Paul McCartney reproduz parte da história da música pop em POA

Paul McCartney reproduz parte da história da música pop em POA
8 de novembro de 2010 | Categorias: Notícias, Resenhas de shows
postado por: Danilo Fantinel

 

Paul McCartney reproduziu parte da história da música pop na noite deste domingo no seu primeiro show em Porto Alegre, no estádio Beira-Rio, durante a abertura da etapa sul-americana da "Up and Coming Tour". Ao longo de três horas de espetáculo, apresentando hit atrás de hit, entre rocks lendários e baladas inesquecíveis, o cantor e compositor britânico deixou claro porque é um dos grandes gênios das artes da atualidade.

É incrível o alto número de clássicos assinados por Paul sozinho ou em parcerias ilustres. É ainda mais incrível o fato deste senhor de 68 anos de idade e cinco décadas de estrada ter energia para tocar por horas, sem intervalo, sempre atencioso e gentil com seus fãs. Mais: recentemente, o músico comentou que vem gostando cada vez mais de tocar ao vivo e por tanto tempo. E nota-se isso durante sua apresentação. A satisfação está em seu rosto, na sua voz e no seu gestual.

Nobre e cordial, McCartney apresentou aos cerca de 50 mil fãs que estiveram no Beira-Rio algumas das obras fundamentais da música pop. Composições lendárias, praticamente eternas, já há muito inseridas no contexto histórico cultural em que vivemos são como instituições sólidas que servem de abrigo para milhões e milhões de pessoas mundo afora. São peças que integram uma vasta região do cenário musical contemporâneo e que dizem muito a fãs de todas as épocas.

Em pouco tempo, o show tornou-se uma experiência sensorial de massa, em que cada música remetia não só à memória individual, mas também a um consciente coletivo que evolui desde os anos 60. Assim, sensações, emoções e sentimentos partem de uma dimensão pessoal à comoção pública, e a energia que rola no palco chega à plateia sem interferências.

 Em diversos momentos, a sintonia entre músicos e fãs se fez ainda mais nítida, como ocorreu durante a abertura da noite com Venus and Mars/Rockshow, Jet, All My Loving, Letting Go e Drive My Car – uma das mais esperadas. Um dos marcos do projeto Fireman, Highway surgiu bluseira e cheia de groove, como se estivesse na trilha de um road movie ensolarado.

Ao piano, Paul executou algumas das baladas mais aguardadas da noite, como The Long and Winding Road, Nineteen-Hundred and Eighty Five, Let ‘Em In, My Love (dedicada a sua “gatinha Linda” e a “todos namorados” da plateia). O clima romântico seguiu com And I Love Her (muito aplaudida, o que fez Paul largar um “mas bá, tchê!” fazendo o Beira-Rio quase vir abaixo) e Blackbird.

Here Today, executada apenas ao violão em homenagem a John Lennon, emocionou ainda mais o público. O mesmo rolou com Something, um lindo tributo a George Harrison. Antes dela, a polca roqueira e alegre de Mrs Vandebilt e a faixa Dance Tonight, do disco "Memory Almost Full", elevaram os ânimos da mesma forma que Band on the Run, um dos maiores sucessos dos Wings.

Sempre corrigindo ao máximo suas falas em português, anunciou a primeira execução de Ob-La-Di, Ob-La-Da em solo brasileiro – para delírio geral. Back In The USSR, intensa e revivalista, com final anárquico, manteve o clima em alta. E, enquanto Paperback Writer foi tocada com a mesma guitarra usada na gravação original, a dobradinha A Day in the Life/Give Peace a Chance marcou um passeio pelo disco "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band" e uma segunda homenagem a Lennon.

Depois, McCartney voltou ao piano para cantar Let it Be acompanhado por 50 mil vozes, seguida da clássica Live and Let Die, com direito a explosões e fogos de artifício dourados e vermelhos, marcando o momento alto da noite. Paul até brincou com a plateia, fingindo que o barulho provocado pela pirotecnia era alto demais. O show seguiu com Hey Jude cantada em coro pelos fãs e encerrando a primeira etapa da noite.

No primeiro bis, Paul e os músicos Brian Ray e Rusty Anderson (guitarra), Abe Laboriel Jr (bateria) e Paul “Wix” Wickens (teclado) voltaram ao palco com duas bandeiras gigantes: uma do Brasil e outra do Reino Unido. O músico acompanhou o público cantando o tradicional “ah, eu sou gaúcho” para, na sequência, mandar Day Tripper (dona de um dos riffs mais emblemáticos da história da música), Lady Madonna e Get Back. Por vários momentos, Paul levantava o baixo como quem erguia um troféu. Gesto digno de um campeão.


O segundo bis rolou com a impressionante sequencia Yesterday (sozinho ao violão), Helter Skelter (insana, lisérgica e metálica como poucas músicas conseguem ser), Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band e The End.

Ao fim do show, percebe-se que se a esfera da música pop global foi moldada por um grupo repleto de grandes compositores, Sir Paul McCartney certamente está entre eles. Do alto de sua generosidade, gentileza e unanimidade, o inglês remontou momentos valiosos da música mundial com o vigor e com a energia típica de gênios humildes.

 

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