Free Tibet: A luta continua!
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- Written by Antonio Celso Barbieri
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Free Tibet: A luta continua!
Infelizmente, a imprensa mundial trata os problemas do mundo como produto, matéria para chamar audiência e nada mais. O tempo dado à causas justas é muito curto e ditado pelos interesses das corporações e multinacionais que nos bastidores controlam tudo que vemos ou ouvimos. Todo mundo quer estar de bem com a China e então fazem vista grossa para mais esta injustiça praticada contra um povo indefeso. Como sempre, existe dois pesos e duas medidas onde a palavra "terrorismo" é um adjetivo usado de acordo com a conveniência e os interesses corporativos do primeiro mundo. Portanto, tomo a liberdade de lembra-los novamente do terrorismo chinês praticado contra o povo tibetano.
The Beasty Boys entra na briga
Em 1997 membros da banda The Beasty Boys estiveram em Londres como parte da sua campanha à favor da causa Tibetana. Eu estive lá para conferir o que os rapazes tinham à dizer. Abaixo segue a matéria que escrevi na época. Esta mantéria continua mais atual do que nunca.
Free Tibet!
Imagine um país vizinho invadindo o seu. Matando mais de um milhão de pessoas, incluindo mulheres, crianças e aniquilando um quarto da população. Imagine o país invasor construindo gigantescos complexos químicos, poluindo tudo. Imagine os invasores destruindo todos os seus centros religiosos, os seus templos de adoração e forçando o seu líder religioso a sair do país. Imagine a sua irmã sendo forçada a ser esterilizada…. Bom, isto é o que a China faz no Tibet por quase 50 anos sem, praticamente, nenhuma oposição mundial.
The Milarepa Fund
Sediada em San Francisco, o Milarepa Fund (MF) é uma organização que foi criada em 94 pelo “Beastie Boy” Adam Yauch (com direção executiva de Erin Potts) e visa a promoção da “compaixão universal e não violência”, e tem sua atuação centrada principalmente na situação do Tibet, buscando arrecadar fundos para ajudar os tibetanos na sua luta para liberar a nação budista da tirania dos seus opressores.
O MF, em poucos anos, transformou-se no centro mais importante de conscientização política da juventude norte-americana e mundial sobre o problema do Tibet. O nome Milarepa é uma homenagem à Jetsun Milarepa, um santo tibetano do século XI, que iluminou seus discípulos através do uso da música. Bom, então não fica difícil entender que os eventos mais importantes organizados por esta entidade tenham sido concertos de rock.
O Álbum
O álbum triplo “Tibetan Freedom Concert” documenta os históricos shows realizados em San Francisco, no Golden Gate Park, em 15 e 16 de julho de 1996; e em Nova York, na Ilha de Randalls, em 7 e 8 de junho de 1997; contando com performances de nomes como Beastie Boys, U2, Porno for Pyros, Beck, Blur, Alanis Morissette, A Tribe Called Quest, Bjork, Sonic Youth, de membros das banda R.E.M. Oasis e Pearl Jam, entre muitos outros, além de artistas folclóricos tibetanos. “O objetivo é parar com os abusos aos direitos humanos”. Declara Yauch que continua: O único jeito de conseguir isto é contar para todo mundo o que está acontecendo lá, fazendo pressão no governo norte-americano, para que o mesmo convença os chineses à libertarem o Tibet”.
Na medida do possível, o festival apenas incluiu vendedores e produtos que não tenham nenhuma conexão com o “United States - China Business Council” uma organização que “é rápida em negociar moralidade em troca do lucro fácil”. Esta mensagem era evidente no show das bandas Smashing Pumpkins, Foo Fighters, Rancid e Rage Against the Machine. Yauch acrescenta: “O pessoal me pergunta como é que a música pesada pode combinar com a luta do Tibet, e eu lhes digo que, algumas vezes, sons pesados podem quebrar barreiras”. Este álbum tripo está aqui na nossa rádio para deleite do caro leitor (clique aqui)
O Filme
Com tantos nomes importantes envolvidos, era evidente que um filme deveria estar sendo programado, mesmo porque também seria uma forma muito boa de arrecadar fundos e conscientizar a opinião pública ao mesmo tempo. Fui convidado para assistir com exclusividade à projeção do filme em Londres que, exatamente na linha do famoso Woodstock, reveza apresentação das bandas com cenas da audiência, aspectos pitorescos e de bastidores. O filme também mostra cenas feitas com câmeras escondidas dentro do Tibet, documentando a violência brutal usada pelos militares chineses contra os monges pacifistas. São cenas realmente chocantes, que falam muito mais do que os shows em si e nos fazem perguntar porque é que os norte-americanos não fazem nada. A conclusão é óbvia: Eles estão mais interessados no potencial de vendas para o mercado chinês, do que em discutir a questão da invasão do Tibet pela China e sua contínua violação dos direitos humanos daquele povo pacifista.
Apesar da seriedade da situação, o filme mostra alguns momentos cômicos como, por exemplo, quando o câmera pergunta para um monge budista presente ao festival, qual banda ele gostou mais. A resposta, cheia de simplicidade, foi imediata: “Pizza Boys!” Na verdade ele estava referindo-se ao grupo Beastie Boys.
Depois da projeção do filme, Adam Yauch e Mike D. integrantes do Beastie Boys compareceram pessoalmente para responder algumas perguntas e justificar seu envolvimento nesta causa. Infelizmente, os dois músicos foram confrontados com uma imprensa apática e desinteressada, onde, lamentavelmente não faltou a óbvia insinuação de que a banda estaria fazendo isso só por modismo e em busca de notoriedade, uma vez que muitos artistas associam seus nomes às causas mais variadas.
Respondendo, Adam Yauch, explicou que ficou sabendo do problema tibetano quando visitou a Índia e encontrou-se com muitos refugiados que conseguiram sair do Tibet fazendo uma grande e difícil caminhada pelas montanhas. A grande preocupação deles era mostrar que, longe de ser política, a postura deles era a de um protesto não-violento em acordo com a filosofia budista. A verdade é que, a cada pergunta que os repórteres faziam, eu ficava mais nervoso com a postura hipócrita da imprensa presente. Quando eu tive minha oportunidade, deixei claro o meu descontentamento:
“Eu sou o correspondente internacional para a revista Dynamite do Brasil e, identifiquei-me totalmente com a sua causa. Nós brasileiros tivemos 30 anos de controle militar no Brasil. Eu sei que é fácil para este povo da imprensa fazer perguntas tendenciosas e tentar minimizar o seu esforço. No Brasil, os nossos músicos também, dentro de suas possibilidades, contribuíram para derrubar os militares do poder. Quando eu assisti o filme, percebi claramente que não se tratava de nenhum modelito MTV e sim algo cru, sincero e real. Durante a projeção lembrei-me da letra da música “Imagine “ do John Lennon, onde ele diz que ele pode ser um sonhador, mas ele não é o único. Mesmo que seja apenas uma gota d’água no oceano, desde que seja uma gota verdadeira, sempre vale o esforço. Parabéns e por favor continuem com o bom trabalho!”.
Bom, depois do meu desabafo o pessoal da imprensa melhorou um pouco. Quando a entrevista acabou, eu fui cumprimentar a moçada da banda, que agradeceu-me pela força. Acho que fiz pelo menos mais dois bons amigos.
Antonio Celso Barbieri
Nota: Se o caro leitor estiver interessado em ajudar na causa tibetana, poderá entrar em contato com um dos grupos abaixo ou, para maiores informações, checar o website Tibet Online.