo tempo que o acampamento crescia sem parar. A primeira coisa que descobrimos era que o pessoal fazia parte de uma pequena vila. Uns caras de Indiana começaram tocar Bluegrass na guitarra e no bandolim juntando uma pequena multidão. Todo mundo dividia o que tinham. Nem posso dizer, quantas vezes tive que rejeitar ofertas de comida. Finalmente, não me recordo a hora, mas decidimos que estava na hora de dormir um pouco. Então, voltamos ao carro, baixamos a capota do MG, deitamos o encosto dos bancos para trás e escondemos as nossas botas atrás da roda que ficava atrás dos bancos. Com nossas costas apoiadas nos encostos dos bancos e as pernas esticadas por cima do capo do carro, pegamos no sono.
De manhã, duros de frio, depois de um café da manhã no Denny's voltamos para a área do festival. Íamos começar a vagar pelo local até a tarde esperando pelo recomeço do festival quando eu fiz amizade com uma garota da região chamada
Sue que nos levou para fazer um turismo pela cidade de Monterey. Sue levou-nos para o lado da praia e mostrou-nos onde encontrar um hotel barato. Que ótimo! Não teríamos que dormir mais no MG! Então, desfizemos as malas, fizemos um lanche rápido no KFC no Pacific Grove e, ainda voltamos em tempo para assistir as apresentações daquela tarde.
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Brian Jones
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Depois, voltamos para o hotel para uma cochilava antes dos shows da noite. Quando os shows acabaram, à pé, eu levei a Sue para casa dela em Carmel Highlands e depois fiz uma longa caminhada de volta debaixo de um nevoeiro úmido e um frio danado. Ainda bem que consegui pegar uma carona quase na entrada da cidade de Monterey.
Domingo, o último dia, surgiu limpo e iluminado. Jerry e eu voltamos ao concerto e ficamos com o saco cheio de ouvir Ravi Shankar a tarde toda.
Uma hora ou duas seria mais do que suficiente. Eu acho que só aqueles caras completamente chapados conseguiram ficar até o final deste show.
De qualquer forma, mais tarde, quando estávamos passeando pela área do festival olhando as tendas e lojas, encontramos com esta garota usando um casaco vermelho, tipo uniforme de banda de coreto. Ela tinha uma flor pintada na face. Eu não me lembro do nome dela. Só sei que nós a chamávamos de Sgt. Pepper (Sargento Pepper, clara referência ao álbum dos Beatles) e, acho que o nome verdadeiro dela certamente só seria importante para ela mesma. Nós ficamos bem amigos e pareceu que a amiga dela gostou também do meu amigo. Nós fomos para Carmel onde fizemos algumas compras e até acabamos sendo ofendidos pelo vendedores por sermos cabeludos e estarmos usando umas roupas loucas. Depois das compras, voltamos para os shows finais daquela noite.
Depois do final do show, todo mundo parecia meio chateado, não querendo voltar para casa. Sgt. Pepper tinha um par de acolchoados grandes e, muito embora nós tivéssemos um quarto no hotel, nós esticamos um acolchoado no chão, nos cobrimos com o outro e fomos nos ajeitando para passar a noite. Eu me recordo que tinha um tipo de edifício próximo onde Jimi Hendrix e outros músicos passaram quase a noite toda fazendo uma "jam session". A verdade é que quase não dormimos. No outro dia, nós fomos para Asilomar onde Sgt. Pepper e sua amiga tinham um quarto. Nós passamos algum tempo na praia e voltamos para o quarto delas onde dormimos a tarde toda. Naquela noite com muita tristeza voltamos para casa. Nós nos despedimos com a promessa de nos encontrarmos novamente no próximo ano.
Eu não diria que Monterey Pop mudou minha vida. Pelo menos não de forma fundamental. Entretanto, foi uma experiência única. Como eu disse antes, eu tinha vivido uma vida "cercada" vivendo numa pequena cidade Norte Americana. Eu sabia que as minhas experiências pessoais com o mundo eram limitadas e que, existiam muitas coisas lá fora para serem vistas (Você sabe, nós já tínhamos televisão!).
Em 1967 existiam apenas alguns hippies na minha cidade. Meu amigo e eu fomos muito ofendidos só pela nossa aparência e jeito de vestir. Na escola eu passei um tempão na sala da diretoria só por causa do meu visual. Até o meu irmão mais velho, que tocava numa banda de rock, ainda não usava cabelo comprido (ele tocava mais rhythm"n"blues). Quer dizer, muito embora nós tenhamos escolhido este caminho sempre nos sentimos meio deslocados em casa.
Aquele fim de semana em Monterey nos deu um sentimento de pertencer à uma família que se estendia fora das nossas fronteiras. Nos fizemos um monte de amigos e desenvolvemos uma idéia de grupo. Nós também deixamos Monterey com a percepção de que existia mais gente como nós que realmente queria ser e fazer alguma coisa especial. Fazer uma diferença real e mudar o mundo e não ficar aí encaixadinho num cubículo passando o resto da vida atrás de uma mesa. Acorda bicho!!!
Mais tarde naquele mesmo verão, depois de ser suspenso na escola por usar sapatos sem meias e não fazer a barba, Jerry, eu e um outro amigo chamado Burt passamos muito tempo em Hollywood lá na Sunset Strip. Nós lotávamos o carro do Burt e descíamos para os fins de semana. Nós nos encontramos com muita gente, fizemos muitos amigos e procuramos ficar longe das encrencas. Nós vimos e ouvimos muita música boa e geralmente sempre nos divertíamos muito. Eu me recordo que era muito jovem (ou muito sem dinheiro) para poder entrar no Whiskey-a-go-go e ter ficado sentado do lado de fora com a cabeça encostada na parede do clube assistindo e ouvindo The Doors através das rachas na parede. Do cacete!
Não estou certo porque nós centramos nossos esforços e atenção no sul da Califórnia em vez de na Bay Area. Sei lá, talvez a razão seja porque tínhamos amigos lá e um lugar certo para desabar no final da noite. No entanto, eu acredito que teria me sentido mais em casa em São Francisco do que em Los Angeles. Os hippies de Los Angeles não pareciam tão sinceros como o pessoal da Bay Area. Nada nas nossas experiências chegou perto do que sentimos e ouvimos em Monterey. Eu sempre me senti um pouco inseguro em Los Angeles. Parecia que algo mal iria acontecer à qualquer minuto. E olha que, isto foi um par de anos antes que Charles Manson espalhou terror nos corações de todos que costumavam andar pela Sunset Strip. As drogas de Los Angeles eram mais pesadas, a agitação mais rápida, os amigos mais superficiais e, parecia que todo mundo que encontrávamos estava interessado mais com a aparência pessoal e em acontecer artisticamente do que em mudar o mundo. Até meu amigo Jerry acabou mudando para Hollywood e caindo de cabeça dentro da coisa.
Concluindo, eu era jovem e idealista e realmente achava que nós poderíamos mudar o mundo. Talvez tenha sido um erro imaginar que um punhado de roqueiros, anormais (freaks) e párias (drop-outs) poderiam acabar com a guerra do Vietnam ou conseguir a paz mundial. Bom, eventualmente, no final o mundo mudou. Não conseguimos tudo que queríamos mas a guerra do Vietnam acabou. A juventude começou a participar mais ativamente no processo político e agora é uma força que tem que ser respeitada. Nós ainda temos uma grande jornada pela frente. Talvez a gente nunca chegue lá mas, eu ainda continuo seguindo a minha jornada. E você?
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John Phillips
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California Dreamin''
The Mamas and The Papas
A parceria de Derek Taylor, ex Assessor de Imprensa dos Beatles com John Phillips, o líder da banda The Mamas and The Papas foi fundamental na organização do festival e, muito embora, o trabalho de organização deste festival tenha impossibilitado The Mamas and The Papas de ensaiarem por 3 meses, sua apresentação foi excelente. Existia alguma coisa à respeito das harmonias que a banda era capaz de produzir que capturava a audiência e a mantinha hipnotizada.
If you're goin'... to San... Fran... cisco...
(Se você está indo para São Francisco) be sure to wear... some flowers in your hair (Tenha certeza de star usando flores no seu cabelo)
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A música "San Francisco (Be Sure to Wear Some Flowers in Your Hair)" foi inspirada pela paranóia do Scott McKenzie à respeito da grandiosidade do festival. Eu disse: "Porque você não escreve uma música?"
"E você? John porque você não escreve uma música dizendo alguma coisa como "se você for para São Francisco no Monterey Pop festival, comporte-se e não deixe que aconteça um grande quebra-quebra." Foi a resposta.
Então a primeira coisa que me veio à mente foi um tipo de atleta olímpico usando na cabeça uma coroa de vencedor feita de louros e com flores nos cabelos. Eu pensei que seria uma imagem bem apropriada para a música.
Uns 20 minutos depois eu tinha terminado de escreve-la e mostrei para o Scott McKenzie. Scott e eu tocamos a música para Lou Adler naquela mesma noite. Nós a gravamos na noite seguinte e ela já foi lançada na próxima segunda-feira. E, tão rapidamente como ela foi gravada a música tornou-se um grande sucesso mundial. Eu quero dizer, em uma semana Scott McKenzie não tinha ainda nunca gravado e na próxima ele já era conhecido internacionalmente. Agora, ele era o Grande Guru do movimento Flower-Power. Ele nunca me deixou esquecer isto! John Phillips (The Mamas and The Papas)
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Palavras chaves e frases deste período
(deixo a tradução para vocês)
Flower-Power. Make love, not war. Peace. Love. Cool. Hip. Hippie. Hippie girl. Groovey. Groove on that. Live for today. Mellow out. Mellow down. Mellow yellow. E-lec-trical banana. Far out. Out of sight. Can you dig it? You dig it? Dig it? Dig? Dig. Dig it. I dig it. I can dig it. Like, wow. Like...like, hey man, wow. Safe as mother's milk. Hell no, we won't go. Are you straight? Are you bent? Are you a narc? Twisted. Alice. Acid. Acid Head. Acid Freak. Bad trip. Bum trip. Grass. Pot. Pot Head. Mary Jane. Shrooms. Morning Glorys. Uppers. Downers. Reds. Whites. Yellows. Crosses. Hard stuff. Speed. Speed Freak. Flying. Trip. Trippy. Tripping. Trip out. Tripping out. Freak. Freaky. Freaking. Freak out. Freaking out. High. Up. Spacey. Space out. Spaced out. Spacing. Spacing out. Strung out. Down. Downer. Coming down. Cold Turkey. Crash. Crashing. Crashing and burning. Biting the big one. The ultimate bad trip. Dying. Good friends gone forever. Total bummer.
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Barbieri: Derek Taylor (07/05/1932 – 08/09/1997).Derek foi um jornalista inglês que, como já foi dito, ficou mais conhecido por ter trabalhado vários anos como Assessor de Imprensa dos Beatles. Ele era um jornalista de Liverpool que já tinha trabalhado nos jornais Liverpool Daily Post e Echo, News Chronicle, Sunday Dispatch e Sunday Daily Express. Derek trabalhou também regularmente como colunista e crítico de teatro para o jornal Northern Daily Express. Derek morreu de câncer em 8 de setembro de 1997. Na época da sua morte ele ainda trabalhava para a Apple.
No final da primavera de 1967, a influência de John Phillips, líder da banda The Mamas and The Papas, na cultura popular Norte Americana e mundial, alcançou o seu pico quando ele e Lou Adler juntamente com Michelle Phillips, Al Kooper e com mais um monte de outras pessoas assessorando, organizaram o Monterey International Pop Festival. Este festival foi o mais famoso (musicalmente) de todos os festivais acontecidos nos anos 60. Este evento lançou internacionalmente a carreira de dezenas de bandas e artistas, a maioria baseados em São Francisco onde destacamos Jimi Hendrix, Janis Joplin, Electric Flag e Scott McKenzie (velho amigo e companheiro de John Phillips na sua antiga banda Journeymen). Em homenagem ao festival, Phillips escreveu a música "San Francisco (Be Sure to Wear Some Flowers in Your Hair)" que deu para McKenzie gravar no seu primeiro álbum lançado pela gravadora de Lou Adler pelo selo Ode Records. Porque John Phillips deu a música para o Scott McKenzie em vez de gravá-la ele mesmo, com sua banda The Mamas and The Papas, nunca ficou claro. A verdade é que Scott McKenzie alcançou nos Estados Unidos o quinto lugar na parada de sucessos e, quase que imediatamente, ficou tão famoso como The Mamas and The Papas.
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Eu me pergunto se Mama Cass (Mamãe Cass) seria tão popular se seu nome fosse outro? Provavelmente! A voz da Cass Elliot (Cassandra Elliot) era tão poderosa quanto a sua personalidade! |
Michelle Phillips |
Michele, Michele! Você é tão bonita hoje quanto você era naquela época! Será que era para você que o Paul McCartney cantou?
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Barbieri: Muita gente "arrastou um caminhão" pela Michelle Phillips, inclusive o nosso Arnaldo Baptista. |
Big Brother and the Holding Company |
Janis Joplin
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Janis Joplin
and
Big Brother and The Holding Company
"A Janis estava tão nervosa, foi uma loucura. Assim que ela começou cantar, que bateu os pés no chão, mostrou o que é ser uma real texana." John Phillips (The Mamas and The Papas)
Esta foi a grande estréia, o batismo. Por um par de anos ela tinha estado tocando nos clubes em torno de Berkeley e Bay Area. Neste período ela tinha angariado um grande grupo de seguidores locais. Sendo um cara duma cidadezinha do interior da Califórnia, eu só tinha ouvido falar dela. Nunca tinha ouvido Janis cantando. Uma antiga namorada que tinha sido dançarina go-go nos clubes de Berkeley tinha feito muita publicidade para mim do "Big Brother" então, naturalmente, eu estava curioso para ouvi–los. Caramba! Fiquei chocado!
Eu nunca tinha visto ninguém colocar tanto de si numa apresentação! Janis gritou, chorou, bateu o pé, cantou pondo todo seu coração para fora. Eu não estou exagerando em dizer que o ar estava tão carregado de energia que fez os cabelos da minha nuca levantarem-se. Cara! Ninguém nunca mais me emocionou do jeito que a Janis foi capaz! (exceto minha esposa!)
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Antes daquele fim de semana o grupo era conhecido apenas como "Big Brother and the Holding Company" e a Janis era só a gata que cantava na banda. Mas, no Monterey Pop Festival Janis Joplin assumiu a sua personalidade e liderança criando uma reputação de cantora "dinamite".
Durante o festival ela assinou contrato com uma gravadora e muito embora o pessoal do Big Brother continue apresentando-se até hoje, comparado com Janis eles passaram a ser uma pálida sombra nos bastidores.
Tenho que dizer que, as gravações da Janis feitas em estúdio nunca se compararam com a apresentação ao vivo que eu presenciei naquele fim de semana. As gravações ao vivo feitas naquele dia são muito boas mas, para mim, Janis Joplin foi maior do que sua voz numa faixa de um álbum. Para realmente apreciá-la você precisa da experiência completa e ela precisava da platéia para que pudesse dar o seu melhor.
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Uma tarde com Ravi Shankar
A música de Ravi Shankar era mística, etérea, rítmica e excitante. O combinação de percussão e cítara era hipnótica. Mesmo depois de todos estes anos eu ainda gosto de ver a sua apresentação no documentário que foi lançado. A audiência realmente gostou. Em 1967 a música oriental estava ficando cada vez mais popular. George Harrison estava experimentando com a cítara. Os Rolling Stones estavam usando citaras no seu trabalho musical. Artistas menos importantes também estavam usando o som da cítara ou algum tipo de cítara improvisada nos seus trabalhos.
Entretanto, 4 horas de concerto foi um pouco demais até para o mais fanático. Depois de umas duas horas a multidão começou diminuir e até os mais chapados começaram a abandonar o local. Eu acho que foi um engano programar Ravi Shankar para tocar toda uma tarde.
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Ravi Shankar |
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Jimi Hendrix
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Are you experienced?
A primeira apresentação Norte Americana do The Jimi Hendrix Experienc
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Depois de tocar nos clubes de Greenwich Village como Jimmy James por alguns anos, Jimi Hendrix foi para Londres e formou o Jimi Hendrix Experience.
Paul McCartney recomendou e até insistiu para que John Philips convidasse Hendrix para o Monterey Pop e o resto agora é história.Hendrix incendiou mais do que a sua guitarra naquele fim de semana. Ele revolucionou a musica moderna e colocou a poder incendiário da guitarra em primeiro plano como um poderoso instrumento solo. O fogo do Hendrix foi alimentado pelo rock, blues, jazz e sua inspiração. Eu não acredito que muitos de nós que ouvimos Hendrix naquele fim de semana percebemos isso imediatamente mas, mais tarde, quando a fumaça baixou nós percebemos que estávamos olhando para um novo tipo de música.
Hendrix foi um revolucionário!
A memória que ficou do show foi o fogo, a fumaça e a microfonia da guitarra. Mas, você sabe, o cara realmente sabia tocar e cantar! Infelizmente a chama da criatividade genial de Jimi Hendrix foi tirada de nós muito antes de que ele atingisse o seu ponto máximo.
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Mais música, mais flower-power...
The Jefferson Airplane, The Byrds, Buffalo Springfield, Eric Burdon, Otis Redding, Lou Rawls, Simon and Garfunkel, Contry Joe and the Fish
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Otis Redding estava desaparecido. Esta foi sua primeira aparição em frente de uma platéia quase toda branca e, segundo fui informado, ele estava um pouco preocupado. No final tudo aconteceu sem problemas! Otis Redding controlou a platéia na palma da sua mão. Ficou especialmente claro quando ele fez a primeira apresentação pública da música "Sittin' on the Dock of the Bay". Todo mundo amou-o.
Lou Rawls. Eu ouvi algumas críticas da apresentação do Lou Rawls como tendo sido alguma coisa pobre tipo coisa de recepção de hotel mas, devo dizer, que eu achei sua apresentação muito boa. Lou foi muito bom. Nenhuma outra voz, antes ou depois, me impressionou-me tanto quanto a de Lou Rawls.
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Simon and Garfunkel |
Paul Simon foi um dos maiores compositores daquele período. Mas, desculpem-me, Art Garfunkel não sabe cantar! Ele desafinava o tempo todo. Eu me pergunto quantas gravações tiveram que ser feitas no estúdio para gravar a coisa corretamente? Veja sua carreira solo! Que carreira? A apresentação de Art Garfunkel no "Concert in the Park" em Nova York foi igualmente ruim. Paul Simon foi esperto em distanciar-se dele.
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Country Joe and The Fish
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Country Joe and The Fish
Feel Like I'm Fixin' to Die Rag, Not So Sweet Martha Lorraine, Section 43...
Ainda guardo na lembrança quando, durante a interpretação de uma de suas canções contra a guerra do Vietnam, enquanto o som gravado de metralhadoras ia diminuindo, um jato pousou na pista do Aeroporto de Monterey e o som do jato cobriu o som do sistema de som do concerto acrescentado um realismo poderoso para a apresentação.
"One, two, three, just what were we fighting for, anyway? Too late to wonder why, but I'm sorry so many had to die."
(Um, dois, três, de qualquer forma, contra o que nós estamos lutando? É muito tarde para perguntar porque, mas estou muito triste de saber que muitos tem que morrer)
Mais comentários...
Gente bonita por todos os lados
Foi dito que o público do Monterey Pop Festival foi um povo duro que não queria ouvir rhythm and blues ou música pop. Com raras exceções, eu não me lembro ter visto isso. Disseram que a Laura Nyro saiu do palco chorando. Eu não me lembro ter visto isso mas, também não me lembro de quase nada da apresentação dela. Quando D. A. Pennebraker revisou a apresentação dela enquanto editava o especial "Monterey Pop, the Lost Performances" (Monterey Pop, As apresentações Perdidas) feito para o canal de TV VH-1 disse que a razão porque ela saiu chorando foi porque ela não ficou satisfeita com a sua performance e acrescentou que a artista não foi vaiada pela platéia como tinha sido informado anteriormente.
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Roger Mcguinn - The_Byrds
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Também falaram que Lou Rawls não recebeu uma boa recepção da platéia. Eu não me lembro ter visto isto. Talvez, porque eu gostei tanto do show dele, nem me importei para saber se tinha gente gostando ou não. Eu achei o show ótimo!
Agora, Johnny Rivers foi uma história totalmente diferente! Não sei se você se lembra mas o estilo dele era "pseudo-country". Por exemplo suas versões das músicas Memphis, Mountain of Love, Maybelline, Seventh Son (que era um blues antigo), e outros eram, bem... melhor não falar nada!
Johnny Rivers apareceu no palco usando um cabelinho cortado tipo Beatles com uma roupa de couro tipo Sonny Bono e abriu com a música Help dos garotos de Liverpool. A platéia sentiu que ele estava tentando passar por alguém que ele não era e pareceram que ficaram ofendidos com isso. O público gritou e vaiou e aconteceu uma retirada em massa na direção dos bares. Ficou tão mal que achei surpreendente que Johnny Rivers não tenha deixado o palco. Tenho que admitir que, fiquei com dó do cara e olha que não sou fã dele. É importante lembrar que Johnny Rivers também tinha ajudado na organização do festival e a platéia como um todo deveria reconhecer e apreciar o fato. De qualquer forma, Johnny Rivers deveria ter vindo para o palco como ele mesmo e não fantasiado. Tenho certeza que ele teria sido recebido mais afetuosamente.
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Grace Slick
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Ha! Eu preciso dizer que, vi Johnny Rivers assistindo The Doors no Whiskey-a-go-go no final daquele verão e parece que ele tinha voltado a ser ele mesmo e revertido para sua imagem pré-festival.
Hippies versus Surfers
Também, acho que provavelmente foi uma boa coisa a banda The Beach Boys não ter aparecido. Eu ouvi muito comentário negativo à respeito da sua programada aparição e se eles tivessem vindo certamente não teriam sido bem recebidos pela audiência.
Grande parte do público sul californiano presente ao festival fazia oposição à cena surfista (surf music). Eu acho que eles trouxeram para o festival esta animosidade de casa onde lá os hippies e “surfers” já não se davam bem. No final daquele verão, eu passei muito tempo em Sunset Strip eu lá vi muita tensão deste tipo no ar. Confesso, que nunca entendi bem isto. Talvez, fosse uma coisa típica do pessoal do sul da Califórnia. Os hippies do Bay Area (São Francisco) amavam todo mundo. Para mim, parecia que existiam dois tipos de hippies no movimento Californiano. Os hippies da Bay Area e os do Sul da Califórnia. Como eu andava metido nos dois, me parecia que o pessoal da Bay Area estava mais interessado em mudar o mundo enquanto a turma do Sul da Califórnia era mais superficial e estava só interessada em ficar chapada. O pessoal da Bay Area também gostava de ficar chapado mas, eles eram mais doces e mais interessados no lado espiritual da vida, buscando conhecer eles mesmos e o mundo ao seu redor. A turma do Sul da Califórnia era mais "plástica" e gostava mais das anfetaminas e drogas pesadas.
Recordo-me que uma vez, encontrei este hippie vendendo o jornal Free Press na Sunset Strip. Ele me disse que só queria grana suficiente para comprar ácido e ir surfar. Para mim este cara mais parecia um hippie comportando-se como "surfer". Muito dos meus amigos da Sunset Strip também passavam muito tempo na praia muito embora, a maior parte deles passassem mais dormindo do que surfando. Na verdade, o que é que eu sabia? Só tinha 17 anos! De qualquer forma, sempre me senti mais confortável no meio do povo da Bay Area.
Voltando ao festival, minha impressão foi a de que a audiência foi sempre muito receptiva aos shows que não se encaixavam exatamente na modalidade hippie ou psicodélica deles. Por exemplo The Association foi bem recebido. Otis Redding foi ovacionado. Os grupos mais blues como Paul Butterfield, Mike Bloomfield, and Steve Miller também foram bem recebidos. Hugh Masakela fez a casa cair. A apresentação de Ravi Shankar só foi muito longa mas o show em si foi muito bem aceito. Obviamente os grandes shows daquele fim de semana foram os de Janis Joplin, Jimi Hendrix e The Who. Para mim 2 de cada 3 shows foram descobertas. No geral, acho que cada artista recebeu de forma justa o tipo de resposta de público condizente com a qualidade do show apresentado.
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The Who |
The Who
Pete Townshend tocou com a paixão de um homem louco! Alguém ficou com a baqueta quebrada do Keith Moon? Ele jogou várias na platéia. Alguém se machucou? Eu ainda não saquei qual é que é a do Roger Daltry!
Outra vez, a minha memória é da fumaça, barulho e destruição. Mas, ficou claro que era só parte do show. A banda The Who fez uma sólida apresentação musical. O guitarrista Pete Townshend estava no topo da sua forma artística. Ele jura que não havia competição entre ele e Jimi Hendrix e até pode ser que seja verdade. Mas, acho que Pete Townshend e Jimi Hendrix forçaram um ao outro à alcançar o topo dos seus talentos criativos.
Oh! Acho que é hora de ir para casa!
Então, nós saímos com planos de nos encontramos no próximo ano. Não era para acontecer! Não aconteceria o Segundo Anual Festival Pop de Monterey. Não aconteceria um outro encontro de gente bonita e gentil até o Festival de Woodstock dois anos depois. Entretanto, apesar do festival Woodstock trazer muito mais público e muito mais fama (ou infâmia), faltou aquela relaxada atitude pacifista que prevaleceu em Monterey. Faltou aquele sentimento de família, comunidade.
Adeus Monterey. Sinto saudades e lembro-me sempre.
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Stan Delk com seu cão da raça Bassett Hound chamado Clooney
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Comentário final
Mais ou menos uns 20 anos depois, mudei-me para Monterey e trabalhei lá por quase um ano. Muito dos lugares que guardava na memória não tinham mudado muito. O restaurante Denney's ainda continua na avenida Fremont. O espaço ao lado onde muita gente acampou foi desenvolvido e virou um prédio de escritórios. O hotelzinho que eu encontrei na beira da praia ainda continua lá mas agora está mais bonitinho. O KFC continua no mesmo lugar lá na Pacifique Grove. O atendentes em Carmel continuam metidos como sempre mas a terra atrás da praia perto de Asilomar foi coberta por um campo de golfe. A maioria do pessoal que eu acabei conhecendo neste período eram gente boa. Eu estive em alguns eventos no mesmo lugar onde aconteceu o festival mas apesar do local me dar uma certa melancolia, a verdade é já não é mais a mesma coisa. Em 1967 a experiência foi totalmente diferente. É importante deixar claro que, Monterey Pop Festival foi maior do que o lugar ou o show. Monterey Pop Festival foi um momento brilhante que ficará, para sempre, preservado na minha memória.
Paz
Stan Delk
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Bate-papo do Barbieri com Stan
Barbieri: Oi Stan, eu sou Barbieri escrevendo de Londres. Eu sou um brasileiro vivendo aqui desde 1987. Eu escrevo para uma publicação online chamada Do Próprio Bolso (em inglês "from my own pocket"). Quer dizer, é um projeto sem fins lucrativos. A imprensa aqui está comentando muito sobre os 40 anos de aniversário do Festival Woodstock mas eu decidi relembrá-los sobre o Monterey Pop Festival. Eu visitei o seu site e gostei tanto que resolvi traduzi-lo para o português. Eu gostaria de saber mais à seu respeito porque gostaria de lhe dar os créditos corretamente: Qual o seu nome completo? Qual é a sua idade? (Não precisa falar se não quiser!) Você acabou se envolvendo com música ou toca algum instrumento? Onde você vive agora? Eu coloquei na nossa rádio online 85 faixas gravadas ao vivo em Monterey e tomei a liberdade de incluir um banner com link para o seu site como um gesto de gratidão. Espero que você goste e não se oponha que seu texto seja traduzido e colocado no nosso site. Desde já obrigado e parabéns pelo seu trabalho! Antonio Celso Barbieri
Stan: Oi Antonio!Meu nome é Stan Delk, eu tenho 59 anos de idade e vivo em East Bay Area na Califórnia. Eu não sou músico só amo música! Obrigado pela tradução e link para o meu site.
Barbieri: Oi Stan!Cool! Muito obrigado!!!Por falar nisso, Eu tenho 57 anos, então, estamos na mesma faixa de idade :-) Que lembranças fantásticas você tem!!! Eu tenho uma perguntinha:
Você e a Sue? Não rolou nada? :-) Você sabe, "sex, drogas e rock'n'roll", você deixou o "sexo" fora da sua viagem... Foi porque você era muito jovem ou porque você achou que era uma coisa muito pessoal para comentar?
Stan: Eu deixei o sexo fora porque, na época, eu era muito apreçadinho :-)
Barbieri: Eu estou traduzindo a matéria neste momento e só agora eu "encontrei" a Sgt. Pepper. Agora, estou entendo tudo! Você deixou a Sue pela Sgt. Pepper... Duas garotas em mais ou menos 24 horas! Nada mau!!! E você só tinha 17 anos!
Stan: A Sue e eu supostamente deveríamos nos encontrar no domingo novamente mas, ela não apareceu. Não rolou sexo com a Sgt. Pepper mas, ela era uma gracinha! Ela deveria ter uns 19 ou 20 anos. Aliás, nós aparecemos bem no comecinho do documentário que foi feito sobre o Monterey Pop. Ela está usando a jaqueta vermelha da banda e tem uma flor pintada no rosto. De mim, a única coisa que dá para ver é da cintura para baixo, deitado no chão. Este é meu único momento de fama. Minha bunda sendo mostrada no filme. :-)
Nota do Barbieri: Como eu tinha o filme, imediatamente achei a cena, isolei-a e copiei o quadro. mandei para ele imediatamente só para "emocionar" o Stan. |
Sgt. Pepper e o trazeiro do Stan :-)
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Barbieri: :-) É esta a Sgt. Pepper? :-) É esta é a sua bunda na segunda foto?
Stan: Sim e, sim! Minha bunda é famosa! :-) |
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