Uruguai prepara novo dossiê sobre Jango
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Uruguai prepara novo dossiê
sobre Jango
Marcia Carmo
Para a BBC Brasil, em Buenos Aires
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/11/131114_jango_uruguai_dossie_mc.shtml
O corpo do presidente João Goulart foi recebido com honras de Estado em
Brasília
O Uruguai está preparando um segundo dossiê detalhando como o presidente
João Goulart era "vigiado" pelos serviços de inteligência durante o
exílio no país vizinho. A informação foi antecipada à BBC Brasil pela
Secretaria de Direitos Humanos para o Passado Recente, ligada à Presidência da
República uruguaia.
14 nov. / 2013 - O presidente João Goulart, conhecido como Jango, seguiu
para o Uruguai, após ser deposto pelo golpe militar de 1964. Ele viveu depois
na Argentina, onde morreu em 1976.
Suspeitas de que Jango morreu envenenado fizeram o governo federal pedir
a exumação do corpo enterrado em São Borja, no Rio Grande do Sul. Os restos
mortais foram recebidos com honras de Estado em Brasília pela presidente Dilma
Rousseff. Amostras serão colhidas por especialistas no Distrito Federal.
Segundo Graciela Jorge, diretora da secretaria, o Uruguai
"entregará este ano um dossiê ao governo brasileiro".
"Estive pessoalmente em Brasília com uma equipe do Uruguai",
disse Graciela. "Agora estamos preparando um novo dossiê com mais indícios
de que o ex-presidente era vigiado", afirmou, por telefone, de Montevidéu.
Segundo Graciela, Jango foi bastante vigiado antes do golpe militar no
Uruguai, em 1973. "As equipes de inteligência viam com desconfiança todos
os que tinham perfil mais progressista, como era o caso de Jango",
afirmou.
Segundo ela, Jango "aparece em vários arquivos de inteligência da
época".
Documentos
O novo dossiê, assim como o primeiro já em poder das autoridades
brasileiras, conta com documentos da polícia uruguaia no período em que o
ex-presidente do Brasil viveu como exilado no país vizinho.
Também há documentos de quando Jango já vivia na Argentina e continuava
visitando o Uruguai. Na ocasião do exílio, o país vizinho ainda vivia sob um
regime democrático.
"Eu era jovem e lembro que ficamos chocados com o que ocorreu no
Brasil. Depois foi aqui. Mas a história uruguaia (de interferência na democracia)
começou mesmo antes do golpe de 1973", conta Graciela. Nos livros
didáticos do país, historiadores lembram que as práticas repressivas tiveram
início antes da "ditadura cívico-militar de 1973" do Uruguai.
"Nós aqui no Uruguai aplaudimos a iniciativa brasileira de
descobrir realmente do que (Jango) morreu. Nós aplaudimos e participamos desta
investigação, a pedido do Brasil. Antropólogos uruguaios participam da
investigação no corpo do ex-presidente e queremos reunir todo arquivo possível
que possa ajudar a esclarecer o que de fato ocorreu", afirmou Graciela.
Morte
Jango morreu em 1976 na localidade de Mercedes, na província argentina
de Corrientes, na fronteira com o Brasil. Na ocasião, não foi realizada
autópsia no seu corpo, como lembrou sua viúva Maria Tereza, na cerimônia em
Brasília.
Em 2009, segundo arquivos de imprensa, o governo uruguaio entregou às
autoridades brasileiras as primeiras pastas com documentos que indicaram como
Jango era vigiado. Em 2002, o ex-agente uruguaio Mario Ronald Barreiro Neira,
disse que o ex-presidente teria sido assassinado dentro do Plano Condor na
denominada "Operação Escorpião", decidida por Uruguai, Brasil e
Estados Unidos.
Uruguai e Argentina já trabalharam em conjunto para desvendar casos de
desaparecidos políticos, com bancos de dados e troca de informações sobre o
período ditatorial – na Argentina ocorreu entre 1976-1983.
"Aqui no Uruguai temos dez antropólogos que analisam as escavações
feitas diariamente na busca por desaparecidos políticos. Temos um banco de dados
genéticos aqui e estudos feitos conjuntamente com a Argentina", disse.
"Ainda há muito por ser descoberto sobre as ditaduras em nossos
países", afirmou. Para ela, neste contexto, não se pode descartar que
Jango tenha sido envenenado pelos militares. "É sim uma hipótese a ser
levada em consideração por tudo o que ocorre naquele período. Não temos tudo
investigado e certamente podem surgir surpresas sobre aqueles anos",
afirmou.