Do Próprio Bol$o: Para não passar para a história como babaca

 

Para não passar para a história como babaca

5 abr. / 2012 - Enquanto a contracultura estertorava, Do Próprio Bol$o nascia para o mundo da arte. Enquanto as gravadoras navegavam tranquilas em seu mar de infâmias e iniquidade; enquanto o analfabetismo diminuía, mas a formação de sentidos do povo brasileiro se dava menos pelas escolas e mais pela criminosa e precoce erotização das crianças promovidas pelos programas “infantis” da Xuxa (para ficar só em um exemplo); enquanto surgiam tentativas de produções independentes no rock – e na música em geral – brasileira e a maioria dos envolvidos viam, adiante, cifrões no lugar de claves de sol; enquanto a ditadura terminava e iniciava a longa caminhada rumo à formação de um eleitorado menos drasticamente desorientado; enquanto a grande emissora da tevê brasileira encontrava as suas primeiras concorrentes que produziam um lixo da mesma qualidade em suas programações; enquanto arte, música e, dentro e fora da música, o  rock, era coisa difícil de emplacar financeiramente, surgia a Realizadora Do Próprio Bol$o.
E continuamos ... (Sandro Alves Silveira)

 

hugo_pereira2

2012! No último sábado. Hugo Pereira e Mário Pacheco acossados produzem arte do próprio bol$o sob a chuva e as lentes de Ana Luíza.
Roteiro: Improviso total e a pressão de produzir em pouco espaço de tempo.

Áudio Black Sabbath "Paranoid". Curto evento filmado e fotografado. Um dos poucos amigos que acudiram ao meu pedido para "fantasiar" o dia 21 de abril!


Para não passar para a história como babaca

Enquanto a contracultura estertorava, Do Próprio Bol$o nascia para o mundo da arte. Enquanto as gravadoras navegavam tranquilas em seu mar de infâmias e iniquidade; enquanto o analfabetismo diminuía, mas a formação de sentidos do povo brasileiro se dava menos pelas escolas e mais pela criminosa e precoce erotização das crianças promovidas pelos programas “infantis” da Xuxa (para ficar só em um exemplo); enquanto surgiam tentativas de produções independentes no rock – e na música em geral – brasileira e a maioria dos envolvidos viam, adiante, cifrões no lugar de claves de sol; enquanto a ditadura terminava e iniciava a longa caminhada rumo à formação de um eleitorado menos drasticamente desorientado; enquanto a grande emissora da tevê brasileira encontrava as suas primeiras concorrentes que produziam um lixo da mesma qualidade em suas programações; enquanto arte, música e, dentro e fora da música, o  rock, era coisa difícil de emplacar financeiramente, surgia a Realizadora Do Próprio Bol$o.
E continuamos ...

 

Exemplo de arte

cece_ricardo

1994 - 2.000
Dias de Rock sob o firmamento e os latidos dos cachorros e o ronco das motos a agógica pairava no ar

Fugas do Além - Dias de Rock

(Mário Pacheco)

1998. Domingo de futebol e de rock. O Brasil disputa a Copa da França. Na íngreme auto-estrada de ligação às chácaras da antiga Fazenda Sucupira, os rojões, as buzinas e as bandeiras animadas dão as cores e o ritmo junino ao trânsito. O acesso ao Riacho Fundo é feito como no tempo dos militares: diminui-se a velocidade e passa-se por uma lombada enfrente a uma guarita desativada que abre caminho para o antigo baluarte militar onde agora abriga o Instituto Mental e as chácaras. Nos fundos das chácaras, antes do inchaço das cidades, havia uma imensa depressão coberta de cerrado com uma infinita panorâmica da cidade de Brasília. Esse cerrado denso dividia a fazenda da cidade pioneira do Núcleo Bandeirante. Nesse ecossistema era comum gente trilhando, crianças caçando passarinhos, motocross e fumaça. Alguns eram atraídos pela música alta e hipnótica e ficavam ouvindo em transe o ritmo de guitarra e bateria. Em uníssono: as ondas sonoras cruzam o céu e a sombra gigante do pôr-do-sol avançava sobre o verde do vale. Um ouvinte corajoso abandona a prostração: pula a cerca de arame farpado, raramente os latidos cortam o som: — Tem gente no terreno. Em outros domingos de ritual da dança com a guitarra. Extasiado de felicidade com o massacre Cécé gritava: — Rock'n'roll é bom demais! Sem perder o pique, o baterista assentia. Messias de Oliveira Jr., era o nome civil do guitarrista Cécé e na bateria Ricardo Augusto Lima, a dupla havia retornado aos dias de rock'n'roll, montando o ALÉM, um rock instrumental que evitava os transtornos das disputas e as tentativas frustradas das trajetórias do EXTREMO, (um trio de vizinhos que na casa dos 20 anos tocou um hard rock vibrante fazendo de Brasília, a capital do rock) e do profissional Liberdade Condicional que gravou em 1987, no Rio de Janeiro, o vinil "Inexistência Abandonada" lançado ao vivo juntamente com os Uns e Outros no Circo Voador.

Transposto da pauta o sinal da agógica, parecia nortear suas vidas em sucessões ascendentes ou descendentes: gestações, mudanças, distâncias, ostracismo e fugas do além. Às vezes, boa parte da aparelhagem do ALÉM era dilapidada. O transporte, a montagem e os lugares variavam em intensidade mas não as adversidades... Às vezes eles perdiam boa parte disso tudo mas reconquistavam a si mesmos e seguiam tocando e gravando enquanto as crianças cresciam. Nos sete anos de improvisos sem medidas, massacres e feedbacks de guitarra, a saga musical do ALÉM driblou a morte algumas vezes.

A 3 mar. / 2001, depois do último domingo de blues a balada do ALÉM encerrou-se com a baixa do boêmio errante por falência múltipla dos órgãos. Agora, para a tristeza daqueles passantes atraídos pela sua guitarra, Cécé ouve a música das esferas no além.

 

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