ALICE COOPER NO PAÍS DOS HORRORES (2011)
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Alice no País dos Horrores
Vaudeville in Rock
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23 FEV. / 2011 - Olá Amigas e Amigos! Imaginem um espectáculo de variedades, mas não um espectáculo qualquer. Este tem de quase tudo: bailarinas, mágicos, comediantes, acrobatas, teatro, cinema e entre uma infinidade de números ... travestis e animais amestrados!
Estamos nos Estados Unidos da América, em pleno séc. XIX e este é o entretenimento principal da emergente Classe Média-Alta: o Vaudeville . O termo "Afrancesado" é apenas uma forma de conferir charme e elegância á coisa e uma evocação dos faustosos Shows burlescos Parisienses. Porém, estes eventos ofereciam outro número bem mais sombrio e inusual: os Freakshows . Basicamente, tratava-se da exibição de pessoas com graves deformações congénitas, apresentadas como "aberrações humanas" e caracterizadas de modo a exagerar essas mesmas deformações. Evidentemente, eram adicionados alguns "truques" para condimentar ainda mais o deplorável "espectáculo". C' Est L'Amerique mes Amís !
Mas este entretenimento não era para os desgraçados que se viam obrigados a atravessar o País de Costa a Costa lutando pela sobrevivência (no mesmo País das oportunidades) e não tardou muito até que alguns visionários descobrissem que até mesmo os pobres precisavam de alguma diversão nas suas tristes vidas. Um novo "negócio". Desse modo, nasceu o Vaudeville itinerante . Este espectáculo era menos "vistoso" e deslocava-se de cidade em cidade e entre os vários números, curavam-se maleitas e vendiam-se ilusões, enfim, banha da cobra . E assim, a América foi-se divertindo até ao século seguinte.
Nos finais dos anos 60 e inícios dos 70 o Vaudeville já era e estava reduzido a pequenos e esporádicos eventos revivalistas e os Freakshow s eram agora de outra índole. Era o tempo dos grandes e ruidosos Shows de Rock , nos quais ironicamente pontificavam bandas Britânicas como os Rolling Stones e principalmente uma nova banda muito querida pelo público Norte-Americano: Os Led Zeppelin .
Tentar bater-se com estes gigantes no seu território era sinónimo de suicídio para a maioria dos artistas Americanos, mas como a História nos ensinou desde o amanhecer da Humanidade, as grandes proezas e avanços resultaram do génio e do engenho de indivíduos que não poucas vezes, foram incompreendidos. Vincent Furnier foi um desses iluminados.
Em 1967, Inspirado numa célebre bruxa do séc. XVII, Vincent adoptaria o seu nome para a sua banda de Detroit e para o seu Frontman , ele próprio. O nome? Alice Cooper .
Os seus dois primeiros álbuns seriam gravados na editora do ilustre Frank Zappa , a Straight e seriam bons o suficiente para que a gigante Warner os contratasse. O primeiro disco desta nova fase, "Love it to Death" (1971) e especialmente o single "I´m Eighteen" abriram as portas do sucesso a essa estranha figura de nome Alice Cooper . Como era habitual na altura, ainda nesse mesmo ano seria editado mais um disco, Killer . O ataque ao outro lado do Atlântico aconteceria com o disco seguinte, Schools Out (1972) , invadindo as tabelas Britânicas e ombreando com os gigantes no Top Ten dos EUA.
Os Alice Cooper ofereciam um Garage Rock bastante apelativo e abordavam a revolta juvenil contra todos os valores estabelecidos, mas muito mais do que a música, era o espectáculo que impressionava: O Frontman Alice apresentava-se com uma sinistra maquilhagem e entre os adereços do palco, contavam-se umas masmorras, uma guilhotina, uma cadeira eléctrica e uma Boa Constrictor ...verdadeira! O clímax do Show dava-se com a decapitação de Alice sob a lâmina da guilhotina. Renascia o lado grotesco do Vaudeville .
O Álbum Million Dollar Babies (1973) colocaria o improvável Alice Cooper no 1º lugar do Top dos EUA e aos adereços do seu já macabro espectáculo, foram adicionadas réplicas de bebés para serem despedaçadas. Após mais um álbum de sucesso, Muscle of Love, Alice Cooper desmembraria a banda e tomaria o seu nome, estreando-se a solo com o mítico álbum Welcome to my Nightmare que traria o famoso hit single "Only Women Bleed" e resultaria no seu mais infame e monstruoso Show de Palco até á data. Deste modo, Vincent Furnier , agora para sempre Alice Cooper , foi um pioneiro: a "Mãe" do Shock Rock".
Sensivelmente na mesma altura, outra banda de Detroit estava pronta para tomar de assalto a América e embora não o imaginassem ainda, algum tempo depois, o Mundo. Paul "Star Child" Stanley , Gene "Demon" Simmons , Ace "Space" Frehley e Peter "Cat" Criss . Pois então, a banda mais quente do Mundo: os KISS !
Eles tinham aprendido as lições de Cooper, mas não tinham em mente explorar o seu lado "macabro" e preferiam sobretudo o espectáculo, ou não fosse "Rock n' Roll All Nite and Party Everyday" o seu lema. Uma vez mais, o Espectáculo. Mais do que os seus êxitos de Hard Rock gingão e dedicado ás miúdas e ao deboche, seria o imaginário criado pelo marcante Make Up dos elementos da banda e dos seus vistosos Shows que transformaria os KISS no maior fenómeno Americano de Rock de sempre, ao ponto de toda a gente saber identificar os KISS , mesmo sem nunca terem ouvido uma nota sequer das suas músicas! Para além dos discos, existia todo o tipo de Merchandising alusivo á banda, inclusive BD e Action Figures e, sendo impossível ir mais além...urnas personalizadas dos KISS (como a do Dimebag ...R.I.P).
Os seus Shows eram literalmente bombásticos, cabendo ao Paul Stanley distrair a forte falange feminina da audiência e ao Gene Simmons apelar ao lado mais "diabólico", cuspindo sangue e fogo! O outrora "chocante" Show do Alice Cooper , como acontece a todos os pioneiros, foi rapidamente ultrapassado por algo mais novo e excitante. Os KISS ofereciam Rock e Diversão e sobretudo, um sentido apuradíssimo de "Negócio", desde sempre assumido desassombradamente pela banda. Um dos Hobbies do Gene Simmons era acenar ao coro de críticos com um volumoso maço de notas. Aliás, ainda hoje continua a faze-lo!
Como seria de esperar, para além do mais do que bem sucedido caso dos KISS , no início da década de 80, não tardaram a nascer por todo os EUA bandas influenciadas pelo Shock Rock do Alice Cooper , com níveis de sucesso e qualidade bastante variáveis. Entre todos elas, duas bandas conseguiram destacar-se das demais, muito por culpa dos seus infames lideres: Blackie Lawless dos W.A.S.P e Dee Snider dos Twisted Sister .
Os W.A.S.P praticavam um Hard Rock bastante agreste e adoptaram definitivamente o lado mais "escuro" do Showbusiness . Para terem uma ideia, as iniciais do nome da banda significavam We Are Sexual Perverts e se entre os seus Hinos Intemporais encontramos o grito de reivindicação "I Wanna Be Somebody" e também algo como... "Animal (Fuck like a Beast)" ! Os seus espectáculos conseguiam também impressionar bastante, com o monstro de quase 2 metros de altura chamado Blackie Lawless , totalmente banhado em "sangue", empunhando uma motosserra numa mão e a cabeça de um porco na outra!
Pelo seu lado, os Twisted Sister , apesar de enveredarem igualmente pela total aversão a todos os valores estabelecidos, não tinham nem a abordagem "Gore" e assustadora dos W.A.S.P , nem a imagem BD dos KISS . A grande figura era o igualmente "gigante" Dee Snider , que usava uma maquilhagem super exagerada e uma enorme cabeleira amarela, parecendo uma Drag Queen , mas uma das mais bizarras e feias que possam imaginar!
Os Twisted Sister conseguiriam um sucesso sem precedentes, muito por culpa do seu Hit "We´re Not Gonna Take It" . Esse mesmo sucesso transformaria a banda na primeira vítima do PMRC ( Parents Music Resource Center ) , um comité criado em 1985 pelas esposas de alguns Senadores em prol da defesa dos bons costumes, sendo Tipper Gore, a esposa do futuro vice-presidente dos EUA, Al Gore , a figura principal. Dee Snider foi obrigado a apresentar-se perante o comité como se de um réu se tratasse, mas garanto-vos que apesar de usar uma espampanante cabeleira amarela, não foi ele quem fez uma figura ridícula.
O Resultado foi uma ainda maior exposição dos Twisted Sister e a instituição das célebres etiquetas "Parental Advisory" , que em última análise, ainda davam mais vontade de comprar os discos "censurados". Como disse Brett Michaels (Poison) De um modo doentio o PMRC foi a melhor coisa que podia ter-nos acontecido!
Seria preciso esperar muito até aparecer o verdadeiro sucessor do Alice Cooper e a verdade é que essa figura superou em muito o mestre e todos os seus ilustres seguidores. Com uma Imagem grotesca e ao mesmo tempo andrógina; piscando o olho ao Shock Rock de Cooper e ao Glam do Ziggy Bowie ; agitador de consciências e profeta do Apocalipse e do deboche; Nunca Anjo e sempre demónio e acima de tudo, um dos mais originais, polémicos e talentosos performers de sempre: falo pois de Marylin Manson .
Evidentemente, nem toda a gente gostou desta personagem, mas acredito do mesmo modo que ninguém lhe ficou indiferente. O mesmo se passa agora com a Lady Gaga , que no mundo da POP, cada vez que faz um gesto ou abre a boca gera uma comoção tal que varre o mundo inteiro. Não importa quais sejam as opiniões. Toda a gente conhece a Lady Gaga .
Será que sem as maquilhagens, sem os cenários, sem o factor "choque" e todo o Show Off a ele associado, estes artistas conseguiriam chegar a algum lado? Poderia apenas a sua música ser suficiente? Em alguns casos, sem qualquer dúvida, não. De Modo nenhum. Mas o mérito destes artistas reside no facto de terem escolhido um modo diferente e radical de abordarem a Música. Uma forma tão polémica e tão exposta às mais duras e causticas críticas, que são poucos os que estão preparados. Quando um artista é amado por meio mundo e odiado pelo outro meio, é sinal que esse artista fez bem o seu trabalho.